Acordei ouvindo os gritos da

Acordei ouvindo os gritos da mamãe. Olhei em volta, notando que tinha tido apenas um sonho bom, continuava no quarto pequeno e úmido de sempre.

Sentei no colchão, não era confortável, era fino e ficava no chão. O mofo me fez tossir algumas vezes, antes de me por em pé. Eu era muito pequeno para minha idade, uma mão inteira!

Mamãe ainda gritava e eu sabia que era com a vovó, ela sempre vinha aqui e tentava me ver e me levar com ela. Eu gostaria de ir com ela, mas mamãe não deixava, ela dizia que eu era seu potinho de ouro. Isso era bom, não era?

Tentei abrir a porta, em vão, estava trancada, então apenas me sentei no chão que rangia, cruzei minhas pernas e esperei, fitando a porta azul claro.

Demorou alguns minutos para tudo ficar em silêncio e mais alguns para mamãe aparecer, ela sorria. Eu sempre achei seu sorriso bonito, mesmo que me causasse arrepios.

— Vamos, Adrian, temos trabalhos a fazer! — eu não gostava desse trabalho, mas mamãe dizia que estava feliz com isso então eu também ficava, certo?

Escovei meus dentes vesti minha melhor roupa, sorrindo segurei em sua mão e saímos da casa em que morávamos.

Pelas minhas contas, que não eram tão precisas quanto a da mamãe, fazia exatamente um ano desde que viemos morar aqui. Eu já tinha uma mão inteira e um dedinho da outra, eu era um homenzinho, era o que ele costumava falar. Eu não gostava dele.

Porém mamãe vivia sorrindo e bonita, meu quarto ainda era pequeno e úmido e eu ficava frequentemente doente. Mas eu ia a escola, as professoras gostavam de mim e me elogiavam, eu gostava dela e... Gostava até mais do que gostava da mamãe, mas ela não poderia saber.

Ele me tocava, quase todas as noites, eu chorava, mas mamãe sempre sorria e dizia que estava orgulhosa de mim, mas eu não aguentava mais. Eu não conseguia sorrir na escola e as professoras perguntavam, eu não podia dizer a verdade. Era proibido.

Então eu fugi, desculpe-me mamãe, eu não posso mais te orgulhar. Machuca.

Respirei fundo quando cheguei até a porta de casa. Sempre gostei da forma com que Verônica cuidava do jardim, era aconchegante elegante, como ela.

Quando fugi de casa eu não esperava ao menos sobreviver. Era um pensamento pessimista para uma criança de sete anos, mas o que eu poderia fazer?

Abri a porta sentindo meu peito apertar em um mal pressentimento. Suspirei, sentindo o cheiro bom pairar pela casa, mas não era Liam, e se não era Liam, tínhamos visita.

Segui para a cozinha e Verônica estava sentada em seu lugar, assim como Patrick e Liam estava em pé, olhando para cena. A visita estava sentada na cadeira onde normalmente eu me sentava, ela sorria de forma doce e aquilo me deu um embrulho no estomago.

Magnólia sorriu ao me ver, levando a atenção de todos para mim. Não era uma situação que eu imaginasse que um dia vivenciaria, muito menos uma em que eu quisesse está. Mas ao longo dos anos descobri que a vida não age como queremos.

— Querido, finalmente chegou! Agora podemos tratar de negócios. — sua voz me trazia incomodo e repulsa, nunca pensei que um dia chegaria a sentir isso pela minha própria mãe. Mas não podia impedir que os sentimentos tomassem conta de mim.

Vi Liam cerrar os punhos e fechar os olhos, também fechei os meus, respirando fundo e sentindo o cheiro doce dele. Era instantâneo, um pouco de calma me atingiu e eu me pus ao seu lado, fitando meus pais e Magnólia. Eu sabia o que ela queria.

Mas eu tinha quebrado a promessa de orgulha-la há muito tempo.