A mulher desfilava no salto alto preto de sola vermelha, a saia lápis igualmente preta fazia par com o blazer e a camisa social branca apenas completava o look elegante.

Os cabelos castanhos e crespos estavam preso em um coque firme e bem arrumado, o rosto trazia uma maquiagem leve e bem elaborada, a bolsa Gucci fechava com chave de ouro a bela moldura que era a Sra. Jones.

A mulher sorriu ao chegar à recepção do hospital, parecia gentil, mas os olhos afiados mostravam que estava decidida com o que queria e que o sorriso era apenas uma fachada, mas a recepcionista não percebeu, apenas sorriu de volta, perguntando no que poderia ajudar.

— Gostaria de falar com o Dr. Adrian Ferraz Carter — a voz tinha um “quê” que Ema não conseguiu decifrar, apenas anuiu com a cabeça e questionou se tinha hora marcada. — Oras, eu não preciso marcar nada para falar com meu filho. — agora a recepcionista entendeu aquele sorriso, agora podia notar o brilho estranho nos olhos e o nojo na voz ao recitar o nome do diretor geral.

Estava saindo do meu escritório, cheguei cedo para compensar o dia anterior, estava em dúvidas com alguns documentos e sai em busca de Carl, responsável pela rinoplastia de uma paciente, era ai que estava minha dúvida.

Porém parei ao ver a figura a alguns metros de distancia de mim. Ouvi com perfeição sua última frase, frase esta que me fez gelar, senti meus olhos pesarem em uma vertigem.

— Adrian, querido! — sua voz fez meu estômago embrulhar, levei minha mão livre até a parede, apoiando-me nela.

— O que faz aqui? — questionei, em um fio de voz, tentando me recompor.

— Vim ver meu amado filho depois de tanto tempo, não sentiu saudades?

Minha mente gritava, minhas mãos suavam, meus olhos ardiam e meus lábios tremiam. Eu não sabia o que fazer, o que responder, como agir.

Eram trinta anos sem vê-la e mesmo que seu rosto estivesse em meus mais sombrios pesadelos, eu não a reconhecia mais.

— O que quer? — questionei ao encontrar minha voz, encarando a face que sorria.

— Oh querido, você sabe o que eu quero — senti-me arrepiar, o embrulho no estômago aumentar quando as lembranças de um passado que eu achava ter esquecido vinham à tona.

— Estou atrapalhando? — a voz de Lisa ecoou pelo corredor estranhamente vazio.

Respirei um pouco aliviado ao ver a garota, que me olhava desconfiada, sabia que meus olhos pediram ajuda no momento em que ela se pôs em defensiva, a minha frente.

— Na verdade, está. Creio que não seja crime querer falar com meu filho — as últimas palavras soaram pesadas, como se fosse difícil para ela aceitar o fato de que sim, ela tinha um filho.

— Oh! — eu sabia o que aquele gesto de Lisa indicava, os olhos arregalados e a mão esquerda tampando a boca, caso não fosse enfermeira, Lisa será uma ótima atriz. — Desculpe-me, não sabia que o apocalipse zumbi já havia começado, não estava preparada. — resmungou, cruzando os braços.

Magnólia arregalou seus olhos, parecia surpresa com acidez da enfermeira chefe.

— Como se atreve sua...

— Como você se atreve minha senhora. Estamos em um hospital e você está atrapalhando nosso diretor geral e cirurgião, peço que se retire, ou serei obrigada a chamar a segurança.

Minha mãe me olhou, estupefata, apenas dei de ombros, mostrando que concordava com minha amiga.

— O,k, já esperei trinta anos por esse encontro, posso esperar o fim do seu expediente.

A mulher não perderia a pose jamais, e eu sabia disso. Respirei fundo, quando ela sumiu do meu campo de visão.

— Caralho, ela é bonita demais para ser tão cruel — não pude evitar de rir das palavras de Lisa, seguindo caminho, tentando não me abalar ainda mais com meus pensamentos, a mulher me acompanhou.

— Infelizmente ela é cruel demais para ser tão bonita — resmunguei, focando nos papeis em minhas mãos, tentando me lembrar de minhas dúvidas.

— Você está bem?

— Não.