A noite mal dormida refletiu-se em fortes olheiras arroxeadas. Mais uma vez fui levada pela impulsividade de me entregar ao homem errado. Eu não conhecia o Christian, apenas sabia sobre o seu desejo incontrolável de despachar o Edward para bem longe da sua família. A verdade era que eu não entendia o motivo real daquele ódio gratuito, Edward tinha muitos defeitos e fez escolhas que me machucaram muito, mas não era uma má pessoa.
     Olhando para o meu reflexo no espelho, um longo suspiro escapou dos meus lábios.Céus, como gostaria de não ter que voltar naquela empresa. Não ter que olhar para o Christian, esquecer o erro que cometemos e seguir minha vida. Se não fosse pelo Edward, talvez eu não estaria nessa situação, com certeza não.
    No escritório, a porta da sala do Christian estava entre aberta. Era possível ouvir vozes, que ganharam forma quando me aproximei. Pela fresta pude ver a cabeleira loira de Leyla e Christian estava sentado na cadeira com as pernas esticadas sobre a mesa. O sorriso debochado em seus lábios indicava que a conversa não parecia ser uma das melhores .Não que eu fosse curiosa, mas a conversa subitamente chamou minha atenção quando meu nome foi mencionado por Leyla.
    - Por que não se livra logo da Bella? - Questionou Leyla. Apesar dela está de costas, quase pude ver a expressão desdenhosa do seu rosto. - Aposto que aquela mosca morta não sabe fazer nada direito.
    - Deveria? - O sorriso cínico de Christian fez a irmã bufar e sentar-se na cadeira de frente a ele. - Bom...ela faz umas coisas bem direitinho e alem do mais,me divirto com ela.
     - Não me diga que está trasando com ela... eca, Christian!
     Christian riu.
   - Ela é...digamos, bom...- Ele fez breve pausa e depois prosseguiu com desdem e deboche. - Acho que nem sei como descreve-lá. Ela não faz muito o meu tipo, mas da pra suprir algumas necessidades...
      - Credo, Christian! - Leyla riu.
     Lagrimas de raiva queimavam meus olhos. Foi preciso um enorme auto controle para não invadir aquela sala e esmurrar aqueles dois irmãos desprezíveis. Peguei minha bolsa e sai do escritório disposta a não voltar nunca mais. No elevador permitir-me chorar as lagrimas que me sufocavam. Apesar dos pensamentos conflituosos na minha cabeça, uma breve luz me fez enxergar o caminho que deveria seguir. A porta do elevador abriu e para o meu espanto, Edward surgiu com uma caixa com o que parecia ser seus pertences do escritório. Ele entrou e postou-se do meu lado em silencio.
         

(...)

A manhã havia começado de uma forma um tanto surpreendente, para não dizer desagradável. Edward mal tinha colocado os pés em sua sala, quando foi surpreendido com a visita do sogro. Julius McIntosh,exibia uma expressão desapontada em suas feições, acentuando ainda mais suas rugas. Em uma de suas mãos encontrava-se uma pasta que em instantes foi atirada contra ele.
    Edward não moveu nenhum músculo, encarava o sogro como se já esperasse o que estava por vim. Afinal, não precisava ser um gênio para deduzir o que aconteceria ali.
    - Estou decepcionado com você! - Os olhos azuis do sogro lampejam de raiva. - Como pode me roubar dessa forma? - Julius abriu os braços teatralmente.- Tudo isso aqui... - Indicou ele. -...seria seu. Eu estava disposto a colocar essa empresa em suas mãos, pois você ao contrario do incompetente do meu filho, era o único capaz de controlar essa empresa.Céus, como pude deixar me enganar dessa forma...
     - Senhor, jamais o roubaria...
   - Então me explique isso. - Julius apontou para a pasta. - Esses papeis provam totalmente o oposto...
     Contra fatos não havia argumentos, pensou Edward enquanto colocava seus pertences dentro da caixa. Christian estava disposto acabar com ele e não havia duvidas de que armou aquele desvio de dinheiro. Julius era cabeça dura e jamais o deixaria se explicar, por isso decidiu que se afastaria daquele lugar, assim como deveria ter feito a muito tempo.Talvez essa fosse  a oportunidade que tanto esperou durante todos esses anos. Não havia um dia se quer da sua vida que não pensava o quanto errou ao aceitar entrar para naquela família podre. O dinheiro o corrompeu, mas por sorte existia solução para quase tudo, exceto para morte.
    A porta do elevador abriu e dentro dele encontrava-se Bella. Demorou alguns para ela nota-ló. Apesar da presa desajeitada em limpar as lágrimas, era quase impossível não perceber que estivera chorando. Ela encolheu-se no canto, desviando os olhos vermelhos dos seus.Por um instante sentiu-se tentado a abraça-lá. Queria rouba-lá para sí, leva-lá para um lugar bem longe, onde não existisse o passado e nem o presente, apenas o futuro. Porém, não podia. Não era digno para te-lá, não depois de todo mal que a causou. Restava a ele apenas manter-se distante, sufocando todo o amor que guardará durante todos esses anos.Apenas torcia para que um dia ela o perdoasse.
       

(...)

   Os minutos na companhia do Edward, pareciam uma eternidade. O silencio perturbador que reinava dentro do elevador estava quase me enlouquecendo. Quando as portas se abriram,soltei um suspiro aliviado. Estava prestes a passar por ele quando senti sua mão tocar meu braço, impedindo-me de ir.
     - Hoje não, Edward...por favor. - Supliquei chorosa. Não suportaria relembrar mais uma vez o passado, não depois do que estava acontecendo no presente.
     - Eu só...eu só queria dizer... - As palavras do Edward foram abafadas por uma voz que eu conhecia muito bem e que não desejava ouvir naquele momento, pelo menos não naquele instante.
     - Bella, o que está acontecendo? - Questionou Jacob.
    Não, não, não... isso não podia está acontecendo. O olhar estupefato de Jacob alternou-se para irritado e depois para raiva. Eu o encarava em panico, os músculos do meu corpo estavam paralisados, enquanto Edward não dizia se quer uma palavra e muito menos se movia.
    - Jake...eu posso explicar...
   - Espero que sim. - Respondeu Jacob, ríspido. - Mas, não aqui. -Ele ignorou a presença de Edward e pegou meu braço.
   - Solta ela, Jacob. - Ordenou Edward. A voz autoritária soou estranha em meus ouvidos. -Você não vai leva-lá a lugar nenhum, não nesse estado.
     Jacob soltou meu braço e caminhou até Edward, ambos encaravam-se como se fossem partir para uma briga a qualquer instante, porém, um sorriso desdenhoso curvou-se no canto dos lábios de Jacob.
     - Não entrometa no que não é da sua conta, Cullen. - Rosnou Jacob e depois virou-se de costas para ele e voltou-se para mim, agarrando meu braço e por pouco não me arrastando por entre as pessoas.

    No apartamento, eu apenas queria que o chão abrisse sobre meus pés e me engolisse. As palavras de Jacob pesava sobre mim, fazendo-me sentir como uma garotinha acuada.Argumentar não era uma opção. Ele estava certo e nada do que eu dissesse consertaria minhas mentira, restando -me apenas a opção de me encolher no sofá.
     - Como pode aceitar esse emprego? Bella, pelo amor de Deus...não passou pela sua cabeça que jamais daria certo trabalhar sobre o mesmo teto que o Edward? - Questionava Jacob,enquanto caminhava de um lado para o outro. Era como se buscasse por algo que o distraísse  da raiva que estava sentindo.
    - Eu sei...eu sei... - Choramiguei ao levar as mãos até o rosto.
   - Bella... - Jacob afastou minhas mãos do rosto e ajoelhou-se de frente para mim. -...tem mais alguma coisa que queira me contar?
    Meu corpo estremeceu-se diante daquela pergunta.Encarando-o, senti o nó formar-se na minha garganta. O choro entalado, ameaçava sufocar-me.Apenas pensar o que tinha feito já era suficientemente vergonhoso, dizer em voz alta parecia ainda pior. Porém, Jacob precisava ouvir a verdade. Somos amigos e eu tinha certeza que no final tudo ficaria bem...
    - Jake...lembra quando descobri sobre a hipoteca atrasada? Então, aquilo me deixou desesperada. Não podia deixa-ló perder o apartamento. Meu chefe, Christian...- A palavras travam em meus lábios. Não conseguia parar de pensar na possibilidade de perder o Jacob para sempre e isso me deixava apavorada. Não suportaria perde-lo também.
     - Vamos, Bella... - Insistiu Jacob. - ...termine.
     Aquele era o fim para todas mentiras que omiti durante aqueles meses, suspirei e apesar de hesitante, eu o fitei. As palavras fluíram com relutância pelos meus lábios e ao terminar de relatar cada detalhe sobre meu envolvimento com Edward e Christian, Jacob me encarava livido. Não havia indicio de raiva ou aborrecimento como pensei que veria, ao invés disso houve apenas um terrível silencio que durou até ele levantar e se afastar de mim.
   - Eu quero que você saia do meu apartamento. - Disse Jacob secamente, depois afastou-se e dirigiu-se até o corredor.