Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 2
Capítulo 01 – Desesperança


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários no capítulo anterior. Eu amei cada um deles.
Espero que gostem do capítulo ;)



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Às vezes, quando a vida lhe surpreende com um golpe duro demais, é preciso mais do que força de vontade para se erguer e seguir adiante.

O insistente e irritante som de um despertador tocando sobre a mesinha de cabeceira do quarto decorado com ovelhinhas brancas, que pareciam saltitar, destruía a quietude da manhã sem se importar.

Nada naquele quarto havia mudado desde que fora decorado anos atrás, exceto por uma única coisa; o acréscimo de uma cama velha de ferro fundido que há muito deveria ter sido descartada. Aquele móvel velho em nada combinava com o quarto de decoração doce e suave, pensado para um bebê.

Em meio a lençóis gastos, uma garotinha dormia agarrada ao seu cobertorzinho encardido e a uma ovelhinha de pelúcia desgastada. Os cabelos ruivos e longos, desarrumados, espalhados pelo travesseiro. Os cílios, na mesma cor dos cabelos, moldavam seus olhos fechados com delicadeza.

Ela tinha começado na escola primária recentemente, esse era o motivo de um despertador estar tirando-a de seus sonhos tão cedo naquela manhã. A senhora Smith, mulher de meia-idade, que mora na mesma rua que eles e cuida da pequena sempre depois da escola, se carregara de deixar programado para acordá-la pela manhã, embora nem sempre fosse fácil assim.

A menina abriu os olhos, sentindo-se ainda sonolenta. Os olhos escuros como a noite, idênticos ao de Sarah.

Como fazia em todas as manhãs com a coberta que a mantinha aquecida durante a noite, empurrou-a até os tornozelos e, sem motivação alguma, se sentou na cama sem largar dos dois preciosos objetos aos quais abraçara durante toda à noite. Passou a mão nos cabelos bagunçados, afastando alguns fios do rosto, levando para longe dos olhos. Olhou em volta sabendo que precisava levantar e, mais uma vez, sem ajuda alguma, se preparar para ir à escola.

Seu pijama para os dias frios de outono estavam com as mangas e as pernas curtas, e a muito já não lhe aquecia durante o inverno. Todas as suas roupas da estação, estavam pequenas. Havia crescido consideravelmente desde que foram compradas a dois invernos. Desde que a vovó Cheryl desistiu deles. Seus sapatos não lhe serviam mais, apenas um par de galochas vermelhas que a senhora Smith lhe trouxera algumas semanas atrás para que pudesse ir à escola. As galochas já tiveram dias melhores, provavelmente, antes de chegar até ela, pertenceu à outra garotinha.

Não teve escolha senão levantar, desligar o irritante despertador, tirar o pijama e pôr uma das poucas roupas que ainda lhe servia. De dentro do pequeno guarda-roupa retirou uma calça jeans a qual as pernas ficavam curtas, assim como a blusa de mangas compridas amarela e o casaco lilás.

Trocou-se depressa, pois, sentia frio. Calçou um par de meias coloridas e as galochas que em algum momento aquecera os pés de outra garotinha. Olhou-se no pequeno espelho em cima da cômoda, perdido entre os enfeites da decoração de tanto tempo atrás. Penteou os cabelos da melhor forma que pôde. Eles estavam grandes, na altura da cintura, e na maioria das vezes estavam cheios de nós.

O olhar triste refletido no espelho lhe dizia quem era: a menina órfã de mãe, cujo pai a desprezava.

Sentia-se solitária. E, na maioria do tempo, sentia-se feia. Todas as crianças de sua classe iam à escola usando roupas novas e no tamanho ideal. Seus cabelos estavam sempre bem penteados, e os sapatos, limpos. Elas costumavam ser alegres e sorridentes. E seus rostos estavam sempre corados.

Guardou o velho cobertorzinho dentro da mochila, embaixo do material escolar para que ninguém o notasse. A ovelhinha ficaria em casa, não havia espaço suficiente para ela na mochila. Beijou a ovelha esfarrapada antes de deixá-la sobre o travesseiro com a promessa de que voltaria.

Com um movimento desanimado, pôs a mochila nas costas e saiu para o corredor. A caminho da escada percebeu a porta do quarto do papai aberta, mas ele não estava lá. Pela brecha na porta, localizou a fotografia do papai e da mamãe no porta-retratos sobre a mesinha de cabeceira. Aquele era um papai sorridente o qual nunca conheceu, assim como nunca chegou a conhecer a mamãe.

O violoncelo que nunca ouviu tocar estava, cuidadosamente, sempre no mesmo lugar, posicionado num canto diante a janela com vista para o jardim sem vida.

Com um suspiro, se afastou da porta do quarto do papai e foi até o banheiro no corredor, onde escovou os dentes e lavou o rosto.

Desceu as escadas logo em seguida, mantendo a mão no corrimão, os ombros caídos com o peso da tristeza a qual convivia há muito tempo. Melhor dizendo, a vida inteira.

O papai estava dormindo no sofá da sala de estar. Suas roupas gastas, amarrotadas. A barba crescida, a qual sempre se lembrava. Em nada se parecia com o papai da fotografia, que estava arrumado, de barba feita e com um sorriso no rosto.

Sem querer, chutou uma lata de cerveja vazia ao pé da escada. A lata correu pelo chão e o barulho fez Emmett despertar. Ele se sentou parecendo confuso, olhando em volta e então atrás do sofá, na direção das escadas, até perceber a menina ali.

— Olívia!

— Desculpe-me papai. Foi sem querer.

— O que estava fazendo? — pediu mal-humorado. Olhar para Olívia o fazia lembrar-se de Sarah. Os olhos escuros, os cabelos ruivos e o rosto marcado de sardas, era o tormento diário o qual há seis anos tentava evitar. Lembrar-se de Sarah era também lembrar-se da morte dela, e o quanto havia perdido.

— Eu preciso ir para a escola.

Emmett conferiu a hora no relógio de pulso, presente da falecida esposa, cujo vidro estava trincado já há algum tempo.

— Está atrasada. O ônibus não vai demorar a passar — bradou com a menina.

— Eu ainda não tomei meu café da manhã.

— Tem cereal e leite na cozinha, você sabe disso — Ele desviou o olhar, por não aguentar olhar tanto tempo para a filha sem se sentir agonizar.

— Mas o meu lanche?

— Leve pão com geleia ou pasta de amendoim.

— Está bem — a menina aceitou com tristeza e se retirou do cômodo, passando por detrás do sofá onde o pai passou a noite, depois pela sala de jantar a caminho da cozinha, onde tentaria encontrar o que comer.

Lá, pegou uma tigela na parte baixa do armário e a pôs no balcão. Ficou de joelhos sobre a banqueta e despejou cereal na tigela. Precisou descer para buscar o leite na geladeira, e outra vez para pegar uma colher.

Quando terminou o cereal, separou duas fatias de pão e passou manteiga de amendoim em ambas as metades. Por fim, juntou as metades e guardou num saco de papel pardo encontrado uma das gavetas dos armários.

Ouviu o barulho do ônibus escolar se aproximando na rua, em seguida, o som da buzina. Estava mesmo atrasada.

Emmett irrompeu na porta da cozinha, lhe causando um grande susto. Agarrou-a pelo braço e a arrastou sem esforço algum até a porta da frente.

— Se perder o ônibus, vai ficar em casa sozinha o dia inteiro — se queixou, sem interromper a caminhada brusca.

Olívia estava assustada. E segurava o saco de papel com seu lanche do dia como fosse o mais precioso dos tesouros.

Empurrando-a para o lado de fora, ordenou que corresse. A menina sentiu o ar frio da manhã de outono soprar seu rosto. Os olhos arderem com acumulo de lágrimas e ressentimento.

O ônibus amarelo estava a ponto de partir. Olívia correu sem se importar em impedir as lágrimas de rolarem no rosto. Ela olhou para trás uma única vez, mas o papai não estava mais à vista. A porta havia sido fechada outra vez e tudo o que ela reconheceu foi a solidão e o frio. Ela tropeçou e caiu. O saco de papel que protegia seu lanche ficou por debaixo do corpo sobre as folhas secas, amassando assim por completo. Quando levantou, tinha pasta de amendoim melecando todo o papel. Não conseguiu se desfazer do embrulho, o que faria na hora do almoço se não tivesse nada para comer?! Sem dúvida, não o deixaria para trás.

A porta do ônibus se abriu com um barulho forte. Olívia entrou no veículo, de cabeça baixa, limpando as lágrimas no rosto com a palma da mão livre. Sentou-se sozinha em um dos bancos junto à janela e em nenhum momento desviou os olhos da paisagem, que à medida que os dias passavam, tomavam a cor alaranjada.

[…]

Sozinho em casa, Emmett foi até o banheiro onde lavou o rosto e escovou os dentes. Voltou à cozinha, preparou o café e encheu uma garrafa térmica, levando com ele para a garagem.

O carro de Sarah ainda estava parado lá, encoberto por uma capa para automóveis, empoeirada. Há muito tempo não se atrevia a olhar para ele. Usá-lo, estava fora de cogitação.

Nos últimos anos, Emmett passou a dirigir uma caminhonete vermelha, cabine dupla, comprada de segunda mão. O trabalho como empreiteiro, construindo e reformando casas, lhe dava a grana que precisava para sobreviver.

Ele pôs a garrafa no banco do carona quando entrou no carro. Enquanto o portão se erguia a sua frente, liberando a passagem, pensou em Olívia, no olhar dela, automaticamente isso o levou a pensar em Sarah. A dor profunda que foi sua perda. E o quão terrível foi aquele primeiro verão sem ela. Quis deixar a filha no hospital para adoção, nem sequer chegou a vê-la enquanto esteve lá. Não fosse sua mãe ter chegado à cidade e trazido Olívia do hospital com ela para casa, jamais teria estado com ela.

Cheryl cuidou da neta do jeito dela, livre de afeto e de carinho, ainda assim, cuidou da menina durante os primeiros anos pós-morte de Sarah. Cansada das brigas constantes com filho, que a cada dia afundava mais na tristeza, num mundo só dele, trancafiado no quarto com cortinas fechadas a maior parte do tempo, entregue ao álcool e ao cigarro, se recusando assumir a responsabilidade para com a filha, Cheryl resolveu ir embora de vez.

Foi aí que Emmett se viu sozinho com Olívia, sem saber o que fazer com a criança que não queria ao seu lado, e com a própria dor.

A senhora Smith então entrou em cena. Quando não havia ouro jeito, era a ela a quem recorria.

Tudo em que conseguia pensar era que perdeu Sarah ao receber Olívia. E ele nunca teria escolhido a criança se tivesse tido a chance de escolha.

[…]

Atlanta, Geórgia, EUA.

Rosalie retirava algumas de suas roupas do closet e as levava até a grande cama no centro do quarto, onde duas malas esperavam para ser preenchidas, quando percebeu a porta abrir. Imaginou que fosse sua mãe, pronta para encher seus ouvidos com palavras que não aguentava mais ouvir, se dando conta no minuto seguinte que se tratava da amiga Isabella. Ela usava os cabelos cor de chocolate, presos de forma indisciplinar no alto da cabeça, e uma jaqueta jeans presa à cintura.

A presença da amiga lhe trouxe um pouco de animo.

Contente em vê-la, Rosalie soltou o cabide com as peças de roupas que segurava deixando-a junto às outras na pilha sobre a cama.

— Ai... — murmurou com um suspiro cansado. — Ainda bem que é você. — Ela caminhou ao encontro da amiga, que acabava de entrar no quarto e fechar a porta atrás de si.

— Estou preocupada com você — declarou Isabella, dando alguns passos na direção dela, diminuindo a distância entre as duas, por fim, abraçando a amiga. — Franklin me ligou, disse que você pediu afastamento do trabalho. Fiquei tão surpresa quanto ele se mostrou ao me contar a novidade. Você nem mesmo gosta de tirar férias. Seu trabalho no museu está dentre as coisas que mais ama.

— Graças a minha dedicação, e o fato de raramente tirar férias, é que vou poder me ausentar por um tempo agora.

— Como você está se sentindo, de verdade? Não minta para mim — Isabella pediu, segurando as mãos da amiga enquanto se aproximavam da cama e sentavam juntas, na beirada, mesmo sobre algumas peças de roupas.

Rosalie afastou do rosto uma mecha de seus cabelos louros.

— Tirando o fato que peguei meu noivo, quero dizer ex-noivo, na cama com a minha irmã...

Isabella reconheceu a tristeza nos olhos da amiga. E gentilmente a abraçou.

— Eu sinto muito... — disse em meio ao abraço.

— Não tem porque sentir, Bella. Não foi você quem me enganou, foram eles.

O abraço chegou ao fim, ainda assim, ambas pereceram de mãos dadas.

— Sua irmã foi uma vaca com você, isso é fato. Ele, um miserável. Não bastava fazer o que fez, tinha de ser justo com a sua irmã. Você deveria ter tacado fogo no apartamento dele com os dois lá dentro. Deveria, sim.

Rosalie esteve a ponto de rir, porém, a dor da traição ainda era maior. E se tornar uma assassina não era bem o queria para seu futuro.

— Desculpe-me, amiga. — Isabella pediu. — Eu sei que estou falando bobagem. Mas, a verdade é que você bem poderia ter dado uma surra nela. Ela foi muito vaca com você. Vocês são irmãs.

— Ontem à noite eu quase fiz isso. Estávamos discutindo, e aí...

— E aí o quê? — Isabella questionou quando a continuação não veio. — Continue.

Rosalie ergueu os olhos, buscando o olhar inquisidor da amiga.

— Aí ela gritou que estava grávida.

A primeira reação de Isabella foi arregalar os olhos.

Rosalie secou uma lágrima no próprio rosto e prosseguiu falando:

— Imagine como eu fiquei... Perdi o chão mais uma vez. Meu pesadelo está longe de ter um fim, Bella. Eles não só me traíram como terão um bebê juntos. Não pude fazer nada com a traidora. Não posso fazer nada, percebe? Não posso arriscar fazer algo que vá fazer mal a um pobre inocente. O bebê não tem culpa de nada. — Rosalie estava chorando agora. — Ele não tem culpa da canalhice dos dois...

Isabella acariciou a mão dela oferecendo um olhar compreensivo.

— Eu não seria capaz de fazer algo que pudesse fazê-la perder o bebê... Mesmo depois do que ela me fez. Perdi o meu bebê, com oito semanas de gestação, a pouco menos de um ano e ainda me dói pensar que nunca o terei em meus braços.

— Quem sabe um dia... com alguém que valha a pena — Isabella dizia, quando Rosalie a interrompeu.

— Não. Não quero mais sonhar com essas coisas. Talvez nada disso seja para mim.

— Ei. Não diga isso. Você não pode desistir de tudo assim. Não por causa deles.

Rosalie a interrompeu novamente.

— Minha mãe está do lado dela. Eles me traíram. Todos eles. Não pensaram em como me sentiria em momento algum. O mais engraçado é que me tornei a vilã, fácil assim. Meu pai só se importa com os negócios dele. A casa pode cair que ele não dá à mínima. Mamãe sempre preferiu Irina a mim. E não se intimidou em demonstrar isso mais uma vez. Aposto que ficaram a noite inteira falando a respeito do bebê e da festa de casamento.

— Festa de casamento? — Isabella ficou surpresa com mais essa, também.

— Eu não te contei? Eles vão se casar. O que deve acontecer em alguns dias. A traidora não quer estar com a barriga grande na data da cerimônia. Como se isso fosse livrá-la do que as pessoas irão falar. Aquele miserável me enrolou por cinco anos, num noivado que não tinha fim. E agora vai se casar com a minha irmã, assim, rapidamente.

— Encontrei com as duas quando estava chegando — Isabella comentou. — Elas estavam de saída. Sua mãe disse que estava no quarto e me deixou entrar.

— Com certeza foram às compras. Devem estar felizes, rindo e fazendo planos nesse exato momento. Só espero que Irina nunca se arrependa do que me fez passar, porque não sei se serei capaz de perdoar. Irina está se fazendo de vítima, o que me torna automaticamente a vilã. Fui traída não só por eles, mas também por meus pais, que em momento algum demostraram apoio para com a minha dor. Entende agora por que preciso me afastar? Tudo aqui se tornou tóxico para mim.

— Você não precisa sair da cidade para que isso aconteça. Pode vir morar comigo no meu apartamento. Eu ia adorar ter uma companheira de quarto, seria como na época da faculdade.

— Eu não quero ter de cruzar com eles por aí, de mãos dadas e felizes. Não quero ter de assistir a barriga dela crescer mês a mês. Não quero estar aqui no dia do casamento. Além do mais, não quero atrapalhar seu lance com Edward. Eu sei que ele dorme lá com você às vezes.

O olhar de Isabella para ela era de preocupação.

— Para onde está pensando e ir? — pediu.

— Edenton, na Carolina do Norte.

— Não é lá que seu avô materno mora?

— Sim, é isso mesmo.

— Ele sabe que está indo para lá?

— Não. Ele vai querer saber o que aconteceu, e eu não quero ter de falar sobre isso com ele por telefone. Nem mesmo sei se quero que ele saiba. Talvez, no fundo, eu tenha medo de que ele fique do lado de Irina também. Não acho que suportaria mais esse golpe.

— Não sei se quero você dirigindo até lá, e sozinha. Eu poderia ir com você, só para fazer companhia, depois, quando estiver em segurança, retorno.

 — Não se preocupe comigo, Bella. Eu vou ficar bem.

— Tem certeza?

— Uhum — Rosalie murmurou. — Vai me fazer bem visitar o vovô. Eu não o vejo desde o funeral da vovó. E isso já tem quase oito anos. Ele deve se sentir sozinho. Mamãe nunca se preocupa em visitá-lo. Sério, até mesmo em relação ao próprio pai, mamãe é indiferente. Pode ser que seja bom para nós dois ficar juntos por um tempo, ou talvez não. Pode ser que ele me expulse assim que pôr os pés lá. Mas, isso eu não saberei até que esteja diante dele.

— Promete que vai me ligar, caso queira conversar? A qualquer hora?

— Prometo.

— E que aceita o convite de ficar no meu apartamento, no caso de seu avô te botar para correr?

— Prometo que vou pensar.

— Seu avô não usa aquelas roupas de caipiras, usa? Nem fica com um palito na boca movendo de um lado para o outro, fica?

— Não que eu me recorde.

As duas riram um pouco.

— Obrigada — Rosalie agradeceu.

As duas voltaram a se abraçar.

— Vou sentir sua falta — Isabella confessou.

— Eu também — Rosalie lhe disse. — Eu também sentirei sua falta.

O abraço foi finalizado, e Isabella voltou a falar.

— Quanto tempo pretende ficar por lá?

— Eu ainda não sei. Consegui quatro semanas de licença, mas, não sei... não quero voltar a viver perto deles.

— Você não precisa morar aqui se acha que não vai te fazer bem. Mas também não precisa viver tão longe. Como vou viver sem a minha melhor amiga?

— São só algumas horas de viagem. E você pode ir me visitar sempre que quiser.

— Prometa que vai dirigir com cuidado. O único lugar onde eu não quero, de jeito algum, te visitar é no cemitério. Então não se atreva a fazer nenhuma bobagem.

— Que horror — Rosalie se queixou.

— Eu sei que isso foi horrível, mas você tem de prometer para mim que vai se cuidar. E vai me ligar assim que chegar lá?

— Prometo.

— Mas tem de me ligar antes mesmo de entrar na casa de seu avô.

— Como você é exigente.

— Porque eu te amo. E vou morrer de preocupação se não tiver certeza de que está bem.

— Bem, você também terá de prometer que não vai contar para ninguém onde estou.

— Se isso servir para punir sua família traidora, então pode ter certeza de que guardarei segredo. Ainda me finjo de desesperada caso algum deles me procure para questionar.

Rosalie balançou a cabeça achando cômico, porém, necessário.

— Agora me ajude a fazer as malas para que eu possa cair fora daqui antes que aquelas duas voltem.

— Não vai deixar um bilhete?

— Talvez eu deixe um bilhete desejando felicidade a minha irmã traidora pelo bebê e o casamento.

— Isso soou um tanto irônico. Ainda assim, no seu lugar, eu diria para ela ser eternamente infeliz.

Ambas se puseram de pé e, em seguida, deram início ao preparo das malas.

— Eu poderia deixar um bilhete para mamãe dizendo o quanto ela me magoou, sempre preferindo Irina a mim. — Rosalie então mudou de assunto. — Olha, nessa mala aqui— ela indicou uma mala diferente das outras duas —, vou guardar todos os presentes que Royce me deu ao longo de nosso relacionamento. Você a leva daqui e dá o destino que quiser a ela.

— Tacarei fogo com certeza. Posso tacar fogo nele também, se você quiser.

— Não. Definitivamente, não quero ter de visitar minha melhor amiga na prisão. Você precisa parar com essa mania de querer tacar fogo em tudo. Anda assistindo séries de bombeiros demais, não acha não? Está ficando obcecada por fogo. Ainda que queira causar incêndios e não apagar.

— Não posso fazer nada se tenho um fraco por bombeiros. Aliás, depois você vai ter de me dizer se onde seu avozinho mora tem bombeiros gatos. Dependendo da resposta, posso te fazer uma visita bem antes do previsto.

— O que vou fazer com você, Isabella?

— Por ora, pensar em arrumar o quarto de hóspedes na casa de seu avô, no caso da resposta ser positiva.

— Obrigada por me fazer esquecer os problemas, ainda que por alguns poucos instantes.

— Amigas são para essas coisas.

Isabella continuou a ajudar com as malas. Rosalie teve a impressão, mais de uma vez, de tê-la ouvido murmurar tacar fogo nos presentes que Royce lhe dera, imaginando que fossem os dois traidores, mas deixou para lá.

Minutos depois, o Land Rover branco de Rosalie estava carregado com as malas. Ambas se despediam no jardim em frente à mansão dos pais dela.

— Promete que vai ficar bem? — Isabella pediu mais uma vez.

Rosalie meneou a cabeça, concordando, embora não tivesse certeza de que voltaria a ficar bem algum dia.

— Se cuida — disse a amiga.

— Você também. Lembre-se, se precisar de mim, não hesite em me ligar. A qualquer hora, não importa.

Rosalie entrou no carro.

— Tchau — murmurou. — Darei notícias.

Isabella acenou com a mão enquanto a amiga manobrava para fora do jardim da mansão. Percebendo Rosalie limpar as lágrimas no rosto com a mão ao deixar a entrada de veículos. Deixando apenas de olhar para ela quando o carro desapareceu de vista.

Rosalie não tinha certeza de estar fazendo a coisa certa, no entanto, foi o que conseguiu pensar num momento de confusão e tristeza. Partir não curava um coração partido, da mesma forma que ficar não lhe traria melhoras. Ainda assim, optou por tirar um tempo de tudo aquilo, repensar as escolhas de sua vida, independente do que esse tempo fora da cidade pudesse lhe trazer.

 


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Notas finais do capítulo

Aguardo vocês nos comentários.
Beijo grande
Sill