Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 25
Capítulo 24 — O Convite


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!
O capítulo de hoje é dedicado a josiane linda. Amei de mais da conta sua recomendação. Obrigada. Espero que goste do capítulo.

A todos, desejo uma boa leitura.



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Rosalie encontrou Emmett na sala. Esfregou as mãos uma na outra, sem saber bem como começar a conversa, disfarçando o constrangimento, depois do que aconteceu na outra noite.

— Ollie já está na cama — começou, por fim. — Está esperando para continuar a leitura. Disse que você não demoraria.

Emmett olhou em sua direção, sobre o encosto do sofá.

— Já estou indo — não havia sinal de fúria em sua voz, embora, assim como ela, parecesse pouco à vontade. — Só estava dando um tempo para vocês — continuou.

— Claro — murmurou Rosalie, tomando o caminho da porta da frente.

Emmett ficou de pé e, para sua surpresa, ele a acompanhou até a porta. Ainda sem jeito, seus olhares se encontraram.

Rosalie se viu desejando, em pensamentos, que não se desculpasse pelo beijo. A maneira como reagiu, quando aconteceu, foi o suficiente.

Em vez disso, ele abriu a porta para ela. Ao menos parecia querer que voltasse, notou. Gostando mais do que deveria.

— Obrigada — falou, sem saber o que esperar dele. Entre um rompante e outro, quase sempre a surpreendia.

— Na verdade, eu preciso te agradecer. Não digo isso só pelo que fez hoje pela Olívia, mas por tudo o que tem feito desde que a encontrou pela primeira vez — houve uma pequena pausa antes de voltar a falar: — Por tudo que tem feito por nós desde que chegou à cidade. Ainda que eu tenha sido extremamente rabugento.

Rosalie meneou a cabeça, aceitando seu agradecimento.

— Boa noite — disse, passando pela porta. As mãos nos bolsos do agasalho.

Ele estava com o ombro encostado na quina da porta, quando voltou a falar:

— Durma bem.

Rosalie se sentiu patética, por ter apreciado tanto o modo como as palavras deixaram os lábios dele. E o olhar tranquilo com que se despediu.

Emmett se sentiu estranho, não tinha planejado dizer tudo o que disse. As palavras simplesmente escaparam. Ele fechou a porta devagar, e foi ver a garotinha que aguardava por ele no andar de cima.

Empurrou a porta do quarto vagarosamente, espiando no lado de dentro. Não queria perturbar seu sono caso estivesse dormindo.

— Papai… — a voz infantil chamou por ele.

Entrou no quarto com passos leves.

— Desculpe pela demora — foi falando ao se aproximar da cama. Pegou o livro deixado por Rosalie aos pés de Olívia, em cima de seu cobertor. — Vamos ver aonde ela parou. — Abriu na página onde estava o marcador. A cama de ferro rangeu com seu peso. Isso o fez pensar em melhorias para a casa, especialmente no quarto de Olívia. Afagou a barriga da menina sobre o cobertor. — Está quentinho aí? Precisa de mais um cobertor?

— Assim está bom. Tá bem quentinho.

— O papai já pode começar a leitura? — ele pediu.

— Uhun.

— Muito bem — antes de se concentrar na leitura, prestou atenção no rosto da filha. Estendeu a mão lhe acariciando a face salpicada de pontinhos que lembravam canela. Os pequenos olhos escuros se fecharam brevemente, apreciando o gesto de carinho.

Não pôde deixar de se sentir envergonhado pelo homem que se tornou, após a morte de Sarah.

Iniciou a leitura com um par de olhos escuros concentrados nele. Um sorriso surgia naquele rostinho toda vez que usava de um tom diferente para fazer as vozes dos personagens.

Alguns minutos se passaram desde que dera continuidade à leitura. Bocejos revelaram o cansaço da menina, ele continuou lendo somente até vê-la fechar os olhos. Fechou o livro e o deixou em cima da mesinha de cabeceira.

Ajeitou o cobertor em torno do corpo miúdo, e lhe beijou a testa.

— Durma bem, minha doce garotinha. Papai vai estar logo ali, no quarto ao lado.

O cobertorzinho estava colado à bochecha de Olívia enquanto dormia. Ele pensou em como poderia convencê-la a deixar lavá-lo. Mas isso era assunto para outro momento.

Deixou a luz do abajur acesa ao sair.

Enquanto se preparava para dormir, esteve olhando o violoncelo de Sarah. Sentiu saudades do tempo que chegava em casa e a encontrava tocando, tão concentrada, suas melodias favoritas. Sempre tão dedicada a tudo o que fazia.

Ao contrário de outras vezes, não havia fúria aliada a esse sentimento. Em vez disso, voltou sentir culpa por ter beijado Rosalie.

Não a odiava. Hoje reconhecia o quanto tinha feito pelos dois; pai e filha. Só não conseguia lidar com os sentimentos que vinham surgindo em relação a ela como mulher.

Deitou na cama, segurando uma fotografia de Sarah, recentemente posta num novo porta-retratos. Esteve por tanto tempo admirando o belo rosto enfeitado por sardas e seus cabelos vermelhos, que chegou um momento que a imagem se tornou a de Rosalie. Escondeu a fotografia embaixo do travesseiro quando isso aconteceu, tentando fugir do que estava sentindo.

Adormeceu com os braços embaixo da cabeça, a barriga para cima, encarando o teto no escuro.

[…]

Um lindo céu de primavera se estendia sobre a propriedade. No jardim dos fundos, numa época em que tudo na casa era novo e cheirava a flores. Sarah estava sentada no banco sob o caramanchão florido. Seus longos cabelos ruivos cintilando a luz do sol. O vestido de tecido leve e alças finas modelavam as curvas de seu corpo.

Foi estranho. Ele estava exatamente como é hoje; a barba espessa, cabelos precisando de um corte, roupas gastas.

Sarah sorriu quando se aproximou dela.

Emmett estava envergonhado com a própria aparência.

— Sente-se aqui — ela pediu, pondo a mão no banco.

— Sarah — ele murmurou seu nome, com a voz embargada. Saudade e culpa acabando com suas forças. — Sarah — voltou a falar. E como era bom poder fazer isso estando sentado ao seu lado novamente. O desejo de que isso acontecesse era tão forte que chegava a doer.

— Quem você se tornou? — pediu ela. Na voz, um leve tom de acusação.

— Não sei quem me tornei — as palavras deixaram os lábios dele com sofrimento. Seu olhar era a prova disso.

— Quero que seja feliz — ela lembrou.

— Não posso ser feliz sem você ao meu lado.

— Você pode, sim.

— Eu te amo.

— Está na hora de segui adiante.

— Não sem você.

Ele viu tristeza e dor cruzar os olhos da mulher que tanto amou. Isso doeu mais que qualquer palavra que pudesse ter dito. Mesmo assim, ela continuou:

— Te dei o melhor de mim. Minha filha. O melhor de nós dois ficou com você.

— Me perdoe, por favor — implorou Emmett. — Estive cego por tempo demais. Eu amo nossa garotinha. Isso é cem por cento de certeza. Prometo fazer tudo que puder para que tenha uma vida feliz ao meu lado.

Sarah meneou cabeça.

— Espero realmente que seja assim. Que você também consiga ser feliz. Não importa quem ela seja desde que faça você e a Ollie felizes. Refaça sua vida, Emmett. Eu te amei muito e você a mim, mas esse tempo acabou. Estarei feliz se vocês estiverem felizes. Quando pensar em desistir, encontre o caminho, olhe no céu, busque pelo arco-íris. Foi isso o que nossa filha fez durante seis anos de solidão. Ele lhe mostrou que o caminho da felicidade não é tão difícil quanto parece.

— Sarah — murmurou ele.

— Seja feliz, Emmett.

— Sarah?

— Seja feliz.

— Sarah! — tornou chamar seu nome, só que dessa vez não mais com olhos fechados, estava com os olhos bem abertos encarando o teto. Os batimentos acelerados. A respiração ofegante. Angustiado.

— Papai — ouviu Olívia chamar de seu quarto.

Saltou da cama num pulo, se embaralhando com os cobertores ao pisar no chão.

— Olívia? Olívia! — Repetiu seu nome enquanto recuperava o equilíbrio.

— Papai?

Deixou os cobertores onde estavam conseguindo finalmente sair do quarto sem dar com a cara no chão.

— Estou indo filhinha. — Abriu a porta do quarto da menina, desesperado. Buscando por sua figura pequena.

Olívia estava sentada na cama. O cobertorzinho e a ovelha encardida, presos em seus braços.

Emmett se aproximou.

— Pronto! Papai está aqui. Você teve um pesadelo?

— Arco-íris — contou a menina com voz de choro.

— O que tem Arco-íris?

— Ela disse que em breve terá de ir embora.

Emmett respirou, aliviado. Não tinha sido nada grave a perturbar seu sono, pensou.

— Talvez ela precise cuidar de outra garotinha agora que não precisa mais tanto dela — admitiu.

— Não quero que ela vá — Olívia confessou.

— Eu sei — Emmett a pegou no colo. — Ela foi, e ainda é, uma boa amiga.

— Eu não quero que ela vá embora, nunca. — insistiu, com a cabeça no ombro do pai.

— Às vezes precisamos deixar as pessoas partirem — ele finalmente aceitou que precisava fazer o que dizia; deixar Sarah partir.

— Como a vovó Cheryl que deixou a gente?

— Mais ou menos isso.

— Eu não gosto… machuca o coração. Principalmente se a pessoa for morar no céu como a mamãe.

Emmett afagou suas costas ao ficar de pé carregando-a no colo.

— Você tem toda razão. Deixar as pessoas partirem nem sempre é fácil. O coração sofre com isso.

Voltou para o quarto do casal levando Olívia com ele. A colocou na cama, tomando o cuidado em mantê-la aquecida com o cobertor que recolheu do chão. Deitou ao seu lado, e afagou seus cabelos.

— Papai — Olívia murmurou um momento depois. — Eu não quero que me deixe nunca. — Encostou a cabeça ruiva no peito dele.

— Eu não vou te deixar — respondeu. E, sussurrando, completou: — Nunca mais.

— Você promete?

— Prometo. — Prometeu, embora soubesse que era algo que não dependia apenas dele e do que sentia. Ele mais do que ninguém sabia que promessas poderiam não ser cumpridas, que vidas podiam ser encerradas sem qualquer chance de escolha ou aviso.

— Também não quero nunca que a Rose deixe a gente. Ela é que nem uma mamãe. Faz coisas como uma mamãe. E tem cheiro de mamãe.

Outra vez, Emmett se pegou pensando sobre pessoas e momentos não permanecerem. Talvez, a permanência de Rosalie fosse assim, fora do alcance deles. Como explicar isso a uma garotinha que já perdeu tanto.

— Ficaremos bem — garantiu a Olívia, enquanto acariciava seus cabelos. — Me esforçarei para fazer disso realidade.

[…]

Sentada no tapete da sala de estar, brincando de bonecas na companhia Rosalie, Olívia colocou uma de suas novas bonecas Barbie dentro do carro cor-de-rosa. Então, sem que Rosalie esperasse, iniciou uma conversa:

— Por que as pessoas têm sempre de partirem para algum lugar?

Segurando outra boneca, Rosalie parou para prestar atenção.

Olívia continuou:

— Às vezes é para sempre, como a mamãe que agora vive no céu. E a vovó Cheryl. Só que a vovó não está no céu, é só em outra cidade mesmo.

Rosalie deixou a boneca de lado, estendendo as mãos para Olívia.

— Vem cá, meu amor.

A menina sentou em suas pernas.

— Eu sei que é difícil para você entender porque essas coisas acontecem — começou ela, passando uma mecha dos cabelos ruivos para detrás da orelha da menina. — Você irá perceber melhor em alguns anos, quando for mais velha. Sua mamãe não escolheu partir, você sabe disso, não sabe? — Olívia concordou com um movimento de cabeça. — Sarah te amava mais do que tudo. Você foi o maior desejo da vida dela.

— E a vovó? Não foi papai do céu que chamou para ficar ao lado dele. Ela escolheu partir, não foi?

Rosalie passou dessa vez uma mecha dos próprios cabelos para longe do rosto, pensando no questionamento da menina.

— Sim — respondeu. — A vovó Cheryl escolheu partir. Mas não significa que ela não te ama.

— Ela nunca mais voltou — concluiu Olívia. — Nem telefonou. Será que onde ela mora não tem telefone?

Rosalie fez um afago em suas costas.

— Talvez ela esteja pensando numa maneira de fazer isso.

Olívia balançou a cabeça.

— Acho que ela se esqueceu da gente.

— Claro que não, meu amor. Isso é algo impossível de acontecer.

— Esquecer-se de mim e do papai?

— Sim. Você e o papai não são nada fáceis de esquecer.

Olívia sorriu para ela.

— Então você nunca irá esquecer-se da gente?

— Nunquinha. Jamais. — Ela fez cócegas na barriga de Olívia, que se contorceu e deu risadinhas.

— Eu amo você Rose — a menina soltou, recuperando o fôlego. — Amo muito você.

Rosalie envolveu seu corpo miúdo num abraço apertado.

— Eu também amo você, minha pequena.

Mais tarde, enquanto Olívia cochilava no sofá, esperando o pai chegar do trabalho, Rosalie se enfiou no escritório da casa deles, vasculhando gavetas e armários em busca do número de telefone da mãe de Emmett. A única avó que Olívia conhecia, e tanto sentia sua falta.

Levou bastante tempo, começava pensar em desistir, quando finalmente encontrou um número de telefone que pudesse ser da residência dela. Correu para perto do telefone ao lado do notebook.

Faróis de carro iluminaram a frente da casa, e o barulho do motor quebrou o silêncio. Uma porta bateu. Ela se afastou do telefone, pegou o celular dentro do bolso e rapidamente registrou o número na agenda. Certificou-se que tudo estava igual como quando chegou, e correu de volta para a sala.

Emmett deixou o agasalho no gancho ao lado da porta ao entrar. Seu olhar encontrou o dela, ambos ainda agindo estranho um com o outro por conta do beijo no jardim.

— O que… — ele estava dizendo quando Olívia notou sua presença. Saltando do sofá direto para seus braços.

— Papai!

Emmett a ergueu. Beijou seu rosto e ficou a segurá-la em um só braço.

— Oi, amorzinho. Papai atrasou um pouco hoje — Mais um beijo foi dado no rosto dela, e ele tornou a falar: — Me desculpe. Precisei parar para trocar um dos pneus da caminhonete quando voltava para casa. — Olhou para Rosalie estendendo a explicação indiretamente a ela.

— A gente estava vendo desenho animado — contou Olívia.

— Que legal. Talvez eu possa assistir um pouco mais tarde, também. — Ele colocou Olívia de volta no sofá. Ela pulou, gostando de saber que teria a companhia do pai para mais uma rodada de desenhos na televisão antes de dormir. — Vocês já jantaram? Eu trouxe comida. — Outra vez buscou o olhar de Rosalie. Estranhando que estivesse tão quieta.

— Ah — ela começou. — Ollie não quis jantar sem você. Você sabe que sempre a apoio.

— Sei — respondeu ele. — Eu sei, sim.

Rosalie teve a impressão de ver um sorriso surgir nos lábios dele.

— Vou só lavar as mãos, então podemos jantar.

— Rose também fez o jantar papai.

Ele olhou para Rosalie.

— Você não precisa fazer o nosso jantar. Não é obrigação sua. Nem mesmo recebe para isso.

— Gosto de cozinhar para Ollie. Cozinhar é quase uma terapia.

Emmett meneou cabeça, gostando, de verdade, do que ouviu.

— Não faço tudo sozinha. — ela lembrou. — Tenho uma excelente ajudante.

Suas palavras deixaram Olívia orgulhosa. O título de ajudante sem dúvida a agradou.

[…]

— Ollie está te esperando para terminar a leitura — Rosalie falou ao chegar à cozinha, onde Emmett limpava a louça do jantar.

Ele largou o pano e o desengordurante que usava para limpar a ilha.

— Termino aqui depois — disse.

— Eu vou indo, então — Rosalie mencionou, já se virando, pronta para sair da cozinha e também da casa dele.

— Eu te acompanho até a porta — Emmett se apressou em dizer.

— Não vai chutar o meu traseiro, vai? — ela brincou. Viu o olhar de espanto dele e deu risada. — Não precisa levar tão a sério Emmett.

— Eu entendi que foi para zombar de mim.

— Novamente — comentou ela, quando ficou de frente para a porta —, obrigada pelo jantar.

Emmett encostou a mão na maçaneta, se demorando em abrir a porta.

Rosalie aguardou com inquietação. O desejo de ser beijada por ele outra vez, tomando forma. Então, recordou a reação dele quando deram o primeiro beijo, e o corpo esfriou.

— Aconteceu alguma coisa? — arriscou.

— É… — murmurou ele. — Estava pensando senão gostaria de jantar comigo qualquer dia desses?

— A gente acabou de fazer isso — ela olhou em direção ao caminho da cozinha.

— Não aqui na minha casa — ele corrigiu. — Em outro lugar.

— Está me convidando para um encontro? — Rosalie sustentou seu olhar. Não sabia se ficava surpresa ou desconfiada. Embora tenha gostado do convite.

— Você aceita?

— Não deveria — começou. — Mas, eu vou aceitar.

— Ótimo! — Emmett finalmente respirou, aliviado. — Só preciso encontrar alguém de confiança para ficar com Olívia, então, teremos o dia e horário.

— Vovô pode ficar com a Ollie. Prometo a você, ela estará em boas mãos. — reconhecendo insegurança no rosto dele, continuou: — Não precisa decidir agora.

Emmett balançou a cabeça dando entender que pensaria a respeito.

Rosalie saiu para a varanda.

— Rosalie — ele a chamou.

— Sim?

— Me desculpe pela forma como agi com você na outra noite. Não estava pensando com coerência. — Ele abaixou a cabeça.

— Não se preocupe — aceitou, sorrindo de leve para ele.

— É… Boa noite.

— Boa noite, Emmett.

[…]

— Oi, vovô.

— Oi, querida. — Norman respondeu, deixando de olhar o programa de televisão para olhar no rosto da neta. — Como está minha Abobrinha? — enquanto aguardava a resposta, analisou a expressão no rosto de Rosalie. Tentando desvendar o que poderia estar acontecendo.

— Está bem. Conseguimos vovô. Emmett está se saindo muito bem no papel de pai, como prometeu. De agora em diante, tende a melhorar cada vez mais.

Ainda analisando seu rosto, Norman questionou:

— Há algo que eu deveria saber?

— Como assim?

— Você sempre fica feliz com a oportunidade de cuidar da menina, disso ninguém pode duvidar.

Rosalie o encarou, sem saber aonde queria chegar com aquela conversa.

— Tem algo diferente — arriscou Norman. — Me parece que certa decepção, envolvendo um acontecimento recente, deixou de ter tanta importância hoje.

Rosalie quase sorriu do que ouviu do avô.

— Ah, é disso que o senhor está falando.

— Então, não vai me dizer o que aconteceu? Estou curioso.

— Não consigo esconder nada do senhor, não é mesmo?!

— Digamos que é apenas difícil. Sou um bom observador.

Rosalie se aproximou com um sorriso no rosto.

— Está bem. — Sentou ao lado do avô no sofá, segurando sua mão como fosse entrar em uma fofoca com a melhor amiga. — Eu queria falar com Bella antes…

Norman encostou a mão em seu joelho.

— Perdoe minha intromissão — pediu. — Converse antes com sua amiga.

— Emmett me convidou para jantar — disparou sem rodeios.

— Você janta praticamente todas as noites com ele.

— Foi exatamente o que pensei quando veio com a conversa de um jantar. Então, disse que encontraria alguém para ficar com a Ollie.

— O que significa que serão apenas os dois.

— Sinceramente, não me incomodaria se a Ollie estivesse presente. Mas, nesse caso, o melhor é que tenhamos um momento para conversar sem nós preocuparmos com o que ela possa ou não ouvir.

— Aonde ela vai ficar enquanto estiverem fora?

— Ele disse que procuraria alguém de confiança. Eu disse que o senhor poderia ser essa pessoa. O senhor não se incomodaria de cuidar dela por algumas horinhas, não é?

— Claro que não me incomodaria. É muito fácil cuidar da Abobrinha. É uma criança muito boazinha.

Rosalie beijou as costas de suas mãos.

— Obrigada, vovô. — Ela apontou para a escada. — Eu vou subir um pouco. Preciso fazer uma ligação antes que fique muito tarde.

Norman anuiu. Rosalie se levantou. Antes que alcançasse o primeiro degrau da escada, ele chamou sua atenção.

— Tenha cuidado, Rose — Rosalie sabia que estava se referindo a seu futuro encontro com Emmett. — Não quero que volte a se machucar. — Ela anuiu, a mão no corrimão, pronta para subir a escada.

No antigo quarto de Dorothy, sentou na cama encoberta pela colcha patchwork feita por sua avó em algum momento da adolescência de sua mãe.

Retirou o celular do bolso. A proteção de tela era agora uma fotografia sua com Olívia fazendo caretas. A imagem a fez sorrir.

— Isso é por você Ollie — falou para a garotinha na tela. Então, buscou o número que tinha gravado há pouco tempo e clicou para realizar a chamada.

Na primeira tentativa, ninguém atendeu. Aguardou cerca de cinco minutos para tentar novamente.

— Alô? — a voz feminina soou do outro lado da linha, um segundo antes de ela quase desistir da segunda tentativa.

— Ah… oi. Boa noite. — Se atrapalhou ao falar. Os pensamentos lhe fugiram no momento inicial da conversa.

— Se for para oferecer algum serviço, não estou interessada.

— Não — Rosalie se apressou em dizer. Reformulando as palavras. — Não quero oferecer nada.

— Não entendo… — a mulher soou desconfiada.

— A senhora não me conhece, nem eu a senhora…

— Diga logo o que quer sem rodeios.

Ela lembra alguém, pensou de maneira irônica.

— Conheço seu filho e sua neta.

Um suspiro desgostoso soou do outro lado da linha.

— O que o inconsequente do meu filho aprontou dessa vez? Talvez eu devesse perguntar o que ele não fez?

— Na verdade, é mais sobre sua neta do que sobre seu filho.

— É do serviço social? Está me ligando para dizer que tirou a menina dele? Penso que até demorou em isso acontecer.

— Não, senhora. Não tenho ligação alguma com o serviço social.

— Não? Então quem é você? E como me encontrou?

— Digamos que sou uma amiga.

— Hummm… — murmurou. — Já não era sem tempo. Há quanto tempo está com ele? Por que não foi ele a me ligar para dizer isso?

— Senhora… Não estou com seu filho. Como disse, sou apenas uma amiga. Mais de sua neta, que do seu filho, na verdade.

— De toda forma, significa que ele começou a reagir.

— Sim.

— Por que exatamente está me ligando? Ele pediu para fazer isso?

— Não. Liguei porque Olívia sente sua falta. — silêncio ocupou a linha. — Não estou ligando para questionar sua decisão. Por favor, não desligue.

— Você não sabe tudo o que tive de aturar nós primeiros anos após a morte de Sarah.

Eu imagino, Rosalie quis dizer, mas optou por não fazer isso.

— Larguei minha vida na Pensilvânia para estar com eles. Mas o meu filho…

— Minha intenção não é questionar os motivos que a obrigou deixá-los para trás. Ainda que seja tentador.

— Não estou entendo aonde quer chegar.

— Ollie acha que não gosta dela e por isso a abandonou.

— Ollie — repetiu Cheryl. — Você a chama pelo apelido.

— Ela sente sua falta. Quero apenas que telefone para falar com ela.

— Não posso fazer isso.

— Por que não?

— Não saberia o que dizer. Faz muito tempo. Não fui uma boa mãe tampouco avó nos últimos anos. As pessoas têm razão quando dizem que os abandonei. Eu realmente fiz isso.

— Nunca é tarde para demonstrar arrependimento.

— Você não conhece meu filho…

— Tem razão, mas ele tem demonstrado que ainda existe um homem bom dentro do monstro que se tornou com o luto. Esteve por muito tempo perdido no escuro que a dor representava na vida dele. Não faz muito tempo, tem lutado para recomeçar.

— Você me parece ser uma boa pessoa. E, se meu filho não estiver mais tão empenhado em destruir a si mesmo, já terá percebido isso também.

— Obrigada. Não quero mais tomar seu tempo. Está tarde, sei que precisa descansar. Só peço que, por favor, considere fazer uma ligação para sua neta. Ela vai ficar muito feliz.

— Não posso prometer que farei o que está me pedindo.

— Então, não prometa — um minuto inteiro de silêncio se estendeu, antes de Rosalie voltar a falar: — Faça isso. — Ela suspirou ao finalizar a ligação. Deixando o celular cair em cima da cama, levantou e foi se trocar para dormir. Terminava de escovar os cabelos quando uma leve batida na porta chamou sua atenção.

— Pode entrar vovô.

Norman espiou por uma brecha o lado de dentro.

— Conseguiu? — pediu ele.

— Acredito que sim.

O avô balançou a cabeça.

— Tenha uma boa noite, querida.

— Obrigada, vovô.

[…]

Emmett cochilou ao lado de Olívia, na cama pequena, com o livro infantil na mão.

Levou um tempo para levantar, após se dar conta que tinha pegado no sono. Quando saiu da cama, tomou cuidado para não fazer barulho, o que era praticamente impossível, uma vez que a cama antiga era barulhenta por si só.

A luz do abajur ficou acesa quando saiu para o corredor. E então entrou no quarto do casal.

Sentou na cama, observando o violoncelo de Sarah junto à janela. Foi inevitável não pensar nela. Na falta que fazia em sua vida e na de Olívia. Recordou do sonho que tivera recentemente. E, finalmente, antes de pegar no sono de novo, pensou em Rosalie. No beijo. No pedido que fez a ela, convidando-a para sair. Orgulhoso de si mesmo por ter conseguido dar o passo inicial. Aceitando a oportunidade que lhe fora dada.

 


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Notas finais do capítulo

Sill