Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Com primavera chegando ao fim, os dias tornando-se cada vez mais quentes, uma promessa da nova estação que estava por chegar; dias mais longos e passeios ao ar livre. A estação favorita de Sarah. A chegada do verão sempre a deixava animada.

Após dois anos de casamento, o casal esperava a chegada do primeiro filho. Sarah, ao final da gestação, se sentia enorme e pesada, ainda que Emmett lhe dissesse todos os dias o quanto a gravidez lhe caíra bem. E, mesmo não acreditando quando dizia isso, senti-a feliz e amada.

Emmett estacionou o carro na entrada de veículos da casa de dois andares, no estilo vitoriano, com um jardim florido e gramado verde bem aparado. Tudo, desde a parte externa a interna da residência, havia sido escolhido pelos dois, meses antes do casamento.

Embora a casa estivesse precisando de uma reforma, quando Sarah a descobriu à venda, se apaixonou por ela quase que imediatamente. Num pensamento sonhador sobre o futuro, viu cada fase de sua vida de casada passar como um filme diante dos olhos; a chegada dos filhos, três especificamente, o crescimento de cada um deles. As festas, as discussões bobas, a partida de cada deles um para a faculdade, ficando apenas ela e Emmett outra vez.

Emmett saltou do veículo, e deu a volta para abrir a porta do carona para Sarah saltar. Os cabelos ruivos de Sarah estavam presos de forma irregular no alto da cabeça de modo a amenizar o calor atípico da estação. As bochechas salpicadas de sardas, coradas. O sorriso amplo ao estender a mão para o marido.

Ele recolheu a bolsa dela. Fechou o carro, e a conduziu para dentro de casa, sempre com a mão espalmada levemente nas costas dela.

Sarah foi a primeira a entrar na casa, indo direto para o sofá onde se sentou e se pôs a acariciar a barriga avantajada com ambas as mãos.

— Nossa garotinha não para de mexer um só minuto... — comentou.

Emmett se aproximou, deixando a bolsa dela sobre o sofá oposto. Agachou-se de frente a ela e tocou sua barriga com ambas as mãos, ansiando sentir o bebê se movimentar. Senti-lo vivo. E perceber o amor crescer em seu coração cada vez que isso acontecia.

Seus olhos se encontraram com os de Sarah. Tanto ele quanto ela sentindo o movimentar oculto do bebê, as mãos dele juntando-se as de Sarah sobre o ventre.

— Eu já a amo mais que a mim mesma — Sarah confessou. — Mas, caso ela venha a se parecer com você, não caberei em mim de tanta felicidade e amor. Porque você é tudo o que eu sempre quis. Ter uma cópia sua será como viver a felicidade em dobro.

Diante aquela confissão, Emmett se inclinou aproximando os lábios dos dela num beijo longo que dizia muito do que sentia. Todo seu amor e admiração por Sarah.

— Eu gostaria que ela tivesse a cor de seus olhos — Sarah completou. — Azul como o céu num lindo dia de verão.

Emmett a beijou mais duas vezes nos lábios antes de responder a seu comentário.

— Assim não vale — brincou. — Eu gostaria que os olhos dela tivessem a mesma cor dos seus; escuros e misteriosos feito a noite.

— Temos um problema então — Sarah sorriu. — Quem sabe ela tenha um olho de cada cor, uma garotinha com heterocromia ocular. — E acariciou a barba rala no rosto dele. — Bem, isso nós só saberemos depois que ela nascer — completou. E, em seguida, o beijou.

Um instante depois, Emmett se levantou.

— Vou preparar um banho de banheira para você — avisou. — E lhe farei uma massagem nos pés que vai fazê-la relaxar. A melhor que já fiz. Depois disso, nem vai lembrar que esteve tão cansada.

Sarah sorriu.

— Eu agradeço.

— Você quer subir agora ou prefere esperar aqui enquanto deixo tudo pronto?

— Acho que vou subir agora. Quero ir ao quartinho dela antes — Sarah acariciou a barriga ao mencionar a filha. — Você sabe que gosto de namorar as coisinhas dela. É tudo tão adorável.

Emmett a pegou no colo e a carregou escada acima, ainda que Sarah lhe dissesse que conseguia fazer isso. Ele a deixou em frente à porta branca do quartinho da filha onde uma moldura cor-de-rosa, com ovelhinhas brancas que pareciam saltar, davam as boas-vindas a quem se aproximava.

Emmett afastou uma mecha dos cabelos de Sarah para detrás da orelha, acariciando em seguida seu rosto com o polegar.

— Se precisar de ajuda, é só chamar — disse, vendo-a abrir a porta decorada.

Sarah anuiu e então entrou no quartinho do bebê. A decoração cor-de-rosa com branco tinha como tema nuvens e ovelhas brancas saltitantes. A suavidade e a doçura do ambiente a recebeu de braços abertos. Sarah analisou cada móvel e objeto de decoração mais uma vez, desde que o quarto fora decorado meses atrás. Olhou pela janela o jardim dos fundos, viu o caramanchão florido e o banco sob ele, ao lado, uma casinha de bonecas cor-de-rosa feita de madeira.

Por fim, ela se sentou na poltrona de amamentar segurando uma ovelhinha de pelúcia tão branca quanto um floco de neve. Fechou os olhos e ficou a imaginar que brincava com uma garotinha de cabelos escuros e olhos claros, exatamente como o pai, no jardim, sorridente.

— Olívia — murmurou seu nome de olhos fechados. — Minha Ollie.

Emmett surgiu na porta aberta. Encontrar Sarah de olhos fechados, no quartinho que juntos prepararam com tanto carinho, acariciando novamente a barriga enorme, o fez recordar o dia em que ela lhe deu a notícia da gravidez.

Era um dia tempestuoso. Tinha acabado de chagar do trabalho, estacionado o carro na garagem para evitar que a chuva o atingisse ao saltar, entrando na casa pela porta que dava na cozinha. Dali ouviu o som do violoncelo de Sarah. A música lhe trazia a sensação de bem-estar e reconhecimento. Assisti-la tocar era melhor ainda. Achava que ficava sempre tão linda e sexy, sentada com aquele instrumento musical, cor de mogno lustroso, apoiado entre as pernas. O coração se agitou ao imaginá-la.

O aroma saboroso da comida em cima do fogão o lembrou de que era hora do jantar. Mas nada era mais esperado do que vê-la naquele momento.

Seguiu pela cozinha, notando na sala de jantar a mesa posta para dois, de maneira a parecer um jantar romântico. Aquilo não o surpreendeu, Sarah sempre foi uma pessoa romântica, mesmo na época da escola.

Sarah, pensou ele. Em seguida se aproximou da mesa, pegando uma taça acrescentando a ela um pouco do vinho que ali se encontrava. Tomou um gole, apreciando o gosto, um momento antes de seguir em direção à sala, cruzando o cômodo a caminho das escadas, se deixando guiar pelo som do violoncelo.

Parou diante a porta aberta do quarto deles, onde encontrou Sarah sentada de costas para a porta, num banquinho acolchoado, com o violoncelo apoiado no chão por meio do espigão. Inclinada de forma carinhosa e apaixonada em direção ao violoncelo, como se estivesse abraçando o instrumento, os cabelos presos no alto da cabeça por um palito tipo Hashi, com alguns fios soltos roçando o pescoço e ombros. Um braço se movimentando com fluidez ao mover o arco, com a outra mão dedilhava as cordas mais acima. O vestido floral vermelho exibia um decote que deixava suas costas parcialmente nuas.

Sentiu-se ansioso para tocá-la. Sentir sua pele macia e o aroma de seu perfume.

Através da janela, viu a chuva caindo com força no lado de fora, se lançando contra o vidro com rajadas de vento.

Ele entrou no quarto com passos leves. Uma vez próximo a Sarah, curvou-se encostando a mão livre ao ombro dela deslizando sutilmente na pele suave e macia, enquanto lhe dava um beijo na nuca. Percebeu Sarah reagir a sua carícia parando de tocar no mesmo instante, abaixando a mão que manuseava o arco, virando o rosto para olhá-lo.

Emmett bebeu mais um gole do vinho e logo depois beijou os lábios dela.

— Não pare — pediu. — Continue tocando. — Sarah sorriu com seu pedido. Ele beijou o pescoço dela novamente e foi sentar-se na poltrona ao lado da janela, de modo que pudesse estar de frente para ela.

— O jantar vai esfriar — Sarah lembrou, embora não estivesse nada preocupada que o jantar pudesse realmente esfriar.

— Não tem importância, só quero ficar aqui e vê-la tocar por um instante. — Emmett sinalizou com a mão que segurava a taça de vinho, indicando que continuasse tocando.

Sarah voltou a tocar, entregando-se a música de alma e coração como sempre acontecia quando tocava. Emmett assistiu, maravilhado com sua beleza e talento, enquanto saboreava um pouco mais do vinho. Sarah tocou duas músicas inteiras, até finalmente parar. Emmett, por fim, tomou um banho e desceu para o jantar.

Mais tarde, enquanto os dois jantavam, Sarah revelou que estava esperando um bebê. Havia feito o teste e nas duas vezes o resultado fora positivo. Emmett levantou da cadeira onde estava sentado e segurou nas mãos dela convidando-a levantar com ele. Ele lhe beijou as mãos, os lábios e finalmente a barriga ainda esguia. Então a abraçou, chegando a erguê-la do chão com entusiasmo.

— Eu vou ser pai?! — comemorou. Ele pôs Sarah no chão, mas não chegou a se afastar dela. — Em poucos meses teremos um bebê. — Ele a beijou novamente nos lábios e voltou a abraçá-la. Sarah não chegou a beber do vinho, e ele sequer desconfiou até o momento da revelação da gravidez. Emmett a ergueu novamente do chão e, dessa vez, a levou para o quarto, no segundo andar, onde fizeram amor.

A lembrança foi se dissolvendo aos poucos. Emmett sorriu, voltando ao momento atual de sua vida. Por fim, deu uma leve batida na porta avisando a Sarah de sua presença.

— Amor. O seu banho está pronto.

Sarah sorriu ainda enquanto virava o rosto na direção de onde ele estava.

— Eu te amo, Emmett McCarty — o som de sua voz soou aveludada aos ouvidos de Emmett. E ele sabia que jamais se cansaria de ouvi-la.

Satisfeito, estendeu a mão para ela.

— Você é a minha vida, Sarah. Jamais me cansarei de repetir isso.

Sarah afagou a barriga e se pôs de pé. Andando ao encontro dele, pediu.

— Vai amar a Olívia da mesma maneira?

Emmett segurou na mão dela.

— É claro que sim. — Ele então beijou o dorso da mão dela, e a conduziu pelo corredor até o banheiro no quarto deles. Ajudou Sarah tirar as roupas e entrar na banheira. Como prometido, massageou seus pés e costas. Mais tarde, depois do jantar, assistiram tevê na sala. Quando o cansaço por fim bateu, eles voltaram ao segundo andar para uma tranquila noite de sono.

Uma semana havia se passado desde a última ida deles ao parque. Sarah estava se sentindo cada vez mais pesada. E numa madrugada de quinta-feira se sentiu mal. Optou por não acordá-lo imediatamente, imaginou que fosse mais um alarme falso como havia acontecido outras duas vezes, em ocasiões diferentes. Duas horas depois, ela realmente teve de chamá-lo.

Emmett levantou da cama, atordoado, vestiu-se depressa, de maneira atrapalhada, e, em pouco tempo, estavam a caminho do hospital.

Depois de preencher os papéis na recepção, ele acompanhou Sarah a um quarto onde ela aguardaria o momento do parto. As contrações começaram a vir mais depressa. Primeiro a cada sete minutos, depois, seis. Pouco mais de uma hora mais tarde, elas se estabilizaram em cinco minutos. Três enfermeiras alternavam a presença no quarto. Ainda que todas fossem sempre atenciosas e pacientes, não ajudava a manter o nervosismo longe, e mesmo a ansiedade.

Com as contrações voltando em períodos cada vez mais curtos, Emmett se dedicava a enxugar o suor na testa de Sarah com um lencinho gravado o nome dela, e lhe dava cubos de gelo para chupar esperando que isso fosse de alguma ajuda. Para Sarah, o momento era dividido entre as dores e olhar para Emmett.

Momentos depois, sob efeito da peridural, Sarah não sentia as dores e precisava olhar o monitor para ter certeza que estava tendo uma nova contração. Vinte minutos depois, o colo do útero estava com oito centímetros de dilatação. Quando estivesse em dez, era a hora de começar.

Uma bandeja com instrumentos cirúrgicos esterilizados foi levada para junto da cama e descoberta.

A médica obstetra já estava na sala, rodeada por duas enfermeiras e também a pediatra.

Mais uma contração teve início. Sarah fez força, seu rosto ficando retorcido por conta do esforço. A médica verificou o coração do bebê. Sarah empurrou mais uma vez com força, apertando a mão de Emmett na sua. Tê-lo ao seu lado facilitava as coisas. Ele lhe dava segurança e tranquilidade.

A médica pediu que relaxasse um minuto. Respirasse normalmente, que em seguida começariam de novo. Sarah balançou cabeça demonstrando ter entendido, ainda que desejasse que acabasse com aquilo logo.

Então a médica pediu que empurrasse com toda força. Sarah fez exatamente o que lhe foi pedido, sem questionar, sem se queixar.

Emmett ficou nervoso, de repente, se dando conta de que pela primeira vez testemunharia o nascimento de um filho. Olívia começou a surgir. Em um instante precioso, Emmett havia se tornado pai, e, impressionado, não conseguia desviar o olhar da nova vida que tinha diante de si.

Coberta de líquido amniótico e presa ao cordão umbilical, Olívia era uma massa escorregadia, vermelha e marrom. Levou apenas um instante para ele estar ouvindo o choro dela, tornando o momento ainda mais surpreendente. Real.

A pediatra passou a examiná-la. De onde estava Emmett não pode ver muita coisa. Contudo, o mundo continuava diferente, envolvido pelo momento mágico do nascimento da primeira filha. Uma garotinha completamente careca.

Ele achou ter ouvido Sarah arfar, mas foi um som vago e distante. A médica falou qualquer coisa, e a bebê continuava a chorar do outro lado da sala.

Emmett se virou para olhar Sarah. Tudo acontecia tão depressa que ele não compreendia muito bem os acontecimentos. Então, naquele instante, enquanto olhava a esposa, Emmett ouviu o longo e inalterável som da máquina às suas costas. Seu coração doeu de forma inesperada e repentina. Ele sentiu falta de ar. Os olhos de Sarah estavam fechados e a cabeça, jogada para trás, sobre o travesseiro, como estivesse dormindo.

No primeiro momento estranhou que não estivesse levantando a cabeça para ver a filha ou exigindo que a colocasse em seus braços. Então, em questão de segundos, a médica mudou de expressão. Apresando-se em verificar Sarah. Uma enfermeira gritou qualquer coisa sobre um código e a médica pediu, aos gritos, que o tirassem da sala imediatamente.

Emmett sentiu a dor voltar ao peito.

Uma das enfermeiras o pegou pelo braço e o levou até a porta.

— O quê? O que está acontecendo? O que há de errado com ela?

— Sai agora — gritou a enfermeira.

Emmett arregalou os olhos, aterrorizado. Não conseguia se afastar. Não conseguia deixar de olhar para Sarah. Não entendia por que o estavam expulsando.

— O que está acontecendo? — tornou a pedir.

Mesmo contra sua vontade, Emmett foi levado para o corredor, mal notando as vozes que pediam que se acalmasse e ficasse longe. Pelo canto do olho, viu uma maca ser levada às pressas pelo corredor, por dois funcionários, que logo desapareceram dentro do quarto onde ele esteve segundos atrás.

Nesse momento, Emmett estava preso contra a parede do corredor, imobilizado por dois funcionários do hospital, um deles quase tão forte quanto ele. Sua respiração estava entrecortada, seu corpo, tenso, trêmulo.

Estava rodeado de pessoas apressadas e, ao mesmo tempo, estava só. Um sentimento que jamais havia sentido antes. Era a sensação do verdadeiro terror. Um pesadelo real.

Um minuto depois, Sarah estava sendo levada às pressas em uma maca. A médica o tempo todo em cima dela, tentando reanimá-la.

De repente, o tempo parou. Emmett sentiu que o soltavam assim que Sarah desapareceu pelo corredor, sendo levada pelas aquelas pessoas, através das portas duplas.

Sentiu-se fraco. Tonto. Mal conseguia ficar de pé. Num minuto tudo estava indo bem, no outro, tudo mudou. Parecia num pesadelo. O pior pesadelo de toda sua vida.

— Para onde a estão levando? O que aconteceu?

Nenhum dos funcionários conseguiu olhar nos olhos de Emmett. Assim, suas perguntas permaneceram sem respostas por um tempo.

Depois de ser levado a uma sala silenciosa e aguardar, a médica voltou.

Embora desejasse respostas, tinha medo de ouvi-las. Olhar nos olhos da médica lhe causou a sensação e pavor gélido. Se fugir daquela conversa fosse fazer voltar no tempo, ele sem dúvida teria fugido, e para o mais longe que pudesse.

— O que foi tudo aquilo? Por que me puseram para fora? Eu quero vê-la. Ela está bem, não está? – sua voz soou trêmula a cada palavra.

— Eu realmente não desejava estar tendo essa conversa, acredite. E me perdoe pelo que vou lhe dizer — começou a médica, com a expressão de derrota — Acredito que sua esposa sofreu o que chamamos de embolia por líquido amniótico.

— O quê? Não... Não... Não pode ser verdade. Não. É claro que não é verdade. Você está enganada.

Emmett não conseguia respirar direito. Entorpecido, ouviu a voz que prosseguiu explicando.

— É muito raro, mas aconteceu. De alguma forma, o líquido entrou em um vaso sanguíneo. Provavelmente se deslocou até o coração. — Ela fez uma pausa. — Eu sinto muito, mas Sarah não resistiu. Sua filha, porém...

— Não — Emmett se recusou, batendo com os punhos na parede da sala. Sarah não podia ter morrido. Ela estava bem. Era completamente saudável. Eles tinham conversado minutos atrás, tinham imaginado o rostinho da filha. Tinham estado ansiosos para recebê-la. Sarah tinha dado a luz. Tinha feito força quando lhe pediram que fizesse. E ainda tinha todos os planos para o futuro e nenhum deles incluía a ausência de Sarah.

Isso não podia estar acontecendo. Não, não podia, de forma alguma, ser verdade. Com certeza, ele estava tendo um pesadelo. E precisava sair dele o quanto antes.

Ainda que negasse, era real. Doloroso e insuportavelmente real.

A médica parecia tão chocada quanto ele, enquanto continuava a dar explicações.

Emmett estava a ponto de explodir com uma fúria contida, quase selvagem. Após alguns segundos, olhou a médica entre lágrimas. Sentindo-se fora da realidade e nauseado.

— Eu quero vê-la — pediu, de repente, e sua voz saiu arrastada.

— Ela está no berçário — disse a médica, como se, enfim, ouvisse uma pergunta que pudesse responder satisfatoriamente. Sem dúvida tudo aquilo estava sendo absurdamente difícil para ele. E ele não merecia o que estava passando. — Como disse, sua filha está bem.

— Não — Emmett se esforçou para formar as palavras, com a voz sufocada, o coração sangrando. — Minha mulher.

— Mas...

— Quero ver a Sarah.

— Só achei que...

— Não quero ver criança alguma.

— Tudo bem. Venha comigo.

Emmett deixou a sala, onde esteve esperando por notícias, logo atrás da médica. Sentindo-se perdido e sufocado pela dor. Ao longo dos nove meses de gestação, ele e Sarah haviam se preparado para muitas situações, menos para essa. Como alguém poderia estar preparado para perder a quem se ama.

A cada passo, Emmett sentia que algo dentro dele perdia a forma.

 


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Notas finais do capítulo

Aguardo vocês nos comentários. Seria muito bom poder falar com cada um.
Um beijo grande
Sill