A Prima Piriguete escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 8
Apertando o cerco




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— Ah mããeee deixa eu ir, todo o mundo vaaiii...

— JÁ FALEI QUE NÃO DEIXO! LÁ É CHEIO DE MACONHEIRO!

Da sala, Paulo escutava a discussão entre Luana e a mãe. A irmã queria ir no show de um cantor popular que estava se exibindo na cidade, mas a mãe não queria deixar. Na escola todos falavam nisso. Solange já tinha dito que iria, e repetia isso a toda hora para provocar inveja nas colegas, mas Paulo não se animava a ir, primeiro porque não gostava muito daquela cantor, e depois porque sabia que Solange estaria acompanhada. Estava de mau humor, e aquela discussão irritava-o mais ainda.

— Ah mãããeee que sacoooo...

Paulo queria ter uma namorada como Solange, que podia ir em qualquer lugar. Com ela, até encararia aquele show. Mas só não dizia com todas as letras que Solange não queria nada com ele porque volta e meia ela lhe enviava uma mensagem bonitinha, como fizera aquela manhã.

Suspirou. Solange estava apenas mantendo-o no banco de reservas. Estava cercado de mulheres não pegava ninguém, pois só queriam provoca-lo, brincar com ele, começando por Carla, para comprar sua cumplicidade. E lá vinha ela de novo.

— Ai Paulo, você precisa de uma namoradinha!

— E você precisa de uma coça!

Acompanhou as palavras de um bom beliscão na coxa de Carla, que levou um susto e se afastou, rindo. Não estava com disposição para brincadeiras. E já havia passado mesmo da hora de Carla levar uma surra, a mãe havia prometido e a tia vivia cobrando. Paulo sentia-se mal por estar enganando a mãe, sabendo como ela levava a sério os assuntos familiares. Para afastar o baixo astral, decidiu conversar com Analu, a colega que era das poucas pessoas que ele considerava sua amiga de verdade.

— Oi Ana, tudo bem?

A voz calma e a conversa educada de Analu foram de fato dissipando o mau humor de Paulo. Ao final, ele até já havia ganho um convite para uma festa de aniversário, não era um pessoal que ele particularmente curtia, mas ao menos teria alguma coisa para fazer. Lá na cozinha, a discussão tinha cessado e Luana fora para o quarto, emburrada.

— Paulo, você me chama para ir nesse festa que você vai?

O pedido de Carla foi inesperado, pois ela nem conhecia aquele pessoal.

— Quero ir com você...

A voz melosa sinalizava outro truque dela, mas Paulo topou na hora. Era assim? Assim seria! Havia já algum tempo, estava certo de que o mau humor que o acometia tinha origem nas provocações de Carla. Pois agora ia pegar ela, tinha mesmo que apertar o cerco. Piriguete que era, hoje seria dele. Lembrava que a casa da festa era bem grande, e tinha muitos cantinhos escuros... Enquanto se arrumava, ia pensando direitinho como ia fazer, tecia planos e já sentia a carne da prima em suas mãos. Que se danasse Solange, que se danasse Verônica, hoje era o dia de Carla! Depois que visse do que era capaz, ela com  certeza ia passar a respeita-lo mais e trata-lo como homem, mesmo ele sendo mais novo que ela.

Mas nem bem saltaram em frente à porta, uma motocicleta estacionou. Era Valdir.

— Aí, Paulo, vou dar um passeio e depois volto!

Ela montou na garupa, e Paulo ficou olhando abobalhado os dois se afastarem. Sem ter mais o que fazer, entrou. O clima de festa estava bom, mas Paulo sentia-se um idiota completo, e tinha que fazer força para disfarçar. Sentia ímpetos de agarrar qualquer uma daquelas meninas ali e leva-la para um canto escuro só para provar que podia, mas o pessoal ali era muito comportado. Acabou conversando com Analu, que sempre lhe dava atenção, mesmo estando em uma roda de amigos.

— Essa é a Virgínia!

Analu apresentou a amiga, que era bonitinha, tinha uns piercings e uma tatuagens exotéricas e até sorriu para ele, mas Paulo estava tão desarvorado que mal lhe deu atenção. Continuou conversando com Analu, que falava muito de assuntos familiares, dedicada que era à família, o que fez Paulo sentir-se ainda pior, um traidor de sua família que merecidamente era feito de bobo.

Carla voltou com cara alegre e descabelada. A mãe olhou-a desconfiada quando entraram na casa. Paulo não disse nada.

No dia seguinte, na escola, todos falavam do show, mesmo os que não tinham ido. Paulo sentiu-se deslocado.


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