A Prima Piriguete escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 2
Eu tentei naquela festa




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Paulo estava animado, mas um pouco nervoso. Tinha muitas expectativas em relação àquela festa, mas não queria demonstrar. Fingiu serenidade enquanto se arrumava no quarto, sem devolver o olhar zombeteiro que a irmã lhe lançou. De qualquer modo, poderia tomar uns tragos para se animar, pois a festa era de um pessoal mais velho e depois de certa hora, ele bem sabia, ninguém mais prestaria atenção em quem estava bebendo. As mensagens recentes que havia trocado davam razão para o otimismo.

A música estava boa e a casa era bonita, a toda hora chegava gente nova. O otimismo de Paulo aumentava à medida em que ele entrava no clima, mas exatamente por isso, ele não tinha pressa. Solange já estava lá, mas estava conversando com um pessoal que ele não conhecia. Paulo aproveitou para também conversar algumas abobrinhas com os conhecidos.

— Oi Paulo tudo bem?

Era Analu, uma menina muito simpática, que era das poucas colegas da classe que ele considerava uma amiga, sem maiores intenções. Ela parecia compreendê-lo bem, só ficava um pouco chata quando o papo enveredava por assuntos lá da igreja dela. Ficou um tempo falando de política e outros assuntos que ele considerava inteligentes, quando escutou a risada de Solange e a viu ensaiando uns passos de dança, sozinha. Sentiu que era hora. Despediu-se de Analu, esvaziou o copo de cerveja e foi direto em direção a Solange, acompanhando sua dança.

— Oi garoto, por que você não respondeu as minhas mensagens?

Paulo tinha respondido as mensagens, sim, e conferido que o celular dela as recepcionara, mas na hora saiu pela tangente, e puxou outro assunto. Satisfeito com a própria presença de espírito, pôs-se a falar cada vez mais loquaz sobre mil coisas que achava interessantes. Solange riu e acompanhou-o também dizendo mil coisas ao mesmo tempo. A música foi ficando mais lenta e ele teve desculpa para dançar mais agarradinho. Subitamente ambos ficaram em silêncio, e Paulo nem acreditou quando sentiu o rosto dela ficando mais perto de seus lábios, suas mãos apertando a cintura dela. O primeiro beijo saiu, e a cabeça de Paulo girou, parecendo haver entrado na música. Depois veio o segundo beijo.

A conversa foi voltando aos poucos enquanto os dois descansavam sentados no murinho da varanda. O coração de Paulo agora batia mais rápido, e ele não tinha tanta loquacidade quanto antes, precisando pensar antes de falar. Já Solange parecia tão tranquila quanto sempre. Fez comentários sobre as mensagens trocadas, parecendo haver se lembrado delas. Súbito seus olhos se acenderam quando ela viu chegando na porta um pessoal que conhecia. Nem se despediu de Paulo, e de um salto foi na direção deles, e todos puseram-se a tagarelar sem parar.

Paulo ficou andando de um lado para o outro, tentando botar um sorriso na cara sempre que cruzava com alguém. Do fundo da memória surgiu uma música antiga, zombando dele:

Eu tentei,

naquela festa,

você fugiu de mim.

Eu pensei,

a vida não presta,

ela não gosta de mim.

Bebeu mais uma cerveja e não conversou mais com ninguém. Quando chegou em casa, a cabeça doía e tinha um gosto ruim na boca. Só queria ver sua cama.

O sol já ia alto quando Paulo finalmente acordou na manhã seguinte. As lembranças da festa ainda estavam em sua cabeça, mas vozes vindas da cozinha anunciavam novidade. A mãe tinha acabado de chegar, e conforme prometido, tinha trazido a prima Carla. Paulo foi vê-la, já conformado de ter mais um morador na casa. Ela estava bem mais crescida desde a última vez que a vira. Cheia de formas, ombro e quadris largos, braços e coxas bem torneados, ela cumprimentou Paulo com um olhar que trazia a velha malícia dos tempos das brincadeiras de beijinhos no mato.

— Depois eu quero falar com vocês dois! - Disse a mãe para ele e a irmã.

Após acomodar Carla no quartinho de baixo que dava para o quintal, e ter um longo colóquio com ela a portas fechadas, dona Celina dirigiu-se para os filhos:

— Vocês sabem porque a Carla veio para cá, não sabem? Eu me comprometi com a dona Antônia, e isso vale para vocês também! Não quero ninguém pensando que ela está aqui de férias! Ela vai estudar em um colégio melhor e ajudar no serviço de casa, e eu quero que vocês me ajudem a vigiar ela. Olho vivo e nada de brincadeira, viu? O pessoal lá vai estar me cobrando e eu não quero fazer desfeita com eles!

Paulo e Luana assentiram com enfado. A mãe era daquele jeito mesmo, muito entrosada com a parentada do interior e sempre pronta a pegar no pé.


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