A Prima Piriguete escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 16
Namorados




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A tarde estava sendo mais agradável do que Paulo pensara de início. Ser apresentado aos pais da namorada nunca é um momento fácil, e Paulo admitia que perdera um pouco do sono aquela noite, mas agora sentia-se confiante sentado no sofá, tal como uma visita importante. A mãe de Virgínia tinha um ar distinto, mas não esnobe, sabia ser simples e contar piadas. O pai dela também pareceu muito agradável, embora só tivesse aparecido na sala por um instante antes de ir para o trabalho. Paulo tinha um ar contido, e filtrava as palavras. Ao lado dele, Virgínia estava um pouco nervosa, mas sorria satisfeita enquanto seu olhar ia e vinha da mãe para Paulo.

— Agora minha filha tem namorado. Antes só tinha ficante...

Paulo sentiu-se lisonjeado, mas limitou-se a sorrir. O colóquio findava, e agora ele e Virgínia estavam livres para ir ao shopping bater perna. Paulo sentia que fora aprovado, e agora até o ruído dos carros na rua soava alegre.

— Minha mãe gostou muito de você, sabia? Ela disse que antes eu só arrumava moleque, agora estou com um rapaz.

O orgulho encheu o peito de Paulo, mas novamente ele não disse nada. Mudou de assunto.

— Diz uma coisa, o que você acha daquele Júlio, primo da Luciana?

— Aquele que ficou com a sua prima na festa?

Paulo achou graça ao flagrar-se tão preocupado com a prima, como se fosse um adulto da família, mas só agora constatava o quanto gostava de Carla. Virgínia também achou graça, pois abriu um grande sorriso antes de responder.

— Preocupa não, ele é um cara muito legal. E ele já está sabendo da história da sua prima. Agora é ela fazer por onde...

Passearam como velhos namorados, e terminaram o passeio com uma sessão de cinema e uma lanchonete. Ao deixar Virgínia em casa, notou bem a cara de felicidade da mãe dela. No dia seguinte sentia-se maduro e seguro, um rapaz, como a sogra dissera.

— Eu já verifiquei, aquele Júlio é um cara legal. Pode dar uma maneirada com a Carla.

A mãe fez uma cara de dúvida. Paulo gostava do ar sério dela, que lhe transmitia confiança, e sentia-se valorizado porque a mãe, tão séria, confiava nele.

— Está bem, mas a responsabilidade é sua, viu? Você vai ficar de olho! Cuidado, senão depois a sua tia Francisca vai cair em cima de mim!

— Cha comigo, mãe!

Com a satisfação do dever cumprido, Paulo foi até o quarto que Carla estava arrumando, e só lhe fez o sinal com o polegar para cima. Notou como a expressão tensa dela se desanuviou de um relance. Na mesma hora ela pegou o celular e mandou uma mensagem a Júlio. Carla estava pulando de felicidade. Correu até a sala e foi falar com a mãe dele.

— Tia, tem um garoto que está vindo me visitar agora, tudo bem?

É claro que ela já sabia que estava tudo bem, pois Paulo já lhe dissera. A mãe evitou de dar muita confiança, e apenas acenou que sim com a cabeça.

— Eu posso mudar de roupa?

— Não. Tem ainda que arrumar os quartos, e depois a sala.

Paulo ficou com pena da cara que Carla fez, mas sabia que a mãe não transigia de suas responsabilidades familiares, e que a norma para as adolescentes que eram punidas sendo mandadas para outra casa era aquela. Mas de qualquer maneira, Júlio já sabia da história dela, e assim não se mostrou surpreso quando tocou a campainha e foi recebido por uma Carla acanhada, de vestidinho curto e pés descalços. A mãe permitiu que ela fizesse uma pausa nos serviços e ambos ficaram sentados em um sofá de dois lugares, feito dois namorados. Carla estava aprendendo a namorar, Paulo pensou. Lá pelas tantas ela já não estava tão nervosa nem falava tão alto, seus olhos brilhavam ao encontrar com os olhos de Júlio. Muito sério, o rapaz foi falar com a mãe de Paulo, pedindo-lhe autorização para sair com Carla.

— Eu vou deixar, mas tem que ser tudo muito direitinho! Dizer aonde vão, com quem vão, e tem hora para voltar!

Com essas palavras, ela olhava Paulo de esguelha, sinalizando que ele devia vigiar para ver se cumpriam o prometido. Muito ponderadamente, Júlio garantiu que podiam confiar nele. Mais atrás, Carla tinha um sorriso de face a face.

Naquele sábado, iam sair Paulo e Carla com seus respectivos namorados. Paulo sentia-se seguro como se aquilo já fizesse parte da rotina, arrumou-se sem pressa e com esmero. A mãe liberou do fundo do armário um vestido longo para Carla. Júlio e Virgínia chegaram quase juntos. Quando os dois casais se despediram na porta, pareciam velhos namorados adultos. Tudo parecia perfeito aquela noite, e de fato tudo foi ótimo, Paulo só viu gente legal, nada esteve abaixo da expectativa e os beijos foram muitos. Júlio e Carla tinham ido dançar e chegaram pouco depois dele, rigorosamente dentro do horário, conforme Júlio prometera. A única nota destoante era a cara azeda de Luana, a irmã. No dia seguinte reclamava:

— Se a Carla já pode sair, porque eu não posso?

— Eu deixar a sua prima sair não quer dizer que eu sou obrigada  deixar você sair, menina! - Replicou a mãe.

— Mas por que o castigo dela já acabou e o meu ainda não?

— Isso sou eu quem decido.

— Ahhh que sacooo...

— Olha como fala com a sua mãe!

Luana saiu da sala e foi para o quarto, batendo a porta. Paulo felicitou-se por não ter que escutar a voz estridente de Luana. Talvez ela também estivesse precisando de um namorado...


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