A Prima Piriguete escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 11
Perigo na área




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Quando Paulo sentia vontade de conversar com Analu, era porque estava em paz com sua consciência e a fim de uma conversa séria. A amiga era bem ponderada, uma espécie de porto seguro ao que ele podia recorrer. Falaram sobre a escola, o que iam fazer no final de semana, os planos para o futuro, sem entrar em fofocas ou safadezas. Paulo gostava do olhar sério da amiga.

— Tem visto a Virgínia?

— Tem um tempo já que eu não vejo, mas eu sempre troco mensagens com ela.

— Ela gosta de você, hein?

— Ela é uma menina legal.

Despediram-se. Paulo tinha a impressão de que Analu fazia campanha para ele ficar com Virgínia, mas a verdade era que ele a via como uma pessoa legal, e não mais do que isso. Tinha um convite para ir a uma festa com ela no próximo sábado, mas não estava muito animado. Não estava ansioso como nos últimos dias, mas estava desapontado. Solange, tão decantada, mostrara-se uma pessoa normal, que só pagava de mulher fatal, acima de todas, mas ficava de castigo quando a mãe descobria o que ela fazia escondido. Não se sentia mais atraído por ela, agora que a deusa se revelara reles mortal. Estava farto de ser manipulado. Agora a prima Carla também não vinha de provocações para cima dele, posto que já não contava com ele para acobertar suas safadezas. Andava de cochichos agora era com Luana, a irmã, elas que pouco tempo atrás mal se falavam. O que estariam tramando?

Com um gesto nervoso do braço, Paulo afastou aqueles pensamentos. Sentia uma perturbação na consciência por ter visto Luana na rave, devia contar à mãe? Que se danasse. Paulo estava furioso por haver se deixado servir de joguete para Carla, e agora pensava no que poderia fazer de desforra. O tédio é mau conselheiro. Uma tarde em que pensava o que poderia fazer, notou uma piscadela de olhos de Carla para Luana.

— Mãe, eu vou com a Carla no shopping!

— Que horas vocês voltam?

— Lá pelas sete!

— Leva a chave. Eu vou lá na sua avó e só devo chegar na hora do jantar.

Uma ideia surgiu. Paulo falou bem alto, para todos ouvirem:

— Eu jogar videogame lá na lan-house!

— Vê se não esquece a hora!

A mãe sabia que quando ele começava a jogar com os amigos não sentia o tempo passar. Notou que naquele instante Carla deu uma olhada em sua direção, mas não disse nada. O ar estava cheio de presságios. Teve o cuidado de sair junto com Carla e a irmã, fazendo-se de desentendido. Acenou um tchau e dobrou a esquina, mas logo depois virou de volta e ficou acompanhando as duas pelas costas, de longe. Não teve que esperar muito tempo. Escondido atrás de uma banca de jornal, viu quando a motocicleta de Valdir parou na esquina. Carla montou na garupa e Luana fez o sinal com o polegar para cima, indicando uma combinação prévia entre as duas. A moto saiu em disparada. Paulo sorriu satisfeito. A hora da vingança havia chegado, pensou. Ia correndo contar à mãe.

Mas após caminhar alguns quarteirões, a raiva já tinha passado. Contava? Não contava? Paulo não gostava de ser dedurão, seria uma vingança muito mesquinha. Não ia contar coisa nenhuma, a melhor vingança era deixar que Carla se ferrasse com aquelas companhias marginais que ela arrumava, e depois quem sabe as tias do interior paravam com aquela mania de mandar as primas piriguetes para os outros consertarem!

Paulo andou sem rumo mais alguns quarteirões esperando o mau humor passar, antes de voltar para casa. Já ia direto para o computador, quando um fio de voz vindo do quintal chamou sua atenção.

— Não... não... larga... me larga...

O som era abafado, como de alguém amordaçado, mas ele reconheceu a voz de Carla. Vinha da direção do quartinho de ferramentas, cuja porta estava entreaberta. Quando Paulo se aproximou, três rostos se viraram para trás. Paulo reconheceu Valdir, os outros dois eram rapazes ainda mais mal encarados do que ele.

— SUJOU, SUJOU, VÃOBORA!

Paralisado de susto, Paulo acompanhou com o olhar os três rapazes pulando o muro, e logo depois escutou o ronco da motocicleta se afastando. Só então que viu Carla caída no fundo do quartinho, cabelo em desalinho, alças do vestido descidas exibindo os seios, uma camiseta amarrada em sua boca. De um relance compreendeu tudo. Carla tencionava ficar ali com Valdir, acreditando que a casa estaria vazia, mas ele combinara com dois comparsas  de estupra-la. Um saco com louças e prataria esquecido a um canto indicava que a intenção do trio também era roubar. Carla livrou-se da camiseta e ergueu o vestido para tampar o busto, mas estava ofegante e não conseguia falar nada. Contemplando-a naquele instante, desapareceu em Paulo toda a raiva que sentia dela. Agora sentia-se desprezível por haver deixado que a prima se envolvesse em tamanho perigo, traindo a confiança da mãe e da tia. Entrecortada por respiração e soluços, a voz de Carla enfim saiu:

— Você... não vai contar nada... vai?

— É claro que eu vou contar! Acha que eu vou deixar você se ferrar desse jeito, sem juízo?

Paulo surpreendeu-se com o tom da própria voz. Parecia um homem falando. Carla deve ter se surpreendido também, pois só conseguiu chorar.

— Eu gosto muito de você, por isso que eu não quero que você se ferre! Agora levanta e vai para o quarto, que eu vou ligar para a minha mãe!

Paulo levou Carla pelo braço até o quarto, e passou a chave na porta. Depois, mais calmo, devolveu a seu lugar os objetos que os ladrões tentaram roubar, e telefonou para a mãe.

— Mãe, preciso que você venha agora. É uma coisa que eu só posso contar aqui!

A mãe precisou sentar e tomar ar quando Paulo lhe contou, mas ele fez o possível para acalma-la, e garantiu que tudo já estava sob controle. Teve certeza que a mãe também se surpreendeu com seu recém-descoberto tom firme e resoluto. Primeira providência, telefonou para Luana.

— Luana, onde está a sua prima?

— A Carla está aqui comigo no shopping, mas ela deu um pulo no toalete agora, eu vou pedir para ela ligar para a senhora quando sair!

— Não, minha filha, a sua prima está aqui em casa agora! E eu quero você também em casa agora, porque nós vamos ter uma reunião nós três!

 


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