A Prima Piriguete escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 10
Ascenção e queda




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— Meu filho, você já tem 15 anos, e é o único rapaz da casa! Precisa ajudar a sua mãe! Homem precisa ser protetor, sabe? E eu estou com duas moças aqui em casa, que podem estar se metendo em coisa perigosa, e eu nem estou sabendo! Sua irmã e sua prima!

Evitando olhar para a mãe, Paulo virava o rosto e escutava com enfado. Não gostava daquela conversa quando a mãe vinha dizer-lhe que ele precisava ser homem, pois lembrava-o de que ele ainda não era. Paulo estava farto de ser virgem, queria mesmo se tornar um homem, mas não no sentido que a mãe impingia à palavra. Por fim respondeu:

— Mas o que você quer que eu faça, mãe?

— Quero que você marque presença! Mostre que tem um homem em casa! Fale com elas se vir que elas fizeram alguma coisa errada, ou pelo menos me informe, para eu ficar sabendo! E desse Valdir da sua prima, que eu pedi para você se informar, soube de alguma coisa?

Paulo sentiu o impulso de dizer que não sabia nada, mas lembrando-se de como a prima vinha fazendo-o de bobo, respondeu:

— Eu já estou sabendo de alguma coisa, mas vou descobrir mais. Depois eu te falo!

— Muito bem! Faz assim, meu filho! Mas depois eu vou querer saber o que você descobriu!

A mãe por fim retirou-se, deixando Paulo em paz. Ele não tinha vontade nenhuma de ficar bisbilhotando para a mãe, mas ficava meio mordido. A prima bem que merecia que ele contasse tudo o que ela vinha fazendo, o problema era que assim estaria também contando que ele fora cúmplice. Paciência, no momento certo ele ia contar. A irmã andava bem metida, até que Paulo gostaria de vê-la se ferrar para aprender. Ah, mas que se danassem as duas! Ele tinha o que fazer. Solange o convidara para ir a uma rave, e isso era o que importava!

Paulo não sabia bem o que era uma rave,  disse à mãe que ia a uma festa. Passou na casa de Solange para pega-la, e quando a viu na porta, sentiu-se como quem pega um  troféu. Tinha conquistado! Tinha? Ela estava com o ar desenvolto de sempre, e não pareceu muito emocionada ao vê-lo. Será que ele continuava apenas como mais um no caderninho dela? Que importava, ela também era mais uma no caderninho dele, que já tinha... quantos? Dois nomes, o dela e o de Virgínia. Ela não o recebera com beijinhos como Virgínia, mas era mais bonita e era Solange.

Chegaram a uma fazenda onde rolava um show com música ao vivo de um cantor de quem Paulo não sabia o nome, mas não importava, ele estava ali com Solange. Então aquilo era uma rave? Não conhecia o pessoal, e alguns eram bem estranhos. Ficavam em grupinhos espalhados aqui e ali, sempre bebendo alguma coisa. Não era um lugar onde a maioria de seus colegas estaria autorizado a ir, mas ele estava lá, e estava com Solange, que era diferente das outras bobonas e podia ir aonde queria, era poderosa. E hoje era dele.

A conversa não conseguia ir além das abobrinhas, Paulo sentia que Solange não estava muito interessada nele. Volta e meia cortava o assunto e ficava olhando outros rapazes. Paulo ansiava por mais intimidade. Criou coragem e lhe disse bem no ouvido:

— Acho você muito linda, sabia?

Ela sorriu meio estranho antes de responder.

— Eu sempre achei você meio nerd, sabia?

Paulo não gostou da comparação. Foi chegando mais perto até sentir o contato da pele dela com a dele. Os lábios se tocaram e ele sentiu as mãos dela envolvendo-o. Mas mesmo no abraço ela não parecia muito interessada; ao contrário de Virgínia, os pelinhos dela não ficavam arrepiados. Ora, Virgínia, por que fora pensar nela agora? Ele tinha Solange, era como se erguesse um troféu e o exibisse a uma imaginária arquibancada.

Solange largou-o e voltou a olhar para o horizonte. Tirou da  bolsa um embrulho amarrotado  e um apetrecho de enrolar cigarros. Pôs-se a confeccionar dois cigarros.
 
       - Você quer?
 
      Notando o olhar algo surpreso dele, atalhou:
 
      - Você já experimentou?
 
      Paulo apressou-se em dizer que sim, mas não disse que foi em um baile funk em companhia da prima. Deu umas tragadas e tossiu. Decididamente, não era adepto daqueles cigarros, mas tinha que manter a pose. Olhando ao redor, viu que muitos outros ali também puxavam fumo, e alguns pareciam estar consumindo outras drogas. Súbito, seus olhos divisaram no outro lado da cerca a irmã Luana  fumando maconha  em companhia de um  grupo, do qual Paulo só reconheceu duas pessoas que ele já tinha visto. Luana não o  viu.

De volta em casa, Paulo tinha sentimentos contraditórios. A saída tinha sido um sucesso ou um fracasso? Ora, um sucesso, sim, só dele não estar mais ligando para aquela piriguete da Carla já era uma grande vitória sua. E Luana? Que se danasse. A irmã era muito metida.

Atravessou a semana sentindo-se muito leve. Estava por cima, e tinha outro convite para sair com Solange. Mas quando chegou na casa dela, o olhar da mãe ao recebê-lo já sinalizava alguma coisa anormal. Foi encontrar Solange a um canto, com lágrimas nos olhos.

— Oi Paulo... não vai dar para eu ir, não. A mamãe descobriu que eu fui escondido na rave, e me botou castigo. Estou sem poder sair...

Paulo ficou estupefato. Então Solange, tal como as outras meninas, também estava sujeita a ficar de castigo? Agora olhava para ela como quem mira uma deusa caída e de súbito convertida em mortal. Disse-lhe uma palavras de conforto, mas só queria ir embora logo. Sentia-se meio ridículo, e ansiava por estar em casa para botar as ideias em ordem.


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