Bigman escrita por M Phantom


Capítulo 1
Bigman


Notas iniciais do capítulo

Olááá! Essa é uma OneShot de um dos personagens secundários que eu mais gostos do 'Especial Sophie Taylor' e queria compartilhar com vocês.

Escrevi em terceira pessoa pq poderia ficar confuso sem entender o contexto da Joy e tudo mais, só que para ser sincera não sou boa em escrever dessa forma, por isso peço desculpas desde já! Ainda estou aprendendo a expressar melhor e descrever detalhes sem parecer um robô kkkkk

Boa leitura e Desculpem os erros!



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Bigman

Capitulo Único

Ele precisava sair dali.

Eram risos demais, conversas sem sentido demais, gente demais, sons diversos demais... Para alguém que sempre foi grande como Montanha, todo tanto de espaço parecia pequeno, qualquer ambiente com alguma quantidade de pessoas parecia cheio o suficiente e estar sempre a vista de todos era uma sensação que nunca pareceu agradável.

Então, sim, ele precisava sair dali.

A universidade parecia uma boa ideia no início até notar que muita gente pensava da mesma forma, e onde tinha muita gente, geralmente não parecia ser de fato boa ideia para ele. Ele suava frio, os olhares pareciam sempre nele e seu tamanho dava um certo ar de desconforto nos outros, especialmente numa fila como era o caso.

Lançou um olhar para baixo em seu ombro só para ver o rapaz atrás de si se encolher meio assustado. O problema não era apenas seus 1,97 de altura, a raiz do problema era a estrutura que esse 1,97 comportava. Tinha ombros largos assim como a caixa torácica, e o abdômen seguindo praticamente a mesma largura dando uma alusão de ser daquele tamanho mais por ser gordo do que pela estrutura.

O que na verdade nem era tanto.

Na adolescência tentava sorrir e falar mais manso para que as pessoas não se assustassem ou tivessem a típica impressão errada dele, porém a tentativa frustrada o fez desistir. Ele dava medo, ponto final, não havia formas para mudar isso.

Mas se seu tamanho causava incomodo aos outros, era certo que multidões como aquela que se formava na área de alimentação da universidade tinha o mesmo efeito sobre ele.

Finalmente seu sanduiche estava pronto. Soltou um suspiro aliviado e pagou o moço que deu um sorriso tremulo sem nem ao menos olhar o dinheiro com certo pavor de contrariá-lo. Pensou em ir se sentar junto com seu melhor amigo, mas ao contrário dele, Michael se saía melhor no meio do povão.

Fora os amigos tinha mais três garotas desconhecidas com o grupo e a ideia de ir até lá ser apresentado e receber mais olhares receosos e sorrisos forçados era meio cansativo, preferiu o típico plano B, sair pela saída lateral e comer seu sanduiche no silêncio do estacionamento.

Era de noite, só que uma das vantagens em ser grande era nunca precisar se preocupar com a própria segurança, ninguém teria coragem de se aproximar dele com más intenções, nenhum homem pelo menos.

Caminhou pela fileira de carros e escolheu um espaço entre dois deles onde a luz do poste não funcionava, sentou na calçada de cimento e deu outro longo suspiro aliviado. Podia se ouvir a barulheira de dentro, verdade, porém estava abafada e o vazio dali fazia até mesmo a sua respiração sair mais suave.

Desembrulhou o sanduiche puxando o ar para sentir o cheiro agradável da carne e do molho barbecue que tanto idolatrava. Para o Montanha barbecue servia para colocar em qualquer coisa, sanduiche, salgado, lasanha, batata frita, arroz, purê de batata, frango frito... Simplesmente tudo.

Lambeu os beiços com um meio sorriso abrindo a boca em seguida para abocanhar o máximo que desse. Infelizmente, assim que mordeu barulhos estragaram sua calmaria. Parou do mastigar no mesmo tempo, tinha um motivo ter escolhido um lugar sem luz... Evitar que alguém o visse e achasse estranho ficando com medo da razão de alguém como ele estar ali.

Por via das dúvidas era melhor ficar quieto e deixar quem quer que fosse passar sem vê-lo encolhido sentado entre os carros. Voltou a mastigar vagarosamente esperando o que parecia ser um casal seguir seu caminho, mas percebeu que a conversa era um tanto ‘elevada’ demais.

— ME SOLTA! — Berrou uma voz feminina.

— Cala a porra da boca! — Revidou uma masculina. — Entra nesse carro antes que eu perca a paciência! — Ordenou.

— Me SOLTA! Você não MANDA em MIM! A gente TERMINOU e nem se estivéssemos juntos seu idiota, você não decide o que eu visto ou eu deixo de vestir! — Deu para ouvir um barulho de impacto em algum carro. Montanha precisou apenas erguer um pouco a cabeça para ver a cena toda, o rapaz prensava a namorada/ou ex segurando o queixo dela com firmeza.

— Escuta aqui, você vai entrar nesse carro e vai PARAR de dizer por aqui que a gente terminou! — Outro som, dessa vez bem conhecido. Ela tinha acertado o meio das pernas do cara e tentou correr.

— Vai para o inferno! — A garota loira não correu nem mesmo meio metro antes de, mesmo com dor, o tal segurar ela pelo braço. E então o som do SLAP ecoou pelo estacionamento dando um susto no grandão. Ele esperava ver ela bater nele, e não o cara acertar um tapa na cara dela forte suficiente para jogar ela no chão.

— Cadela... — Rosnou entre dentes. Até ia xingar a namorada/ou ex mais se no meio de dois carros no escuro um muro de gente não tivesse aparecido do nada.

— Solta ela e some! — Ordenou Montanha simplesmente.

— Isso aqui não é assunto seu...

— Solta a garota e SOME, irmão! — Mandou usando um timbre de voz mais grave. Podia ver o medo nos olhos do rapaz, mas o infeliz parecia decido a ir somente se ela fosse junto.

— Escuta aqui cara, não é o que...

— Eu não QUERO saber, palhaço, ou você solta a garota e VAZA agora ou eu juro que parto você no meio! — Ele largou, nervoso e contrariado, mas largou apontando o dedo para ela.

— Isso não vai ficar assim Joy! — E entrou no carro saindo dali. A moça continuou no chão assistindo a partida do namorado/ou ex com a mão sobre a bochecha que ardia como nunca.

— Quer ajuda para levantar moça? — Perguntou o grandão incerto, normalmente as garotas tem medo dele e uma oferta assim é recebida com pavor, porém para não ser um total indelicado achou melhor dizer. Sem olhar para ele murmurou um ‘não’.

Entre um gemido e outro a loira com cabelos presos em um rabo de cavalo bateu a mão no próprio traseiro limpando o shorts jeans que certamente era censurado pelo namorado/ou ex. Assim que se virou para o Montanha seus olhos foram subindo e subindo lentamente até chegar ao topo dele surpresa o suficiente para ficar boquiaberta. Deu um, dois e achou melhor finalizar com um terceiro passo para trás colocando a mão sobre o peito. E sequencialmente o típico sorriso que ele estava acostumado a receber.

— Você tá bem né? — Perguntou meio impaciente. Na expressão espantada que estava dava a impressão que quem tinha batido e brigado com ela fosse ele.

— Sim... Obri-obrigada. — Respondeu ainda um pouco assustada. Ele bufou batendo o dedo no canto da própria boca.

— Tem sangue aqui moça... — Avisou dando meia volta para onde antes estava. A jovem ficou estática acompanhando com os olhos os passos dele até vê-lo se sentar no meio fio.

— O... O que tá fazendo? — Perguntou ela limpando o canto da boca sentindo a região dolorida. Podia se dizer que era mais curiosa do que medrosa, um rapaz daquele tamanho no escuro do estacionamento sozinho não parecia fazer muito sentido.

— Esperando o intervalo acabar... — Murmurou ele de boca cheia. — ...Quer que eu vá com você na enfermaria? — Questionou só para encerrar o diálogo e ser deixado sozinho, quando o assunto eram garotas o ‘não’ era a resposta predileta delas para ele.

— Não, estou bem... — Massageou a bochecha gemendo um pouco. — ...Não é a primeira vez... — A última parte disse para si. — ...Obrigada. — Apenas acenou embora duvidasse que ela tivesse visto. — ...Qual é...

— Joy! — Gritou uma voz feminina ao longe. — O que tá fazendo aí parada?! O babaca do professor Emmett já tá indo para sala, maluca! — A loira pareceu esquecer tudo e entrar em desespero no mesmo instante.

— Ohhh droga! Tô indo honey! — E saiu correndo no rumo da entrada. Montanha apenas assistiu à cena, deu mais um de seus suspiros aliviados e voltou sua atenção ao que importava... O sanduiche.

Agora sim, sem namorados brigando, sem barulho ou intervenções ele poderia apreciar cada pedacinho do seu lanche em paz. Abriu a boca com vontade indo no rumo do alimento quando...

— Bolão! — Fechou os olhos impaciente. — Vamos amor, aparece! — Ele apenas ergueu o braço para que seu amigo o localizasse e viesse correndo até ele. — Por que essa insistência de comer sozinho? Tudo isso é para não dividir, seu gordo? — Fitou Michael com desdém.

— Você é o cara mais mão de vaca que eu conheço e vem querer me chamar de rídico? — O menor sentou ao seu lado rindo. No minuto seguinte ficou sério.

— Escuta, tu acha que eu devo ficar preocupado com o fato de não conseguir brigar com a Safira? — Montanha piscou os olhos surpreso.

— Eu sou a última pessoa que você deveria procurar para discutir sobre relacionamentos, sabe disso né? — Devolveu a pergunta, mas o rapaz ao seu lado coçou a nuca.

— Não dá para discutir sobre isso com mais ninguém, vai parecer que estou reclamando. — O grandão voltou a comer o sanduiche.

— Acho que você é o primeiro namorado que reclama por falta de brigas.

— Acabei de dizer que não estou reclamando! — Revidou nervoso. — A Safira é que acha ruim, ela cismou agora que eu fico olhando para ela atrás de outra pessoa! — Montanha franziu o cenho.

— Que outra pessoa?

— Sei lá! Como é que se olha em alguém e busca uma outra pessoa? — Disse irritado. — Eu adoro a Safira, mas essa mania dela de insistir em querer ter uma conversa séria sobre absolutamente nada tá começando a me incomodar.

— Enquanto você continuar desabafando sobre seus relacionamentos comigo eles raramente vão durar. Já parou para perceber que você evita conflito com as mulheres e geralmente termina antes que algum conflito aconteça? — Michael bufou.

— Você tem razão... — Se surpreendeu até o baixinho concluir. — ...É a última pessoa que deveria procurar para discutir sobre relacionamentos. Me diz, quando foi a última vez que brigou com uma namorada? Até onde eu sei seu último relacionamento a dois séculos atrás terminou com ela dizendo ‘tchau’ e você dizendo ‘tá bom’. — Montanha virou o rosto nervoso.

— Não sou eu que estou pedindo conselho... — Murmurou. — ...Lembra do primeiro ano? Eu disse para Virginia que queria sair com ela e ela me denunciou na diretoria que estava ameaçando para sair comigo. Quando eu brigo parece diferente. — Michael cruzou os braços nervoso.

— Virginia era uma fresca! Eu nem sei o que tu viu nela! Falei para tentar dar em cima da Lydia, a Lydia era fácil e tava acostumada a receber cantada, mas nãooooo! Tu quis por que quis chamar logo a rainha das frescas para sair! — O rapaz ao lado bufou.

— Eu não ia chamar a Lydia para sair, você já tinha saído com ela! — O baixinho ergueu os braços.

— Por isso! Eu já sabia que o máximo que você ia receber era um ‘não, valeu’ ao invés de ter que dar explicações na secretaria sobre estar intimidando uma garota para sair com você! Tu é grande Montanha, não é qualquer garota que serve para você. — O maior se virou para o amigo bem sério.

— Eu não vou e jamais iriei sair com nenhuma garota que já tenha passado por você, primeiro por que você tem um péssimo gosto e segundo por que eu acho essa ideia bem tosca. — Michael suspirou em desdém.

— Tá, fica com esse moralismo barato, mas não reclama de estar a sete meses vivendo de punheta. — O grandão murmurou ‘eu não reclamo’ para si. Se levantou em seguida junto com o outro ao notarem que o intervalo já estava no fim.

[...]

Ao invés de diminuir o nervosismo, a cada passo que dava a frente daquela fila quilométrica indo para o balcão da lanchonete o deixava mais inquieto. A impressão que tinha era que o alunos tinham se multiplicado e estavam tão impacientes quanto ele. Bom, o problema para o Montanha não era ter que esperar na fila, ali era ‘dos males o menor’ para ele, o x da questão em si era o acumulo de pessoa na praça de alimentação. Tentou avistar seu amigo só por casualidade e tentar esquecer do fato que por ser grande demais acaba ocupando mais espaço e incomodando quem estava à frente e atrás meio exprimidos por ele – embora Montanha tenha pensado que era meio idiotice da parte deles não pedir para o pessoal afrouxar um pouco aquela fila.

Estava com seus olhos no alto assistindo o andar lento e demorado da fila, faltava apenas três pessoas para a vez dele chegar, quando de repente alguém ia passando e parou, deu meia volta e ficou olhando para ele curiosa.

— Ah! Você é o cara gigante do estacionamento...! — Montanha olhou para os lados só para ter certeza que aquilo não tinha sido direcionado a outra pessoa. Até que recordou, a loira que tinha levado uns tapas do namorado/ou ex a alguns dias atrás, só que agora ela não estava com aquela expressão triste e chocada, ao contrário sorriu e ele se assustou um pouco com isso.

— Hum... Oi, como está o rosto? — Meio sem graça ela tocou a bochecha balançando a cabeça.

— Estou bem, obrigada! Eu nem te agradeci direito aquele dia honey...! — ‘Honey?’ pensou confuso.

— Joy vamos! — Chamou alguém e ela apenas acenou com a mão.

— Podem ir na frente! — Ergueu a mão para o grandão sorrindo. — Eu sou Joy! — Ele segurou em sua mão dando um rápido sorriso por educação.

— Montanha e não tem que me agradecer nem...

— Montanha? — Ela o interrompeu tentando não rir. — Como assim Montanha? — O rapaz ergueu uma sobrancelha suspirando.

— Meu nome é Montanha. — Explicou o que agora a fez rir.

— Seu nome não pode ser Montanha! — Não, não era, mas esse era um assunto delicado para ele, por isso a fitou com um sorriso amarelo.

— É como me chamam. — Esperou ela a mensagem de ‘não vai ter mais do que isso’ ser percebida, o que felizmente aconteceu.

— Tá bem, então... Montanha, deixa eu pagar o seu lanche como agradecimento? — Ele ia negar quando uma voz feminina veio de trás da fila.

— Hey! Não pode deixar ela furar a fila! — Berrou com alguns murmúrios contrariados do pessoal ali. Joy sorriu sem graça acenando.

— Não, perae, não é isso, a gente só tá...

— Eu já ouvi essa loira! Tu dá em cima do cara gordo e pede para ele te colocar na frente, só que não aqui, pode ir para o final da fila! — Revidou a garota morena com os braços cruzados tendo o apoio das amigas ao redor dela que apenas acenaram que sim. De repente todo mundo da fila parecia estar olhando a cena na espera dela sumir de vez ou ir para o final da fila.

Montanha bufou, se fosse um homem reclamando ele simplesmente faria sua cara de mal e o assunto era encerrado, mas com garotas as coisas eram diferentes, não dava para ameaçar elas com o olhar e se sentir bem consigo mesmo depois disso.

Por sorte, seu antigo psicólogo, pai do seu melhor amigo, lhe ensinou muitas coisas e uma delas é que uma mulher sempre fica sem graça com a educação excessiva. Num breve suspiro girou o corpo e o rosto no rumo da garota que protestava.

— Se o lugar na fila importa tanto para você, moça, por favor, eu faço questão que troquemos. — Ele deu um passo para o lado mostrando o lugar vago. A morena olhou para os lado notando que agora o olhar condenador se pousava nela. Ergueu o queixo empinando o nariz e foi realmente para o lugar dele querendo se mostrar superior. Montanha seguiu para trás onde ela se encontrava ao lado das amigas dela que pareciam estáticas. — Agora que trocamos será que eu posso conversar com ela ou isso ainda te incomoda? — Perguntou em alto e claro som. Todos viraram seus olhos para a jovem que virou o rosto querendo enfiar ele num buraco. — Obrigado. — Olhou para a loira que tapava a boca para não cair na gargalhada.

— Montanha você é oficialmente meu herói...! — Falou baixinho entre risos perto dele. Só então depois de alguns minutos ela percebeu que tirou ele da frente da fila para ficar bem mais atrás. — Oh! Desculpa, eu não queria que...

— Tudo bem, não é culpa sua. — E realmente pensava isso, a culpa era da outra que não tinha o que fazer se não reclamar. Era um dos motivos pelo qual agradecia que as garotas não gostassem muito dele, não ter que conviver com pessoas assim.

— Claro que é, eu...

— Ohhh pistoleira será que dá para você procurar outro macho para se roçar? — Veio a voz masculina atrás dela lhe dando um susto. — Esse bolão grande é meu! — Com as mãos na cintura Michael tentava fazer um ar afeminado.

— O que...? Oh meu Deus! Ele é seu namorado? — Michael ergueu a mão como se fosse óbvio.

— Darrrh! Eu vou ter que escrever meu nome na testa dele agora para essas piranhas entenderem de uma vez por todas? — Joy ficou roxa de vergonha.

— Não! Ah meu Deus, não, sério! Eu não estava dando... — E os dois rapazes explodiram na gargalhada ao ver o terror no rosto dela.

— É brincadeira...! Vem bolota saí dessa fila, bora comer num lugar mais agradável. — Ninguém realmente se ofendeu por que ele olhou especificamente para garota na ponta da fila. Ele não precisou chamar duas vezes, o grandão já estava suspirando aliviado por poder sair dali, especialmente a universidade. Michael se virou para loira um pouco incerto, não sabia qual a conexão do amigo e dela, então por via das dúvidas: — ...Quer ir com a gente? Estamos indo para aquele pub na esquina, lá tem menos gente. — Montanha ficou meio rígido, não havia necessidade de convidar a moça, ela só tinha ido agradecer, aguardou o ‘não’ como sempre.

— Hum... — Ela olhou para trás, tinha que se encontrar com as amigas, mas uma mensagem dizendo que não ia resolveria o problema. — ...Por que não? — Começaram a caminha e ela fitou os dois curiosa. — Vocês são gays ou não? — O menor dos rapazes gargalhou.

— Só nas noites de terças e quintas, né amor? — Montanha apenas riu.

— Eu sou o ativo. — Brincou o grandão rindo o que a fez rir também.

— HAHA! Nem fudendo você é o ativo, EU sou o ativo! — Disse apontando para si encarando a loira. — Hey! Nem me apresentei, sou Michael! — Estendeu a mão para ela apertar.

— Joy. — Chegaram numa mesa onde tinha outras pessoas a espera deles. Ela acenou num cumprimento.

— Joy, essa é Safira minha namorada número 2, o número 1 você já conhece! — Apontou para o cara grande, fazendo o pessoal ali rir. — Esse no canto é o Phil, esse babaca topetudo é o Flint, mas a gente chama ele de galo, tipo, fala demais, saca? — Afirmou acenando para ele. — Essa é... — Ia dizendo para a garota ao lado do amigo, mas esqueceu totalmente do nome dela.

— Janice, idiota! — Revidou a tal com desdém.

— Isso, a Janice idiota! Pessoal essa é a Joy, eu acho que ela está afim do Montanha, mas vamos ser discretos sobre isso para não melar o lance... Aí! — O melhor amigo tinha dado um peteleco nele.

— Ela só queria agradecer. — Justificou sem graça e um pouco nervoso.

— Agradecer o quê? — Perguntou Safira curiosa. Ele até diria, mas o assunto sobre ter recebido um tapa do namorado/ ou ex, parecia tão delicado para ele contar para todo mundo.

— A ajuda que eu dei, ora! — Revidou.

— Com o quê? — Questionou Flint confuso.

— Tinha um cara fazendo pergunta demais sobre um assunto que não era da conta dele para ela, ajudei com isso, pelo visto vou ter que continuar ajudando. — Todo mundo entendeu o recado.

— Você é sútil como um elefante amor! — Brincou Michael.

[...]

E foram todos para o pub. Assim que chegou Joy perguntou ao Michael o que exatamente seu amigo gostava, onde ele respondeu ‘qualquer coisa que se pode colocar barbecue’, e foi o que ela lhe deu. Pediu um sanduiche com muito molho.

— Meu agradecimento. — Entregou para ele. Aceitou principalmente por saber como era chato um sentimento de dívida, imaginou que fosse meio incomodo alguém como ela ‘dever’ algo para alguém como ele.

— Obrigado, agora estamos quites. — Murmurou educadamente a vendo sorrir contente.

— Nem tanto! Mas Joy Hetfield nunca fica em dívida. — Contou num timbre divertida.

— Ahhh meu Deus! É isso, nossa eu tava quebrando a cabeça para tentar adivinhar da onde eu tinha te visto, você é a garota do vídeo do ano passado, não é? — Perguntou Janice completamente pasma. Montanha e Michael não poderiam saber, eram calouros, tinham entrado naquele ano e estavam no primeiro período.

Um frio percorreu a espinha da loira que arregalou os olhos, ela jurava que o pessoal já tinha esquecido aquele assunto, ela pintou o cabelo de loiro, cortou de uma maneira totalmente diferente, mudou o estilo de suas roupas, só para não ser mais ‘aquela garota do vídeo’. Abaixou os olhos sentindo as mãos meio tremulas, depois de tanto tempo como alguém podia ainda reconhecer ela?

— Vídeo? Que vídeo? — Questionou Safira com os olhos brilhando de curiosidade e rindo junto com a outra moça. Montanha e Michael não precisou olhar duas vezes para notar que a loira tinha ficado pálida com a pergunta.

— Ah! Você não se lembra, Safira? O namorado dela vazou um vídeo dos dois transando! Foi o maior escândalo no ano passado, depois da professora de parasitologia virando garota de programa! — O pior foi Janice dizer isso em risos meio debochados. E o choque no grupo foi instantâneo. Não teve como não olhar bem para moça no canto da mesa que não poderia estar mais desconfortável. — Você é doida, como é que deixou ele filmar...?

— Eu não deixei... — Se defendeu quase sem forças e voz.

— Ah tá?! Sei... — Murmurou num sorriso malicioso.

— Qual é a graça disso? — Michael perguntou diante aquele sorriso.

— Ora, é que se você se expõe desse jeito, tem que aguentar. — E com isso Joy já estava pronta para se levantar e sair correndo. Quantas vezes não ouviu que tudo que aconteceu foi culpa dela, não ia terminar sua noite com isso de novo.

— Jura?! Galo passa todos os nudes dela para mim, eu vou mandar para todo mundo que eu conheço. — Revidou num tom de deboche. Janice ficou horrorizada.

— O quê? Não, tá maluco? Não é a mesma coisa!

— É CLARO que não Janice! — Replicou nervoso. — Por que tu tirou a roupa, tirou a foto e mandou por que quis, pelo que entendi, ela não. — Ergueu os braços. — Mas você deve ter razão, querida, quem se expõe tem que aguentar! Então vamos lá, o galo me manda...

— Urgh meu Deus! Como você exagera! — Reclamou Safira impaciente o que deixou o baixinho mudo e nem um pouco feliz. Vendo o clima tenso que se instalou na mesa Joy respirou fundo e sorriu.

— Ahmm... Acho melhor eu ir! Mais uma vez, obrigada Montanha... — Disse toda sem graça se levantando. Ele apenas maneou a cabeça gentilmente. O que a deixou um pouco espantada, apesar de ser o maior deles, teve a impressão de que fosse o mais inofensivo – que deveria ser loucura, o rapaz era um monstro de gente.

Houve um ‘tchau’ e ‘adeus’ que soaram baixinho vindo do pessoal na mesa. Quando ela e distanciou Michael não aguentou continuar calado.

— Eu não vou brigar Safira, especialmente as custas da humilhação de outra garota, quer brigar de verdade? Compra um João-bobo e desconta suas frustrações nele! — Se levantou impaciente antes que ela falasse. — Vou pedir uma bebida. — E foi no rumo do balcão. Montanha mordeu o sanduiche com raiva tentando ignorar os amigos para não acabar sendo mais agressivo nas palavras do que o melhor amigo, sinceramente, vontade de avançar em alguns ele tinha.

— Foi mal pela sua amiga cara... — Ouviu Flint dizer para ele e dando uma olhava feia para garota ao lado que se encolheu. Ele diria algo como ‘ela não é minha amiga’, mas não vinha ao caso naquele momento, então apenas tranquilizou o rapaz com um aceno.

Não pode deixar de pensar no dedo podre que a loira tinha para escolher namorados, um bate nela e o outro faz uma sacanagem daquelas e o pior era que ela parecia ser uma pessoa legal, e Montanha não era de achar qualquer garota ‘legal’.

[...]

Joy foi forte.

Pelo menos foi o que ela dizia para si mesma até chegar na esquina e ver a fraternidade onde morava. Do pub até lá davam umas três quadras e meia, mas mesmo no escuro ela segurou firme até ver o casarão. Estava a uns quinze metros quando se permitiu começar a fungar.

Para alguém como ela, segurar tanto tempo era definitivamente coisa de gente forte.

Ela foi forte.

Mas só de ver a porta da casa o choro deixou de ser silencioso e ela abriu a boca soltando o choro para valer sem a menor cerimônia. O nariz fungava, as bochechas ardiam e o peito... Ah não podia doer mais do que agora. Então a cavalaria de apoio logo percebeu a menina chorando ao entrar e foram ao seu socorro.

— Joy o que aconteceu??? — Perguntou a mais velha da casa que era a líder.

— Me reconheceram de novoooo! — Disse aos prantos e foi acolhida por vários braços confortadores.

Levou um tempo até ela se recompor, porém apenas o choro sessou, pois a sensação horrível de sempre permaneceu firme no peito.

Estava no banheiro lavando o rosto inchado e meio vermelho quando se sentou no vaso sanitário por cima da tampa e desabafou com a supervisora e líder da fraternidade.

— Eu tenho vontade de morrer, Rafaela, toda vez que alguém diz ‘Ahh é aquela garota do vídeo’! — Disse limpando as lágrimas recente. — Como eu sou burra! Meu Deus! Como eu pude ser tão burra para não perceber que aquele celular idiota tava filmando tudo...! — A moça de cabelos cacheados e pele morena se ajoelhou no chão tocando as costas da amiga.

— Não, não senhora! Nós já conversamos sobre isso Joy, você não é burra, a culpa daquilo NÃO foi sua, ninguém no seu lugar ia perceber! Você não tem que ter vergonha honey! — Com os olhos vermelhos fitou a amiga com os olhos querendo ceder de novo, segurou o próprio rosto tentando se segurar.

— Ela riu, Rafaela, contou no meio de todo mundo como se fosse uma piada, eu queria enfiar minha cara num buraco... Ficou parecendo que eu sou a maior vagabunda da universidade! — Contou fungando enquanto a outra limpou a umidade em seu rosto.

— Foda-se ela Joy! Eu não sei para quê que tu foi com aquele pessoal esquisito?! Tivesse agradecido aquele muro humano e vindo com a gente. — A loira limpou o nariz com o tecido da blusa negando.

— Ele não pareceu ser má pessoa, até foi super discreto sobre o que aconteceu com o Stanley... E o amigo dele tentou me defender... — Para a outra não interessava, eles eram estranhos e ponto final.

— Esquece tudo isso. Vem a Juju preparou um leite quente para você, tenta esquecer isso e dormir, tá bom? — Acariciou seus cabelos sorrindo. — Se o Stanley sonhar em chegar perto de você a gente faz picadinho dele, não precisa de nenhum Shrek para isso. — Ela sorriu.

— Não fala assim honey, ele me ajudou e... — Rafaela se levantou suspirando.

Honey pode parar! Se você já se dá mal com namorados baixos, eu não quero nem sonhar em um gigante daquele levantando a mão para você ou para qualquer pessoa possível... — A loira continuou negando rindo.

Não foi dessa vez que conseguiu dormir bem, mas ter dormido apesar do martírio já era algo.

[...]

Montanha perambulou pela universidade inteira na noite seguinte, o sentimento que tinha era que foram de ‘quites’ para agora quem devia algo era ele, nem que fosse um pedido de desculpas pelo que aconteceu. Ele tinha decido antes que nada era sua culpa, mas a consciência dele durante a noite toda discordava firmemente, insistia que a garota havia sido atacada por seus amigos – apesar de não ser amigo da fulana que disse aquilo – e a encargo de consciência era melhor resolver isso.

— Oi. — A encontrou a caminho da lanchonete junto com um grupo de amigas – que não só olharam feio para ele como ficaram apreensivas.

— Oiii Montanha! — Disse sorridente dando um cutucão na amiga do lado que tentou puxar ela para trás. — Vai en...

— Só vim pedir desculpas pelo comportamento dos meus amigos ontem, costumam ser menos desagradáveis quando estão sóbrios. — Ela se surpreendeu negando.

— Não tem que se desculpar, você nem falou nada. — Assentiu.

— Uma das razões pela qual estou me desculpando... — Pigarreou. — ...Eu não costumo repreender as pessoas, especialmente garotas como naquele caso, quando eu falo parece que estou intimidando... — Se justificou meio sem jeito. A amiga ao lado de Joy fez uma careta.

— Com esse tamanho qualquer coisa vira ameaça! — Acusou o fitando com certo desprezo – nenhuma novidade.

— Debrah! — Repreendeu a amiga.

— Não, ela tá certa. De qualquer modo, só queria dizer isso mesmo. Boa noite. — E girou os calcanhares aliviado por ter conseguido dizer ainda que o nervosismo batesse, ajudaria se tão tivesse tanta garota no meio com medo dele. Ele sempre ficava meio perdido e inquieto no meio de muitas mulheres, afinal elas nunca iam com a cara dele.

Joy deu um tapa no ombro da garota ao lado e rosnou contrariada.

— Por que você disse isso? Deixou ele sem graça! — A outra riu perplexa.

— Olha o tamanho do cara Joy! Até ele sabe que dá medo nos outros, bela novidade que eu contei! — A loira se encolheu incomodada. De alguma forma sentiu como se ele tivesse ido se desculpar e ela acabou ofendendo o rapaz por sua aparência. O mesmo que impediu que fosse levada e Deus sabe o que Stanley faria com ela quando chegassem onde ele queria.

Foi com as amigas para a lanchonete. Pensou consigo que se visse o grandão lá se aproximaria e pediria desculpas pelo que as amigas disse, assim ficaria tudo acertado. Mas assim que chegou tudo que viu foi o grupo de amigos ao qual ele pertencia.

Ela manteve os olhos neles enquanto estava na fila esperando que o maior deles aparecesse, porém, sua vez chegou e nada. Pediu dois refrigerantes e se dirigiu para saída onde ficava o estacionamento, tinha a leve impressão de que ele estivesse lá.

Longe de todo mundo.

Não teve outra, entre dois carros no mesmo lugar de antes onde a luz do poste falhava estava o gigante comendo seu lanche no silêncio da noite. Ela abriu um sorriso largo e estendeu o refrigerante para cara de espanto que ele fez.

— Acho que agora vai, sem que nenhum de nós acabe tendo que se desculpar por nada depois. — Ele sorriu aceitando e aguardando que ela seguisse seu caminho após isso. O que não ocorreu, ela se sentou naquele espaço minúsculo a seu lado. — É estranho que te chamem de Montanha, você tem um nome, certo? — Ainda um pouco assustado com a jovem estar ali e a seu lado, engoliu o alimento.

— Não gosto do meu nome, prefiro Montanha. — Naquela iluminação precária o fitou curiosa.

— Por quê? Qual o seu nome?

— Nunca disse a ninguém, não vai ser agora que vou dizer para você. — Replicou tentando não parecer severo, mas ela fez foi rir.

— Me dá a primeira letra, deve ser um daqueles nomes que lembram outra coisa, né? Tipo, Pintonildo ou Pênisvaldo! — E o gole no guaraná começou a sair pelo nariz quando se engasgou com o riso involuntário. Tossindo e sentindo a garganta doer ele negou rindo.

— Não... De jeito nenhum... — Falou em tosses tentando não rir, mas o Pênisvaldo foi demais.

— Peitovânio, Mameilor, Sacocent... — Colocou a mão na frente dela para parar, ele continuava rindo e Joy não conseguia pensar numa criatura mais inofensiva do que aquele homem de quase dois metros se segurando para não gargalhar.

— Não tem nada a ver com isso. — Disse se recompondo.

— Então não tem por que ter vergonha! — Ele limpou o nariz com a palma da mão negando.

— Eu não disse que tenho vergonha, eu disse que não gosto. — Explicou.

— Isso não faz o menor sentido, prefere ser chamado de Montanha do que pelo seu nome só por que não gosta? — Assentiu sem sombra de dúvida.

— Prefiro que nem saibam meu nome para não correr risco de alguém me chamar por ele. — Bebeu outro gole voltando a respirar com mais calma.

— Por quê? — Mexeu os ombros.

— Não gosto dele. — Ela percebeu que tinha um motivo oculto, mas achou melhor não insistir.

— Mas você não tem vergonha na cara mesmo, né garota? — Surgiu a voz masculina atrás deles. — Já tá em cima do meu homem DE NOVO? — Ela gargalhou.

— Você deixa ele dando sopa por aí, ora! A culpa não é minha se você é um péssimo namorado! — Michael deu pulinhos todo sorridente.

— Ahhhhh ela entrou na brincadeira! Não fica zangada com a gente, não temos nada a ver com aquela criatura de ontem, aliás eu peguei um nude dela com o galo, se tu quiser eu te mando para você sair espalhando por aí só de vingança! — Joy fez careta negando.

— Ah nãoooo! Eu não desejo isso para ninguém... — Murmurou um pouco sem jeito pelo retorno do assunto. Michael se sentou atrás dele escorando na parede.

— Tu cursa o que Joy? — Perguntou mudando de assunto, ela sorriu largo.

— Design de moda! — Michael mostrou a língua.

— Argh, você é daquele curso que o pessoal caga regra sobre o que vestir ou não? — Ela franziu o cenho negando.

— Não, sou daquele curso que te dá mais opções do que vestir, idiota. — O baixinho balançou a cabeça.

— Dá no mesmo... Escuta, você é uma menina bacana, mas já que não vai dá em cima do Montanha e o Montanha nunca tem coragem de dá em cima de ninguém, pode me deixar a sós com meu amor? — Ela se virou para o homem enorme ao seu lado surpresa.

— Você é tímido? — Antes que ele respondesse seu amigo atravessou.

— Tímido? Níveis acima de tímido, a primeira namorada do Montanha fui eu que tive que pedir. Sério! Eu cheguei nela depois deles já terem ficado e falei ‘Hey, Montanha quer namorar com você, você topa?’. — Contou rindo.

— Não foi assim...

— Foi sim! Se não fosse por mim Montanha, até virgem você era. — Joy colocou a mão na boca segurando o riso.

— Você não é só o pior namorado do mundo, é o pior amigo também! — Nisso se virou para o grandão que sorriu um tanto corado com a história toda. — Por que você é amigo desse idiota? — Michael riu.

— Já me acostumei com as idiotices dele... — Nisso ela se levantou rindo.

— Certo, certo, então vou deixar o casal no escurinho, mas usem camisinha rapazes, ela não serve só para não engravidar! — Brincou deixando eles com o que parecia ser um papo sério. Joy chutou que tivesse a ver com a namorada do Michael, pois jurava ter ouvido ele falar o nome dela antes dela entrar.

[...]

Depois disso a amizade surgiu, sempre que via os dois Joy os cumprimentava e as vezes até mesmo se sentava com eles no refeitório para conversarem um pouco. Percebeu logo então algo curioso: Michael era o estourado do grupo, e Montanha o pacificador. Infelizmente isso não dava certo, pois com um porte como o dele dificilmente iria conseguir passar calma para as pessoas.

Foi num sábado quente em que Joy estava correndo para retornar ao pique de costume, tinha se desleixado bastante depois do término complicado com Stanley, mas chegou o momento de superar e continuar seguindo em frente.

Parou numa sorveteria e comprou um picolé de frutas após a caminhada para se animar, e foi quando viu aquela pessoa enorme saindo de um petshop na outra rua com uma sacola na mão. No mesmo instante saiu a seu encontro.

— Montanha! — O chamou chegando a conclusão de que alguém como ele era inconfundível, mesmo naquela distancia. — Oiii honey! — Disse empolgada. Ele parou deu um sorriso singelo.

— Oi, o que faz por essas bandas? — Ela mordeu o picolé feliz.

— Caminhada, eu não vi você nem o Michael essa semana, vocês estão bem? — O grandão suspirou pesado.

— Ele terminou com a Safira, não tá lá muito legal. — Revidou apenas.

— Onde estava indo? — Montanha ergueu as sobrancelhas surpreso.

— Para casa, vim comprar uns remédios para Lady. — A loira olhou pra o petshop e depois para ele.

— Lady? — Um pouco sem jeito ele respondeu.

— Minha gata. — É, ele já sabia que ela explodiria em risadas ao mencionar isso. Todo mundo ri quando ele conta que tem uma gata, ao que tudo indicava pessoas grandes como ele não combinavam com felinos pequenos.

— Você tem uma gata, Montanha? — Afirmou sorrindo com a diversão dela.

— Não é como se eu tivesse comprado ela e tal, um dia simplesmente apareceu lá em casa e estou cuidando dela. — Explicou com um leve rubor nas bochechas.

— Ela tá doente?

— Acho que sim, ela não quer comer, comprei todo tipo de ração até as mais caras e não faz efeito. — Explicou suavemente preocupado. — Quer conhece-la? — Isso fez Joy rir, ele perguntou com tanto carinho direcionado a gata que lembrou uma criança com bichinho de estimação. — Esquece... A gente... — Ele notou o deboche no semblante dela e se arrependeu, parecia uma boa ideia na sua cabeça, garotas gostavam de gatos e já que era sua amiga, não imaginou que saísse como algo ruim.

— Não, não! Eu quero conhecer a Lady, honey! É só curioso você gostar de gato. — E ignorou o sarcasmo dela apontando na direção que morava.

Morava no final da rua numa quitinete minúscula de três cômodos, mas suficiente para ele. A sala e a cozinham eram juntas, o banheiro era bem pequeno para ele e o quarto só coube sua cama por que tinha como desmontá-la.

Tudo arrumado em seu lugar, a quitinete tinha até um cheiro de que tinha acabado de ser limpa. E Lady se encontrava ali, deitada no sofá quieta e calma. Era uma gata pequena de pelos alaranjados com branco e olhos verdes... Só que algo não era comum em Lady, sua patinha direita era meio deformada e bem curtinha, não encostava no chão quando andava.

Se levantou quando viu o dono e começou a miar carente ronronando.

 Joy ainda estava observando a casa do amigo gigante quando notou a felina tentar a todo custo subir no colo do Montanha se esfregando na barriga dele. Ele alisou o pelo dela e ela deitou voltando a dormir como se ele fosse um travesseiro mais confortável que o sofá.

— Ela está ficando cada vez mais magra... — Disse acariciando quando Joy se sentou ao seu lado no sofá vendo o bichado.

— Ela é tão fofinha... — Passou a mão sobre ela percebendo que ele tinha razão, ela estava um pouco magra. — ...Você mora aqui sozinho? — Ele olhou em volta e sorriu.

— Nem se eu quisesse morar com alguém, não cabe. — Ela riu se abaixando no rumo do animal.

— Você é esperta Lady, escolheu o dono mais dócil da cidade. — Montanha não gostou muito do adjetivo, porém não disse nada. — Já sei! É Suvacolêncio? Bundávio? Não, é Espirrilino? — Ele franziu o cenho e começou a rir negando. — Ahh qual é Montanha?! Por que o Michael pode saber e eu não?

— O Michael só sabe por que o pai dele contou, se não nem ele saberia. — Disse rindo.

— Ah, então já sei a quem pergunta...! — Ele fitou sério por um momento.

— Pode parecer engraçado, mas eu gostaria que não fizesse isso, eu realmente não gosto do meu nome. — Joy cruzou os braços curiosa.

— Então você arruma uma namorada, vai para cama com ela e naquela hora você não quer que ela te chame pelo nome? Ela vai ficar gritando ‘Montanha’? — Notou que ele enrijeceu o corpo com o assunto ficando sem graça.

— Não precisa falar nome nenhum, pode dizer outras coisas...

— Não Montanha, tem momentos que só o nome serve, e aí? — Brincou fazendo um leve rubor tomar as bochechas dele.

— Não sei, no dia que acontecer eu penso se abro uma exceção, só que... Dizer meu nome não vai me deixar feliz, então não vai ser bom para ninguém. — Chegou a conclusão de que conversas assim eram menos constrangedoras com o Michael, definitivamente. Vê-la sorrindo tão alegre de um assunto tão íntimo fazia seu rosto esquentar.

— Você é uma figura, Montanha. — Disse a loira entre risos. — E se fosse ao contrário? E se o apelido da sua namorada fosse... ‘Sacolinha’ ou algo do gênero, você ia conseguir dizer o apelido dela na hora H? — O grandão gargalhou.

— Minha nossa... Tô tentando entender o que essa pobre garota fez para receber um apelido de ‘sacolinha’, você é horrível para dar apelidos E nomes, viu?! — Debochou dela o que a fez rir mais ainda. Ia protestar quando o celular vibrou no bolso do colete, ainda sorrindo fitou ele.

— Não fuja do tema Montanha, você vai ter que dizer seu nome para... — Ficou muda. O número que mandava a mensagem era desconhecido, mas não precisava pensar muito de quem era diante aquela mensagem acompanhada de um vídeo.

Eu vou repassar essa merda para todo mundo você vai se arrepender te ter me largado

O maldito vídeo havia ressurgido do inferno depois de tanto tempo tentando fazê-lo sumir até mesmo com a ajuda da policia. Agora estava nas mãos de outro demônio. Seus olhos já se encheram de lágrimas e sentiu uma falta de ar repentina, aquilo não parecia possível.

Sem pensar direito clicou no vídeo e não teve dúvidas. Era a face do seu ex cretino posicionando a câmera para grava tudo pouco antes dela entrar.

— Ah meu Deus... — Suas mãos começaram a tremer e as lágrimas já pingavam aos montes sobre a blusa.

— Joy...? O que foi? O que é isso? — Perguntou o grandão ao seu lado com o olhos na tela tentando entender o que se sucedia. Quando ela voltou a si correu para cobrir os olhos dele com uma das mãos, mau conseguindo alcançar o rosto dele enquanto tentava desligar o vídeo com a outra.

— Nãoooo! Por favor, por favor... Não olha...! Por favor... Não quero que veja isso...! — Pediu aos prantos sentindo o rosto ardendo de vergonha e humilhação. Não por ele, mas pelo que poderia pensar dela logo após ver aquilo.

Se quisesse ver ele apenas viraria o rosto, a mão dela mal chegava em seus olhos, se quisesse ver ele conseguiria sem fazer muita força sobre ela, mas aquele pedido bastou para ficar imóvel no sofá e esperar que ela fechasse a tela do celular.

— Pronto? — Perguntou quando a mão dela saiu dos seus olhos, os manteve fechados só por precaução.

— Uhum... — Choramingou aos prantos e em soluços desesperada. Joy jogou o celular no chão para se abraçar completamente abalada, depois de tanto tempo se aquilo voltasse de novo ela não fazia ideia de como suportar. Os olhares condenadores, o afastamento das pessoas e principalmente o avanço daqueles que jamais desejou por perto.

— Fica calma, quer um copo de água? — Colocou a gata de lado sem tirar sua atenção da moça. Joy apenas negou em silêncio. — O que houve? — Ela não tinha coragem de dizer, nem conseguiria naquele estado.

— Quero... Quero ir para casa... — Não soube da onde tirou forças para dizer aquilo ou se ele havia entendido, já que no meio da frase foram soluços e choro junto. Sem saber muito bem como levar a situação ele concordou com medo de tentar tocar nela e piorar tudo. Eles eram amigos, mas ela poderia se sentir ofendida, quando o assunto era ele qualquer atitude acabava saindo exagerada e mal vista.

— Eu vou te levar, vem... — Estendeu a mão para ela para ajudá-la a se levantar. No estado vulnerável que se encontrava, Joy fez foi se agarrar ao braço inteiro limpando o rosto úmido na manga de sua camisa. — ...Shhh... Tá tudo bem, eu vou chamar um uber e vou com você, pode ser? — Ela apenas fez que sim sem cessar o choro. Não deu para ser forte naquele momento.

Felizmente não demorou muito para o serviço chegar, fez sinal de silêncio para o motorista não fazer perguntas ou vir com a típica educação para ganhar estrelas. Caminhou até a porta com ela cada vez mais preocupado, Montanha certamente nunca tinha visto antes uma mulher chorar tanto, isso tudo por conta de uma mensagem que nem viu direito.

— O que você fez? — Ficou zangado com a acusação logo que abriram a porta. Joy voou nos braços da amiga morena aos prantos. — Honey o que foi? Meu Deus, você está tremendo...! — E um turbilhão de meninas começaram a aparecerem de todas as portas possíveis daquele casarão. Ele iria embora na hora, mas queria ter certeza que a menina fosse ficar bem.

Mesmo sendo fuzilado com os olhares das garotas, ainda que soubesse que sua presença ali não passava de um incomodo e se sentido desconfortável... Ele esperou. Nem que fosse para ouvir um ‘ela vai ficar bem’ da moça morena que levou Joy para o quarto.

Pediria uma água, sua boca estava seca, mas imaginou que com certeza alguma daquelas jovens fossem cuspir na água. Não gostavam dele, tudo bem, já estava acostumado a ser desprezado gratuitamente pelo sexo oposto, só que teriam que aturá-lo, pelo menos até alguém dar alguma notícia de sua única amiga mulher.

Após quase uma hora sentado no final da escadaria aguardando, a líder da fraternidade desceu em passos lentos e um semblante triste. Mirou o tal ‘muro humano’ um pouco surpresa.

— Você ainda tá aqui? — Perguntou com um certo desdém.

— Desculpa, eu... Só queria saber como ela está, tá mais calma? — Rafaela rolou os olhos.

— É, ela vai superar...

— Superar o quê? — Ela o fitou com muito ódio.

— Sabe do vídeo, não é? — Ele assentiu. — O filho da puta do Stanley ameaçou ela, ele achou o vídeo e disse que vai espalhar de novo, tem ideia do quanto demorou para gente sair pedindo para todo mundo excluir essa merda?

— Ele vai espalhar o vídeo dela com o antigo namorado? Ele é doente? — A morena deu uma risada amarga.

— O que você espera de um cara que bate numa garota por causa de porra de uma roupa? — Montanha concordou suspirando.

— Ele estuda lá, não é? — Olhando o rapaz dos pés a cabeça afirmou.

— É... Tá no terceiro ano de engenharia civil... — Respirou fundo bem sério, tirou o papel onde tinha escrito seu número enquanto esperava do bolso.

— Aqui, se esse palhaço se aproximar, podem me ligar. Fala para Joy ficar tranquila, na segunda eu resolvo o problema dela. — Girou os calcanhares e seguiu caminho para a saída. Rafaela leu o número umas cinco vezes antes de decidir voltar para cima.

Jogada numa cama abraçada a um travesseiro chorando bem menos que antes sua amiga parecia inconsolável. Debruçou ao lado dela entregando o papel.

— Seu amigo grandão mandou dizer que se o Stanley se aproximar de você, é para ligar para ele... E que segunda resolve seu problema. — Joy tirou o rosto do travesseiro.

— Como assim ‘resolve’? — A morena se levantou mexendo os ombros.

— Não sei, deve ter os meios dele, acho que talvez tu tenha razão sobre o caráter de alguém só dessa vez... Ele não parecer ser má pessoa.

[...]

 

Montanha queria a presença do Michael, só por garantia de que não exagerasse, afinal esse era seu problema, tudo que ele tentava fazer por mais insignificante que fosse acabava saindo exagerado. Não era sua culpa, o seu corpo deixava as coisas piores do que já eram.

Só que Michael parecia fora de orbita, só pensava em festas e bebidas e ultimamente tinha resolvido sair com uma garota só para mostrar aos amigos o quanto estava ‘bem’ com o termino do namoro – e evitando o Montanha por justamente saber que o amigo ia lhe dar uma bronca.

‘Um problema de cada vez...’ pensou consigo. O da Joy era mais sério e urgente, depois veria o que fazer com o melhor amigo vivendo ‘viva la vida loca’.

Na segunda-feira foi direto na sala da sua amiga que não parecia nada bem com os olhos fundos e um semblante triste que não via desde o dia em que a conheceu no estacionamento. Partiu eu coração vê-la sem o típico sorriso empolgado para qualquer coisa. Uma garota tão legal como ela deveria ser a última pessoa a passar por isso.

— Vem... Vamos conversar com seu ex.— Todos na sala já estava surpreso o suficiente com a entrada daquele ser enorme. Joy negou constantemente.

— Não Montanha! Se você fizer qualquer coisa, ele vai...

— Ele não vai. — A interrompeu. Ela estava desesperada. Ofereceu sua mão para segurar... Com medo e tremula Joy a pegou.

— Escuta aqui, estamos no meio de uma...

— Eu sei, desculpa, mas isso é mais sério. — Disse para a professora na frente do quadro.

Quatro das amigas e alguns enxeridos os acompanharam até a sala onde o pessoal do terceiro ano de engenharia civil se encontrava. No susto o professor que dava a aula já ia protestar...

— Só quero um dos seus alunos, aquele ali! — Apontou diretamente para o rapaz no meio da sala que começou a tremer assim que viu sua ex ao lado do grandão. Soltou a mão da menina e andou até o homenzinho que se encolheu e pareceu minúsculo perto dele. — Oii! Lembra de mim? Me dá a merda do seu celular! — Com um ódio no olhar, mas com medo suficiente ele tirou o celular do bolso e entregou. Montanha pegou e jogou para uma das amigas da Joy. — Agora vem cá, vamos conversar... — Evidentemente o rapaz recusou até mesmo se levantar, então Montanha deu seu jeito.

Pegou o Stanley pelo braço e com força arrastou ele até perto das meninas que estavam na porta impressionadas.

— Está vendo essa garota? — Apontou para Joy que mordeu os lábios apreensiva. — Ela é minha amiga, e a muito tempo atrás um idiota fez uma sacanagem com ela, mas isso não vai acontecer de novo, não é? Por que isso não é coisa de homem, e eu acho que você ainda deve ter alguma dignidade, não é? Não faria isso, certo? — Montanha falava calmamente, podia se ouvir murmúrios, mas ninguém tinha coragem de interromper. O ex balanço a cabeça freneticamente quase não conseguindo respirar. — Pode dizer isso para minha amiga? — Tremulo o rapaz mal dava conta de pronunciar.

— Eu-eu não-não... Ia, eu-eu não-não vou, foi-foi só uma brinca-brincadeira... — O grandão precisou virar aquele imbecil no seu rumo chocado de uma vez .

— Brincadeira? Ameaçou ela com uma coisa daquelas e chama isso de brincadeira? — Perguntou nervoso. Deveria ser mais ou menos aí que o Michael o interromperia, como não estava, o controle do rapaz foi para o espaço.

Num empurrão segurou Stanley pelo pescoço e arrastou o magricela até o alto da parede o suficiente para coloca-lo na altura dos seus olhos, aproximou seu rosto do dele até que sua respiração estivesse tocando a face do outro.

— Escuta aqui... E me escuta bem! — Dizia rangendo os dentes. — Se você chegar perto dessa garota ou das amigas dela, se eu SONHAR que esse vídeo voltou a circular... — Apertou mais o pescoço dele, o outro tentava a todo custo respirar ficando vermelho. — ...Eu vou atrás de você e nós dois vamos fazer um vídeo, eu fudendo a porra do teu rabo e vou fazer questão de EU mesmo espalhar essa merda para todo canto, estamos entendidos? — Ao notar que nem se quisesse o cara ia dar conta de falar ele o desceu afrouxando a mão. — ESTAMOS ou não estamos? — Desesperado o ex da Joy acenou tanto que sim que a cabeça devia estar doendo. — Ótimo! Agora que tal você me dizer quem te passou esse vídeo? — Não precisou nem fazer mais pressão.

— O ex dela... O cara do vídeo... — Respondeu quase chorando e aterrorizado.

— Ah, quer ajuda para voltar para sua cadeira? — Encolhido no chão Stanley negou. — Acho então que é bem aceitável para você, que depois de tudo as meninas fiquem com seu celular, né? — E que escolha ele tinha se não aceitar? As mulheres podiam sempre dizer não para ele, mas o homens... Esses estavam sempre bem dispostos a concordar com qualquer proposta que ele fizesse. Se virou para a turma aterrorizada com toda a cena. — Eu peço desculpas por ter interrompido a aulas de vocês, espero não precisar fazer isso de novo, a não ser que nosso ‘colega’ em comum torne a fazer merda, ou qualquer um de vocês que vierem para cima da minha amiga. — Deu um aceno para o professor educadamente. — Com licença.

Saíram da sala e nunca tinha visto tanta mulher prestes a chorar. É, ele imaginou que talvez tenha exagerado e assustado elas com a ameaça. Joy foi a primeira a dar início a sinfonia de prantos e de repente o Montanha, o mesmo que era completamente desprezado pelas criaturas do sexo oposto estava rodeado por elas e sendo irracionalmente abraçado.

Se ele não sabia como fazer uma delas parar de chorar o que dizer cinco, seis se contar a professora que os tinha seguido e enxugava os olhos com um lenço.

Que bando de loucas...” cogitou assustado.

O assunto com o outro ex da Joy foi bem rápido se comparado com Stanley, primeiro por que a própria Joy tinha criado coragem para dar um belo chute nele e segundo por que foi bem fácil convencê-lo a dar todo seu material eletrônico, celular, computador e tudo mais.

Levou tudo para o Phil – estava um pouco zangado por causa do envolvimento recente com a Safira, só que era o único que conhecia que entendia disso – que resolveu todo o problema, não dava para saber onde mais tinha o vídeo, mas onde ele encontrou resquício fez o favor de apagar.

[...]

Era a vez do Michael. Ele tinha terminado com a Safira logo após perceber que ela parecia gostar mais do Phil do que ele, e mesmo ainda gostando dela teve a brilhante ideia de sair com uma menina que vivia fazendo pouco caso da sua pessoa e adorava dar uma de certinha.

E bebendo muito acompanhado de alguém que ele se quer gostava... Parecia ser a fórmula perfeita para o desastre.

Que não demorou muito para acontecer...

— Alô? — Atendeu sonolento o celular as duas da manhã.

Montanha... É a Eloise, preciso de você filho, o Michael se meteu numa encrenca feia... — Disse a voz feminina do outro lado.

— O quê? — Se sentou na cama apavorado. — O que aconteceu?

Eu estou no hospital, filho, o Michael quebrou o pé pulando a janela de uma moça e advinha?! O pai dela tá acusando ele de invasão domiciliar e até de tentativa de abuso sexual... — Deu para perceber a voz da mulher bem embargada.

— Isso é loucura, essa garota tava saindo com ele tem quase duas semanas! — Ouviu o bufar da senhora Cooper.

Não é o que essa VACA tá dizendo, Montanha, ela falou que nem conhecia ele! — O rapaz pulou da cama com um aperto no peito.

— Onde ele está? Eu tô indo para aí!

Entrou no hospital às pressas e para o espanto maior do Montanha tinha um policial ao lado da porta e não era de longe a tia dele – embora conhecesse o homem. Dillan era quem estava sentado do lado de fora numa cadeira e assim que viu o amigo do filho se aproximou nervoso.

— Acabaram de colocar gesso, tava meio grogue e dormiu. — Contou. — Você conhece essa garota? — Ele negou.

— Não, nem tive contato com ela, eu sabia que o Michael só estava fazendo isso por idiotice, achei que fosse acabar antes de ter começado... — Se sentou num dos bancos preocupado. —  ...Que história é essa de invasão domiciliar e tentativa de abuso? — O mais velho suspirou.

— Chamaram a policia e quando questionaram a menina, ela disse que não o conhecia e o pai dela ao perceber que ele tinha caído justo da janela dela agora quer acusar o Michael de tentar invadir a casa para abusar da filha. — Passou as mãos pelos cabelos cansado. — Isso é sério Montanha, bem sério, se essa menina resolver ir para frente alegando que não conhece o Michael e com uma acusação de tentativa de abuso, ele pode ir a julgamento... Tem dezoito anos agora, se for a julgamento não sai mais da ficha dele não importa o resultado.

— Isso é loucura! Ela estava saindo com ele, até as amigas dela podem comprovar isso! — Dillan suspirou concordando.

— É exatamente isso que eu e a Eloise queremos de você, a tia dele nos garantiu que vai enrolar o pai da moça com um monte de burocracia, ganhamos um dia praticamente, é o máximo que ela consegue, se você puder encontrar alguém próximo a ela que confirme que sim, conhecia e estava saindo com o Michael, encerramos essa palhaçada. — Montanha queria dizer que não era a pessoa mais indicada para procurar uma garota e pedir que ela testemunhe a favor do amigo, mas não teve coragem de negar naquele momento.

— Tudo bem, eu vou andar naquela universidade inteira amanhã até achar alguém que confirme isso. — Falou se levantando. — Mas... E se eu não conseguir?! — O mais velho sorriu torto.

— Aí o Michael vai ter que dar uma boa explicação e ser bem convincente para o juiz sobre o que tava fazendo pulando a janela da filha daquele homem, sem contar na alta probabilidade da Eloise matar essa garota antes. — O rapaz engoliu em seco.

— Só que ele não pode ser preso, né? Não por isso? — Dillan mexeu os ombros.

— Não Montanha, mas vai ter uma acusação bem feia na ficha, briga entre homens é uma coisa, sabe? Abuso sexual... — Suspirou preocupado. — ...Vamos torcer para tudo se resolver... — Concordou.

Montanha não conseguiu ver seu amigo ou a senhora Cooper, porém se conformou, pois tinha uma missão importante a cumprir que sabia que não ia ser fácil. Encontrar alguém próximo da mentirosa e convencê-la a desmenti-la.

E foi isso que fez durante o dia todo, desde o período de manhã a noite. Procurou em basicamente todas as salas e turmas alguém que a conhecesse, só que nenhuma garota se quer queria falar com ele. Quando não era recebido com o típico medo comum, elas o ignoravam com certo desdém dizendo algo como ‘nem sonhando’.

Pensou em pedir a Safira para ajuda-lo, entretanto isso exporia o melhor amigo que tentava esconder que não estava bem com o termino... Foi quando a luz da sua mente veio em forma feminina correndo no seu rumo acenando com os cabelos louros balançando contra o vento.

— Joy! — Ela praticamente se jogou num abraço contente nele sem notar sua aflição.

Honey! Ah! Que cara é essa? — Perguntou preocupada vendo que até a respiração dele estava inconstante. Não podia evitar, era de noite e ele não tinha encontrado uma pessoa se quer para ajuda-lo.

— Por favor, me diz que você conhecia aquela garota que tava saindo com o Michael! — Clamou segurando em seus ombros a encarando sério. Ela se assustou um pouco fechando o sorriso.

— Aquela da turma de economia? — Assentiu desesperado. — Não, só de vista... Por quê? — Ele olhou para os lados engolindo em seco.

— Joy ontem de noite ela chamou o Michael para casa dela, o pai da garota apareceu e o Michael pulou a janela e quebrou o pé, depois o velho chamou a policia e agora essa garota tá dizendo que não conhece ele! Tão acusando ele de invadir o lugar para... Abusar dela! — Falou a última parte baixinho para que ninguém ouvisse. A loira não poderia ficar mais chocada.

— Que... Maluquice! Aposto que tem alguém que pode desmentir ela!

— Eu procurei por todo lugar! Mas as pessoas tem medo de mim e eu não consigo fazer elas aceitarem vir comigo! — Disse apavorado. — Se eu não levar ninguém hoje para desmentir essa garota, vão fichar o Michael! — Segurou as mãos dela com os olhos implorando praticamente. — Você é bonita e amigável, as garotas vão parar para te ouvir, tenta falar com uma delas, por favor... O Michael é a pessoa mais próxima de uma família que eu tenho, não posso deixar ela sujar o nome dele assim... — Ela acenou para ele se sentar e se acalmar.

— Fica aqui e não saia, eu acho que sei de alguém que vai me ajudar... — Saiu correndo sumindo por entre a multidão. Nessas horas o tamanho dele não servia para nada além de atrapalhar.

A inquietude o tomava por completo, quando o tempo não parecia andar ao mesmo tempo tinha a impressão que voava contra ele. Demorou bem mais de uma hora até ver a loira voltando agarrada ao braço de uma jovem que evitava olhar para ele. Não se importou, na verdade, não ligava para mais nada se ela realmente fosse ajudar.

— Montanha, essa é a Chris, ela é amiga da Brenda que é a garota que está acusando o Michael... Mostra para ele o que você me mostrou? — Meio sem graça a menina liberou a tela do celular e colocou um áudio para soar.

‘Chrissss! Advinha quem está vindo para cá? Eu sei, eu sei! Eu sou louca de além de dar moral para o Michael, chamar ele para minha casa, mas... Vamos ver se ele é isso tudo que dizem... Depois de conto tudo!’

Ele puxou o ar para os pulmões com toda força e soltou devagar sentindo os lábios tremerem e os olhos arderem. Se aproximou da tal da Chris quase choroso e conseguiu dizer:

Muito Obrigado... — Agradeceu tão do fundo do coração que deixou a moça mais sem graça ainda. Joy estava perplexa, ela certamente nunca tinha visto um homem chorar, especialmente um daquele tamanho, sentiu uma vontade imensa não só de beijá-lo como levar para casa e passar o resto do dia consolando ele.

Mas não era momento para isso.

[...]

Foi a madrugada mais longa do ano, não por que o caso do Michael foi encerrado antes de ser aberto e sim por que a mãe do garoto queria abrir outro caso, dessa vez de homicídio contra a garota. Se não fosse Dillan segurando a mulher para não atacar a menina certamente o problema não teria terminado aquela noite.

Com os pais cansados, Montanha fez questão de que eles voltassem para casa e deixassem que ele ficasse com Michael no hospital. Joy queria ficar, mas ao que tudo indicava só uma pessoa podia.

— Oi bolão... Nossa que dor... — Disse segurando a perna sem conseguir levar a brincadeira a frente.

— Você tem alguma noção do que aconteceu desde que quebrou o pé? Ou tava bêbado demais da lembrar? — Michael o fitou.

— Isso parece o começo de uma bronca...

— Ah é! Pode ter certeza que é o começo de uma bem feia! — O rapaz rolou os olhos com desdém.

— Eu acho que já ouvi o suficiente da minha mãe...

— Não foi o suficiente, você não ouve a sua mãe! Ela vive dizendo para você não sair namorando qualquer uma e olha onde você veio parar! Tudo por causa da Safira! Você enlouqueceu? Se gostava tanto assim dela, por que infernos terminou? — Ainda com desdém mexeu os ombros. — Eu acho que sei por que... Você não gostava tanto assim dela, tava faltando algo para variar, não era? — Isso fez Michael o encarar sério. — Sempre falta Michael, está sempre faltando para você... Ou elas chatas demais, ou elas procuram brigas demais, ou não consegue brigar com elas, ou elas estão procurando algo que você acha que não tem, ou elas não gostam de você pelo que você acha que é... Motivo nunca faltou, Safira foi só mais uma, mas ela cutucou na ferida, por isso doeu mais.

— Do que merda você tá falando?! — Montanha ficou possesso de ira.

— Eu passei as últimas vinte quatro horas tentando limpar a merda do seu nome Michael! Por causa da PORRA de um namoro que você mesmo destruiu! NÃO GOSTA DELA Michael! Quer fuder com a sua vida? Fode pela garota certa pelo menos! Não por uma que você dispensou por que não consegue brigar! Ela está feliz com o Phil, vai correr atrás dela? — O baixinho se encolheu apertando a perna nervoso.

— Ela não gosta de mim... — Murmurou fugando. — ...Elas nunca gostam de verdade de mim Montanha... — E ele inacreditavelmente começou a chorar. — ...Elas nunca tentam lutar por mim... — Cobriu os olhos com as mãos desabafando. — ...O Logan tem razão... Eu estrago tudo... É só uma questão de tempo...

— Ahh claro, ouvir os conselhos de um pirralho de dez anos, muito maduro da sua parte... — Brincou o grandão aproximando a cadeira. Michael riu ainda chorando, limpou o rosto e negou.

— Eu não vou correr atrás dela, não vai dar certo e... Eu não quero perder duas pessoas que gosto ao mesmo tempo... — Montanha bufou.

— Você não gosta dela, nunca achei que gostasse... Para com isso...— Michael o fitou confuso.

— Como você sabe?

— Eu conheço você! Se você gostasse dela, não estaríamos tendo essa conversa. — Pensou um pouco. — Ela é cheia de dúvidas, eu acho que esse foi o problema, você não lida muito bem com a incertezas dos outros, o Phil já tem uma paciência de buda. — Comentou. — É isso, acho que precisa de uma garota Michael que diga: ‘Eu gosto de você, ponto final’, qualquer uma que não te dê certeza vai fazer você entrar em processo de ‘auto sabotagem’. — O rapaz com o pé engessado ficou quieto limpando o rosto. Jogou a cabeça para trás rindo.

— Tsk! A única garota que eu conheci que gostava de mim desse jeito eu fiz ela me odiar. — Montanha riu.

— Isso é impossível... Tem uma razão do por que se diz ‘ponto final’, se ela existe, ainda gosta de você.

— Ela é minha prima, me odeia e isso é nojento. — O grandão buscou na memória.

— A sardentinha? — Esperou ele afirmar. — Ah eu lembro dela, seus primos viviam te zuando por que ela era louca por você, quantos anos ela tem hoje? — Michael o fitou meio nervoso.

— Quinze, uma fedelha que mal tem peitos, para de falar como se houvesse a menor possibilidade de eu ter algo com ela! Ela vai adorar me ver com o pé quebrado esse ano! — Montanha riu.

— Não posso julgá-la, também estou gostando... — O baixinho acertou um soco no ombro do amigo.

— Eu te amo também rolha de poço.

— Anão de jardim.

— Mobydick.

— Tamborete.

— Bigorna.

— Hobbit.

As ofensas só podiam significar que tinham se entendido e mais um problema tinha se resolvido.

[...]

Montanha coçou nuca tentando entender a si mesmo, verdade que estava feliz por sua quitinete se mostrar tão cheia de vida naquele domingo, mas aquelas duas crianças brigando pelo controle no sofá abusavam da vivacidade que ele apreciava.

— Michael! Me dá! Eu tava assistindo primeiro! — Brigou Joy puxando o controle remoto para si.

— Saííí! A casa é do meu namorado, por tanto EU tenho direitos! — Revidou o baixinho segurando o controle com uma mão e a perna com a outra para não sair de cima do travesseiro – se estivesse usando as duas já teria arrancado o controle dela.

— Nãooo! Eu pedi para o Montanha, ele me deixou assistir...

— Dane-se Joy! Vai para fraternidade e assiste essa porcaria de novela com as suas amigas, domingo é dia dos AMIGOS assistirem jogo e tá na hora do jogo! — Revidou bravo. O grandão suspirou sentindo a gata se esfregar nas suas pernas. Pegou a bichana nos braços sorrindo.

— Parece que eu e você somos as criaturas mais maduras nessa casa Lady. — A gata miou ronronando.

— Eu quero saber com quem a Lilian fica no final! — Michael bufou.

— Olha se não for um romance gay, provavelmente com algum macho! — Ela rosnou olhando para o homem grande na cozinha brincando com o bichinho.

— Montanha! Diz para ele me deixar assistir! Você disse que eu podia...! — Pediu fazendo um bico.

— Não dê ouvidos Montanha! Ela não vai dormir com você não importa quantos capítulos deixa ela assistir, isso é um truque sujo, é pura ilusão! — Joy empurrou o controle até a cabeça do outro.

— Nem tudo gira em torno disso Michael! Seu nojento! Montanha me defendeee! — Suspirou colocando a gata no chão. Seguiu até os dois tirando o controle remoto deles e entregou para ela que sorriu dando pulinhos contentes. — YAY!

— Seu traíra... — Resmungou o baixinho.

— Não reclama, ela te ajudou! Se fosse depender das minhas tentativas, aquela garota nunca teria mostrado o áudio. — Joy e Michael se entreolharam estranhando o timbre meio abatido dele.

Em geral foi um domingo tranquilo e divertido. A maturidade não chegou a bater na porta de nenhuma das duas crianças, porém acabaram se comportando durante o almoço e não brigaram mais por causa da televisão.

Para a sorte da moça, Michael estava de castigo por tempo indeterminado e não poderia ficar muito tempo longe de casa, sua mãe insistia que até seu pé ficar bom de novo ele estava estritamente proibido de ir para festas ou até mesmo sair com garotas. Só havia deixado ele sair por conta de se tratar do Montanha, e nele ea confiava, já o resto dos amigos de jeito nenhum.

A loira ficou deitada de bruços no sofá tomando todo o espaço para si balançando as pernas no ar apreciando o momento silencioso que ficou depois que o tampinha encrenqueiro saiu. Sorrindo largo analisou seu amigo sentado na cadeira franzindo o cenho para um livro grosso. Ele parecia um gigante debruçado naquela mesa pequena.

Sentia como se estivesse em casa, talvez um pouco melhor do que isso, afinal tinha certeza de que se pedisse qualquer coisa para o rapaz ali ele faria para ela.

— Montanha... — O chamou com a voz mansa sentindo as bochechas arderem. Ele levantou o rosto na sua direção. — ...Pega água para mim? — Pediu com jeitinho fazendo um bico. O grandão olhou confuso para ela e depois para geladeira, calculou a distância deles que eram bem insignificante. Mas não protestou ou fez cara feia, apenas se levantou e encheu um copo de água levando para ela. Aguardou a loira terminar e apenas sorriu quando agradeceu.

Voltou sua atenção para aquele quebra cabeças horrível sobre anatomia animal, por que tinha que escolher veterinária? Pareceu ser uma escolha tão idiota agora que percebeu o quanto era difícil.

— Montanha... — Ela o chamou de novo tirando sua atenção da ilustração meio nojenta do interior de um cachorro. — ...Está quente, liga o ventilador para mim? — Mais uma vez ele fitou a distancia entre o objeto e ela, a menina quase poderia alcançar com a sua mão se a estendesse. Tentou a todo adivinhar se aquilo era uma espécie de deboche ou brincadeira, mas não chegou a conclusão nenhuma... Ela continuava fazendo bico lembrando sua gata quando está carente de atenção.

Levantou e foi até o ventilador o ligando e esperou ela acenar qual velocidade estava melhor. Assim que Joy sorriu toda animada parou, e voltou para a mesa. Respirou fundo coçando a testa pensando que talvez ele fosse meio burro, não ia conseguir decorar aqueles nomes ou lembrar do que cada um daqueles órgãos fazia. Teve uma ideia, ia anotar um por um no caderno como fazia com as fórmulas de química que nunca decorava na escola.

— Montanha... — Certo, ele teve quase plena certeza de que era algum teste ou uma brincadeira. — ...Seu sofá é duro, pega um travesseiro para mim? — Semicerrou os olhos a fitando desconfiado e ela retribuiu o olhar sorrindo divertida. Só que não o venceria, ela podia fazer isso a tarde inteira e não o faria perder a paciência.

Se levantou da cadeira e foi até o quarto, pegou um dos seus travesseiros e entregou para ela com um enorme sorriso vitorioso de quem não se abalaria jamais. Retornou para a mesa quando ela se acomodou rindo. Mal tinha se sentado e a vozinha mansa soou de novo...

— Montanha... — A fitou num sorriso torto. Fazendo uma carinha de sapeca pediu: — ...Eu queria um sorvete... — Isso o surpreendeu.

— Não tenho sorvete. — E o lábio inferior sobrepôs o superior formando seu típico biquinho e uma expressão fingida de tristeza. — Você vai mesmo me fazer ir no final da rua só para te comprar um sorvete? — Ela juntou as mãos.

— Por favorrr! — Montanha fechou os olhos e respirou fundo, não estava nem um pouco nervoso e nem se importava na verdade, porém suspirou.

— Tá bemm... — Murmurou verificando a carteira no bolso e se levantando ouvindo os risinhos de felicidade dela.

Demorou menos de dez minutos para ele retornar para casa com o sorvete da menina, bom, comprou dois para o caso de ela querer mais e insistir em pedir que fosse comprar outro. Enquanto ela tomava o sorvete de morango quase conseguiu escrever todos aqueles nomes no caderno antes que o chamasse novamente...

— Montanha... — Disse ela com a voz suave e sorrindo. — ...Pega mais água para mim? — Ele pegou, mas não sem deixar de olhar ela com desconfiança. Ela tomou a água e entregou o copo com potinho de sorvete vazio.

Em menos de três minutos mais uma vez.

— Montanha... — Ele entortou incrédulo.

— Ok, ok, ok! — Fechou o livro e o caderno. — Agora você tá abusando um pouquinho, não? — Ela riu negando.

— Nada disso, você passou a manhã inteira fazendo favores e pegando coisas para o Michael, eu quero ser mimada também! — O grandão franziu o cenho achando a conversa extremamente estranha.

— Ele está com o pé quebrado, não pode ficar se levantando. — Se justificou.

— Ah! Então é assim, você só mima quem tem algum tipo de invalidez? Pois bem... — Levou o dedo mindinho até a boca e mordeu no canto da sua unha toda enfeitada, puxou deixando ela desigual em relação as demais. — ...Oh! Veja? Eu quebrei minha unha, isso é um desastre! — Disse com a voz chorosa. — Minha mão doí, mal consigo dobrar meus dedos... Tá vendo, honey? — Fingiu fazer força para fechar a mão. Isso o fez rir.

— É zueira, não é?

— Ah! Está rindo da minha invalidez? Mal consigo mover minha mão Montanha, veja...! — E mais uma vez fingiu que fazia força só que dessa vez para dobrar o pulso.

— Você bebeu? — Joy rosnou.

— O Michael e a Lady você não questiona! — Fitou sua felina dormindo na caminha dela quietinha. Pensou seriamente em toda aquela conversa absurda. Piscou várias vezes tentando entender, se levantou e foi até ela.

— Tá bom, isso é esquisito, o que você quer? — A loira ficou toda empolgada bateu a mão ‘boa’ a seu lado no sofá.

— Acho que minha mão precisa de uma massagem, tá doendo muito então seja gentil... — Rolou os olhos achando tudo pura loucura. Mas entrou no jogo dela, não sabia que ter amiga mulher seria tão insano.

Massageou com cuidado notando a diferença discrepante entre o tamanho de suas mãos com as dela, fora a maciez que tinha a pele dela. Engoliu em seco quando tentou recordar a última vez que tocou durante tanto tempo a mão de uma garota. Porém manteve o foco vendo os dedos dela se remexerem e ela soltar um gemido positivo.

— Veja só, minha invalidez está até melhorando, mas não vamos ter muita esperança, não é? Pode voltar a qualquer momento! — Ele apenas riu balançando a cabeça. — Está bom! — Puxou sua mão levando aos cabelos desamarrando e os amarrando novamente dessa vez em um coque ficando de costas para ele sentada sobre as pernas com a nuca exposta. — Agora nas costas! — Disse animada. Montanha não poderia estar mais perplexo e agora sim... Envergonhado.

— O-o-o quê? — A moça apenas girou o rosto no rumo dele.

— Minhas costas, massageie minhas costas, estão doendo também! — Explicou passando uma das mãos no meio da espinha. Tornou a engolir em seco analisando com calma e sem qualquer malicia – quase impossível – também não se lembrava bem a última vez que tocou nos ombros de uma garota, especialmente para massagear. Assim que levou suas mãos aos ombros dela pigarreou.

— Eu não-não massageio o Michael... — Falou achando que tudo tinha relação com o fato dele ter dado muita atenção ao melhor amigo.

— Eu não sou o Michael... Uhmm... — Dizia a outra antes que começar a gemer jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. — ...Ahmm... Isso... Mais embaixo Montanha... — Ele obedeceu mais completamente apavorado com os sons, não poderia parecer mais libidinoso do que aquilo. Seu rosto foi ficando vermelho a cada gemido pronunciado e a ideia da sua mão apertando as costas dela não ajudava em nada para manter a mente limpa.

— Sabe Joy...? — Ela soltou outro gemido prazeroso em resposta deixando ele mais inquieto ainda. Pensou em tirar a mão, mas concluiria o raciocínio antes de fazer isso. — ...Vo-você é minha primeira e única amiga mulher... — A loira se remexeu soltando o ar dos pulmões com deleite.

— E a Safira? — Perguntou numa voz fogosa.

— Ela não-não é minha amiga... — Pigarreou de novo. Estava ficando difícil não surgir ideias malucas luxuriosas envolvendo a garota na sua frente. — ...A-a questão é-é que... Eu-eu posso tá errado, mas-mas acho que amigos não fazem isso, fazem? — Ela abriu os olhos e se virou sorrindo largo para ele.

— Tem razão, não fazem. — Montanha suspirou mais tranquilo – e um pouco descontente, não tava ruim, mas seria pior continuar. Joy girou o corpo para o rapaz grande a sua frente e andou de joelhos até estar posicionada em cima do colo dele com os braços em seu pescoço. — Tá, agora você me carrega para o seu quarto. — Disse um pouco ofegante sobre a face chocada do amigo/ou não mais.

— Também não acho que amigos façam isso... — Joy riu beijando a bochecha dele até chegar ao ouvido.

— Imagino que não... — Segurou o rosto dele. — ...A gente muda o status, né? — Ainda incerto concordou.

— Parece muito justo. — Respondeu com a voz embargada e se levantou carregando ela como queria. Ela apertou mais a cintura dele com as pernas, embora estivesse bem firme com as mãos dele sobre suas coxas.

Ao entrar naquele quarto minúsculo e se deparar com uma cama King size Joy começou a rir. Ela tinha certeza absoluta que o pobre rapaz daquele tamanho ficava com os pés para fora da cama, mas não era o caso.

— É enorme! — Ele sorriu divertido com a surpresa dela.

— É o móvel mais caro que eu tenho, foram os pais do Michael que me deram... — Ainda pendurada nele Joy fechou o sorriso e ficou nervosa.

— Não se atreva a falar do Michael num momento como esse... — Montanha mordeu os lábios negando.

— Eu só... — Engoliu em seco vendo que ela continuava zangada. Joy puxou a própria blusa a retirando de uma vez jogando sobre o chão.

— Quem é o seu preferido agora? — Não dava nem para responder, mas os olhos dele preso na vista de seu seios cobertos pelo sutiã e a saliva se acumulando na boca deu a resposta que ela buscava.

Joy simplesmente se atracou ao rosto dele dando um beijo ardente e quase desesperado. Ela nunca contou a ninguém antes que depois do trágico vídeo nunca mais tinha conseguido ficar com alguém sem estar desconfiada ou com medo o tempo todo de algo a comprometer. Mas aquilo nem se quer passou pelo sua cabeça naquele momento, se havia um sentimento que nunca brotava na sua mente quando o assunto era o gigantesco Montanha, esse sentimento era medo.

Em contrapartida muitos outros deram para brotar, tipo uma ideia maluca de que devia ser muito agradável ter alguém tão grande sobre ela, ou que ele enormemente atraente.

Em um dado momento enquanto o assistia tirar a própria roupa chegou até a se contorcer e rosnar na cama por sua estupidez de algum dia ter pensado que preferia homens do seu tamanho. E ao se aproximar dela para beijá-la profundamente de novo, não pode deixar de suspirar em alivio por finalmente sua mente ter se esclarecido.

[...]

Montanha suava frio, coçou o pescoço em sinal de desconforto, mas o os olhares e risinhos femininos não saiam dele. Bebeu outro gole da água no copo em sua mão e deu um sorriso sem graça para aquele monte de meninas todas próximas demais e nenhuma expressando qualquer sentimento de medo ou receio como era comum. De repente uma delas chegou com um pedaço de bolo cheio de chocolate toda contente.

— Prontinho! Um lanche delicioso para o nosso herói! — Todas elas riram quando a líder da casa falou aquilo e não pode ficar mais sem graça. Ele só tinha ajudado elas a mudarem alguns moveis de lugar e arrumado a pia da cozinha, não era nada demais – talvez fosse se pensar que aquelas eram as criaturas mais indecisas do planeta.

— Não precisava... — Murmurou constrangido com tantos olhos e suspiros na sua direção. Nunca imaginou que pudesse se sentir meio nu vestindo uma regata e bermuda, só que elas estavam tão perto e o encarava com tanta insistência que começou a se encolher querendo cobrir os braços.

— Dá para vocês pararem de secar meu namorado? — Montanha suspirou aliviado e até meio encantando com a loira na entrada da sala com as mãos na cintura nervosa – a salvadora da pátria. Alguns delas resmungaram em resposta.

— Montanha você podia nos apresentar a aquele seu amigo! — Disse uma delas animada – na verdade todas naquela casa eram animadas demais.

— Ah não, eu não acho uma boa ideia, ele está num momento difícil agora, vai acabar magoando alguma de vocês e eu não gostaria que ferisse o sentimento de nenhuma amiga da Joy... — Explicou como se fosse algo normal, mas elas se entreolharam e ao mesmo tempo suspirando fazendo aquele som que normalmente não ouvia nenhum mulher fazer... Dava medo, ele não fazia ideia do que significava.

Ownnnnn! — Soaram em uníssono o fazendo se encolher. Não tinha certeza se era algo bom ou ruim, geralmente via sua namorada fazia essa expressão para Lady, e ele não era um gato.

— Vão procurar o de vocês! Vem Montanha! — Colocou o copo em cima da mesinha de centro se erguendo sob os olhares e risinhos. Deu um aceno para elas se despedindo e finalmente saiu dali ficando mais a vontade. — Você bem que podia não ser você, pelo menos na frente delas! — Franziu o cenho confuso.

— Não sei o que isso significa. — Joy o fitou e começou a rir.

— É óbvio que não, se não, não seria você. — Piscou mais confuso ainda. Devia ser coisa de mulher para não ter entendido nada. Ou para variar elas eram loucas como ele supunha desde sempre.

[...]

Michael rosnou enfadonho ao sair do banheiro da casa do amigo e ter que se deparar com mais uma cena nada apropriada da jovem em cima do melhor amigo no sofá. Deveria ser o contrário, ELE era quem tinha que ter uma garota querendo ficar em cima dele como sempre foi, mas não, desde o incidente com o pé sua vida amorosa tinha entrado em queda livre – embora fosse opcional.

— Ah tenha santa paciência, agora toda vez que eu virar as costas vocês vão ficar se agarrando? — Joy separou o beijo só para mostrar a língua para o baixinho. — Eu mereço... Vão para um quarto pelo menos. — Resmungou.

— Olha, eu sinceramente esperava mais mau humor vindo de você, até que ultimamente tá menos chato, o que aconteceu? — Perguntou ela. Geralmente Michael enchia a paciência deles até que eles se separassem de fato ao invés de ceder de primeira assim.

— Nada, tive um bom fim de ano. — Montanha deu um sorriso torto para ele.

— Fez as pazes com a sardentinha? — Michael abriu um enorme sorriso divertido.

— Foi a primeira vez que sofri bulliyng na vida, ela disse que ‘não era bom eu chamar minha namorada lá em casa, por que se não a garota ia acusar todo mundo ali de sequestro’ pode com uma pirralha dessa? — Contou rindo. — Montanha... Ela chutou meu pé ‘acidentalmente’ umas vinte vezes só nessa semana que ficou lá em casa... Meu Deus, como que alguém tão fofa se tornou tão endiabrada? — Tanto o grandão quando a loira riram.

— Nem conheço a garota e já gosto horrores dela! — Disse a menina.

— Eu disse que ela ainda gostava de você. — Comentou Montanha sorrindo.

— Ela chuta meu pé umas vinte vezes, derrubou ele da mesinha umas seis, me jogou um livro na cara umas três, tirou com a minha cara o final do ano inteiro e você ACHA que ela ainda gosta de mim? — Seu melhor amigo riu afirmando e a loira gargalhou.

— Você não provocou ela nem um pouco também, né? — Disse Joy com sarcasmo e Michael riu.

— É a forma que ela tem para chamar sua atenção, se ela realmente não gostasse de você não faria nada disso, é tipo aquelas crianças que não sabem como expressar que gostam de alguém e faz o inverso por que é menos constrangedor. — Explicou ele deixando o amigo curioso.

— Ela me odeia, mas pensando bem não saiu de perto de mim mesmo eu atentando ela. — Isso fez o sorriso dele se abrir mais ainda. — Ahhh que fofo Montanha, ela ainda gosta de mim, vou virar um inferno esse ano quando ela vier! — Montanha piscou os olhos surpreso. Talvez fosse cedo demais para esperar alguma maturidade do melhor amigo.

— É Michael, é assim que adultos fazem... — Debochou fazendo a namorada rir. Mas ficou feliz pelo amigo que agora quase não lembrava mais da ex.

Na noite daquele mesmo dia, Joy esperou Michael sair para poder falar sobre aquele assunto que parecia ser um enorme tabu para o grandão... Seu próprio nome. As amigas dela insistiam que era muito estranho que mesmo depois deles ficarem juntos ele continuar escondendo algo tão essencial, como ela podia namorar alguém que SE quer sabia o nome?

— Ok, Pênisvaldo, será que eu pelo menos posso saber por que você não gosta do seu nome? — Montanha se surpreendeu com a pergunta repentina enquanto terminava de guardar os pratos recém lavados. Deu uma risada por aquele nome ridículo que ela tinha inventando e negou. — Montanha! Acho que ao menos isso você tem que me dizer se quer mesmo que eu me conforme em não saber o seu nome! — Refletiu sobre o que ela disse e precisou concordar.

— Está bem, não gosto por que me trás más lembranças. — Ela cruzou os braços sentando em cima da mesa.

— Pode ser mais especifico? — Ele suspirou pesadamente incomodado com aquela conversa.

— Eu nasci na periferia da cidade, numa das partes mais pobres, meu avô me fazia lutar com outras crianças em ringues clandestinos por dinheiro e só me chamava pelo nome... Quando eu vencia. Não gosto de lembrar que precisava espancar outras crianças até ficarem inconscientes só para ouvir alguém me chamar pelo nome... — Confessou abatido deixando a menina chocada. Ficarem uns minutos em silêncio, até que ela o quebrou com um meio sorriso sem graça.

— Se você prometer não me odiar se algum dia acabar vendo ‘aquele’ vídeo, eu prometo não te chamar pelo seu nome se algum dia eu descobrir como se chama. — Se aproximou dela concordando.

— Parece muito justo. — Selou o acordo com um beijo.

Fim


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado, dependendo faço outra oneshot sobre o casal, eu acho eles fofos kkkkk

Até o proximo e não esqueçam de comentar!



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