A filha de Pã escrita por Cor das palavras


Capítulo 6
Pode ficar com a cama




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Abri os olhos lentamente, tentando identificar onde eu estava. Olhei tudo ao redor, com uma dor martelante na cabeça.

Observei que eu estava em um quarto bem pequeno, embora fosse aconchegante. Ao lado de minha cama tinha um copo com algum liquido de aparência muito boa dentro.

Apoiei ambos os braços na cama e me firmei, tentando levantar, e não obtendo sucesso.

— Eu te ajudo. - Uma voz conhecida falou.  Foquei meu olhar na pessoa que estava vindo e minha direção e...

— Você! Saia já de perto de mim.

— Eu estou indo te ajudar. Será que você pode parar de ser uma cobra um momento, por favor. - Retrucou, parecendo estar cansado. Não respondi mais nada, o que acho que ele encarou como um sim, já que veio mais para perto, e firmou a mão em minhas costas, ajudando-me a sentar.

Assim que eu estava acomodada, ele pegou o copo que estava ao meu lado.

— Beba. - Ordenou

— Ambrosia? - Perguntei, animada.

 

— Como você sabe o que é... Quer saber? Esquece. Apenas beba.

 

Peguei o copo da bebida divina e levei aos lábios, sentindo logo o gosto de arroz com feijão deliciosos do meu pai. 

 

Sorvi todo o copo em segundos, sentindo uma quentura por todo o corpo. Lhe entreguei novamente o recipiente, me sentindo bem melhor.

 

Comecei a levantar da cama, já buscando com os olhos meus sapatos em algum lugar. Foi aí que me dei conta.

 

— Desde quando você fala a minha língua? - Perguntei. 

 

 – Eu não falo seu idioma.Você fala o meu.

— Haha! Conta outra... Eu não sei falar uma palavra de inglês.

 

 – Você pode não saber, mas o bracelete encantado que você está usando certamente sabe.

Assim que ele falou, me atentei a pulseira que realmente estava em meu braço. Quíron deve ter me dado quando eu estava apagada.

Quando me abaixei para pegar meus sapatos ao lado da cama, todas as lembranças da noite passada voltaram com um turbilhão, me fazendo sentir uma raiva cada vez maior pelo garoto que estava comigo.

— Posso saber o nome do indivíduo que quase me enforcou?

 - Gabriel. Eu perguntaria qual o nome da garota que chutou meu saco, mas já sei que é Alice.

 - Você está falando errado. - Falei. - Não é Álice, e sim alíce.

— Eu falo Álice, problema seu se está incomodada.

 - Você é realmente um...

 - Veja quanto amor! - Dionísio adentrou o quarto gritando. - Vocês não conseguem ficar um minuto juntos sem brigar não, é?

— Ele me enforcou ontem! - Berrei.

 - E já foi devidamente punido por isso, agora venha- Disse o deus do vinho.

Sem nem precisar perguntar,eu sabia exatamente onde Dionísio estava me levando. Minha vontade de discutir era imensa, porém, por alguns outros ângulos, eu conseguia ver alguns benefícios.

Eu ficaria alojada no chalé de Hermes, deus dos ladrões, e eu, sou quase a rainha das ladras. Posso bater carteiras facilmente, sem ninguém perceber. Obviamente, meu ponto fraco são pães de queijo, mas a gente aperfeiçoa com o tempo.

Demonstrando toda minha maturidade, e fazendo-os lembrar que apesar de tudo eu era apenas um garota de 12 anos, mostrei a língua para Gabriel.

Ele suspirou profundamente, como se se segurasse para não me bater.

— Respira fundo mesmo. Se encostar um dedo nela de novo, vou lhe fazer ter visões com golfinhos absolutamente inesquecíveis. - Disse Senhor D.

 Deixamos o quarto e fomos atravessando o acampamento em completo silêncio. Víamos alguns campistas passando de um lado para o outro, encarando-nos. Alguns sussurros também  eram captados.

" Foi ela que deu uma surra no La Rue."

" Ouvi dizer que Clarisse ameaçou contar para Ares, e só por isso Gabriel se levantou”

 " Ele mereceu"

E mais coisas do tipo, que me deixaram bastante orgulhosa.

— Chegamos. Por favor, só te lembrando, se mantenha afastada dos sátiros e tente não chamar muita atenção.

— Você sabe que...

— Sim, eu sei que você não sabe não chamar atenção. Nem sei por que te pedi isso. Vá. - Disse, me mando um empurrãozinho na cabeça, me direcionando para a porta do chalé 11.

Sem bater na porta, entrei, dando de cara com muitas pessoas.

Hermes de manteve ocupado ao longo dos anos.

Sem falar com ninguém, me dirigi para uma cama que parecia bem confortável.

— Essa cama está ocupada. - Um garoto de 17 ou 18 anos falou enquanto chegava mais perto. - Bem-vinda ao chalé de Hermes. Meu nome é Connor.

— Prazer, sou Alice. E eu vou ficar com essa cama.  - Falei com o queixo erguido.

— Essa cama é do meu irmão. - Falou, com uma feição travessa. Na verdade, todos ali tinha narizes pontudos e feições de quem vai aprontar a qualquer momento.

— Bem... Estamos no chalé de hermes, deus dos ladrões. Estou honrando seu nome.

Todos do cômodo deram risada.

— Connor!Travis está realmente precisando de uma lição. Deixe a menina - Um garoto de no máximo 14 anos gritou. Concordâncias soaram por todo o quarto.

 - Certo, certo! Fique com a cama.

Joguei minha bolsa no colchão, feliz de ter conseguido o que eu queria.

  - Você é filha de Hermes? - Alguém perguntou. - Porque você não parece nem um pouco conosco.

Refleti se deveria responder a pergunta. Apesar de honrar totalmente meu pai, as pessoas costumam encher o saco com perguntas. Além de que, filhos de Hermes não são totalmente confiáveis, e podem acabar vazando a informação para algum espírito da natureza.

 - Não sou, não. - E foi isso. Fui para minha cama sem mais muita conversa. Apesar disso, acho que eu gostaria bastante de ficar por aqui.

Quem sabe amanhã não colocamos algumas aranhas no chalé de Atenas, pensei divertida.

 

Sobre a mitologia

 

Hermes era filho de Maia, um das Plêiades , e Zeus. Era o mensageiros dos deus, protetor dos ladrões, pastores e viajantes.

 

Desde pequeno já tinha características travessas, mostrando ter habilidade com o roubo.

 

Um dia, roubou algumas cabeças de gado do deus Apolo. Sem deixar rastros, dizem que eles colocou sapatos nos animais, ou que fez eles andarem de costas, para trás. 

Ele sacrificou algumas vacas como oferenda para os deuses, afim de conseguir reconhecimento (Dizem que ele inventou o fogo para tal coisa).

 

Quando estava a caminho de casa, encontrou uma tartaruga, e a usou também para o sacrifício. 

 

Assim, usando o intestino da vaca e o casco da tartaruga, criou a Lira. 

 

 Enquanto Zeus tentava chegar  a um acordo entre Hermes e Apolo, já que o deus dos ladrões tinha roubado o gado do deus do Sol, Hermes começou a tocar sua Lira, encantando e Apolo. A dívida foi paga.

 

Teve casos com várias mortais e deusas. Entre eles a que ele mais amou foi Afrodite, com que teve Hermafrodito e Priapo.

 

Era também pai de Pã.

 

Exercia também o papel de psicopompo, aquele que guia os mortos para a vida após a morte, sendo um dos únicos deuses a terem acesso ao mundo inferior.


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Notas finais do capítulo

Comentem, e me digam o que estão achando. (E o que acham que vai acontecer também)



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