Gabriel La Rue 

Os boatos se espalharam rapidamente por todo o acampamento. Um monstro que deixara os deuses do Olimpo assustados entrou no acampamento. Respostas eram exigidas de Quíron a todo o momento. Havia um tanto de receio diluído no ar, como se todos estivessem esperando algo grande acontecer, como em todas as outras vezes. 

Enquanto todos se preocupavam com o que estava acontecendo em geral, todo os meus pensamentos estavam voltadas para uma certa semideusa misteriosa. 

— Gabriel, hoje Percy vai vir visitar o acampamento e dar uma aula conjunta com Jason. Você vai, né? — Perguntou Nathan. 

— Claro que eu vou, não perderia por nada ver o Jason chutando a bunda do cabeça de alga. — Ele riu e concordou, me dando um tapa nas costas antes de correr de volta para o seu chalé. 

Depois de observar por mais um tempo as náiades desamarrando os cadarços dos campistas que passavam correndo perto do lago, resolvi voltar para o meu chalé, e me preparar para a esgrima de hoje. Estava subindo o morro quando acabei trombando com uma pequena coisinhas.

— Olhe por onde anda, seu bosta! — Berrou a criatura abusada.

— Minha vista não está muito boa, como eu poderia enxergar uma coisa pequena como você andando por aí? 

— Ora, pois então vá tomar no...

— Alice! — Gritou uma garota, chegando por trás dela — Nós temos um atividade de tiro ao alvo com o Quíron agora. Vamos. — Se me recordo bem o nome dessa garota era... Nyra? Myra? Mayra? Mayra, eu acho. Ela é uma filha de Hécate e devia ter a nossa idade, por volta dos 12 anos. Fiquei bem decepcionado. Eu sei uma extensa lista de palavrões, mas aquela garota? Eu estava ansioso para aprender alguns com ela. 

Balançando a cabeça, subi, mas não sem antes dar uma leve implicada. 

— Mire nos pés das pessoas na aula de arco e flecha. Deve ficar mais acessível para você. 

Continuei andando, porém o berro dela me parou. 

Eu me virei a tempo de ver ela correndo como um touro para cima de mim, e devo confessar, me assustei. Num segundo estávamos de pé, e no seguinte estávamos descendo colina abaixo, entre socos e xingamento. 

Assim que a inclinação do morro acabou, agarrei as pernas dela e corri em direção ao lago, onde as Náiades travessas nos olhavam com interesse, cabeças parcialmente submersas. Ainda escutando os berros da nanica em meu ouvido, a lancei

em direção a água. Depois, como uma pessoa que tem amor pela vida, corri.  

Alice Klironómos 

Ora, aquele garoto. Onde já se viu me lançar ao lago? Me perguntava enquanto espremia meu cabelo e andava em direção a minha aulas de arco e flecha, que por acaso já estava atrasada. 

— Não próxima vez, deixa para tomar um banho com mais antecedência para não se atrasar — Falou Quíron, fazendo todos rirem.

Revirei os olhos, ignorando e peguei meu arco.

— Ouvi que o Gabriel jogou ela. 

— Ele a chamou de nanica, e disse para ela morar no pé das pessoas.

— Francamente, os braços dela são tão pequenos que não deve conseguir esticar a corda direito. A única coisa que vemos ela fazer é socar todo mundo. 

Respirei fundo, tentando controlar meu temperamento explosivo, mas os cochichos continuaram, alguns sendo encobertos pela voz trovejante de Quíron, que falava alto. 

— Agora crianças, quero que atirem como sempre fizeram, sem a postura que devem assumir, como acabei de comentar. 

— Se ela levantar aquele arco já seta uma vitória. — Risinhos acompanharam a fala, assim que o indivíduo que falou soltou a flecha. Ela atingiu o segundo círculo. 

Mais pessoas atiraram fracassando. 

— Não é normal uma pessoa ser assim tão baixa. Digo, o que será que deve ter acontecido para ela ficar tão pequena. 

— Deve ter a ver com o problema no tornozelo. Será que a mãe dela se assustou assim como Hefesto e a tacou de algum lugar. — Mais risos. 

— Pelo o amor, ela veio da favela, deve ter sido alguma mutação genética da imundice que é o lugar que ela nasceu. 

Puxei a corda.

— Não é a toa que Gabriel implica tanto com ela. Se eu tivesse um gancho de direita como o dele, e pudesse escapar das mãozinhas raivosas da garota eu certamente implicaria também. 

Mirei. 

— Tenho pena do progenitor divino por ter que suportar um fardo como ela. 

Soltei a flecha. 

Depois foi apenas um borrão de gritos. Puxei mais flechas, uma seguida da outra, e atirei nos pés que ainda não tinham sidos atingidos. 

Ainda sob toda a adrenalina, me afastei mais, segurei 3 flechas de uma vez e soltei, atingindo os 3 alvos bem no meio. 

Quando saquei mais uma em minha aljava, uma flecha passou zunindo do meu lado, atingindo meu arco e me fazendo o soltar. 

— Alice Klironómos! Para minha sala agora! E não se atreva contestar! — Quíron berrou, revoltadíssimo. 

Revirei os olhos mais uma vez, fiz uma reverência debochada e sai andando, escutando com satisfação os choramingos dos campistas que cochichavam sobre mim. 

Assim que cheguei na casa grande, adentrei o cômodo e dei de cara com Dionísio, me encarando com curiosidade. 

— Você aprontou de novo, não é mesmo? — Perguntou.

— Eles estavam me provocando e você sabe melhor do que ninguém que eu não levo desaforo para casa. 

Ele simplesmente arqueou as sobrancelhas. 

Um trote foi ouvido, anunciando a chegada de Quíron. Droga. Eu estava muito encrencada. 

Ele olhou para mim por uns bons 5 minutos. Apenas encarando com um olhar julgador. 

— Medidas serão tomadas. O fato que você não querer ficar aqui, não permite que você seja desrespeitosa com os outros campistas. 

— Eles foram desrespeitosos primeiro! — Gritei, emburrada.

— Agora é a minha vez de falar. Fique quieta e escute. A partir de hoje sua agenda será totalmente preenchida. Ontem o sr. D recebeu uma mensagem do Olimpo, exigindo que seu treinamento fosse iniciado com urgência. 

— Eu já estou treinando! E sou muito melhor que todos aqui, você viu.

— Você certamente é boa com o arco e flecha, porém sua esgrima deixa a desejar e suas outras habilidades  que são desenvolvidas aqui, e te digo que são muitas, estão escassas. Você sabe dar socos, e isso não é lutar. Isso é se defender, e com a besta, você precisará de muito mais do que isso. Hoje vai ter um evento de esgrima, com os maiores espadachins que já passaram pelo acampamento. Percy, que hoje em dia mora com a namorada na cidade da legião romana, veio aqui, e Jason, filho de Júpiter, que escolheu ser instrutor aqui, vão estar lá também. Vou te passar seus horários, e será necessário que os cumpra, e caso não, haverá consequências. Vá.