Em Minha Pele escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 3
Capítulo 3




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Duda abraçou Natasha bem forte e caiu em prantos. A travesti deixou que a amiga afogasse as mágoas e chorasse bastante. Quando soube, há um ano, do estupro da amiga, ficou em choque com tamanha brutalidade.

As duas foram para a parte superior do salão onde ficava a sala de Natasha e a parte da contabilidade. Sentou a amiga numa cadeira e foi pegar um pouco de suco numa geladeira perto.

— Como está se sentindo? — entregou o copo com o suco para a moça beber.

— Como eu me sentiria? Insegura até a alma. Nas histórias que vemos em novelas, a moça abusada supera fácil e com o poder do amor. Rafael me dá amor, mas eu não consigo esquecer. Vivo assombrada por causa daquele homem asqueroso em cima de mim, me batendo, me estuprando... Não tem como esquecer.

— Eu acho melhor mesmo a sua mudança. Foi aqui que você nasceu e os seus pais estão aqui. E o boy? Aceitou vir?

— Teve que aceitar. Pra ele isso é uma terapia que milagrosamente vai salvar o casamento. Mas eu não sei quando vou superar. Sou muito fraca. Sinto que aquele estupro ainda não terminou e que está apenas no começo. Desculpa, estou delirando.

Uma das cabeleireiras subiu e foi falar sobre o atraso na entrega dos garrafões de água. Lovegood foi tentar ligar para a distribuidora, porém a linha telefônica estava com problema.

— De novo? Ultimamente a Oi tá de sacanagem. Já vieram consertar o poste danificado pela chuva de janeiro, agora isso. Duda, espera aqui que eu preciso pegar meu celular na bolsa e ligar logo.

Natasha desceu e foi fazer a bendita ligação. Maria Eduarda ficou uns trinta minutos esperando. Nesse meio tempo ligou para a sua mãe e depois para Rafael. Desceu e foi se despedir de Natasha.

— Amiga do céu, não vai agora. Quero que conheça o Théo. Ele trabalha distribuindo água e gás na moto.

Théo era um rapaz jovem, moreno, de olhos verdes e um sorriso de creme dental. Ostentava um brinco na orelha esquerda. Era alto e forte, vestia uma jaqueta e calça preta.

— Prazer, Théo Nascimento.

— Maria Eduarda Alves da Cunha. Prazer, Théo.

— Nossa, como é bonita. Mas não se preocupe que não canto mulheres casadas. O Celso me explicou.

— É Natasha, bofe estúpido! Mana, o boy aqui é conhecido na cidade já um tempo. Ele é de Salvador.

Os olhos de Eduarda arregalaram-se, seu coração disparou e o medo voltou. Pensou imediatamente no Iran e no abuso. Aquilo realmente atormentava a mulher. Saiu imediatamente do estabelecimento, entrando no carro. Respirou aliviada por estar segura dentro do carro da mãe. Deu a partida e foi embora.

A tenente da polícia militar de Nova Tauape, policial Solange, e o seu parceiro Becker chegaram ao distrito policial depois de uma patrulha. Ultimamente a preocupação era grande por causa da onda de atentados a prédios públicos por parte dos criminosos e guerras de facções. E ultimamente ocorrências de roubo intrigou a polícia pois até aquela data ninguém foi preso.

— Não brinca?

— Claro que não. Aquela é a filha única do prefeito Silvano. — respondeu Solange ao policial Becker.

— Puxa vida. E eu pensava que era apenas uma cliente do Celsão. Pena que é casada.

— E bem casada.

A viatura dos dois chegou no local de uma ocorrência. Uma moradora da região rural da cidade relatou que um ladrão havia entrado em sua casa e roubado o revólver do seu marido. A mulher mostrou o documento da posse pois eram agricultores.

— Como um ladrão que chega em uma semana, rouba duas armas e sai ileso?

— Tenente, todas as vítimas disseram que se trata de um homem alto e forte. Usava uma balaclava preta pra esconder o rosto. Invadiu quatro casas, mas apenas na casa do juíz Anselmo e do seu Roberto que as armas foram roubadas. Um revólver calibre 38 e uma pistola .40.

— Obrigada, policial.

— Olha esse bucho que pegamos. Melhor ter ido ver o filme do Pelé.

— Deixa de ser mole, Becker. Quando vestiu a farda sabia dos riscos.

A viatura saiu da zona rural para voltar à delegacia no centro da cidade.

...

O prefeito Luís Silvano mostrou o gabinete do seu genro na secretaria de segurança pública. Não era um local requintado como no escritório de advocacia em Fortaleza, mas dava para o gasto.

— Sei que está passando por dificuldades no casamento. Minha filha está traumatizada e recusa o sexo. Por isso que a ideia de trazê-los pra Nova Tauape foi minha. Pensei no bem estar dos dois e também por estarem próximos da família evitaria um possível divórcio.

— Obrigado, seu Luís. O que vocês fizeram por nós não tem preço.

— Somos uma família, não?

— Os vereadores da oposição não acusará o senhor de nepotismo?

— Por favor, Rafael. Uma cidade pequena, com cerca de vinte mil habitantes, são poucos os candidatos para ser meu secretário. Quero uma pessoa de confiança no meu gabinete.

Luís viu o horário no relógio e se lembrou de tomar o seu remédio para pressão alta. Pegou um vidrinho marrom sobre a sua mesa, pegou um copo descartável e colocou água. O prefeito tomava o seu comprimido religiosamente, sem atrasar.

— Preciso trocar de remédio. Estranhamente este aqui parece estar mais fraco.

— Troca, ué.

— Incrível que este remédio era o melhor que meu médico me receitou. Não sei por que não está fazendo efeito direito.

Duda estacionou o carro e saiu. Teddy correu na sua direção e começou a roçar em suas oernas, com a língua pra fora. A moça fez carinho no cachorro e entrou em casa.

— Minha mãe está?

— Acabou de chegar, senhora — disse a empregada.

— Filha, que bom que chegou. Pode ir Verônica.

— Quem é essa?

— A empregada nova que contratei um mês. Agora, filha, tenho algo para te dar. Este envelope.

— E o que tem aí?

— Não sei, não li. Eu fiquei curiosa, mas me aguentei.

Duda achou estranho em pleno 2018 alguém ainda enviar cartas dentro de envelopes. Rasgou o papel e retirou a missiva.

 

Nunca esquecerei daquela noite no hotel quando me matou.

 

Eduarda teve palpitações e suou frio ao ler aquelas poucas palavras. Impediu que Jocieli lesse, subiu imediatamente as escadas e se trancou no quarto.

À noite, após o jantar, a moça ficou sentada ao lado da janela do quarto enquanto relia diversas vezes. Parecia ser alguém querendo brincar com a sua desgraça. Pensou em João Guedes ou algum terceiro comparsa. Dormiu sentada na poltrona enquanto Rafael ficou sozinho na cama.

...

Marta Simone observava o pedreiro rebocando a frente da fachada da sua clínica. O carro de Duda estacionou ao lado.

— Ora, ora. Você deve ser Maria Eduarda Alves da Cunha.

— Sou eu mesma.

— Chegou meia-hora mais cedo. Mas não se preocupe, não estou ocupada demais. Venha, entre.

A moça acompanhou Marta para dentro da sua sala. A psicóloga fechou a porta assim que entraram.

— Não repara a bagunça — ela abaixou um porta-retrato que estava sobre a mesa. — Ainda estou me sintonizando com a cidade pequena. Afinal das contas eu sou ativista dos direitos femininos e psicóloga. Vivo mais fora do que aqui dentro. Sente-se.

— Olha, doutora...

— Marta Simone ou só Marta.

— Marta... eu não tenho interesse de virar militante nem nada do tipo. Eu jamais me interessei por política, por isso me formei em administração. E também papai é do partido conservador...

— Por mais que tenhamos divergências ideológicas, eu jamais te deixaria na mão. Somos mulheres, acima de tudo. Somos vulneráveis, somos assediadas. Todos os dias alguma mulher é assediada na rua, no emprego, na escola, em casa. Maridos mantêm relacionamentos abusivos com as suas esposas. Mulheres são violentadas, forçadas a fazer sexo mesmo contra suas vontades. Sexo sem consentimento é crime indesculpável. A decisão do que fazer no corpo da mulher é uma decisão da mulher.

— Mas eu não fui abusada. Eu fui estuprada. O cara era um maldito bandido. Ainda me lembro daquele nojento em cima de mim.

Marta Simone quebrou um lápis na mão depois de ouvir aquelas palavras. Aparentemente estava com raiva pelo sofrimento da sua cliente.

— Vamos iniciar aos poucos. Você precisa superar o abuso. Precisa superar o estupro e parar de vê-lo como uma sombra. Só assim vai seguir em frente. Se nunca superar isso, meu bem, um dia a depressão vai te derrubar.

Uma hora de consulta com a doutora Marta e Duda se sentiu um pouco mais aliviada. Saiu da clínica e retornou para casa.

— Filha, como foi?

— Ela é bem melhor que a outra psicóloga.

— Querida, viu o Teddy? Desde hoje de manhã que ele desapareceu.

— Não. Mãe, vou visitar o papai na prefeitura. Ele me pediu o vidro do remédio. Esqueceu hoje.

— Esse homem.

Jocieli esbarrou com a empregada nova na porta do seu quarto. A tal Verônica se explicou que estava arrumando as cobertas. A patroa não deu muita importância.

— Tome. Vai agora?

— Vou. Preciso também fazer o pagamento do meu cartão de crédito.

Duda entrou no carro. Quando foi dar a partida, sentiu um cheiro de podre dentro. O odor fétido era como de rato morto, mas bem mais podre. Ela saiu e foi caçar a fonte do fedor. Viu sangue pingar no chão, vinha do porta-mala. Um suspense. Ela abriu e viu o que havia dentro.

— Que foi? — perguntou Jocieli.

Duda abraçou a mãe e apontou para dentro do porta-mala. Jocieli testemunhou uma cena aterrorizante: o corpo esquartejado de Teddy.


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