Em Minha Pele escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Há descrição de estupro. Não fiquem preocupadas/preocupados pois eu fui breve. Dá pra ler sem medo, eu não pesei a mão. Abraços.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/757707/chapter/2

A viagem de núpcias do casal Cunha tinha tudo para ser um sucesso, porém um acontecido destruiu completamente a felicidade de ambos. Uma dupla de bandidos abordou o casal na porta da suíte num resort baiano. Aproveitaram que ocorria uma festa no próprio hotel e na praia, e também o fato de nenhum hóspede do oitavo andar se encontrar no momento, para darem a investida.

Iran levou Rafael de uma forma bastante truculenta. Apesar dos dois serem quase da mesma altura, o baiano era mais forte e robusto. João, o menor e mais velho dos dois, pegou Duda pelo braço e a obrigou entrar. Pôs a placa "não perturbe" e fechou a porta.

— O que vocês querem, caras? Nós não temos nad... — levou um soco do moreno.

— Rafael!

João Guedes suspirou, acendeu um cigarro e sentou no sofá da sala. Retirou o boné da Nike e mostrou uma calvície típica de um homem com quarenta e poucos anos.

— Ah, Rafael. Meu amigo Rafael. Parece que é burro. Não parece que é advogado e filho de desembargador. Você que me disse isso hoje de manhã. Seguinte: transfira cinquenta mil reais para uma conta bancária minha ainda hoje. Tome e ligue para o seu banco.

— Essa transferência é impossível de ser feita. Eu não tenho tanto dinheiro. Eu menti.

— Seu safado! — Iran deu um chute no loiro. — Esse cara deve tá brincando com a nossa cara. Vamos matá-lo aqui e agora.

— Calma, colega. Tá vendo, Rafael? Meu amigo Iran é policial militar e sempre age com brutalidade. Eu sou ex-professor e sou mais diplomático. Ou resolve comigo ou com o Iran. E aí, o que vai ser?

Duda tomou a palavra ao falar que a sua família era rica pois seus pais eram políticos. João tragou o cigarro e pediu que a mulher falasse mais a respeito.

— Meu pai é prefeito de uma cidade. Meus tios são do ramo político. Temos esse dinheiro. Então, por favor, deixe-nos em paz.

Rafael se arrastou para perto da mesinha de centro. Rapidamente ele apertou um botão abaixo dessa mesinha. O alarme silencioso foi percebido pela recepção que logo chamou a polícia. Iran viu o que o homem fez e deu vários socos nele.

— Esse filho da puta apertou um botão aqui em baixo. O que será?

— Merda. Você acabou de assinar a sua sentença de morte, amigo. Ele acionou um alerta silencioso. Alguns hotéis possuem caso um hóspede precise de ajuda. Agora em pouco tempo a polícia vai chegar aqui e vai nos prender. Acaba com ele, Iran.

— Não façam isso! — gritou Duda.

— Tenho uma ideia melhor. Iran, ela é toda sua.

— Seu canalha! Não encoste a mão nela.

Iran pegou Duda pelos cabelos e a levou com extrema violência para o quarto. João deu algumas coronhadas na cabeça de Rafael, fazendo desmaiar em seguida e uma ferida em sua cabeça.

Iran rasgou as roupas de Eduarda e a jogou sobre a cama. Sob vários tapas, socos e muita violência, a cearense foi estuprada ali mesmo. O ato criminoso foi consumado em poucos minutos num sexo anal nojento e humilhante. Duda chorava de dor e de nojo, enquanto o estuprador se divertia estocando o seu pênis.

— Uma vagabunda como você merece levar muito nesse rabinho. Haha.

Duda já não aguentava mais quando viu uma tesoura no criado-mudo. Sem que Iran percebesse, a mulher pegou o objeto pontiagudo e enfiou no peito dele. Iran caiu da cama para o chão. Duda não teve pena, enfiou diversas vezes a tesoura no moreno até ele morrer com várias furadas e sobre a sua poça de sangue. No final daquilo tudo ela estava extremamente assustada.

João tentou fugir do apartamento, porém conseguiu ser capturado pelos policiais. Duda foi encontrada sentada, no canto do quarto e manchada com o sangue do abusador. Rafael foi encontrado inconciente e com a cabeça ferida.

 

Fortaleza, Abril de 2018

Mais de um ano se passou desde a viagem maldita de Maria Eduarda e do seu abuso sexual. Um ano passando por psicólogos e tomando antidepressivos. Continuou casada com Rafael, mas jamais deixou o marido encostar em si. As cenas do estupro ainda vinham em sua mente. Era constrangedor para os dois, sobretudo para Rafael que pensou que não dava mais conta.

Os dois moravam num apartamento alugado no bairro Aldeota. De vez em quando a prima de Duda, Daniela, ia para visitá-los. E o papo não era tão espontâneo pois a casada havia desenvolvido depressão e já não conseguia sorrir como antes.

Na sala de uma psicóloga, Duda desabafou pouco. A mulher parabenizou a moça pela conversa. Cinco meses sentada num divã e ali foi a primeira vez que se abria tanto. A psicóloga pediu para a moça ser forte e deixar de ver o estupro como uma sombra ou assombração e começar a caminhar para frente, talvez até ajudando outras moças estupradas. Maria Eduarda ficou calada até o término da sessão.

De volta para casa, ela não encontrou o marido. Passava das sete da noite e nada. Trancou as duas portas do apartamento e foi tomar um banho no chuveiro de hóspede porque o do quarto havia quebrado o regulador térmico. Retirou toda a roupa, ficando nua, sentou-se no chão de azulejo e ficou ali, sob a água do chuveiro, sozinha e pensando naquele dia fatídico. Rafael superou, mas não foi ele o abusado.

No final do banho, ela se enxugou, pôs uma toalha no corpo e na cabeça. Abriu o armário do banheiro e viu alguns barbeadores. Aquelas lâminas sempre pareceram convidativas... talvez um pequeno corte no pulso. 

— Amor, cheguei.

Duda deixou o pensamento de automutilação de lado e saiu do banheiro.

— Chegou tarde de novo?

— Muito trabalho no escritório — ele tentou beijá-la, mas a mulher desviou o rosto.

— Tem lasanha, arroz e macarrão na geladeira. Só esquentar no micro e pronto. Vou dormir cedo.

Rafael suspirou frustrado. Um ano sem fazer sexo com a própria esposa e ainda é recepcionado daquela forma fria.

...

O carro de Jocieli parou ao lado do prédio. A mãe de Duda subiu ao andar, juntamente com Daniela.

— Não quero um não como resposta, filha. Mesmo com vinte e cinco ainda me preocupo como se fosse adolescente. Vai vir comigo pra Nova Tauape?

— Ah, mãe. Eu vou morrer de tédio naquele sítio.

— Duda, filha, é só sair e espairecer na cidade. Querida, a cidade pequena vai te fazer um bem danado. Melhor do que ficar trancada aqui neste apartamento numa cidade grande como Fortaleza. Vem.

— Eu disse, tia. Duda parece que se desligou.

— Vou pensar e conversar com o Rafael.

Rafael chegou na hora do almoço, bem no momento que as duas deixavam o apartamento. Daniela e Rafael trocaram olhares suspeitos, mas nem Jocieli nem Duda perceberam.

Dias depois...

Rafael dirigia o carro enquanto Duda apenas olhava para a paisagem da BR 116. O advogado aceitou se mudar para uma cidade menor enquanto sua mulher tentava superar o trauma do abuso. Fortaleza estava insuportável e a selva de pedra deixava-a presa.

— Falta pouco. Vamos abastecer?

Rafael parou o carro num posto de combustível.

Em Nova Tauape, na praça do centro da cidade, uma mulher dava uma palestra sobre diversos assuntos de interesse femininos. Desde preservação no sexo até pautas mais feministas. A oradora, uma psicóloga negra e militante de um movimento em prol da independência feminina.

— Sai daí, feminazi.

— Cala a boca, machista idiota — respondeu num megafone.

Marta Simone tinha bastante orgulho das suas origens africanas, deixando o seu cabelo ao natural crespo. Era uma mulher aparentemente forte, apesar dos seus cinquenta anos.

— FORA O PATRIARCADO! — gritou ela mais algumas seguidoras.

Tudo isso por causa de um vereador da cidade ter sido alvo de uma investigação sobre abuso sexual e ter sido inocentado.

A psicóloga chegou na cidade há pouco mais de três meses e já acendeu a fúria de moradores mais conservadores, incluindo algumas mulheres. Ela chegou para causar, e chegou para se instalar pois havia aberto a sua clínica de psicologia um pouco mais afastada do centro.

O carro da psicóloga chegou no estacionamento ao lado da clínica. Ela desceu do veículo e foi abordada por sua secretária.

— Que foi, criatura?

— A primeira-dama está esperando pela senhora.

Marta entrou imediatamente e cumprimentou Jocieli. As duas entraram em seu escritório.

— Sei das suas boas intenções e que ajuda garotas que foram abusadas sexualmente. A minha filha, ano passado, foi estuprada. Até hoje sofre traumas e não consegue sequer fazer sexo com o marido.

— Ela é casada? O marido não a força, não é?

— Eu não sei.

— Dona Jocieli, a senhora não está aqui porque eu abri a boca por causa daquele vereador abusador, e que é da oposição? Desculpa fazer essa pergunta, mas é que políticos não dão ponto sem nó.

— Será que eu terei que encontrar outra pessoa para me ajudar?

— Não. Ficarei com a sua filha e tentarei ajudá-la. Posso marcar a primeira sessão pra amanhã às dez?

— Ótimo.

As duas apertaram as mãos.

O carro deles chegou na cidade e entraram numa rua menos movimentada, longe do centro. O portão do sítio abriu automaticamente e o veículo entrou na pequena estrada de terra. Chegaram ao casarão onde o prefeito Luís aguardava a filha e o genro.

— Sejam bem-vindos — disse o pai de Duda.

A mudança foi tranquila e o casal se instalou no quarto de hóspede. Jocieli recepcionou a filha e falou acerca da consulta com a doutora Marta Simone.

— Ah, mãe. Chega de psicólogos. O ano inteiro foi isso!

— Você precisa, filha. Lembra daquele dia que você cortou o seu braço? Nem seu pai ou seu marido sabem. Eu quero mais é o seu bem.

Um cachorro pastor alemão de nome Teddy apareceu para a moça e começou a lambê-la. Duda riu com as peripércias do cão enquanto arrumava as suas coisas.

Rafael recebeu alguns conselhos do prefeito Luís no caminho para a prefeitura. O jovem advogado trabalhará na secretaria de segurança pública da cidade.

Duda terminou de arrumar as suas coisas e as do marido, pegou o carro da mãe e saiu para ver Natasha e o salão de beleza.

O salão de Natasha Lovegood ficava de frente à pracinha da cidade. O movimento era cheio, por isso havia muitos clientes. Uma viatura da polícia estava parada perto dali.

— Parece que o movimento hoje tá bombando, bi. Desse jeito vai ficar rica — disse uma policial morena e do cabelo liso.

— Oficial Solange, eu sou uma viada endinheirada. Vai ver quando eu abrir um salão lá em Fortaleza.

— Tá bom. Sabe me dizer se ouviu falar sobre um ladrão desconhecido na cidade? Dizem que ele é alto, forte e amedrontador.

— Meu bem, se eu tivesse visto, falaria. Mas se eu visse um homem alto e forte eu saberia e daria em cima. Homem assim em Nova Tauape não existe.

O policial parceiro de Solange deu uma risada. A policial militar agradeceu a cooperação de Natasha e foi embora.

O carro que Duda estava parou em frente ao salão de beleza. A moça saiu do veículo e esbarrou com Solange.

— Desculpa.

— Não foi nada, senhorita... Para de olhar pra ela, policial Becker.

— Que garota linda.

Natasha supervisionava uma obra que ocorria nos fundos do salão quando percebeu a chegada da sua amiga. Deixou os trabalhadores terminarem o serviço e foi até Duda.

— Dudinha, meu amor. Que saudades.

Duda abraçou Natasha e começou a chorar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Em Minha Pele" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.