Lily abriu os olhos devagar, acostumando-se com a presença da luz no quarto. Olhou para perto da porta e lá estava ele, usando suas roupas descoladas e com seu óculos charmoso. Lily sorriu imediatamente.

“Você voltou.”

“Claro que sim.” James aproximou-se dela, tocou sua bochecha como ele sempre fazia. “Sempre volto.”

Lily não entendia. Sempre que saía de casa – o que quase não acontecia – seus pais ficavam preocupados. Queriam saber onde e com quem estava, não a deixava sair sozinha e nem mesmo ficar horas longe. Porém lá estava ele, James. Ele estava lá todos os dias, sempre ao lado dela. Todos os dias ele aparecia para levar flores e para dar bom dia, depois boa tarde e depois boa noite. Lily amava as flores que recebia de James, queria guardar todas com ela, mas essas simplesmente desapareciam. Ela tinha a impressão de alguém entrava no seu quarto apenas para roubá-las.

Ele, James, nunca ia embora, era como se morasse com Lily. Sua casa era a casa dele, ele estava sempre ali.

Lily já havia perguntado a ele sobre isso, tentara descobrir algo sobre ele, o que quer que fosse.

“Onde você mora?”

“Por aí” respondeu, com o sorriso de lado. “É tão importante assim?”

“Sim. E se algum dia eu quiser te ver? E você não estiver aqui?”

“Vou estar, eu estou sempre aqui, lírio.”

Lily confiava em James, confiava nas suas palavras e em suas juras. Como não confiaria? Passara tantos anos se sentindo sozinha, sem amigos. Quando James apareceu, o mundo de Lily se iluminou. A mãe de Lily adorava ouvir suas histórias, adorava ouvir a filha caçula contar sobre como James era bonito e educado.

O que Lily não sabia era que, quando ela não estava por perto, os pensamentos da família eram diferentes.

“Não sei como agir!” sussurrou a mãe para o marido, os olhos cheios de lágrimas. “Toda vez que ela me conta sobre James, toda feliz, eu não consigo dizer a ela que aquilo não é real.”

“Deveriam internar aquela esquisita!” ralhou Petúnia.

“Pare com isso, Petúnia!”

“Não posso nem receber minhas amigas mais, porque ela acha que estão perseguindo-a. Fica gritando como uma doida, é isso que ela é, uma louca!”

Lily já ouvira muitos comentários de Petúnia, e aquilo a chateava muito. Obviamente, ela não contava a James sobre aquilo tudo, não queria que ele se preocupasse com aquilo, mas de alguma forma, ele sempre sabia de tudo.

“Ela é sua irmã, Lily” dizia ele. “Você não pode odiá-la, mesmo ela sendo uma pessoa horrível.”

Logo em seguida, Lily ria. Não conseguia ficar muito tempo triste quando James estava com ela. Por isso seus dias eram sempre felizes: ele estava sempre lá.

Naquela tarde, Lily dormiu muito. Quando acordou, James estava sentado na poltrona dela com um de seus livros na mão.

“Minha mãe deixou você ficar aqui?” perguntou inocentemente.

“Ah, sim. Sua mãe não sabe que estou aqui.”

“Oh.”

“Vai contar a ela?”

“Não se isso for lhe causar problemas.”

“Não se preocupe, eu ficarei bem.”

Porém, Lily não contou. Gostava de ter James ali com ela, gostava da sua presença. Não sabia porque sentia medo de contar sobre James, talvez fosse por causa de Petúnia. Sentia-se tão triste por causa da irmã mais velha, da forma como ela parecia odiá-la. Todavia, Lily tinha James. Era suficiente. Assim, ela não ficaria sozinha nunca. Ele calava todas as vozes na cabeça dela.