P.O.V Geral

Segunda-feira havia chegado, Freddie não queria ir ao colégio, não queria ter que encarar Sam Puckett, ainda estava se sentindo um verdadeiro idiota. Não contou nem para o amigo o que tinha ocorrido na festa entre ele e a loira. Por quê ele tinha que estragar tudo? Ela deu em cima dele, o convidou para um quarto, o agarrou e tentou beijá-lo, mas o nervosismo dele estragou tudo. Por quê ele tinha que acabar com o clima quase vomitando em cima dela? 

Terminou de tomar banho, se secou e se vestiu sem pressa. Sua mãe havia comprado o uniforme. Ele não queria ir de uniforme, mas era obrigatório. Arrumou o cabelo fazendo seu habitual topete e se perfumou.

Era chato pegar ônibus para ir ao colégio, Freddie queria um carro, ele já tinha idade para dirigir, mas compreendia que sua mãe não tinha condições de comprar outro carro. E ter uma moto, nem pensar. Marissa jamais o deixaria pilotar uma moto, segundo ela, era muito perigoso.

Desceu do ônibus recebendo olhares dos riquinhos esnobes, aqueles filhinhos de papai sempre riam e falavam mal dele. O moreno tentava ignorar, eles não eram melhores que ele, não mesmo. Portanto no fundo, bem lá no fundo, Freddie se sentia um fracassado...

Gibby chamou ele e acenou, o rapaz foi até aonde estavam os amigos, a garota baixinha e o garoto robusto estavam encostados na BMW.

— Fala aí, Benson! - Gibby ergueu a mão. Eles já tinham um toque.

Mandy o cumprimentou com um beijo no rosto. Freddie notou que ela sempre corava quando falava com ele.

— Vocês dois nem me mandaram torpedos ou tentaram entrar em contato comigo nesse fim de semana. - A garota disse chateada.

— Eu ainda não tenho o seu número... - O rapaz a olhou como se pedisse desculpas.

— Por quê não passou o meu número para ele? - Ela se virou para o outro garoto e lhe acertou uma bolsada.

— Foi mal, eu esqueci... - Gibby se desculpou.

A garota Valdez abriu a bolsa verde-folha, tirou uma agenda e uma caneta laranja de lá, anotou o número na folhinha rosa e entregou para Freddie.

— Agora você não tem mais desculpas. - Ela disse brincando.

O rapaz de óculos dobrou o papel e guardou no bolso da calça.

— Cara, estão inventando por aí que você subiu para um quarto com a Sam Puckett! - Gibby contou ao amigo.

Freddie sentiu o sangue gelar. Mandy olhou para os dois garotos, confusa.

— Que papo é esse? - A garota perguntou para o garoto robusto.

O moreno continuou calado sem saber o que falar. Não era invenção, era verdade. As fofocas por ali se espalhavam rápido.

— O Patrick deu mais uma festa e me convidou, eu chamei o Freddie e ele foi comigo. - Gibby explicou para a amiga.

— Quanta consideração comigo, hein? Vocês foram para uma festa na casa do Patrick Richards e nem pensaram em me convidar. Grandes amigos vocês são! - A baixinha disse quase chorando.

— Ah, quanto drama, Amanda! As festas que o Patrick costuma dar não são festas para garotas como você frequentarem, sacou? - O garoto robusto disse sério.

— Garotas como eu? - Amanda Valdez se sentiu ofendida. - Garotas bobas e indesejadas
como eu, é eu entendi... - Dizendo isso, ela deu as costas para eles e saiu correndo.

— Ei, por quê você foi rude com ela? - Freddie se voltou para o amigo, indignado.

— Não foi aquilo que eu quis dizer, juro por Deus, eu não quis ofender ela, cara. A Mandy é doce, delicada e ingênua demais, não quero ela no ambiente como aquele, ela é como uma irmã pra mim. - Gibby se explicou.

— Entendi. - Freddie compreendeu. - É melhor você ir se desculpar e conversar com ela. - Aconselhou.

— É, eu vou mesmo... - O rapaz robusto assentiu e foi na direção aonde a garota correu.

Mandy havia corrido para o outro lado do gramado, indo para a entrada do colégio.

[...]

— Pelo visto a loira safada vai chegar atrasada como sempre! - Gibby comentou.

Carly Shay e Wendy Sanders, as amigas da loira já estavam sentadas em seus devidos lugares.

Freddie torceu para a Diaba loira faltar, ele até rezou mentalmente, mas infelizmente suas preces não foram ouvidas.

Abaixou a cabeça quando a viu chegando na sala, desejou poder enfiar a cabeça dentro da mochila. Sam Puckett sentou ao lado da amiga morena, largando o caderno e o livro de Biologia em cima da mesa.

— Ei, Puckett! - Mike Mason, um repetente metido à engraçadinho chamou a loira.

— Que é? - Perguntou a garota sendo rude.

— É verdade que você está pegando o nerd? - Mike apontou para Freddie.

— É, e eu também estou pegando a sua avó! - A loira respondeu irônica.

— Toma! Pow, essa eu não deixava, tomou na cara, Mason! - Outro engraçadinho falou bem alto arrancando risadas.

— Olha aqui, sua vadia, não vem...

— Vadia é a cadela que te pariu! - Sam interrompeu Mike.

As risadinhas viraram gargalhadas. Mike Mason se levantou furioso, logo foi contido por dois amigos. Ele queria partir pra cima da loira.

— Ei, nem vale à pena, irmão. Deixa isso pra lá, não vai pegar bem se você bater nela. - Um dois amigos de Mike disse ainda o segurando.

— Caramba! Qualquer dia ela ainda vai ser espancada pelo pessoal. - Gibby cochichou para o amigo.

Freddie continuou em silêncio, evitando olhar para a loira.

[...]

Sam, Carly e Wendy estavam no banheiro retocando a maquiagem. A morena e a ruiva deixaram outras garotas que estavam ali irem embora para poderem questionar a amiga.

— Esse boato que está rolando, é apenas boato, não é? - Carly guardou o gloss labial na bolsinha rosa.

— Que boato? - Sam se fez de desentendida.

— Sobre você e o nerd lá da sala. - Wendy respondeu.

Sam começou a rir. As duas garotas se entreolharam.

— Vocês acham mesmo que eu tô pegando o nerd? - Sam fez cara de ofendida.

— Ah, sei lá... - A garota morena deu de ombros.

— Você estando bêbada pegaria até o meu avô. - A ruiva disse séria.

— Vocês estão de sacanagem, né? - A loira fez cara feia, enfiou a maquiagem na bolsa de qualquer jeito. - Eu não fiquei com aquele nerd. Eu prefiro mil vezes tomar água da privada! - Mentiu descaradamente.

— Se você diz... - Wendy terminou de retocar o batom. - Esse povinho é tão maldoso. Ficam inventando cada absurdo. Daqui à pouco vão dizer que você está grávida dele! - Comentou.

— Verdade... - Carly concordou.

— Ai, não! Credo! Deus me livre! Prefiro morrer! - A loira disse horrorizada.

[...]

Na hora do intervalo, Freddie, Gibby e Mandy sentaram na mesa de sempre com Nora e Ricardo. O trio teve que aturar o casal meloso, Nora conversava com o namorado imitando voz de bebê e eles trocavam beijos como se tivessem sozinhos.

Gibby contava piadas, Mandy comia evitando olhar para o casal e Freddie olhava para a bandeja de lanche, cutucando a torta com garfo de plástico.

— Vou cantar, pessoal. - Nora se levantou de repente.

Ninguém havia subido no pequeno palco, as exibidas estavam ocupadas demais fofocando e falando mal dos outros. Tanto o grupinho de Sam, quanto o de Valerie. Nenhuma delas correu para abrir as "apresentações" como sempre faziam.

— Tem certeza, Norinha? - Gibby indagou surpresa.

— Sim, Gibbs. - A garota assentiu.

Ricardo resmungou algo em espanhol e forçou um sorriso para a namorada.

Mandy decidiu não comentar nada, mas já estava prevendo o vexame que a amiga ia dar.

Nora Dershlit foi andando confiante até o palco. O refeitório parou para ver a garota cantar, todo mundo ficou em silêncio aguardando. Era a primeira vez da garota no Karaokê.

— Oi, pessoal! - Falou no microfone abrindo um sorriso enorme.

Ninguém falou nada. Alguns já prendiam o riso.

— Não acredito que ela vai mesmo cantar... - O rapaz robusto piscou ainda descrente.

— Nem eu... - O namorado da garota murmurou.

— Ela não deve cantar tão ruim assim. - Freddie disse sem ter certeza.

— Vou dedicar essa música ao meu namorado, Ricardo. Essa é pra você, mozão! - Mandou beijos para o garoto latino.

O telão já estava ligado, ela cochichou o nome da música para o rapaz negro que tomava conta do Notebook e mexia no equipamento de som e tudo mais.

Nora soltou a voz cantando os primeiros versos de Innocence de Avril Lavigne.

Ela era super desafinada e não conseguia cantar no tom, a voz dela era fanhosa, aguda e Freddie sentiu vontade de tapar os ouvidos.

A garota continuou cantando, ela fechou os olhos e começou a cantar bem alto. Ricardo sentiu vontade de cavar um buraco e enfiar a cabeça. Gibby não segurou a risada.

A garota chegou no refrão gritando e soltando falsetes.

Mandy estava de boca aberta, não estava acreditando no que estava vendo. Muitos já riam e zombavam da garota que nem parecia notar.

— ALGUÉM TIRA ESSA LOUCA DAÍ! - Billy Boots gritou. Ele começou a vaiar.

As risadas aumentaram, Nora se ajoelhou no ápice da música, cantando em plenos pulmões de olhos fechados. Um coro de vaias começou a ecoar pelo refeitório.

Alguns garotos do time de futebol gargalhavam rolando pelo chão. Os do time de basquete já estavam passando mal de tanto gargalhar.

Valerie, Tasha e Shannon estavam chorando de rir. Sam filmava tudo, Carly e Wendy  gritavam 'Diva' incentivando a garota, elas estavam amando ver a pobre garota pagando mico.

'Esse momento é perfeito
Por favor, não vai embora
Eu preciso de você agora...'

Nora berrava pondo a mão direita no coração.

'Essa inocência é brilhante
Dá vontade de chorar
Essa inocência é brilhante
Por favor, não vai
Eu preciso de você agora
Você é tão bonito...'

Ela começou a se enrolar e errar a letra.

Ricardo se levantou e correu para tirar a namorada do palco. Nora não queria soltar o microfone, ele arrancou da mão dela bruscamente, largou no chão e pegou a garota, a jogou nos ombros e saiu dali sendo muito aplaudido.

— VIVA! VIVA! VIVA! - O coro ecoou pelo refeitório.

[...]

Depois que Nora Dershlit foi arrancada do palco pelo namorado, foi a vez de Sam Puckett ir cantar. A loira pegou outro microfone e se posicionou.

— Hoje vou cantar uma música especial. Nada de Karaokê, galera. Eu mesma escrevi a letra e ontem o JK e a banda dele me ajudaram com os arranjos. - Sam anunciou.

Atrás dela, uma banda completa formada por cinco garotos estavam posicionando os instrumentos musicais.

Sam sorriu se preparando para soltar a voz, um dos garotos começou a tocar os primeiros acordes de guitarra. O outro começou a tocar bateria, o terceiro garoto estava com violão, o quarto estava com outra guitarra, mas ele não estava tocando, e o quinto garoto tocava triângulo.

— O nome da minha música é Temptation! - Ela anunciou.

'Você já está em minhas mãos
Garoto, doce e ingênuo
Eu pretendo fazer tantas coisas com você
E eu vou te ensinar tudo com jeitinho...'

A loira começou a cantar muito afinada. Os garotos eram talentosos também, mandavam bem nos instrumentos.

'Ei, baby, diga adeus a sua inocência
Vou fazê-lo 'virar' homem, se é que me entende
Vou dominar você
Oh, você vai gostar...'

Freddie ao ouvir a letra da música se perguntou se aquela canção era para ele.

'Garoto, eu vou te levar ao paraíso
Vou fazer com que nunca se esqueça de mim
Vou te fazer perder a cabeça
Fazer você implorar por mais
Oh, você vai gostar...'

A garota cantava com tanta naturalidade, a voz dela era muito bonita, com aquele timbre único.

'Admita, você quer o meu corpo
Quer se entregar ao desejo
Cair em tentação, em tentação
Você está louco para me levar para a sua cama, não é?'

O moreno enguliu um seco. Sentiu o coração disparar. Uma gota de suor brotou em sua nuca. Aquela música só poderia ser pra ele.

'Eu gosto do seu jeito todo certinho
Seu perfume é gostoso
Você tem um sorriso lindo
É envolvente e encantador
Oh, eu estou louca
Louca para te mostrar o caminho da perdição
Você também é uma doce tentação...'

Seus olhares se encontraram e ela sorriu. Ele não desviou o olhar, nem ela.

Sam chegou no refrão dando tudo de sí. Continuou cantando, esbanjando talento. E quando finalizou a música recebeu uma salva de palmas. Quase todos gostaram da música com exceção de suas rivais e de alguns garotos que tinham raiva por terem sido descartados ou rejeitados pela loira. Amanda Valdez também não curtiu, segundo ela, a letra era um tanto imoral.

[...]

O intervalo acabou e os garotos voltaram para a sala. Tiveram mais duas aulas, logo foram dispensados, pois o professor que daria as últimas aulas acabou faltando.

— Quer que eu te deixe em casa? - Gibby perguntou quando estavam saindo da sala.

— Não. Vou de ônibus mesmo. - Freddie recusou a carona do amigo.

— Então, tá.... Vou ficar aqui esperando a Mandy, ela só vai ter mais uma aula. - Disse o mais alto e eles se despediram.

O rapaz de óculos se apressou, ele queria ir embora sem topar com Sam Puckett pelos corredores. Ela e as amigas sairam da sala primeiro que eles, o moreno guardou os livros no armário. Quando saiu do colégio a avistou encostada no Conversível vermelho, suas amigas não estavam por perto. Logo desviou o olhar e tentou atravessar o gramado, mas ela já havia o notado.

Sam foi até ele e o fez parar.

— Por quê a pressa, Nerd? - Perguntou risonha.

— Só quero chegar logo em casa, tenho que fazer umas coisas. - Ele mentiu.

— Impressão minha ou você está mesmo me evitando? - A loira indagou.

— Pensei que você estivesse com raiva de mim... - O moreno disse olhando para baixo.

— Não estou. Precisamos conversar. Vem, eu te dou uma carona! - Agarrou o braço esquerdo dele.

Freddie a acompanhou até o carro, ela destravou as portas e o empurrou para dentro do veículo com rapidez. Antes de entrar, olhou para os lados para ver se alguém estava observando eles. Em seguida, entrou no carro, colocou o cinto depressa e ligou o automóvel.

— Precisamos conversar sobre o que aconteceu lá na festa... - Disse ela dando partida.

O moreno continuou calado, apenas assentiu com a cabeça.

— Você já provou o sorvete daqui? - Ela perguntou.

— Não. - O rapaz respondeu.

— Vou te levar na melhor sorveteria de L.A. - Sam avisou ligando o som.