Answer escrita por nathaliacam


Capítulo 9
Parte IX




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Parte IX

"And I left a piece of my heart with you… my most genuine smile…" Edward se concentrou em seus dedos sobre as cordas, mudando a posição para um novo acorde. "And I left a piece of my heart with you… my most genuine smile…"

Bella sorriu. Era difícil saber se ela se encantava mais com ele nos palcos, tão solto, tão à vontade, tão orgulhoso de seu trabalho, com luzes ao seu redor, com pessoas gritando as letras de suas músicas autorais… ou se agora, quando ele tocava sério, no silêncio do quarto, sentado na cama sem camisa.

Ela puxou o edredom sobre os ombros, questionando-se como ele não sentia frio na pele nua. Lá fora, o inverno estava em seu auge, e ela não aguentou ficar sem roupas depois que seu corpo esfriou da sensação pós-orgasmo. Mas, a camisa dele e o aquecimento do apartamento não foram o suficiente e o grosso edredom servia de casaco. O calor que aquecia seu coração, no entanto, não vinha do cobertor, e sim, da voz do namorado, que cantava uma de suas músicas preferidas de sua banda preferida.

Bella ainda tentava assimilar o fato de que Edward Cullen era agora seu namorado. Há pouco mais de um mês, ele era somente um sonho em forma de guitarrista de sua banda favorita, que se declarava em voz numa canção que ela ouvia no repeat. O dono do sorriso malandro e moleque que ela viu no palco pela primeira vez há tão pouco tempo, mas que a encantou pelas tatuagens, pela voz, pelo carisma. Agora ela via nele outros encantamentos, como o jeito que ele sabia beijar lentamente, carinhosamente, mas também sabia fazê-lo com força, vontade e tesão. As mãos que seguravam a guitarra e a manejavam com tanta destreza sabiam fazer o mesmo com o corpo dela e sua performance que gritava virilidade no palco fazia jus à como ele se entregava a ela nos momentos de paixão física.

Bella era uma sortuda.

"Que foi?" Ele perguntou quando, ao fim da música, flagrou a namorada observando-o atenta, com olhar e sorriso bobos no rosto.

"Nada," ela deu de ombros, piscando os olhos, o sorriso se alargando. "Só estou feliz."

Edward devolveu o sorriso e esticou a mão, acariciando a coxa exposta. A camisa dele era a única peça que ela usava e o edredom que servia de casaco estava embolado em seu corpo de maneira que não a cobria por inteiro.

Ele também se considerava sortudo. Nem em um milhão de anos pensou que a música fosse surtir aquele efeito. Mesmo depois que Bella explicou que não foi exatamente a música que a fez desistir da distância e se entregar ao que sabia que sentia, ele não fazia a menor ideia de que, ao fim das palavras compostas com tanta dedicação, teria sua musa nos braços, que receberia um beijo dela. Foi melhor do que qualquer plateia gritando cada palavra de suas letras, melhor do que qualquer salva de palmas. Melhor do que gritos depois de anunciarem seu nome. Aquela foi uma sensação única e parte disso se deveu ao quão inesperado foi.

"Também estou feliz," ele garantiu, acariciando a pele da perna dela com o dedão. "Obrigado pela confiança, Bella."

Ela deixou a cabeça pender para o lado, analisando as palavras ditas pelo namorado. Sim, mais do que qualquer coisa, aquele foi um gesto de confiança. Ela confiava que Edward não era um moleque imaturo e que sabia o que estava fazendo. Confiava que ele não via nela um romance de estação e que os sentimentos dele por Tanya, bem como sua história com ela, já tinham chegado ao fim. Confiava que ele não deixaria o coração dela em pedaços ao decidir voltar atrás. Bella continuava achando que aquela era uma manobra delicada, muitíssimo arriscada.

Contudo, o que eram relacionamentos senão riscos? Qualquer pessoa poderia decepcioná-la, magoá-la, fazê-la sofrer. A vida inteira era um risco. Quem sabe o que acontecerá no outro dia, em meia hora ou em dez minutos? Pode-se estar bem hoje, descobrir-se uma doença amanhã ou envolver-se num grave acidente. Ninguém está livre de tais possibilidades, mas quem é que se impede de viver por conta disso? Por que então tinha de ser diferente com assuntos do coração? Por que abrir mão do que poderia ser uma linda história de amor por medo de fracassar?

Ela tocou a mão dele e sorriu. Levou-a até os lábios e depositou um beijo sobre a pele, já fria em consequência do clima.

"Digo o mesmo a você."

Edward se aproximou e beijou-a na boca por alguns instantes. Afastou-se algumas vezes e voltou a beijá-la, acariciando-a nos cabelos e na pele do rosto.

"Vai valer a pena," ele sussurrou, o ar quente que saía da boca dele encontrando os lábios dela.

"Sei que vai," devolveu no mesmo tom antes de beijá-lo mais uma vez. E então sorriu, afastando-se. Sentou-se melhor na cama e puxou o cobertor sobre o tronco. Passou uma mão pelos cabelos bagunçados e limpou a garganta. "O senhor guitarrista, violonista e cantor está atendendo a pedidos esta noite?"

Edward riu baixo. Encarou-a por mais alguns segundos antes de endireitar a coluna e limpar a garganta.

"É claro. O que a plateia deseja ouvir?"

Bella mordeu o lábio inferior e dobrou o corpo para a frente:

"A minha música."

Todavia, não foi daquela vez que ela conseguiu ouvir a versão completa de sua própria música tocada no violão no início ao fim: diferentemente da festa de casamento de Rosalie e Emmett, não havia ninguém aqui e nem nada que a impedisse de ceder à vontade física e tátil de tocá-lo, abraçá-lo e beijá-lo.

Bella sabia escolher bem suas prioridades.

[...]

Quando começaram a namorar, Bella e Edward mal se conheciam. Tudo o que sabiam um do outro eram profissões, um breve histórico amoroso e… mais nada.

Isso não era exclusividade deles, é claro. Grande parte dos relacionamentos se iniciam assim, a não ser que os amantes sejam amigos ou conhecidos de longa data ou coisa do tipo.

Podia até ter quem discordasse, mas Bella gostava daquela sensação. Ela estava conhecendo Edward melhor e em sua essência. Ele era mais do que um encantamento físico, uma personalidade carismática e um bom amante na cama, descobrir isso unindo o útil ao agradável (agradabilíssimo, diga-se de passagem), era, mais do que qualquer outra coisa, divertido.

Quem poderia imaginar, por exemplo, que Edward gostasse de filmes dramáticos? Que toda aquela postura rock n' roll, tatuagens e guitarra se derretia quando ele ouvia as modas de viola de música country americana? Que ele era viciado em documentários de investigação criminal? Que ele era muitíssimo controlado com a limpeza de suas roupas e que não suportava vê-las espalhadas pelo chão do quarto?

Bella certamente não imaginava. Assim como não imaginava que ele tinha paixão por cachorros, especialmente os maiores e com fama de mais agressivos, dos quais ela morria de medo desde criança.

Edward não ficou menos surpreso, porém, quando descobriu que Bella detestava ler poesias e que tinha paixão por escrever e ler crônicas. Sinceramente, ele nunca achou que alguém realmente comprasse livros de crônicas, porque quem se importaria com aquilo? Bem, Bella quase infartou quando ele fez aquela pergunta, então ele se intitulou um leigo em assuntos literários.

Descobriu que ela tinha de usar óculos para enxergar de longe e que morria de agonia toda vez que tinha de colocar e tirar as lentes de contato. Ela não gostava muito de dirigir, morria de medo de passar ao lado de grandes caminhões mesmo quando estava no banco do carona e adorava ficções literárias, cinematográficas ou seriados que trabalhavam com viagem no tempo e diversas linhas temporais, mas nunca assistiu Doctor Who. Ela dizia não acreditar em signos, mas vivia atribuindo a si mesma características geminianas e sabia o que o vênus num mapa astral significava.

Ambos gostavam, porém, de ouvir o mesmo tipo de música. Gostavam de conversar sobre youtubers, estilo de vida, política e malefícios de refrigerantes (que ambos tomavam e não pretendiam parar). Edward descobriu que Bella jamais pensou em se casar, mas que adorava crianças e era fascinada pela maneira como elas encaravam o mundo e aprendiam tudo tão facilmente. Bella descobriu que Edward adorava bebês, mas nunca tinha tido coragem de pegar em um por medo de fazer alguma bobagem. Descobriram juntos que gostavam de receber seus amigos em casa (porque Rose, Emmett, Alice e Jasper sempre passavam pelo apartamento de Bella ou de Edward e encontros de toda a turma aconteciam a cada fim de semana), mas que gostavam mais ainda da hora que eles iam embora. Adoravam dormir juntos, mas jamais acordavam da mesma maneira como foram se deitar. Edward levava um copo de água consigo para deixar na cabeceira da cama e, em consequência disso, levantava-se à noite duas ou três vezes para ir ao banheiro.

Conhecerem-se era um processo. Um processo divertido, na maior parte das vezes. Exceto quando Edward não entendia a necessidade que Bella tinha de passar dois dias longe dele ou de dormir sozinha em seu próprio apartamento de sexta para sábado. Ou quando Bella não conseguia aceitar que Edward acordasse ao meio dia num domingo, desperdiçando todo o seu precioso tempo de fim de semana. Mas, bem, fazia parte do processo. Nem tudo eram flores e amores (até porque, Bella detestava receber flores. Os amores… bem, os amores eram frequentes sim).

[...]

"Ainda não acredito que é seu último dia…"

"Awn…" Rose abraçou uma Bella chorosa, "Não fica assim, meu amor."

"Não, é sério," a morena se afastou do abraço, limpando uma gota de lágrima que teimava em surgir em seus olhos de tempos em tempos. "Primeiro você casa e me abandona naquele apartamento… agora você está saindo do nosso emprego…"

Rosalie riu, afastando o cabelo loiro do ombro. Deixar o emprego não estava sendo fácil, embora não gostasse muito de trabalhar na revista. A pior parte era deixar Bella para trás.

Pelo menos por enquanto.

"Até parece, Bella… moro a quinze minutos de você!"

"Mesmo assim," Bella revirou os olhos. "Vai ser um saco sem você aqui."

Rose fez um biquinho.

"Eu sei, meu amor, eu sei. Mas, não se preocupe. Vou cavar nosso espaço. Posso fazer isso agora por nós duas, Bella, e sei que, por enquanto você não pode. Vai dar certo. Só precisamos fazer esse sacrifício momentâneo e ter paciência."

Bella respirou fundo, controlando a irritação e a mágoa, porque sabia que Rosalie estava certa. Era mesmo necessário um sacrifício momentâneo e bastante paciência. Rose estava saindo para se dedicar a um novo projeto feito pelas duas. Agora que ela estava casada com Emmett, que era financeiramente estável e podia manter o casal sem maiores problemas, ela poderia se ausentar de seu emprego para correr atrás de um sonho. Bella ajudaria também, mas não podia se dar ao luxo de largar o trabalho e se dedicar 100%, por mais que quisesse. Ela ainda tinha o aluguel de um apartamento e contas a pagar.

O que a consolava era que, se tudo desse certo, ela, em breve, poderia trilhar o mesmo caminho. Assim que o projeto das duas começasse a vingar e fosse financeiramente estável, ela poderia deixar de resenhar blogs, canais no youtube e escrever internetês para o público adolescente que queria aprender a beijar.

"Promete que vai almoçar comigo todas as sextas?"

"É claro que sim!" Rose sorriu. "Todas as sextas, como sempre. E quero você na minha casa em todos os fins de semana."

"Tá," Bella limpou outra lágrima. "Mas, nem todos, você tem que me visitar também. E ao Edward."

"Sim, e vamos aos shows da Answer e da Prize juntas, como sempre."

Bella suspirou fundo, abanando as mãos na frente do rosto, como se aquela ação conseguisse espantar as lágrimas. As duas riram e se abraçaram novamente.

"Obrigada por tudo," Bella sussurrou no ouvido da amiga. "Nem sei o que seria de mim sem você, Rose."

"Nem precisa pensar nisso," ela sussurrou de volta. "Isso é temporário. Vamos voltar a ser uma dupla dinâmica, e muito mais forte em breve."

O coração de Bella, mesmo apertado, sabia que aquilo era verdade. Em breve, muito em breve.

[...]

"Como foi o último dia da Rose?" Edward perguntou ao sentar-se ao lado de Bella na varanda. Entregou à namorada a garrafa de cerveja gelada e abriu a sua própria.

Bella sentiu os olhos lacrimejarem novamente.

"Horrível. Não queria que ela saísse, Ed…"

Edward acariciou o joelho da namorada. Sabia que aquele estava sendo um momento delicado na vida dela.

"Conheço a sensação. Vem aqui." Ele a puxou pela mão e, depois de alguns segundos para entender o que ele queria, Bella levantou-se de sua cadeira dobrável e sentou-se no colo de Edward. "Sinto muito, linda. Mas, vai passar rápido, logo, logo vocês vão estar trabalhando juntas de novo."

"Espero que sim," ela deu de ombros e ocupou-se em acariciar os cabelos do namorado para distrair-se da vontade de chorar novamente. "É que eu já detesto a revista, sabe? Detesto as pessoas de lá, já não suporto mais o meu chefe… estou exausta. A Rose era a única coisa boa de lá."

Ele beijou o ombro dela, compadecendo-se da tristeza que ela sentia. Não gostar de seu próprio trabalho era algo que Edward já tinha experimentado. Antes de trabalhar somente com a Answer e depois com a Prize, trabalhou com os pais na empresa em que ambos eram corretores de imóveis e detestou cada segundo daquilo. Bella gostava do jornalismo, mas não da área em que trabalhava. Nesses momentos ele se sentia muito grato por conseguir se manter financeiramente fazendo o que amava e tinha certeza que o sacrifício de Rosalie proporcionaria às duas o mesmo dentro de pouco tempo.

"Eu sei," ele sussurrou, acariciando a pele do braço dela. "Aguenta firme, linda. E conte comigo para o que você precisar."

Bella sorriu mesmo com a garganta embargada. Engoliu o choro e suspirou fundo. Lamentar-se não adiantaria, de qualquer maneira. Muito menos lamentar-se enquanto estava com o namorado, desperdiçando seu tempo com ele. Não era como se Rose fosse embora para o outro lado do país ou coisa assim.

"Obrigada, lindo." Beijou a testa do namorado. "E como vão as coisas com Jake?"

Foi a vez de Edward suspirar. Deixou a garrafa de cerveja na mesinha ao lado das cadeiras dobráveis e abraçou a cintura de Bella antes de responder.

"Nada fáceis. Depois daquele dia em que ele simplesmente faltou num show, piorou muito. Não sei até quando vamos conseguir sustentar essa situação, Bella."

"Hm…" ela torceu os lábios. "O que será que está acontecendo?"

"Não sei, e é isso o que me irrita mais," ele lambeu os lábios, pensando. "Jake sempre foi meio irresponsável, mas nunca nesse nível. Tínhamos que adaptar nossa agenda às vezes, mas ele nunca foi tão… relapso. E mesmo quando ele está conosco, parece que não quer estar, sabe? Não sei, linda. Às vezes ele deixa escapar uma coisa ou outra, do tipo 'isso aqui não é permanente'. Ele deve estar pensando em sair."

Bella arfou.

"Será? Mas, ele sempre gostou tanto da Answer…"

"Pois é," deu de ombros. "Mas, sinceramente, se for para continuar do jeito que está, é melhor que ele saia mesmo. Ninguém aguenta mais essa situação."

Bella assentiu, entendendo o lado do namorado. Os últimos três shows da Answer não tinham sido tão bons em consequência da má-vontade e até mesmo da ausência de Jake. Tudo bem que Edward, Alec e Jasper conseguiam tocar muito bem sozinhos e cantar todas as músicas sem nenhum problema, mas os fãs conseguiam sentir que algo estava estranho. O comportamento de Jacob não era normal.

"E o que vocês pretendem fazer?"

Edward pensou por um momento com os lábios encostados na pele do braço de Bella. Encarou a vista da varanda, pensando nas mudanças que provavelmente estavam para acontecer na banda e em sua vida.

"Sinceramente não sei. Alice quer convocar uma reunião com ele desde aquele dia, mas ele anda enrolando dizendo estar 'trabalhando muito'. Trabalhando sei lá no quê, mas ele sempre diz ter reuniões e tal."

Aquela situação era deveras esquisita, Bella pensou. Tudo estava tão estranho, que até o álbum novo da Answer, planejado para ser lançado dali a um mês, tinha sido adiado sem previsão de reagendamento. Jasper e Edward lançariam um álbum da Prize antes, mas nada se sabia a respeito do destino da Answer.

E logo agora que os meninos estavam conquistando cada vez mais espaço… dava pena de ver shows tão cheios, tantos fãs loucos para ver a banda tocar, se decepcionarem com o clima ruim entre os membros e a não aparição de Jacob.

Bella acariciou os cabelos da nuca de Edward, encarando o namorado. Ele estava concentrado no céu do fim da tarde, perdido em pensamentos. Sabia que, no fundo, Edward temia pelo futuro da banda e ela compartilhava da mesma sensação.

"Vocês vão fazer dar certo," garantiu. "Com Jake, sem Jake… a Answer tem a vocês três. E tem aos fãs, que te empurram para frente, você sabe disso. E você tem a mim também. Sempre."

Edward sorriu, escutando as palavras da namorada enquanto ainda olhava para o céu. Quando ela terminou de falar, ele encostou a têmpora no braço dela, de olhos fechados e depois beijou a pele da morena.

"Você é foda, garota."

[...]

ecullen_answer postou uma foto com você.

Bella uniu as sobrancelhas. Tentou se lembrar se tinha tirado alguma foto recente com Edward que ele tivesse mencionado que postaria, mas não se recordou. Olhou ao seu redor, notando que nenhuma colega fofoqueira a observava e clicou na imagem.

ecullen_answer: Não sei vocês, mas eu tenho a namorada mais linda deste mundo… #mygirl

Bella sorriu. Não era uma foto antiga, visto que os dois não tinham mais do que um mês de relacionamento, mas também não tinha sido tirada nesta semana ou na outra. Na verdade, a imagem mostrava Bella e Edward na primeira vez em que ele passou a noite no apartamento de Bella, oficialmente como seu namorado. O sorriso que ela dava tinha sido maior porque, na hora da foto, Edward, que anteriormente sorria, mudou a pose e pressionou os lábios contra o canto da boca da namorada. Ele havia tratado a foto com um filtro preto e branco e marcado o usuário dela sobre seus dentes.

swanbella: #spoilers

Ela tinha certeza que os fãs do namorado entenderiam a deixa.

[...]

"Eu sempre achei que vocês chegassem juntos!"

Alice riu, encontrando fundamentos no raciocínio de Bella. Enquanto as duas caminhavam pela The Truth vazia, Alice fazia os apontamentos para os funcionários do lugar quanto ao local onde os instrumentos deveriam ficar, bem como a decoração de tapetes que ambos resolveram aderir desde o casamento de Rose. Bella silenciosamente observava a amiga trabalhar.

"Às vezes chegamos juntos, mas, sinceramente, eu gosto de vir sozinha antes e arrumar tudo. Quando os meninos estão aqui, eles dão palpites demais. Edward principalmente."

Bella gargalhou.

"É mesmo?"

"Sim," Alice assentiu. Recebeu de um dos funcionário um tapete e, com ajuda de Bella, o estendeu no chão no lugar onde ela planejava colocar o pedestal do microfone de Edward. "Ele arruma mil defeitos quando estou ajeitando as coisas, mas se faço tudo sozinha quando ele não está, só recebo elogios."

Bella riu novamente, conseguindo enxergar perfeitamente aquela cena. Seu namorado sabia mesmo ser uma pessoa complexa quando queria.

Seria a primeira vez que ela iria a um show da Prize of The Underground na The Truth desde que eles começaram a namorar. A primeira vez que pisaria naquele lugar desde o incidente com Tanya, pouco mais de dois meses atrás. Era estranho voltar, porque cada canto deste lugar trazia a lembrança de um dia que definitivamente Bella não gostaria de se lembrar. Um dia para o qual ela criou tantas expectativas, e que quase estragou tudo o que estava vivendo com Edward hoje.

Gostava de pensar, entretanto, que hoje construiria novos significados para este lugar, que era tão importante na história da vida profissional do namorado.

Edward e Jasper estavam no estúdio. Estavam no processo de gravação do primeiro álbum da Prize of The Underground, mais empolgados do que nunca. era difícil arrancar Edward de lá, e, mesmo quando estava em casa, ele falava o tempo inteiro sobre as músicas, acordes, arranjos e outros termos dos quais Bella não fazia a menor ideia do que significava. Mesmo assim, ela o deixava falar, porque era fofo ver seu entusiasmo.

O fato é que os dois só saíam de lá quando precisavam sair. Por isso, se candidatou a vir com a Alice começar a preparação para o show que aconteceria naquela noite.

"O processo de produção do disco demora muito?"

Alice deu de ombros, posicionando o pedestal do microfone sobre o tapete. Caminhou até o local reservado para a bateria e posicionou o tapete melhor. Acenou para os funcionários, que começaram a montar o instrumento sobre o tapete.

"Depende," ela esclareceu. "Estamos bem adiantados, planejamos bastante coisa antes. Precisamos gravar todos os instrumentos, depois gravar as vozes, depois tratar o áudio final… os meninos, primeiro, precisam terminar de finalizar as músicas que querem gravar. Outra coisa na qual seu namorado é bem chato, Bella."

Ela mordeu o lábio, segurando-se para não rir.

"Ah, é?"

"É," afirmou. Pegou na mão de Bella e desceu do palco, caminhando na direção do camarim. Destrancou a porta e as duas entraram. "Ele é um saco, fica mudando notas, acordes e letras o tempo inteiro."

"Ah, mas é porque ele quer deixar tudo perfeito."

"Não," ela negou com a cabeça. "É porque ele é chato."

Bella gargalhou alto e sentou-se no sofá de couro gasto. Alice conferiu o frigobar, que estava repleto de garrafas de água mineral, energéticos e garrafas de cerveja, e, depois, sentou-se ao lado da amiga.

"Você não devia estar lá com eles?" Bella perguntou, legitimamente curiosa, afinal, Alice era a produtora da banda.

Ela apenas deu de ombros novamente.

"Eu deveria fazer um monte de coisas, Bella. Mas, conheço aqueles dois. Não estamos perdendo nada."

Bella franziu o cenho, pensando na quantidade de coisas que Edward contava que fazia nos dias em que passava no estúdio.

"Sério?"

"Sim," Alice riu. "Mas, olha, a partir de… terça que vem. Passa no estúdio depois do seu trabalho, vamos ter evoluído um pouco."

Bella fez nota mental de sair mais cedo do trabalho na terça-feira.

[...]

(Das Antiga - Dias de Truta)

Ela assistia o show do mesmo lugar que assistiu da primeira e segunda vez. Bem, em todas as vezes. Daqui, debaixo do palco, depois da grade, Edward era lindo. Entregava-se novamente em voz e guitarra para as músicas cantadas, com uma camada fina de suor cobrindo seu pescoço. As veias daquela parte do corpo dele estavam altas e se dilatavam a cada vez que ele cantava uma nota mais alta.

Os shows da Answer ou da Prize sempre tinham uma energia ímpar. Essa energia vinha do palco, mas também da plateia animada, que não parava de gritar, pular e dançar num minuto sequer, fosse junto às músicas autorais ou aos covers.

Bella olhou para trás. Estava sozinha agora, pois Alice precisou sair para resolver algum problema técnico ou administrativo, ela não entendeu muito bem. Curtir o show daqui era bom, mas não sozinha o tempo inteiro. Ela suspirou, observando como a plateia estava agitada. Pensou, então, em como nunca tinha assistido a um show da Answer ou da Prize junto a uma plateia. Desde sua primeira vez vendo a banda ao vivo, esteve à frente da grade, graças à influência de Rose. Provavelmente a experiência seria outra…

E então, enquanto Edward cantava Old Times, ela teve uma ideia. Mordeu o lábio inferior, considerando se era loucura demais. Mas, bem, não era. Por que não?

Olhou para o namorado mais uma vez e então virou-se de costas, caminhando na direção da grade. Só havia garotas à beirada do palco, o que podia ser um pouco intimidador, mas as duas cervejas que ela tomou antes do show começar a encorajaram o suficiente.

"Você se importa se eu ficar junto com vocês?" Bella se aproximou de uma das garotas da grade, gritando próximo ao ouvido dela por causa da altura da música.

"Não, pode vir!"

A garota se afastou um passo, trombando em outra pessoa que estava atrás dela e deu espaço para que Bella pudesse pular a grade. Ela, então, se pendurou e, com ajuda das outras garotas, conseguiu passar uma perna e depois a outra. Pulou no chão e riu, agradecendo as garotas em seguida.

Edward, que até então estava de costas, curtindo um dos solos de guitarra com Jasper, olhou para o local em que Bella estava por puro costume, com intenção de conferir se a namorada se divertida, e sentiu o coração parar quando não a viu lá. Franziu o cenho, cantando a letra da música de maneira automática enquanto buscava a figura feminina com o olhar.

Considerou que ela pudesse ter ido atrás de Alice, mas, ao olhar para uma movimentação na primeira fileira da plateia, sorriu. Lá estava ela, virando-se para o palco e pendurando-se na grade. Acenou para o namorado, lançando uma piscadela rapidamente.

Edward riu. Bella era completamente diferente até naquele quesito. Sua espontaneidade era encantadora. Cantou o restante da música olhando diretamente nos olhos dela e, ao fim, aproximou-se da beirada do palco, e falou ao microfone:

"Cuidem dela aí!"

Gritinhos e gargalhadas foram ouvidas, mas Bella nem prestou atenção no que as meninas falavam. Ocupava-se em derreter-se pelo beijinho que ele mandava na direção dela para, em seguida, tomar um gole de água e iniciar uma nova música.

Como previu, o show daqui era muito diferente. Parecia bizarro dizer, afinal, eram meros passos de distância. Por mais exclusivo e foda que fosse assistir àquele show bem debaixo do palco, ficar do lado de cá carregava uma emoção especial. Ela conseguia efetivamente sentir o quanto as pessoas gostavam do trabalho de seu namorado. Aqui, ela era um deles. Tão fã quanto todos.

Ao fim do show, depois de Edward e Jasper agradecerem e se despedirem, Bella precisou de ajuda para pular a grade novamente. As garotas a ajudaram naquela tarefa e Bella as abraçou em agradecimento.

"Muito obrigada, meninas! Adorei curtir o show com vocês."

"Imagina, foi ótimo! Ele olhou para nós com muito mais frequência," uma delas disse, "Você é namorada dele, não é?"

Bella sorriu, sentindo o peito se inflar de orgulho.

"Sou," assentiu. "Sou sim."

"Resolveu mudar de lado?"

Bella ouviu a voz de Edward no mesmo instante em que sentiu o braço dele cercar seus ombros e seus lábios pressionarem sua bochecha. Sorriu e olhou para ele, que usava óculos escuros.

"Decidi assumir meu papel de fã."

Edward gargalhou e olhou para as garotas.

"Nenhum babaca se engraçou com ela, não é?"

Bella olhou para as garotas que a fizeram companhia pela primeira vez desde que Edward chegou, e se surpreendeu com a diferença na expressão delas.

Elas literalmente babavam na presença de seu namorado. Algo estranho aconteceu no peito de Bella, mas não de uma maneira negativa. Quer dizer, será que aquilo seria uma margem para que ela sentisse ciúmes? Porque, bem, ela não sentia. Talvez porque se conseguisse se enxergar nas garotas, afinal, Edward era mesmo um pedaço de mau caminho. Ela já esteve na pele delas antes. Então, ela riu. Lambeu os lábios e virou-se para Edward:

"Elas querem uma foto."

E, depois que a foto estava postada inclusive nos stories de Edward, Bella abraçou as meninas para de fato de despedir. E ganhou de uma delas um sussurro:

"Que sorte a sua! Não deixa ele escapar, gata!"

[...]

(Alegria na Vida - Dias de Truta)

"Tudo certo aí, linda?"

Bella não conseguiu ouvir uma palavra, mas entendeu a pergunta de Edward pelo movimento dos lábios bonitos dele. Ela ergueu o dedo polegar e ele sorriu, ajeitando os fones no ouvido dela. Aquele era um dos potentes, Bella observou. Adoraria um daqueles na redação da revista - a pouparia de muitas conversas fiadas nas quais ela não estava interessada. Ela se encostou à cadeira que ficava na frente de uma enorme bancada com centenas de botões e outras ferramentas que ela não fazia menor ideia de para que serviam.

Sentiu as mãos de Edward em seus ombros e então uma música começou a soar em seus ouvidos. Era uma nova letra da Prize, uma das primeiras a serem finalizadas para o álbum. A letra era positiva, a voz de Edward forte, mas o refrão era cantado por Jasper. Ela fechou os olhos e se deixou curtir a música, a qualidade dos fones deixando a experiência ainda mais gostosa. Era quase tão bom quanto escutá-los ao vivo.

"Eu adorei," ela sorriu ao fim da música, retirando os fones. "Que otimista, Edward Cullen…"

Edward gargalhou e pressionou os lábios contra os de Bella.

"Essa é de Jasper. Gostou mesmo?"

"Sim," ela assentiu. Dobrou uma perna e sentou-se sobre ela, animada. "Tem mais?"

Edward lambeu os lábios. Sim, tinha mais uma, mas ainda não estava completamente finalizada.

"Mais ou menos."

"É?" Ela se empolgou. "Quero ouvir."

"Tudo bem. Mas, é um pouco diferente, eu queria que você fosse sincera, tudo bem?"

Bella assentiu, fazendo aquele compromisso com ela mesma. Por mais que fosse fã da banda, queria ser sempre sincera com Edward a respeito de seu trabalho. Ela também era uma fã, afinal.

E, bem, a música era realmente diferente. Havia uma pegada meio reggae, que era legal, mas… estava diferente demais do restante do álbum. Era excelente perceber como Edward e Jasper podiam produzir coisas novas, não ficar refém do que sempre faziam, mas a essência deles não estava naquela música.

"E aí?" Ele perguntou quando a música terminou e ela retirou os fones.

"Gostei," disse, "Mas, posso ser sincera?"

Ele sorriu.

"Sempre, linda."

"Eu não senti a Prize aqui… a música é boa, é claro, mas eu não sei se estaria esperando por isso se ouvisse o álbum de vocês… se eu não soubesse com certeza que são as vozes de vocês, eu jamais falaria que é uma música da Prize. Entende?"

Edward piscou. Ficou congelado por um instante, porque a opinião de Bella o surpreendeu.

Não, não por ser uma espécie de crítica. Quer dizer, era sim em parte, mas ele não esperava que ela fosse falar algo daquele tipo, com aquele tipo de propriedade. Bella vivia falando que, por mais que amasse música, amava mais ainda ser leiga em música.

"É mesmo?" Perguntou, querendo ouvir mais.

"Sim. Não sei, eu não senti vocês aqui, apesar de ter ouvido suas vozes. Estou falando bobagem?"

Ela perguntou e manteve o cenho franzido pelos dois segundos que Edward levou para processar tudo o que ela disse.

"Você tem razão," concluiu por fim. "Obrigado, linda."

"Tem certeza? Eu não entendo nada de música, você sabe."

Edward, entretanto sorriu. Agachou-se à frente da cadeira, assim estaria mais ou menos da mesma altura da namorada. Pegou os fones da mão dela e beijou-a rapidamente na boca.

"Mas, você entende de ser fã. Esse é seu papel de fã número um, esqueceu?"

Bella mordeu o lábio para refrear o sorriso gigante.

"Todos os direitos reservados?"

"E deveres também."

[...]

(No Mar - Dias de Truta)

"Terminou?"

Bella assentiu, finalizando o e-mail para o chefe. Anexou o arquivo de sua última pesquisa para a matéria da semana e enviou o e-mail, fechando o computador em seguida.

"Terminei," suspirou, aliviada. "Desculpa não ter te dado atenção."

Edward sorriu. Sentou-se ao lado da namorada na cama e beijou-a rapidamente nos lábios.

"É seu trabalho, linda, eu entendo."

"Não aguento mais, Ed," ela encostou a cabeça na cabeceira de sua cama, olhando o teto. "Sério. Não aguento mais ter que escrever feito uma adolescente e dar dicas sobre primeiro beijo e primeira vez. É muito para mim."

Edward riu baixo.

"É isso mesmo que você faz?"

"Você achou que eu estivesse brincando?" Bella olhou para ele com as sobrancelhas erguidas. "Não estou. Eu não respondo às dúvidas das leitoras, graças a Deus, mas eu resenho coisas que elas gostam. Inevitavelmente eu falo sobre essas coisas."

Edward considerou por um momento. Deitou-se ao lado de Bella e, com a cabeça encostada à cabeceira, fitou o teto junto a ela.

"O que é tão ruim sobre isso?"

A pergunta dele era legítima, ele realmente queria saber.

"Bom," ela suspirou, "Para alguns, nada. O trabalho na revista não é ruim, Edward, tem gente lá que realmente gosta do que faz. Mas, não é o meu caso, entende? Sinto que estou ocupando o lugar de alguém que poderia fazer um trabalho muito melhor do que o meu."

"Você faz um bom trabalho, linda," ele argumentou. "Vive falando que recebe muitos comentários positivos a respeito de sua coluna. É a mais aguardada, não é?"

"É," ela assentiu. "Mas, eu não faço com paixão."

Edward assentiu, conseguindo entender o ângulo dela pela primeira vez. Bella era extremamente competente, teve a oportunidade de ler uma de suas matérias antes que ela enviasse para seu chefe. Quem lesse o que ela escrevia, jamais perceberia ausência de paixão. Entretanto, ela sempre trabalhava muito, o esforço estava presente em cada expressão dela enquanto escrevia. Não era natural, não saía da alma dela, como as músicas saíam da alma dele. E ele se sentia mal pela namorada, mesmo sabendo que aquilo seria provisório, já que o projeto dela com Rose estava finalmente caminhando.

"E o que você gosta de fazer? Exceto o que anda fazendo com Rose… o que gostaria de fazer para o mercado?"

"Crônicas," Bella respondeu de imediato. "Eu amo escrever crônicas."

"Sim, disso eu sabia. Mas, não dá para você tentar trabalhar nisso enquanto não consegue ir trabalhar com Rose?"

Bella se virou na cama. Apoiou o cotovelo no colchão e fitou o namorado:

"Já tentei. Mas, crônicas são, acima de tudo, pessoais. As pessoas têm que querer ler as suas crônicas, então você precisa ter um nome para isso, entende? Por exemplo, os leitores da revista não estão lendo a minha coluna porque sou eu quem escreve; elas estão lendo porque estão interessadas no conteúdo que eu estou apresentando. O conteúdo é maior do que eu, então qualquer pessoa interessada poderia fazer a minha coluna. Isso não acontece com as crônicas. Meu nome tem que ser maior do que o delas e outra pessoa me substituindo não daria a mesma cara, entende?"

Edward comparou o que Bella falava com seu próprio trabalho. A Answer e revelava maior do que seus membros, visto o que vinha acontecendo com mais frequência. A ausência de Jacob estava se tornando cada vez mais frequente, mas os shows só aumentavam de tamanho. A Prize, entretanto, que era algo mais pessoal, mais íntimo… não existiria se Jasper desistisse no meio do caminho, ou se Edward decidisse que não queria mais. A Answer existiria independentemente dos membros da banda; a Prize, morreria sem um dos dois.

"Entendo," Edward disse, firme. "E você é relativamente nova no mercado."

"Isso," ela mordeu o lábio inferior e brincou com uma pintinha que Edward tinha no pescoço, logo acima da gola da camisa. "Ainda não posso. Então fico com aquele emprego por enquanto… e guardo minhas crônicas para mim."

Ele acariciou o rosto de Bella. Reconhecia o esforço que ela vinha fazendo para manter-se no emprego, nas responsabilidades que tinha. Por mais de uma vez pensou se conseguiria fazer o mesmo e sempre chegava a uma resposta negativa. Ele não teria a mesma responsabilidade, maturidade e paciência que ela estava tendo naquele momento da vida. Era mais uma coisa que aprendia com a namorada.

"Sabe de uma coisa?" Ele passou o dedo indicador pelo lábio inferior de Bella. "Nunca li uma crônica sua."

Bella sorriu. Era verdade. Estava tão acostumada a guardar suas crônicas, cartas, ensaios e reflexões para si mesma, que jamais pensou em dividi-las com Edward, por mais que se sentisse à vontade e confiasse nele.

"Quer ler uma?" Ofereceu.

"Posso?"

Ela sorriu levemente e se levantou da cama. Pulou o corpo dele, que riu, e pegou o celular na sala. Voltou ao quarto e abriu o aplicativo do Google Drive. Deitou-se ao lado do namorado e abriu a pasta Crônicas. Buscou por um título em específico e entregou a Edward.

"Essa tem mais cara de carta do que de crônica, mas… acho que você vai gostar."

Ele sorriu empolgado e pegou o celular. Bella acompanhou a leitura dele, e deixou-se vagar pelas palavras que escreveu há alguns meses, quando tinha acabado de tornar oficial sua decisão de se afastar de Edward. Tudo tinha mudado tanto… dava para perceber a angústia e a confusão em cada palavra escrita e ela quase se sentiu envergonhada por pensar que ele agora sabia de tudo aquilo.

Não que fosse motivo para se envergonhar: seu sentimentos eram legítimos, aquela confusão expressa em palavras aconteceu dentro dela de maneira muito intensa. Mas agora, depois das coisas terem mudado tanto, era estranho olhar para trás. Dava vontade de voltar ao passado e dizer confie nele! Vai dar tudo certo, mergulhe de cabeça, tenha coragem!, por mais que ainda entendesse e se visse nos motivos que a fizeram tomar aquela decisão.

Edward sentiu o peito inflar à medida em que avançava na leitura. Depois de se reconciliarem, Bella explicou todo o raciocínio que a fez se afastar dele e ele efetivamente entendeu. Mas assim, lendo as palavras que ela escreveu para ela mesma, fazia tudo muito mais intenso. Ele esteve perto de perdê-la para sempre. Era impressionante como as palavras dela faziam transmitir a confusão de sentimentos… o tom confessional de cada palavra dita era.. impressionante.

"Bella…" ele disse, ao fim da leitura. "Isso aqui é…"

"Meio vergonhoso," ela riu e tentou pegar o celular da mão dele.

"Não," ele segurou o celular, impedindo-a de levá-lo. "É incrível!"

"Você é lindo," ela beijou-o nos lábios rapidamente e riu. "Obrigada."

"Sério. Eu consegui sentir tudo o que você sentiu… Bella, você deveria escrever músicas!"

Bella gargalhou de uma maneira gostosa. Jogou a cabeça para trás, relaxou o corpo. Ele acompanhou o movimento, encantando, sentindo-se apaixonar de maneira intensa pela mulher à sua frente.

"Já tentei escrever poesias, mas detesto ter que rimar."

"Nem todas as nossas músicas têm rimas," ele argumentou.

Ela apoiou o cotovelo na cama novamente e tirou o cabelo dele da testa.

"Obrigada pela força, Ed, mas eu realmente prefiro ficar nas crônicas. Falo demais, minhas poesias seriam intermináveis."

Ele riu baixo. Em seguida, pegou as mãos dela, beijando-as nas palmas antes de encará-las com seriedade nos olhos:

"Um dia você vai ser uma cronista foda. Aliás, você já é, mas vai conseguir sobreviver disso. Você vai ver."

Bella sorriu. Deu de ombros e mordeu o lábio inferior.

"Quem sabe? Vai que as coisas com Rose dão certo e eu consiga me arriscar mais? Sempre pode acontecer. Mas, é um sonho."

"Vai se realizar," ele persistiu. "Tenho certeza disso."

Ela abriu a boca para responder, mas ele a beijou antes. Um beijo longo, que se aprofundou rapidamente. Delirante, ela estava meio zonza quando ele se afastou.

"Porra, essa sua crônica me fez querer compor outra música pra você. Cacete, Bella! Vou ter que lançar um álbum com seu nome!"

Ela gargalhou.

"Fique à vontade. Mas, eu continuarei com todos os direitos reservados."

[...]

Seattle, dezembro de 2018

Escrevi há alguns meses uma crônica que revelava a minha confusão. Confusão explícita, louca, que me mantinha acordada de madrugada… tudo por um certo guitarrista que fazia meu coração disparar ao longe, que mexia comigo de um jeito inexplicável, que me fez sentir, apenas com mensagens trocadas à distância, o que mais ninguém fez com diversos encontros, meses de namoro ou sexo sem compromisso.

Àquela época, eu não sabia se tinha tomado a decisão correta me afastando dele. Achava que poderia ter cometido um erro ao abandonar o homem que poderia ter sido o amor da minha vida por causa do tempo, do passado dele, da intensidade do que eu sentia. Nas entrelinhas de minhas palavras, há medo. Medo de ter cometido um erro irreparável, medo de me magoar, medo de me entregar, medo de que ele não sentisse o que eu sentia.

Não digo que meu medo foi em vão. Também não digo que a minha decisão foi realmente um erro. Não digo que as minhas dúvidas eram infundadas e nem digo que minha falta de coragem era covardia. Nada disso. Me entendo. Não é só porque a vida deu mais uma reviravolta que posso cometer anacronismos, afinal, fiz o que achei correto.

Não me arrependo. Não ouso me julgar, mesmo que seja fácil fazer isso agora, confortável com o homem que me inspirou a escrever aquelas palavras em meus braços.

Preciso reconhecer, porém, que foi uma manobra extremamente arriscada, mas, sinceramente, fico verdadeiramente feliz por ter feito o que fiz. Assim como fico feliz por meu guitarrista ter passado pelo que passou antes de me encontrar, porque, assim, somos nós mesmos. Ele não se apaixonaria por outra versão de mim, assim como eu (provavelmente) não me apaixonaria por outra versão dele. Estamos fazendo dar certo hoje, vencendo desafios e nos conhecendo, nos apaixonando pelo que somos… e eu jamais quereria que ele fosse diferente. Gosto de cada parte dele, sinto que ele gosta de cada parte de mim. Admiro cada uma de nossas diferenças. Somos mais fortes.

Sabe… as palavras da garota do show da Prize ficaram em minha cabeça. Eu sou mesmo uma mulher de sorte: tive sorte de ter deixado Rose me influenciar musicalmente, sorte por tê-lo encontrado, sorte de que ele tenha me notado, sorte que ele tivesse uma personalidade tão encantadora quanto a aparência. Sorte por ele ter passado pelo que passou, para que enxergasse em mim a mudança que sua vida precisava. Sorte por ter a história que tive, para que decidisse, com ele, me aventurar. Sorte para que, por nos completarmos tanto, ele não ter desistido. Sorte por ter minha cabeça e corações abertos.

Fique tranquila, garota que não sei o nome… não o deixarei escapar. Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Volto ainda esta semana com um epílogo! Um beijo enorme e fique à vontade para comentar.



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