Answer escrita por nathaliacam


Capítulo 2
Parte II




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Parte II

(The Man - The Killers)

A melhor parte de ser músico eram as apresentações ao vivo, era o que pensava Edward. Nenhum dinheiro ou qualidade de estúdio poderiam superar a energia sentida pela plateia a cada vez que ele subia ao palco com a Answer ou com a Prize of The Underground. E sentir a resposta da plateia às músicas autorais era ainda melhor.

Ele jamais se cansaria. Por razões profissionais e contratuais, seus shows não poderiam ultrapassar as duas horas de duração tradicionais, mas, se dependesse inteiramente da vontade de Edward, a banda ficaria ali pelo resto da noite: cantando, tocando, divertindo as pessoas, divertindo-se. Era incrível demais poder ganhar dinheiro fazendo aquilo.

Tudo bem que Jacob andava perdendo um pouco o foco, não levando tão a sério quanto levava antigamente e se preocupando mais em observar as mulheres da plateia do que com qualquer outra coisa. Devia ser por isso que a melhor parte dos shows, ultimamente, tinham sido aquelas onde, junto a Jasper, ele apresentava o projeto paralelo com a Prizes of The Underground.

Não que a parte das mulheres da plateia também não fosse interessante. Era, é claro que era. Mas, hoje ele não poderia aproveitar o fato de ser músico de uma banda destaque naquela noite, que crescia cada vez mais no estado e no país.

Talvez aquele fosse o motivo da crescente irritação com Jacob em especial naquela noite: Jacob estava livre para caçar. Edward estava acorrentado.

Péssima definição, ele pensou ao entrar no camarim, encontrando Tanya sentada no sofá.

“E aí,” ele cumprimentou, e a loira desviou o olhar do celular. Um sorriso abriu-se em sua face, e ela movimentou o rosto para tirar os finos e lisos cabelos de perto dos olhos.

Tanya ainda sacudiu a perna cruzada mais uma vez antes de se levantar, o barulho do salto médio de sua bota preta fazendo um alto barulho contra o chão de madeira. As pernas cobertas pela calça jeans claras a colocaram de pé, e os braços agasalhados por uma jaqueta de couro fake abraçaram o pescoço de Edward.

“Oi!” ela manteve os braços pendurados ao redor do pescoço dele enquanto o olhava nos olhos. “Você não tocou a minha música hoje.”

“Você não estava lá para assistir.”

Tanya jogou a cabeça para trás numa risada, e depois grudou os lábios nos de Edward. O beijo tinha gosto de morango artificial, provavelmente por causa do gloss brilhoso que ela usava nos lábios.

“Estava meio cansada,” ela deu de ombros. “Trabalhei com o meu pai o dia inteiro.”

Edward assentiu, contentando-se com a explicação porque não estava muito interessado, de qualquer maneira.

“E como está o velho?” perguntou se afastando de Tanya para pegar uma garrafa d’água no cooler ao lado do sofá. “Ainda me odiando?”

“O meu pai não é velho,” ela disse com a voz divertida, “E nem te odeia.” Os olhos de Edward diziam um “jura?” irônico para Tanya enquanto ele tomava a água. “É sério! Ódio é uma palavra muito forte.

Edward deu de ombros ainda bebendo água. Quando finalmente terminou a garrafa, tampou-a novamente e jogou-a na lata de lixo.

“Tudo bem, é só uma forte antipatia… forte desgosto… mas, não ódio, ódio é muito pesado. Me desculpe pela indelicadeza.”

Tanya revirou os olhos e colocou as mãos nos bolsos traseiros da calça jeans. Ela observou a figura de Edward de cima a baixo, prestando mais atenção na fina camada de suor que cobria seu pescoço. Os fios de cabelo de sua nuca estavam molhados pelo suor e o restante dos fios cor de cobre estavam numa completa desordem. Ela sorriu e mordeu o lábio inferior.

“Vamos mesmo ficar falando do meu pai?” ela jogou a cabeça para o lado, “Tem tanta coisa mais interessante pra fazer…”

“O que você tem em mente?”

Tanya encurtou os dois passos de distância que a separavam de Edward e sorriu, encostando seu corpo no dele. Os saltos da bota a deixavam praticamente da altura dele, tudo o que ela precisou para beijá-lo novamente foi aproximar-se.

“Bem…” ela disse após o fim do beijo. “Podemos ir para a sua casa, estamos tão pertinho e eu vi o seu carro lá fora… estou com saudades…”

Edward se perguntou por que foi que ele perguntou o que Tanya tinha em mente em primeiro lugar. Se ela estava aqui hoje, a razão tinha que ser esta. E esse era exatamente o motivo pelo qual ele invejava Jacob: a corrente estava bem aqui.

“Hm…” ele assentiu, correspondendo ao beijo. “Mas, já falei que é bom que você me avise quando quiser se encontrar comigo, Tanya…”

“Eu avisei!” ela agarrou os cabelos suados da nuca de Edward e beijou-o mais longamente.

“Não…” ele disse quando eles mudaram o ângulo do beijo. “Você me avisou que estava aqui.”

Ela riu contra os lábios dele antes de beijá-lo mais uma vez.

“Então eu avisei.”

Edward cercou o rosto dela com as mãos e a empurrou alguns centímetros.

“E se eu estivesse com alguém?”

Tanya arqueou as sobrancelhas perfeitamente feitas e maquiadas.

“Você está?”

“Não.” Edward respondeu de imediato. “Mas, eu poderia estar.”

Ela sorriu e desceu as mãos pelas costas de Edward.

“Se você estivesse com alguém, eu sentiria muito por ela. Porque eu tenho que ser uma prioridade em sua vida…. eu sou a única para quem você escreveu uma música, não sou?”

Sim, ela era.

Não, aquilo não significava nada.

Ou nada que ela pensava que significasse.

Mesmo assim, Edward suspirou fundo e assentiu. Com um sorriso vitorioso, Tanya beijou-o mais uma vez antes de se afastar para pegar sua bolsa preta no sofá.

“Estamos esperando o quê?”

 

[...]

 

Contra a vontade de Tanya, Edward tinha que ser responsável. A banda tinha vindo tocar no The Truth com seus próprios instrumentos e seu próprio material. Alguém tinha de cuidar para que a van fretada pudesse levar tudo de volta são e salvo para o estúdio que os garotos alugavam. Com Tanya aqui e com todo o fogo que ela apresentava, Edward não poderia ser a pessoa para cuidar daquilo, então ele precisava se assegurar de que alguém o faria. Foi por isso que ele se viu arrastando a loira para a área privada do bar,  onde ele esperava que seus amigos estivessem.

E de fato estavam.

Alec conversava com Aro, seu pai e dono no bar, num canto. Alice e Jasper estavam noutro, e a esposa do baterista estava numa animada conversa com uma loira conhecida. Edward tentou lembrar-se do nome dela, porque tinha certeza de tê-la visto várias vezes antes.

Ela era a do pedido de casamento, não era? Que também vinha de Forks? Com o namorado grandalhão? Emmett, Edward se recordava. Dele, ele se lembrava. Será que ele estava aqui também? Provavelmente não, porque a loira estava comente com Alice e uma outra garota que ele não conhecia na hora do show.

“E aí, gente?” ele cumprimentou Alice, Jasper e a loira.

“Edward, como vai?!” a loira disse, “O show de hoje foi fantástico.”

“Valeu,” Edward sorriu torto, “Bom te ver.”

“Bom te ver também. Emmett mandou um abraço.”

“Manda outro pra ele,” ele olhou ao seu redor e acenou para que Tanya se aproximasse. “Essa daqui é a Tanya.”

“Rosalie Hale,” a loira estendeu a mão. Ah é! Rosalie! Rose, era esse o nome que Emmett dizia o tempo inteiro. “Muito prazer.”

“Tanya Denali.”

Tanya apertou a mão de Rose com um sorriso sem graça, mas não desviou os olhos dela. Edward sentiu o incômodo costumeiro de toda vez que Tanya e Alice estavam no mesmo local, e resolveu se retirar dali o mais rápido possível.

“Estou indo. Você coloca nossas paradas na van?” pediu a Jasper.

“Não se preocupa, cara.” Jasper acenou com dois dedos encostados na testa. “Missão dada, missão cumprida.”

“Valeu,” ele assentiu, apertando os lábios. “Até, Alec.”

O baixista mostrou o dedo polegar e, depois de despedir-se de Aro, Edward estava pronto para ir.

Varrendo o lugar com os olhos pela sensação de que ele precisava se despedir de mais alguém, ele localizou Jacob, que estava no canto do sofá, ao lado de uma garota bonita, de pele branca e longos cabelos castanhos ondulados. Ela tinha um nariz fino, Edward reparou, e tinha um sorriso meio sem graça. Parecia estar meio incomodada com a crescente aproximação de Jacob, mas ainda assim parecia corresponder ao notável flerte.

Ali, o sentimento misto que Edward tinha por Jacob, seu amigo de infância, se intensificou. Ele estava com outra garota. Uma garota nova, a garota que estava junto à loira (Rosalie!) e Alice na hora do show. Ele estava livre para ficar com quem quisesse.

E Edward não estava.

“Jake!” Edward se viu chamando de supetão. E depois percebeu que não tinha motivos para fazê-lo. Suspirou fundo. “Estou vazando.”

A expressão de Jacob dizia que ele estava tão confuso quanto Edward pelo chamado. Quer dizer, ele não precisava ter feito aquilo, não é? Não seria a primeira vez que os membros da Answer sairiam sem se despedir quando notavam os amigos ocupados.

“Beleza.”

“Você cuida do transporte das nossas coisas?” Edward mais uma vez perguntou sem necessidade, mas para completar a situação estranha.

“Cuido, fica tranquilo. Vai lá. E aí, Tanya?”

Edward notou o olhar da morena focando em Tanya. Sua expressão se moveu alguns milímetros, mas ainda continuava educada e simpática. Edward não ouviu a resposta de Tanya, mas já estava pronto para ir. Acenando pela última vez, eles se retiraram.

“Finalmente!” a loira disse, abraçando os ombros de Edward por trás. “Alice e sua cara de cu, não é?”

Edward não respondeu, porque não adiantaria. Perdeu a conta de quantas vezes ele já havia tentado conciliar a relação das duas, mas era impossível.

Além do mais, ele não tinha tanto interesse assim nisso.

“Esquece. Vamos embora.”

 

[...]

 

Quando Edward deitou-se no colchão uma hora e meia depois, ainda sob o topor do orgasmo, havia uma sensação esquisita em seu peito. Uma certeza que crescia, um questionamento constante com a resposta que ele jamais pensou que fosse ter: ele não queria mais.

Tanya ainda era linda, ainda fazia sexo do jeito que ele gostava. Ainda conseguia levar-lhe ao fundo da garganta com o mesmo oral que o fazia delirar desde a adolescência. Ainda tinha o corpo quente que tinha o mesmo perfume adocicado de sempre; mas algo estava errado.

Algo não: alguém; Edward. Edward estava errado.

Ele olhou para o teto, o peito ainda ofegante. Limpou a testa suada e fechou os olhos, escutando Tanya se remexer na cama, e em seguida os estalos do isqueiro acendendo o cigarro que ela provavelmente tinha entre os lábios. O mesmo ritual. Sem nem mesmo olhar pra ela, ele tinha certeza que Tanya estava encostada na cabeceira da cama, com as pernas cruzadas, remexendo nos piercings prateados que ela tinha em cada um dos mamilos enquanto fumava.

Era exatamente a mesma coisa.

Mas, não era.

Edward soltou um muxoxo desconfortável, sentindo a súbita necessidade de levantar-se da cama.

“Vai aonde?” perguntou Tanya.

“Na cozinha. Quer alguma coisa?”

“Não, obrigada.”

Ele nem queria nada da cozinha, só ficar sozinho. Apoiou-se no balcão de mármore e respirou fundo, tentando entender o que se passava dentro de si.

Ficar com Tanya sempre havia sido incrível. Ela era a mulher dos seus sonhos, seu maior fascínio adolescente. Toda a proibição que ela envolvia, toda a sua família, tão rica, tão superprotetora, deixavam as escapadas muito mais emocionantes, e muito mais excitantes. A letra de Blonde Field era muito fiel naquele sentido: ele sempre estava esperando por ela, nunca sabendo se ela viria fugindo de seus pais. E toda vez que ela entrava no carro e eles partiam para uma aventura nas redondezas de Forks o sentimento que Edward nutria por ela só aumentava. E sempre que desse, ele roubaria um beijo dela ou algo que o fazia se lembrar dela. O peso de sua família era foda, e ele havia perdido a conta de quantas vezes disse a ela para chutar o balde e cair no mundo. Com ele.

Entretanto, não dava. Porque Tanya era uma garota ajuizada, como ela mesma gostava de dizer. E era por isso que ele dizia na música que, quando ela tivesse juízo, não era para passar próxima a ele. Juízo e loucuras jamais combinariam.

O problema era que Tanya não era mais uma garota. Edward não era mais um adolescente que pegava o carro do pai emprestado para ficar de prontidão na porta da mansão que ela morava. Ela era uma adulta. Edward também. Mas, nada mais havia mudado.

Ela ainda morava no mesmo lugar. Ainda tinha o mesmo peso da família sob as costas. Ainda era uma na frente de seu pai, e outra com Edward. E, para a família dela, Edward não era um músico de verdade, que trabalhava e ganhava dinheiro com seu trabalho: para Garrett Denali ele sempre seria um a toa. Um pivete, um trombadinha, que não merecia sua filha, sua tão preciosa filha.

E Edward estava de saco cheio.

Era bom ficar com Tanya, ele admitia. Principalmente porque era um desafio. Tanya jamais havia baixado a cabeça completamente para o pai, porque nunca havia deixado de ser amiga de Edward. Amiga. Para o pai, os dois eram somente amigos há muitos anos.

E Tanya sabia que Edward havia sido apaixonado por ela durante grande parte de sua adolescência e início de vida adulta. Talvez ela tivesse sido apaixonada por ele também mas a relação dos dois jamais havia evoluído. Os pais de Tanya estavam sempre no caminho, literal ou figurativamente. Sempre dentro da cabeça dela, de qualquer maneira. Com o tempo, Edward percebeu que Tanya jamais o assumiria como namorado - seus namorados tinham que ter posses. Dinheiro. Prestígio. Uma profissão “digna” aos olhos de seu pai.

E Edward era o contrário de tudo isso.

Suspirando fundo, ele lambeu o lábio inferior e voltou para o quarto. Ela estava aqui agora, de qualquer maneira. Talvez ainda pudessem transar mais uma vez antes de dormir. O sexo era o mesmo, mas era bom na mesma intensidade. E que aquele vazio se fodesse, porque não ia adiantar ficar pensando nisso agora.

Contudo, ao chegar na porta do quarto, Edward encontrou Tanya abotoando a calça jeans. Uniu as sobrancelhas em confusão.

“Onde você vai?”

“Embora.” Ela deu de ombros e sorriu. “Falei para o papai que dormiria em casa.”

Edward arqueou as sobrancelhas.

“Você sabe que tem vinte e cinco anos, não é?”

“Não começa, Edward,” ela revirou os olhos. “Você conhece o meu pai.” Infelizmente. “Me leva de volta para o The Truth?”

Os olhos de Edward se arregalaram.

“Por quê?”

“Porque o motorista vai me pegar lá,” ela respondeu sentando-se na cama para calçar a bota. “Combinei assim. E se ele vier me buscar aqui na sua casa, papai vai acabar ficando sabendo, e eu não estou a fim de confusão.”

Edward bufou, inconformado.

“Vou repetir a pergunta: você sabe que tem vinte e cinco anos, não sabe?”

“Para com isso,” ela calçou a segunda bota e se levantou. “Você vai me levar ou eu vou ter que chamar um Uber?”

Pega a porra de um ônibus, Edward quis dizer. Mas, Tanya nunca havia entrado num ônibus na vida, ou num trem, metrô ou o que quer que fosse. Passando a mão pelos cabelos, raivoso, Edward pegou a calça jeans no chão.

“Espera aí.”

Ele se enfiou na calça jeans e pegou a camisa do chão, mas, antes que pudesse vesti-la, Tanya agarrou seu pulso. Ele olhou para ela em questionamento, mas encontrou seu sorriso gentil.

“Você sabe que, se dependesse de mim, seria diferente. Eu queria muito ficar aqui e dormir de conchinha com você, Ed… moraria com você, se pudesse.” Ela pegou em seu queixo, olhando-o com carinho. “Você sabe que eu te amo, não sabe?”

Edward deu de ombros, mas não respondeu. Noutros tempos, o “eu te amo” estaria na ponta de sua língua, mas a vontade de dizer aquilo não lhe ocorreu naquele momento. Tanya riu, dizendo o quanto ele era lindo quando estava bravo, e estendeu um cigarro na direção dele. Edward pegou o objeto e saiu do quarto, escutando os saltos de Tanya atrás dele.

 

[...]

 

(How Soon is Now? -The Smiths)

“Entregue.” Edward disse ao estacionar novamente na porta do The Truth.

“Obrigada, meu lindo,” ela sorriu e se aproximou depois de destravar o cinto de segurança. Beijou os lábios sérios de Edward e se afastou. “Vem, meu birrento. Espera o carro aqui fora comigo.”

“O motorista não vai contar para o seu pai que te viu comigo?”

“Mas, hoje você está implicante mesmo, não é?” ela disse, repentinamente irritada. “Poxa, Edward, eu fiz o maior esforço pra vir te ver… comprei briga com o papai… custa ficar agradecido?”

Edward quis dizer que era ridículo que ela tivesse que brigar com o pai para vê-lo até hoje. Quis dizer que sua maturidade devia ir além de gastar o dinheiro que ganhava trabalhando para o pai para comprar suas roupas, bolsas e sapatos. Deveria envolver também o resto do curso de sua vida, as pessoas com as quais ela se envolvia, a responsabilidade de seus atos por si só.

Edward quis dizer que ela não precisava ter se dado o trabalho. Mas, não disse. Simplesmente respirou fundo e abriu a porta do carro.

“Você fica lindo assim, todo bravinho,” ela riu, encostando-se no corpo de Edward. “Eu já disse isso, não já?”

“Já,” Edward revirou os olhos. “Mil vezes.”

“Mas, é porque fica!” ela beijou os lábios dele rapidamente. “Cadê o cigarro que eu te dei? Você não fumou ele ainda, não é?”

Edward tirou o objeto do bolso traseiro da calça e estendeu a ela.

“Obrigada,” Tanya sorriu. “Não quer fumar?”

“Não estou a fim.” Edward respondeu. “Por que você não pode ir embora de Uber, ou de táxi? Por que um motorista tem que vir te pegar?”

“Porque ele é pago pra isso,” ela deu de ombros, os lábios pintados de batom soprando a fumaça do cigarro.

“Será que você não percebe que esse é um meio do seu pai te controlar? Tanya, você pode ter o seu próprio carro, te daria muito mais liberdade.”

“Eu tenho um carro,” argumentou, colocando o cigarro entre os lábios novamente. Tragou e assoprou. “Mas, detesto dirigir, você sabe.”

“Pega um Uber então! Sério, passou da hora de você parar com essa de ficar andando de motorista pra cima e pra baixo. O cara te vigia e conta para o seu pai é ridículo!”

Tanya pareceu mais irritada. Segurou o cigarro entre os dedos indicador e do meio e entortou a cabeça, colocando o outro braço sobre o peito.

“Por que é que você fica colocando o meu pai toda hora no meio da conversa? Ele só está preocupado, coisa de pai!”

Mas, Edward não se deixou intimidar:

“Perfeitamente natural quando você tinha quinze anos, Tanya. Você é uma adulta.”

“Que saco, Edward!” ela se exaltou. “Será que dá pra parar com isso? Quanta ingratidão! O meu pai é assim. Você não entenderia, porque você tem a sua vida, a sua família é completamente diferente. É assim que acontece no meu círculo, Edward. É assim que tem que ser.”

Edward sentiu a raiva borbulhar no peito, porque ele odiava quando Tanya, de uma maneira ou de outra, esfregava em sua cara o quanto a realidade dela era diferente da dele. O quanto a riqueza de seus pais a afastava dele em todos os patamares. Ele respirou fundo, pronto para dizer que era melhor que ela fizesse a vontade de seus pais e não mais procurá-lo, mas foi interrompido.

“O motorista chegou,” ela se virou para Edward e sorriu. “Você está cansado, eu sei. Sinto muito, meu lindo. Espero que você esteja com um melhor humor da próxima vez que eu te ver. Tá?” ela se aproximou e beijou-lhe a bochecha.

Edward abriu a porta do carro preto e Tanya se aproximou, parando antes de entrar. Jogou o cigarro no chão e beijou Edward nos lábios rapidamente. Jogou o cigarro no chão e sussurrou:

“Dá pra sentir o cheiro de cigarro em mim?”

Ele revirou os olhos e murmurou que não. Tanya sorriu e entrou no banco traseiro, e Edward bateu a porta. Ela ainda mandou um beijo e acenou antes do carro arrancar.

 

(Sincero Abraço - Dias de Truta)

Edward suspirou fundo, correndo as mãos pelo rosto e cabelo. Aquela situação era inadmissível. Edward acusava Tanya de ser ridícula por não bater o pé em relação a sua família, mas ele era ridículo por se sujeitar àquilo também. Os dois não eram mais adolescentes, e ele não poderia ficar eternamente esperando que ela fugisse de carro com ele para aventuras. Eles eram adultos, e tinham que tomar decisões proporcionais a isso.

“Merda,” ele sussurrou para si mesmo e abriu a porta de seu próprio carro. De modo automático, olhou para o outro lado da rua, esperando não ver ninguém pelo horário.

Contudo, se surpreendeu ao ver duas figuras femininas sentadas na calçada. Eram Rosalie e sua amiga morena. A loira tinha a cabeça encostada no ombro da outra, e parecia estar dormindo. Edward riu baixo, pensando que ela provavelmente estava bêbada.

E depois se lembrou que a morena esteve com Jacob mais cedo. Franziu o cenho, apoiando-se na porta aberta de seu carro. Será que ela tinha desistido de passar a noite com Jacob por causa da amiga bêbada ao seu lado? Bem, Rosalie notavelmente precisava de alguém que cuidasse dela, mas isso não queria dizer que a morena também não tinha feito sexo com Jacob em algum canto do bar. Talvez ele não tivesse querido estender a noite depois que tinha conseguido o que queria com ela.

Edward rolou os olhos, irritado com aquela possibilidade. Jacob sabia ser um babaca quando queria. A morena estava concentrada no celular, mas não parecia triste ou decepcionada. Talvez ela tivesse gostado de não fazer mais do que uma rapidinha com Jake, não é? Ela não parecia muito confortável ou interessada no papo dele mais cedo naquela noite.

Sem perceber o que fazia, ele bateu a porta do carro e se viu caminhando na direção das moças. Rosalie estava mesmo desacordada no ombro da morena, enquanto ela se concentrava no celular. Um sorriso de concentrava no canto de seus lábios, e então ele estava parado à frente delas:

“Perdidas?”

A morena olhou para cima e empalideceu levemente. Seu peito subiu num arfar, e Edward se controlou para não rir. Ele havia dado um susto na garota, coisa horrível de se fazer numa rua praticamente deserta na madrugada.

“Não,” ela respondeu, negando com a cabeça. “Estamos esperando o Uber.”

“Ah,” Edward assentiu. Aquela era a hora que ele deveria desejar boa noite e voltar para o próprio carro. Mas, não foi o que ele fez, porque resolveu puxar mais assunto. “Vocês são amigas da Alice, não é?”

A morena pareceu estar em conflito por dois segundos. Seu rosto se contorceu e ela balançou a cabeça de um lado para o outro, bagunçando os cabelos de Rosalie.

“É,” ela assentiu. “Mais de Jasper, na verdade. Mas, Alice é um amor.”

Edward sentiu algo estranho, e se lembrou imediatamente do contraste que aquelas palavras faziam com a definição de “cara de cu” que Tanya tinha dado a esposa de seu melhor amigo mais cedo naquela noite.

“Eu lembro da sua amiga,” ele indicou para Rosalie com o queixo. “Foi pedida em casamento no nosso show e tal. Ela é fã antiga.”

A morena sorriu e assentiu com a cabeça.

“Sim. Ela adoraria te dar um abraço, mas acho que agora não dá mais.”

Edward riu baixo e mordeu o lábio inferior.

“Não querem uma carona? Posso levar vocês, estou de boa.”

A pergunta saiu de seus lábios sem que ele nem mesmo percebesse. Sabe quando as palavras simplesmente se formam sozinhas? Ele não tinha intenção alguma de sair perambulando para sabe-se lá onde pela cidade carregando uma fã bêbada e uma desconhecida consigo. Foi educado, pelo menos.

“Ah, não, não precisa.” Esclareceu. “Nosso Uber já chegou. Você pode só conferir a placa, por favor? Está um pouco difícil, vou ter que acordar a Rose para fazê-la levantar.”

Edward olhou para o lado, pela primeira vez percebendo o carro vermelho estacionado ao lado deles. Piscou duas vezes antes de atender o pedido.

“É claro.”

A morena entregou-lhe o celular com o aplicativo aberto. Ao conferir o número da placa do carro, entretanto, ele olhou para o relógio do iPhone branco, que marcava 3:27 da madrugada. A placa conferia e, ao voltar-se para a morena novamente, ele viu que ela se esforçava para levantar-se com a loira.

“Deixa eu te ajudar.” Ele se ofereceu, já abraçando o tronco de Rosalie para que ela levantasse. O corpo da loira estava mole, seus cabelos por todos os cantos. Edward riu, usando toda a sua força para levantá-la. “Meu Deus, ela está realmente ruim.”

“Está,” a morena riu, abrindo a porta do carro. Edward ajudou uma Rosalie cambaleante a entrar pela porta traseira e trabalhou em prender o cinto de segurança ao redor de seu corpo no carro iluminado pela luz amarelada do motorista. “Muito obrigada, Edward.”

Edward endireitou-se novamente e fechou a porta do carro, sorrindo torto. Ele sentiu sua coluna doendo um pouco por todo o esforço e o braço com uma espécie de dormência que precedia a cãimbra.

“Sem problemas. Prazer conhecer vocês. Foi mal não ter ficado e tal.”

Porque, naquele momento, ele percebeu que era melhor ter ficado. O sexo não havia valido a pena de qualquer jeito, e talvez fosse melhor se tivesse compartilhado da bebida de Rosalie para ficar tão bêbado quanto ela.

Ou talvez beijado a morena no lugar de Jacob, vai saber. Ela era muito bonita assim de perto. Seu nariz era mesmo bem fino, e sua pele muito branca. Mas os olhos dela tinham um tom de castanho quente, sua voz era calma, rouca, marcante.

“Imagina. Parabéns pelo show. Foi realmente muito bom.”

O sorriso de Edward aumentou. Ele mordeu o lábio inferior, tentado a falar pra ela tudo o que havia acabado de pensar. Riu consigo mesmo e balançou a cabeça pelo sentimento absurdo. Como ele poderia?

Mas, como não poderia? Ele viu como ela ficara empolgada com as músicas autorais a banda na hora do show… talvez ele realmente tivesse podido chegar na frente de Jacob e perguntar o nome dela, flertar, beijá-la ou fazer o bendito sexo às escondidas. Ou levá-la pra casa no lugar de Tanya. Se ao menos Tanya não tivesse vindo...

“Você não me disse o seu nome.” Ele disse de repente.

A morena piscou.

“Bella. Bella Swan.”

Ele sentiu a satisfação de conseguir finalmente dar um nome ao rosto bonito.

“Prazer em conhecê-la, Bella. Apareça mais. Pelo que eu vi, você é mais do que uma acompanhante da sua amiga no show. Sabia todas as nossas letras autorais.”

Ela continuou olhando para Edward por alguns instantes e depois pareceu se lembrar de que precisava responder.

“É, eu realmente gosto da banda.”

“Espero te ver mais então,” Edward tocou o ombro de Bella e se inclinou, depositando um beijo em sua bochecha e um meio abraço. “Até a próxima, Bella.”

“Até,” ela respondeu num suspiro. “Até a próxima.”

Edward abriu a porta do carona e acenou para que Bella entrasse. Depois que ela o fez, ele fechou a porta e apoiou uma mão no vidro entreaberto.

“A propósito,” começou, “Meu nome é Edward Cullen.”

Ela sorriu mais uma vez e o carro arrancou. E pela segunda vez ele estava sozinho na rua. Sem olhar para os lados, ele seguiu caminho até o seu próprio carro. Chega de conversa.

 

[...]

 

Entretanto, ao chegar em casa, Edward não conseguiu pegar no sono. Revirou-se na cama, várias vezes, chutou as roupas para longe e até o lençol seguiu o mesmo caminho. Nada dava jeito. Nada conseguia fazê-lo dormir. Toda a adrenalina da noite ainda corria em suas veias, e, após o breve encontro com Bella e Rosalie, ele se viu novamente desconfortável com toda a situação que envolvia Tanya. E o cheiro dela no travesseiro não ajudava.

Frustrado, ele jogou no chão o travesseiro no qual ela havia se deitado. Gemeu frustrado ao ver que já eram quase cinco da manhã e correu as mãos pelo rosto.

Tanya havia ido embora e tirado o seu sossego de novo. Não pelo amor que ela havia despertado, como antigamente. Por motivos diferentes, mas ela ainda assim havia tirado o seu sossego. Edward se sentia incomodado consigo, porque ele cobrava atitudes de Tanya, mas nunca as tomava ele mesmo. Se Tanya não era mais uma adolescente, ele também não era.

Ele precisava de um tempo para organizar seus pensamentos e se encontrar novamente em meio a toda aquela confusão. Ele merecia mais. A sensação de que estava se acorrentando era irritante demais, porque aquelas correntes nunca o levariam a lugar algum.

Era hora de dar um basta.

E então ele se levantou. Suspirou fundo e catou o violão no canto do quarto.

Aquela havia sido a sua válvula de escape desde que Edward se conhecia por gente. Começou a dedilhar as cordas, sentindo o peito se aliviar aos poucos. As notas levavam embora os sentimentos que Edward não conseguia lidar.

E assim começaram a surgir padrões no que ele tocava. E assim versos começaram a surgir em sua mente. No minuto em que Edward anunciasse a Tanya que ele não queria mais vê-la, nem como amiga e nem como mais nada, ela diria que ele estava nervoso, porque ele era o “lindo dela”, e que ele precisava pensar melhor.

Mas, ele não estava nervoso. Não mais. Ele estava bem. E decidido.

Ao fim daquela madrugada, quando o sol aparecia por trás da cortina, Edward havia terminado a composição da canção que perturbava e arranhava seu peito para sair. A segunda música que ele compôs pensando em Tanya era o completo oposto da primeira:

Ele não mais esperaria por ela num carro, para quando ela decidisse fugir. Ele merecia mais. E a música dizia exatamente isso. Ele merecia um alguém melhor. Ele precisava de um tempo para si, para encontrar algo bom nele mesmo, e não em Tanya. Porque ela precisava pensar no que havia feito a ele, deixando-o sempre sozinho com aquele irritante vazio, sem olhar para trás. Ele continuaria o seu caminho numa vida o que o levasse paz. Sozinho. E, pode acreditar, ele estava bem. Porque a vida era feita para viver.

E ele merecia alguém melhor para vivê-la com ele.

 


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