Castle escrita por Bilirrubina


Capítulo 3
There's no use crying about it




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/757303/chapter/3

Aizen sequer ouviu tudo o que Momo tinha a dizer. Quando deu por si já estava às portas da biblioteca. Não era de seu feitio agir impulsivamente, mas lá estava ele segurando a maçaneta tão fortemente que os nós de seus dedos estavam brancos. Respirou fundo e a girou, sem fazer barulho algum. Caminhando lentamente, como um predador aproximando-se de sua presa, foi vencendo a distância entre ele e o casal.

Ulquiorra estava de costas para a entrada, porém sabia da intromissão do soberano, no entanto, não cessou o contado com sua alteza. A mesma tentava em vão conter os suspiros enquanto chorava.

— Diga se não sou uma tola por chorar por isso? – quebrou o silêncio – Eu devia estar feliz por eles, não? Por que me sento como se tivesse sido traída? Dez anos... – ergueu a cabeça e fitou os olhos verdes de Ulquiorra – Como eu pude me deixar enganar e esperar que... No fundo eu sabia que isso aconteceria. Mais não pude prever que doeria tanto.

— Eu... – ele não tinha palavras para consolá-la, mas apenas ao ouvir sua tentativa um sorriso triste brotou no rosto da princesa.

— Obrigada. – segurou suas mãos – Eu só preciso de um pouco de tempo para organizar meus sentimentos e... – suspirou – preparar-me para o resto da minha vida aqui. – completou, desolada.

Ao compreender que aquele não era um abraço apaixonado, todo um discurso irônico que Sousuke tinha tecido foi deixado de lado. Colocou-se ao lado dos dois e fitou o moreno de olhos verdes. Foi uma troca de olhares rápida, Ulquiorra logo entendeu que deveria partir.

— Mulher. – disse numa voz fraca.

Orihime finalmente notou a presença de Aizen. Era a última coisa que lhe faltava para a total desgraça. Estava com a aparência arruinada, com o coração dolorido e ainda teria que lidar com aquele homem. Ela sabia que Ulquiorra estava de saída, mas não queria ficar a sós com o noivo. Manteve o olhar fixo nos orbes verdes e segurou as mangas de seu casaco, numa súplica silenciosa.

Ulquiorra fitou a ruiva e depois o soberano, por um momento deixou transparecer dúvida em seu semblante, mas no fim a obediência foi maior. Após um leve inclinar da cabeça deixou o cômodo. Orihime sabia que implorar não o faria retornar. Inspirou lentamente e tentou limpar os olhos com o dorso da mão direita. Sua face estava vermelha e as pálpebras inchadas, agora teria que ouvir seja lá o que fosse de Aizen.

— Vossa majestade tem algo a tratar comigo? – tentou parecer confiante.

— Sim. Nossa cerimônia de casamento.

— M-mas já? – engoliu em seco – Digo, nosso noivado foi anunciado ontem e você quer logo iniciar os preparativos para o casamento?

— Na verdade princesa, os preparativos já foram iniciados. – sentou-se numa das cadeiras da biblioteca – Assim que enviei o pedido para que retornasse ao Hueco Mundo, para ser sincero.

Ela não conseguia processar muito bem o que ele dizia, há alguns minutos chorava por um coração partido, agora era praticamente lançada ao matrimônio.

— Por que tanta pressa? – perguntou ao se colocar a sua frente.

Como ela estava de pé, Aizen ergueu a cabeça para respondê-la:

— Não tenho motivos para esperar mais, você mesmo levantou a questão do pouco apoio que tenho da nobreza. Quero logo consolidar meu reinado.

— Oh sim, os herdeiros. – disse com ironia ao dar as costas ao noivo.

— Na verdade não pensava nisto neste momento, mas até que não seria ruim. – brincou – Não mesmo...

Enquanto terminava sua sentença, Orihime virou-se e viu a expressão de desejo que Aizen tinha. Naquele momento não soube discernir se sentira ódio ou alguma outra coisa queimar em seu interior.

— Sousuke! – gritou com ultraje.

Sim, ele preferia que ela gritasse com ele ao invés de chorar nos braços de outro homem.

— Diga, alteza. – colocou-se de pé e com um passo alcançou a princesa.

Inoue instintivamente recuou outro passo. Não conseguiu sustentar o olhar dele e desviou o seu para o livro que antes havia jogado na cadeira.

— N-não me olhe desse jeito.

Segurou o queixo da ruiva com o polegar e o indicador ao virar o rosto dela para o seu.

— Por quê? Não posso desejar minha futura esposa?

Com a mão esquerda interrompeu o contato entre eles.

— Vossa majestade havia dito que não me tocaria sem permissão.

Um sorriso alargou-se nos lábios dele, estava se divertindo com ela.

— Repito minha pergunta, há algum mal em desejar-te, alteza? – ela não disse nada – Se sim, diga a razão.

Ela fechou os olhos e tentou encontrar uma forma de responder àquela pergunta sem ser levada à forca. Havia muito motivos que pudesse enumerar e começou com calma:

— Creio, milorde, que nunca passou por sua cabeça que eu, a princesa que ficou exilada por dez anos, possa nutrir ressentimentos? Ou que o culpe pela morte de Sora? – sua voz subiu um tom – Ou que ela possa preferir voltar para o fim de mundo e ficar isolada de todos mais uma vez ao ter q-que... – Não conseguiu completar.

Vendo o rubor em suas bochechas o rei lembrou-se da Orihime de dez anos atrás, uma inocente princesa que vivia atrás do antigo rei e consequentemente dele, conselheiro real e 5º duque.

— Ao ter que o quê? – aproximou-se mais – Se vossa alteza não souber o que acontece... Posso fazer uma demonstração... – sussurrou.

Orihime espalmou as mãos no peito de Aizen e o afastou, escandalizada demais para retrucar.

— Não me importo que me odeie. – ele continuou.

— Então como espera que eu... Você sabe...

Sua gargalhada ecoou pela biblioteca.

— Mesmo depois de tanto tempo nossa Orihime continua a mesma romântica de sempre. Não é necessário amor para o sexo.

— C-como consegue falar sobre isso com tanta naturalidade? – não conteve a pergunta, ainda com o rosto corado – Para você pode até não significar nada, mas eu sempre esperei que... – não conseguiu completar.

— Não me diga que esperava ser resgatada um dia do exílio por Ichigo Kurosaki num cavalo branco?

Inoue sentiu como se tivesse recebido um soco no estômago e não pode conter a expressão de dor. Ele havia tocado num ponto sensível demais.

— Prefiro que não toque neste assunto. – disse com a voz falha e olhos raso d’água.

— Ele se casará no próximo sábado. – pela surpresa em seu rosto, Rukia não a havia informado deste detalhe – Não adianta chorar por isso.

A princesa levantou o braço direito e estava prestes a estapear o rei, mas este a impediu, puxando-a para si. Ele sabia que estava sendo cruel, por mais que não gostasse de vê-la chorando, não queria que nutrisse sentimentos inúteis por outro. Preferia que o ódio que Orihime sentisse por ele fosse maior que qualquer outra coisa, queria monopolizar os pensamentos dela, queria que não sobrasse espaço para mais nada. Queria que ela fosse somente sua, para o bem ou para o mal.

— Oh, parece que interrompemos o casal...

Os dois voltaram seus olhares para as portas da biblioteca e viram o terceiro duque com um sorriso zombeteiro. Aizen afastou-se e disse enquanto caminhava em direção à saída:

— Mais tarde terminamos nossa conversa.

Ela o viu deixando o recinto e tentava acalmar-se, aquele homem despertava nela o pior. Mal conseguia manter os pensamentos num curso. Finalmente sentou-se e com a cabeça sobre as mãos chegou à conclusão de que se os dez anos no exílio não foram capazes de enlouquece-la, sua estadia em Las Noches o faria.

 

O sol começava a se pôr e lá estavam os recém-casados: Rukia e Ichigo. Ambos pareciam as pessoas mais felizes da face da Terra ao dançarem no tablado montado nos jardins da mansão Kuchiki. Orihime também estampava um sorriso no rosto, não havia conseguido organizar seus sentimentos totalmente e não era nada fácil estar ali. Porém não tinha nenhuma desculpa para faltar, sem contar que não era de seu feitio fugir. Sua majestade agora estava perto de alguns duques, porém seu olhar sempre caía sobre ela, o que a deixava extremamente desconfortável.

— E então, a princesa finalmente apareceu... – sentiu um braço pesado em seu ombro.

— Demorei um pouco, não é Renji? – disse um pouco sem graça ao dono daquele membro.

Renji Abarai, membro de um dos clãs submissos ao Kuchiki e amigo de longa data do casal de noivos parecia um pouco embriagado. Pelo que se lembrava, Orihime vez ou outra notava um olhar apaixonado do ruivo para sua amiga.

— É... – colocou o braço junto ao corpo – Pode não ter dado tempo de laçar o Ichigo... – sorveu um gole de sua bebida – Mas ainda há tempo para outras coisas.

Terminou sua sentença mais intenso, o que chamou a atenção da princesa. Ela olhou aos arredores e viu o noivo no mesmo lugar de antes, ainda conversando. Parecia que o primeiro duque tinha alguns assuntos que deixavam o rei na defensiva, o que deu a Orihime um pouco mais de liberdade. Ela achegou-se a Abarai e disse em voz baixa.

— Você e Byakuya parecem ter assuntos a tratar comigo, mas creio que deve ser algo a ser tratado com discrição, certo?

Ele anuiu e colocou um pequeno pedaço de papel na mão dela. Discretamente fingindo arrumar a alça de seu vestido, escondeu o bilhete. Olhou ao redor novamente e Aizen desta vez estava claramente discutindo algo com o primeiro e mais velho dos duques. Renji seguiu seu olhar.

— Deve ser algo relacionado à fronteira Sul. – ele notou preocupação na princesa – Mas não preocupe, não é nada grave. Houve uma inundação e algumas famílias perderam a plantação deste ano.

— O clã de Genryuusai é do Sul, não? – perguntou ao dar as costas aos nobres e ir me direção à mesa de doces.

— Creio que sim, princesa. – respondeu ao trocar o copo vazio por um cheio na bandeja de um garçom.

Ela apenas meneou levemente a cabeça, ciente de que o amigo já havia bebido demais. Enquanto pegava um bem casado, notou uma sombra sobre si e viu o irmão da noiva. Ela sorriu e comeu um pedaço do doce.

— A cerimônia está linda. – disse apenas para puxar conversa.

O moreno com sua expressão séria ignorou o comentário e estendeu sua mão direita ao falar:

— Aceita dançar comigo, alteza?

— Claro. – respondeu ao abandonar o doce em algum lugar.

Valsavam vagarosamente pelo tablado com o sol lançando seus raios alaranjados sobre eles. Pela luminosidade, Orihime tinha os olhos semicerrados e apenas acompanhava os passos de seu parceiro. Byakuya aproximou-se e sussurrou:

— Será na próxima noite de lua cheia.

A ruiva piscou os olhos sem saber do que se tratava por um momento, mas logo anuiu determinada.

— Desculpe a intromissão. – ambos olharam para o dono daquela voz grave – Se me permitir, gostaria de dançar com minha futura esposa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Castle" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.