Castle escrita por Bilirrubina


Capítulo 2
I should probably keep my pretty mouth shut




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— Ulquiorra... – disse manhosa ao seu tutor – Não entra mais nada em minha cabeça. Vamos dar uma pausa, por favor!

— Como princesa é inadmissível que não saiba sobre geopolítica, mulher. Poderá servir a nação sendo estúpida como uma porta? – perguntou, severo.

A ruiva cruzou os braços e desviou o olhar, nem se dando o trabalho de responder. Sabia que tinha um dever para com a nação, mas em sua situação, do que serviria saber sobre os conflitos envolvendo os reinos vizinhos? 

Nada.

Era essa a sua serventia como uma princesa exilada, sem perspectivas de futuro, sem apoio político, sem um reino. Sabia que seu irmão fora morto e o trono que seria seu por direito havia sido tomado pelo responsável por seu exílio. 

— De grande serventia sou eu aqui isolada... – falou ao pôr a cabeça sobre a mesa. 

— Vossa majestade tem planos para você.

— Ele você chama de vossa majestade e eu você sequer me chama pelo nome... Sou mesmo uma inútil. – suspirou.

Lançou a ela um olhar que para qualquer outra pessoa não tinha significado algum, mas Orihime ao longo dos anos aprendera a decodificar aquele homem. Era sua forma de dizer que enquanto ela não se reconhecesse, ele também não a reconheceria com a princesa que deveria ser. Era como se fosse um estímulo para que a menina não desistisse de tudo, apesar do que ocorrera no reino, apesar de estar exilada.

Orihime bufou, revirou os olhos e voltou sua atenção ao livro à sua frente, agora com afinco. Era quase invisível, mas ela notou um leve curvar nos cantos dos lábios daquele moreno.

 

Não sabia como era capaz de dançar diante daquela informação. Gerar herdeiros? Aquele homem estava louco?! Como ela poderia dar filhos ao homem responsável pela morte da sua família? Aquilo tinha que ser uma peça de seus ouvidos, não podia ser real.

Enquanto uma batalha era travada na mente da princesa, o rei praticamente deliciava-se com cada expressão que ela fazia. O cenho franzido, o leve piscar dos olhos, a boca tentando pronunciar algo. Como ele sentiu falta de sua presença nesse tempo...

Ainda atônita, Orihime deixou-se levar até um cômodo que logo percebeu ser um de descanso, anexado ao salão destinado aos nobres cansados de dançar ou para que tivessem certas conversas em particular. No centro havia um récamier, com seu estofado em veludo vermelho. Como se precisasse de algo entre eles, a ruiva dirigiu-se para atrás do móvel e apoiou seus braços na parte mais alta.

Tentava colocar ordem em seus pensamentos, precisava falar com Aizen, ter uma longa e esclarecedora conversa sobre o casamento dos dois. A princípio a ideia de casar-se com ele parecia insuportável, porém ao saber que seria apenas um fingimento, conseguiu abandonar a opção de acabar com a própria vida. Ele era o responsável pela morte de seu irmão e nunca, jamais o perdoaria por isso. 

— Orihime... – a voz dele a tirou de seus devaneios – Por que todo esse espanto, é mais do que natural eu esperar que você cumpra seus deveres matrimoniais.

— O quê? – perguntou com ascuo – Você realmente espera que eu de espontânea vontade vá me deitar com você? Nunca. – apertou os dedos no estofado.

— Serei seu marido, qual o problema nisso? – aproximou-se dela e tocou seu braço – Prometo que não será desagradável e que em breve vai me implorar por mais.

— Eu nunca imploraria nada a você, nem mesmo a minha própria vida! – disse com ódio saindo pelos olhos ao dar um passo para trás.

Aizen sorriu de canto e tomou aquilo como um desafio.

— Vamos fazer um trato então. Não encostarei um dedo em sua alteza, sem sua permissão. – estendeu sua mão.

Ciente de que nunca aconteceria ela prontamente apertou a mão que lhe era oferecida.

— Vamos viver a farsa a que você se referia. – ele continuou – Mas que ela possa ser convincente teremos que fingir ser um casal na frente dos outros, nosso acordo é válido apenas quando estivermos a sós.

— Sem problema algum. – soltou a mão dele e afastou-se um pouco – Vamos voltar antes que boatos sobre minha pureza sejam lançados.

E sem olhar para trás, deixou o aposento e dirigir-se novamente para o salão cheio de convidados. Ouvir cumprimentos falsos era melhor do que ficar sozinha com aquele homem.

 

No dia seguinte, lá estava Rukia para ver a amiga mais uma vez, porém acompanhada de seu irmão mais velho. Sentados a uma mesa no jardim florido, desfrutavam de um delicioso desjejum preparado pelos servos do palácio. Um pouco mais afastado, estava Ulquiorra que mantinha o cargo de ser responsável pela princesa.

— Orihime, preferia que conversássemos a sós. – falou Rukia após sorver um pouco de seu café.

— Não se preocupe, não tenho segredos com Ulquiorra. – disse a ruiva com inocência.

Byakuya franziu levemente o cenho diante de sua observação.

— O clã Ciffer tem sido fiel ao Aizen desde os primórdios do Hueco Mundo. Não acho prudente discutirmos nada na presença dele. – dirigiu suas orbes azuis ao outro moreno, que permaneceu com o semblante vazio.

Era duro admitir, porém a princesa sabia o quão grande e profundo era o laço que unia Ulquiorra ao soberano. Por mais que o considerasse um amigo, a pessoa que não permitira que enlouquecesse durante o exílio, não sabia se o que sentia era recíproco.

— Então que tal conversarmos sobre amenidades?

— Amenidades, Orihime? – Rukia perguntou – Só você mesmo para falar em amenidades nesta situação. Você está prestes a se casar com o assassino de Sora!

A princesa ateve-se a sorrir de maneira triste e foi Byakuya quem respondeu a irmã:

— Creio que não há nada a ser feito quanto a isso, Rukia. Este fato não me agrada em nada, porém estamos de mãos atadas.

Sem ter o que falar, a pequena comeu um pedaço de torrada com geleia.

Realmente, naquela situação, não havia nada a ser feito. O destino daquela princesa era se tornar rainha, não por herança, mas por casamento.

— E então... Digam-me o que perdi nesses anos? – tentou parecer animada.

— Rukia não será mais uma Kuchiki. – Byakuya capturou a atenção das duas mais uma vez – No próximo mês ela se casa-

— Irmão! – a pequena o interrompeu – D-deixe que eu fale. – fitou Orihime – Como sabe, por mais que tentamos, não conseguimos achá-la e as pessoas continuaram a viver suas vidas...

— Então vai se casar com Ichigo. – afirmou com um doce sorriso – Sempre achei que vocês combinavam.

— N–não está triste? – Rukia segurou sua mão, ciente dos antigos sentimentos da amiga.

— E por qual motivo? As pessoas têm que seguir em frente, não? Fico feliz que duas pessoas que amo encontraram a felicidade uma na outra. Só não esperava toda essa tranquilidade de você, Byakuya.

— Seria muito melhor que meu cunhado fosse de uma família mais influente. – olhou de soslaio para a irmã – Mas não se pode ir contra os desejos de seu coração, a não ser que você esteja disposta a pagar um alto preço por isso. 

Ao terminar sua fala, fitou Orihime. Esta engoliu em seco e tentou sorrir, porém seus lábios tremeram um pouco.

— Sinto muito interromper. – era Ulquiorra – A princesa tem alguns compromissos a comparecer ainda pela manhã.

Os irmãos se despediram e a ruiva e seu tutor deixaram o jardim. Em silêncio caminharam até a biblioteca do palácio. Era praticamente gigantesca, com estantes cheia de livros de alto a baixo. Lá, após terem chegado ao centro do aposento onde havia algumas mesas de estudo, Orihime foi a primeira a dizer algo:

— Muito obrigada.

Ulquiorra permaneceu calado. Ambos sabiam muito bem que ela se referia à intervenção num momento bem oportuno no jardim.

 – Eu não fui capaz de dizer que fiquei abalada com a notícia e nem pude expressar minha real felicidade. Ichigo foi meu primeiro amor. Rukia sempre foi minha melhor amiga.

A princesa dirigiu-se a uma das estantes e pegou um livro qualquer. Caminhou até uma das poltronas perto das janelas, com Ulquiorra em seu encalço. Ela não se sentou e lançou o livro fechado sobre o móvel. De costas para o rapaz, voltou a falar, com a voz um pouco falha:

— Sabe, no fundo eu sequer sei muito bem o que sinto. É como se todo esse tempo acreditar que o amava, que ele estava esperando por mim... – respirou fundo – Era como se eu estivesse usando este sentimento como uma espécie de muleta, algo que me deixasse com a sensação de que não seria esquecida. Mas sabe do que me lembrei? – virou-se para o moreno – Era unilateral. – tentava segurar o choro – Ele sempre me tratava como uma irmãzinha... Sempre.

Sentiu uma lágrima escorrer por seu olho esquerdo, então outra pelo direito. Sentia-se uma idiota por chorar por um amor que sequer teve chance de desabrochar e uma pessoa horrível por não se sentir feliz pelo casamento da melhor amiga. Aquilo era demais para sua pobre alma suportar.

Com um passo venceu a distância entre ela e Ulquiorra, segurou seu paletó com força e encostou a testa em seu peito. Fizera isto incontáveis vezes, ele nunca a repudiara, porém sempre se mantivera imóvel.

Mas não dessa vez.

Para sua surpresa, sentiu as mãos dele em seu dorso. Com tão simples gesto, sentiu-se acolhida e chorou ainda mais, não se importando mais com nada, apenas em esvaziar seu coração, que há tanto tempo estava carregado de preocupações.

Talvez seja por isso ou por simplesmente ser desatenta, porém não percebeu que não estavam sozinhos. Seus passos eram quase inaudíveis, todavia ela não passou despercebida por Ulquiorra. Enquanto tentava consolar a princesa ele viu a consorte real deixando a biblioteca com um sorriso torto nos lábios.

Com esta expressão vagou pelo castelo, com a esperança em seu peito brotando. Esperança de que se dependesse da futura rainha, o casal real poderia sim ter espaço para outras pessoas. Ela esquecia-se de um fato muito simples: Sousuke Aizen não iria em hipótese alguma dividir o que era seu.

E foi justamente vossa majestade com quem encontrou num dos vastos corredores de Las Noches. Fez uma cordial mesura, ainda com o sorriso nos lábios.

— Vejo que está de bom humor hoje, Momo. – ele falou.

— Está um lindo e ensolarado dia lá fora, como poderia eu ficar indiferente?

Aizen a conhecia muito bem. Sabia que não deveria estar nenhum pouco feliz após receber a notícia de seu noivado. Algo não estava cheirando bem. Semicerrou os olhos e fitou a consorte de forma superior.

­– Diga-me. – ordenou.

— Eu provavelmente deveria manter minha linda boca fechada, mas...


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