Era manhã de domingo. Justin observava a cidade na varanda de seu apartamento. Ele amassou a lata de cerveja que havia acabado de esvaziar em apenas dois goles e jogou no chão, pisando encima logo em seguida.

Não havia conseguido dormir direito à noite. Sua mente estava em Megan. Ela não havia mandado mais nada para ele, mas não tinha problema, já que ele também não havia se comunicado. Apesar de ter sido intensa a ultima conversa em que teve com ela, ele sentia que precisava deixar Megan resolver seus problemas em New York. Ainda não sabia se ela tinha dado alguma chance para Edward. Ele esperava, com todas as suas forças, que ela não tivesse feito isso.

Suspirando ele voltou para dentro e pegou mais uma latinha de cerveja, jogou-se na poltrona e voltou a beber, mas dessa vez, mais devagar.

Seu celular tocou, era Joe.

—Fala. – Justin atendeu.

—Você mandou mensagem que estava em Miami e depois não disse mais nada, só que tinha algo sério para tratar.

—Eu tenho. – ele corrigiu. – meu pai me procurou e ainda não dei uma resposta a ele.

—Sério? Seu pai? Que resposta?

—Ele me pediu perdão e disse que a filha dele quer me conhecer.

—É natural, já que ela é sua irmã. O que me surpreende é seu pai pedir perdão, ele era todo durão e tal.

—Ela não é minha irmã!

—Mesmo sendo apenas por parte de pai, ela é.

—Eu não pretendo conhecê-la e não sei se quero perdoar aquele homem.

—Posso te dar um conselho?

—Você não é muito bom nisso, então...

—Pare de guardar rancor, a dor que você sentiu até hoje pode sumir apenas com um abraço que você der em seu pai.

—Enlouqueceu?

—Eu sei que seu pai foi um idiota, mas já passou muito tempo. Ele quer seu perdão, você deveria recomeçar.

—Recomeçar? Por que todos acham que é tão fácil?

—Você disse a Megan o que sentia, não? Para ela também não deve estar sendo fácil recomeçar com você, mas ela fará isso, porque te ama.

—O que quer dizer?

—Se você finalmente pôde compreender seus sentimentos, por que seu pai não pode ter feito o mesmo?

Justin suspirou. Ele estava ciente de que Joe tinha razão. Seu amigo sempre estava certo. Mesmo que Justin fosse teimoso em aceitar os fatos, Joe estava certo.

—Eu vou pensar sobre o que fazer. – Justin respondeu.

—Por que não vem pra Yale? Vamos beber com o Collin, você precisa resolver as coisas com ele também.

—Talvez seja uma boa ideia. – Justin olhou a lata em sua mão. – chego ai em alguns minutos.

❁❁❁

Megan estava sentada no chão de seu quarto olhando fixo para seu celular. Melody ainda não havia respondido sobre qual havia sido a decisão de Nathaniel. Ela não suportava mais ficar sem noticias. Mesmo se ele não tivesse aceitado, Megan deveria saber.

Ela pegou sua vitamina de morango ao seu lado e tirou a tampa do copo, tomando todo o liquido de uma vez. Sua impaciência aumentava a cada minuto que passava.

—Megan? – ela ouviu a voz de sua mãe atrás da porta. – está acordada?

Megan levantou-se e abriu a porta. Sua mãe a olhou da cabeça aos pés.

—Não é porque está em casa que não precisa ficar bem vestida. – ela disse. – seu cabelo está armado, sua cara está péssima e você nem sequer tirou o pijama.

—Eu não vou receber ninguém mesmo. – Megan respondeu.

—De qualquer forma, se arrume. – ela aumentou a voz. – e hoje teremos um evento aqui.

—Um evento?

—Sim, será um jantar. Vamos comemorar o fechamento de um contrato. Pessoas importantes estarão aqui.

—E eu devo comparecer ou fico trancada no quarto? A segunda opção não é um problema para mim. – Ela realmente estava falando sério. Odiava esses eventos.

—Você comparecerá. O vestido que irá usar será entregue esta tarde.

—Eu não posso escolher minha própria roupa?

—Não.

Megan balançou a cabeça assentindo. Não adiantava tentar convencer sua mãe a mudar de ideia sobre algo que ela já havia decidido.

—Mais alguma coisa? – Megan perguntou.

 -A família de Edward e de Lia estará aqui.

—O que? – ela perguntou surpresa.

—Seu pai os convidou, vamos finalmente deixar os assuntos do passado de lado. Então, por favor, se comporte.

—Claro. – ela respondeu quase num sussurro.

Sem dizer mais nada, a mãe dela virou as cosas e saiu. Megan fechou a porta do quarto e murmurou um palavrão. Tudo bem acertar as coisas com a família de Lia, mas com a de Edward também? Eles não precisavam fazer isso. Não havia motivos concretos para tal decisão.

Novamente estaria Megan, Lia e Edward no mesmo lugar. Poderia ser perfeito ou um completo desastre. Ela não se sentiria confortável com aquela situação, mas faria um esforço para que a noite corresse bem. Não queria arrumar motivos para receber broncas de seus pais.

Além disso, ela já tinha resolvido tudo com ambos, não? Nada de tão ruim poderia acontecer. Poderia?

❁❁❁

Justin estava caminhando em direção ao cooffe and books. Yale estava quase vazia. Havia poucas pessoas no jardim e nos bancos. Ele se sentia mais livre quando ficava em um ambiente sem tumultos.

Ele pegou seu celular e checou mais uma vez se Megan realmente não havia mandado nada. Já havia perdido as contas de quantas vezes ele tinha conferido.

—Perdão. – ele ouviu a voz de Bela quando tombou em alguém.

—Sem problemas. – Justin respondeu.

Seu celular havia caído no chão. Por sorte não havia sido um forte impacto para quebrar alguma coisa. Ele pegou e seguiu em frente.

—Justin? – Bela o chamou.

—O que foi? – ele olhou para ela.

—Já faz um tempo.

—Sim, faz. – seu tom de voz era frio.

—Você e Megan estão juntos?

—Isso não é algo que você precise saber.

—Você se tornou tão frio comigo. – ela se aproximou. – como pôde me despachar tão fácil?

—Eu sinceramente não quero ter essa conversa com você outra vez.

—E pensar que se aquela garota não tivesse aparecido...

—Não coloque a culpa em Megan, a decisão de terminar o lance entre nós foi minha.

—Sim, mas ela foi o motivo!

—Não. – ele sorriu sarcasticamente. – você foi o motivo.

—Não me ofendo mais com suas palavras. Elas apenas me entristecem.

—Bela? Por que não tenta ser feliz? Siga em frente.

—Não posso. Amo muito você para ser capaz disso.

—Então não há nada que eu possa fazer, sinto muito.

Justin a observou. O semblante de Bela, que antes era entristecido, se transformou em ódio. Ela cerrou os dentes e em seguida abriu um sorriso que até para ele foi amedrontador. A forma como o sorriso se formou em sua boca demonstrava sua sede por vingança.

—Você não sabe o que sou capaz de fazer, não é mesmo? – ela perguntou.

—O que quer dizer?

—Eu não suporto que tirem algo de mim. – ela passou o dedo indicador no rosto de Justin. – ou alguém.

Ele pegou sua mão e a afastou a encarando profundamente com toda a sua frieza.

—É tão triste que eu já tenha me acostumado com esse olhar. Mas quer saber, eu cansei de me sentir mal.

—Então não se rebaixe tanto.

—Não estou me rebaixando. Não dessa vez. – sua voz era ameaçadora. – eu me segurei por muito tempo, estava pensando se devia ou não tomar certa atitude.

—Do que está falando?

—Se você quer tanto proteger a Megan, então realmente faça isso a partir de agora. – ela diz firmemente. – eu não me responsabilizarei por minhas ações mais.

—Que droga você está querendo dizer? – Justin ergueu o tom de voz.

—Se eu te contar não vai ter graça.

Bela se afastou com os olhos fixos em Justin, até ela virar o corredor.

Ele continuou parado por mais alguns minutos tentando raciocinar sobre o que Bela havia acabado de dizer. Ela havia feito uma ameaça? Justin nunca presenciou uma situação em que Bela transmitisse um olhar como aquele. Ele engoliu seco e voltou a realidade quando recebeu uma mensagem de Joe dizendo que estava o esperando.

Justin continuou seu caminho, mas as palavras de Bela ainda ecoavam em sua mente.

❁❁❁

Olga bateu na porta do quarto e Megan abriu na terceira vez em que ela ouviu “toc”.

Olga entrou mais animada do que nunca segurando uma caixa de tamanho médio na mão. Ela pôs na cama e depois se virou com um enorme e radiante sorriso.

—É meu vestido? – Megan perguntou.

—Sim, sim, sim! – ela pegou a mão de Megan e a arrastou até a caixa.

—Não sei por que está tão empolgada. – Ela riu. Olga sempre se animava com os eventos da família em que ela ajudava Megan a se vestir.

—Como não sabe? Desde que você era uma menininha eu a ajudo a se arrumar, gosto disso!

—Só você mesmo. – Megan a olhou com ternura.

—Vamos! Abra a caixa, sua mãe deve ter escolhido um vestido muito bonito.

Megan não poderia discordar disso. Mesmo que sua mãe tivesse todos os defeitos do mundo, ela sempre escolhia as melhores peças de roupa para Megan. Mas de forma um pouco exagerada quando se tratava de eventos. Entretanto, para os convidados seus visuais eram deslumbrantes e todos a elogiavam sempre que colocava os pés no local do evento.

Quando abriu a caixa e pegou o vestido em suas mãos ela se surpreendeu. Megan esperava um vestido longo e exagerado, já que o evento seria tão importante. Mas sua mãe acabou comprando algo bonito, sofisticado e simples. O que agradou mais Megan. Ela sorriu ao perceber que pela primeira vez sua mãe havia comprado algo que combinava exatamente com ela. Que não agradaria apenas os convidados, mas ela mesma.

—Tão lindo! – Olga sorriu carinhosamente.

O vestido era acinzentado, as mangas era um pouco acima de seus pulsos, ele continha uma gola que possuía um laço preto delicado na frente e a saia era levemente rodada acima dos joelhos.

—Vou tomar banho e depois me visto. – Megan disse.

—Então volto em alguns minutos com biscoitos! – Olga apressou-se.

Megan sorriu ao vê-la tão emocionada. Momentos simples eram realmente importantes para Olga. Isso era algo de se admirar. As pessoas deviam ser mais como ela.

O celular de Megan toca e ela se surpreende ao ver que era Nathaniel. Melody não havia mandado mais nada depois da mensagem que Megan havia enviado.

—Oi? – Megan atendeu.

—Demorei um pouco para raciocinar tudo que estava acontecendo. – Nathaniel disse.

—Eu imagino.

—Por que está me ajudando?

—Eu me importo com você.

—Mas é arriscado. Eu não sei se devo os entregar, Megan!

—Eu sei que a ideia parece maluca, mas eles já fizeram muitas coisas erradas e...

—Eu sei. – ele a interrompeu. – mas e se eles descobrirem que eu chamei a policia?

—Eles não vão pensar isso! Vamos planejar algo que realmente funcione.

—Você está certa disso?

—Sim, pode confiar em mim. Eu garanto que vai dar certo.

—Tudo bem. – ele suspira. – mas temos que agir rápido, eles me cobraram novamente.

—Eu vou conversar com meu advogado e depois entro em contato com você para dizer como faremos.

—Tudo bem. – ele desliga.

Megan pôde sentir na voz de Nathaniel o quanto ele estava com medo. Ele havia dito poucas palavras, mas foram suficientes para demonstrar sua insegurança. Megan faria de tudo para garantir que ele ficasse bem no final. Não deixaria que nada acontecesse a Nathaniel.

Megan deixou o celular de lado e foi para o banheiro. Precisava de um longo banho cheio de espumas.  Ela esperou que a banheira se enchesse e entrou lentamente sentindo a água quente em sua pele. O vapor subiu em seu rosto, ela fechou os olhos inclinando a cabeça para trás para que seu cabelo se molhasse.

Megan resolveu deixar todos os seus pensamentos de lado naquele momento. Ela prendeu a respiração e afundou-se na banheira. Seus ouvidos sendo tampados pela água trouxe a sensação de ter saído do mundo por alguns minutos.

Quando não aguentava mais segurar a respiração, ela ergueu-se. Passou as mãos nos olhos para livrar-se da visão embaçada por conta da espuma.

Após um longo e maravilhoso banho, Megan vestiu-se. O vestido se encaixou perfeitamente em seu corpo. Olga abriu a porta do quarto segurando uma bandeja com biscoitos e chocolate quente.

—Você está incrível! – ela colocou a bandeja no criado-mudo. Megan apressou-se a comer. Sua barriga estava roncando desejando qualquer coisa comestível. E aqueles biscoitos estavam deliciosos. Como sempre.

—Obrigada. – Megan sorriu dando um gole em seu chocolate. – qual calçado acha que devo por?

—Um minuto! – Olga correu até o closet e voltou depois de uns sete minutos. – esse!

Megan abriu a caixa de sapato e os calçou. Era um salto preto, não muito alto, de veludo. Simples, confortável e combinava perfeitamente com o vestido.

—Pela primeira vez em um evento – Megan disse. – estou me sentindo eu mesma.

—Sente-se, querida. – Olga indicou o pufe macio que ficava na frente do enorme espelho do closet. – Vou secar seu cabelo.

Assim ela fez. Enquanto Olga cuidava de seu cabelo, que não era muito difícil já que estava curto, ela cuidava de sua maquiagem. Mesmo em eventos especiais, Megan gostava do básico. Ela passou uma sombra quase da cor de sua pele e fez um delineado. Em seguida passou mascara de cílios e um batom vinho.

Olga finalizou o cabelo de Megan com um óleo que o deixava mais brilhoso. Megan sorri levantando-se.

—Obrigada. – ela disse a Olga.

—Estava com saudade dos nossos momentos assim. – ela respondeu quase emocionada.

—Ah, Olga! – Megan riu a abraçando.

Olga pegou a bandeja que já estava vazia e foi para cozinha. Megan olhou-se novamente no espelho e disse para si mesma:

—Você consegue, Megan! Apenas sorria e se mantenha no controle. Não há mais problemas entre você, Lia e Edward. Então não há o que se preocupar.

Ela pegou seu celular e saiu do quarto. Descendo a escada percebeu que Justin não havia se comunicado mais. Ele não dissera nada sobre o que precisava resolver em Miami. Ela foi na conversa deles e percebeu o quanto estava sentindo sua falta. Então decidiu mandar uma mensagem para ele.

“Você está bem? Eu realmente precisava de você essa noite, mas você disse que estaria comigo mesmo distante, e eu confio em você.”

Ela suspirou ciente do que havia dito a ele. Com certeza Justin notaria que ela o escolheu. Não queria Edward, não queria Derek, não queria mais ninguém além dele. 

Naquele momento, ela desejava o abraçar com todas as suas forças, precisava da segurança que ele era capaz de transmitir a ela, precisava do calor do corpo dele ao seu, precisava dele por inteiro. Megan poderia até mesmo fugir daquela noite que era uma ameaça para seu psicológico e correr para os braços de Justin. 

Seu coração estava deixando claro que não seria capaz de aceitar dar um tempo para que eles tivessem certeza do que iriam assumir. E francamente, ela não aguentaria permanecer longe dele por muito tempo. 

—Está pronta? – Olga perguntou. – sua mãe disse que assim que estivesse era para se dirigir a sala de eventos.

Megan forçou um sorriso. Ela realmente estava pronta para por uma mascara e fingir que tudo estava sob controle?