Tell me is it really hard to see

That you make it so hard on me

Go ahead and sting me with your lips

‘Cause you’re just about to kill me

Won’t you set me free

Shion não se lembrava exatamente de quando havia começado a sentir aquilo, mas fazia muito tempo. Ou talvez não fizesse. Ele não sabia dizer, mesmo. Só sabia que sentia.

“Shion, querido, pode me ajudar a levar os doces lá para a frente?”

Sabia o que era amor. Talvez não tivesse lido sobre isso nos livros os quais sua maioria lhe eram proibidos, mas sabia - e disso tinha certeza - o que era amar. Sabia que amava sua mãe. Amava Safu. Aquilo não era amor… era outra coisa.

Ao menos se parecia com outra coisa, já que era bem diferente do que ele sentia pelas duas. Shion não tinha muita experiência com sentimentos. Sinceramente, ele não tinha experiência com muitas coisas que não envolvessem conhecimentos acadêmicos ou os doces de sua mãe, então qualquer novidade era sempre um grande mistério.

Não que isso fosse frequente: a NO.6 seguia uma rotina e, por isso, tudo na cidade idealizada parecia ser sempre muito certo. O futuro, em especial, parecia muito certo. Não existiam mistérios e era provavelmente por isso que o sentimento novo lhe tirava tanto o sossego.

De certa forma, se parecia um pouco, sim, com amor. Só se manifestava de maneiras diferentes, em horas diferentes… E, por algum motivo, fazia com que ele se sentisse muito estranho, nos mais estranhos sentidos possíveis.

Se fechasse os olhos, ainda conseguia ouvir o que lembrava ser a sua voz.

“Shion?”

Nezumi…

“Shion! Você está me ouvindo?”

“Desculpe, desculpe! Estou indo, mãe!”

But give me one more glance as you walk away

Smile like everything’s gonna be okay

When I’m needing you again

I’ll see you in my head

I’ll remember as if everything’s always just the same

Shion assentiu em silêncio ao ver o corpo se distanciando no horizonte. “Vamos nos encontrar de novo”, murmurou para si mesmo. “Vamos, sim.”

O garoto de cabelos brancos sorriu como se o seu peito não tivesse acabado de levar uma facada e como se seus olhos não ardessem pelas lágrimas impedidas de cair.

Era injusto e doloroso - Shion finalmente aprendera o que era amor e, agora que tudo começaria a se resolver, eles precisavam se separar. Talvez Nezumi estivesse certo, talvez aquilo realmente fosse o certo a se fazer naquele momento. Ambos precisavam de um tempo para clarear os pensamentos depois de.. Bom, depois de todos os recentes acontecimentos. Shion precisava encontrar sua mãe. Nezumi provavelmente precisava ficar um tempo sozinho. Estava tudo bem.

Eles iriam se encontrar de novo, afinal. É assim que o destino funciona.

I know that I’ve been cruel in my selfish way

I’m looking like a fool in the end

I’m sorry if I hurt you oh baby

Baby please just talk to me

Looking like a fool

Gotta get away from you

Oh tell me what do I do

O primeiro ano passou muito rápido. Com a queda do muro, uma nova cidade nasceu - uma cidade onde a igualdade predominava. Todos estavam felizes. Todos se perguntavam quem seria o grande herói que acabara com a NO.6. Tudo era perfeito.

Shion empurrou sua torta de cereja para o canto da mesa.

“Você não quer?” Karan encarou seu filho com preocupação. Não o via se alimentar há dias. “É a sua favorita, querido... Você precisa comer alguma coisa.”

“Obrigado, mãe.” Shion sorriu docemente para Karan. “Eu só não estou com fome.”
Ela não insistiu e deixou que o filho se recolhesse para o quarto. Sabia que ele sabia que ela estaria sempre ali para ouvi-lo, e sabia que essa não era a hora certa. Suspirou; se ao menos pudesse saber o que tanto o perturbava…

Karan voltou para o seu lugar atrás do balcão e reparou no calendário colorido preso à parede.

“Quem diria…” Murmurou para si mesma. “Faz um ano que o muro caiu. o tempo realmente voa.”

Your eyes nose lips

The way she used to touch my skin

Your head down to your toes

It’s like you’re standing right in front of me now

Though the light’s gone darker now

You’ve just gone way too far I’ll keep you in my heart

Though it kills me to say it now...

As lágrimas, de repente, eram infinitas. Shion nem se preocupava com o barulho que estava fazendo, ele só precisava gritar. Gritar muito. Gritar como naquela noite, muitos anos atrás.

O ratinho robô que o assistia pareceu se assustar, porque logo escondeu-se embaixo da cama.

O garoto de cabelos brancos ajoelhou-se no chão e encarou a tira de papel em suas mãos mais uma vez. Era a letra dele, definitivamente. Não havia do que duvidar.

As lembranças nas quais Shion tentava não pensar muito invadiram sua cabeça. Os dias que passara com Nezumi, os livros, o medo, a dança…

Apertou a mensagem entre seus dedos com um pouco mais de força.

“Eu cumpri a minha missão. Obrigado pela companhia, cabeça de vento. Foi divertido."

Baby I’ll get over you