Mina

Da próxima vez que Anastácia me expulsar de minha própria casa, vou transforma-la em uma iguana! Com certeza tia Cassandra não iria ficar feliz, mas e daí? Seria pouco comparado ao que Ana merecia. Pouco até mesmo comparado ao que minha mãe havia feito.

Franzi o cenho enquanto chutava as folhas secas do chão da floresta; mal havia notado que já havia me embrenhado por ali. Não me importei muito, só me sentei em um troco de árvore caído por ali e respirei fundo.

Quando voltei a abrir os olhos, um lobo me encarava por entre as árvores. Me pus de pé em um salto. O lobo saiu de onde estava, se aproximando lentamente, me observando e permitindo que eu o observasse também.

Ofeguei.

Aquele não era um lobo comum, ele era gigante, com o pelo marrom claro, cor de areia quando molhada pelo mar. O animal estava apenas ali, parado, me olhando fixamente com olhos estranhamente racionais.

Eu realmente não conseguia me mexer, nem mesmo quando o lobo ergueu a pata e começou a avançar em direção a mim. Estranhamente, algo me dizia que ele não me machucaria. Seus olhos escuros estavam fixos nos meus.

Hesitantemente, ergui minha mão e, para minha imensa surpresa, imediatamente ele roçou sua cabeça em minha mão. Sua pelagem era quentinha. Sorri. Corri os dedos por trás de sua orelha e ele fechou os olhos, contente. Parecia tão fofo.

— Ah, você é tão lindinho! - exclamei, continuando a acaricia-lo. Ele fez um som com a garganta.

Ele ergueu a cabeça e pareceu farejar meu cabelo, o que me fez rir mais ainda.

— Calma aí, bolinha de pelos! - pus a mão em seu focinho, sem medo, e ele lambeu minha mão. Sua língua era seca e morna, e não me babou. - Eu gostei de você também!

Podia ser apenas impressão minha, mas o lobo pareceu ficar muito feliz com as minhas palavras, o que me fez sorrir.

Mas o grito de Anastácia, vindo da direção de nossa casa, me fez abandonar o lobo e correr pelo caminho que tinha vindo.