Ana

O dia seguinte foi pior.

Cassandra mais uma vez largou Mina e eu na Forks High, e seguiu seu caminho para não-sei-onde. Mas tudo bem, eu iria descobrir de  jeito ou de outro para onde ela ia quando sumia assim, mesmo que minhas visões não me revelassem. Miranda ainda continuava semi chateada comigo pela piadinha sobre a morte ontem. Com o tempo ela iria superar essa fobia; afinal, não se pode passar a vida inteira tendo crise de pânico todas as vezes que a palavra morte era mencionada.

Mas, como eu dizia, foi pior.

Até o almoço, tudo estava normal, e não havíamos visto os Cullen em nenhum lugar. Até fomos simpáticas para algumas pessoas que puxavam assuntos conosco. Porém, quando sentamos com nossas bandejas na mesma mesa vazia que havíamos nos sentado ontem, uma vampirinha de cabelos negros e curtos se sentou graciosamente conosco.

— Oi! – ela exclamou, fazendo com que Mina abrisse a boca em uma expressão de choque e eu ficasse estática – Então, como vocês estão? Estão gostando de Forks? Ouvi dizer que vieram de Salem! Deve ser divertido morar em um lugar onde o Halloween dura o ano todo!

Quando o meu espanto passou, eu pude recuperar minha habilidade de fala.

— É muito legal... Salem. – falei, sem medir direito minhas palavras – Inclusive, muitas bruxas moram e passeiam por lá.

Alice Cullen nos olhou com certo interesse, tombando a cabeça levemente para o lado. Além dela, vi a mesa em que os outros se sentavam, olhando para nós três.

E então Mina deu uma risada forçada.

— Anastácia, você não deveria falar assim das senhoras de Salem. – ela sorriu, mas me deu um chute discreto (e forte) por debaixo da mesa – Mas você está correta, Alice, nós viemos de Salem. – Mina se inclinou levemente para frente, de forma atenciosa.

— E estão gostando de Forks? – Alice perguntou, ainda sorrindo.

— Sim. – Miranda respondeu, evasivamente. Mas eu vi nessa deixa uma oportunidade de por para fora o que já estava entalado desde que eu chegara em Forks.

— Honestamente, Alice, não. – fui direta, e tanto ela quanto Mina me encararam surpresas – Essa cidade é, desculpe minha expressão, uma merda. Não consigo pensar em outra palavra para descrever. Parece que nunca faz sol por aqui, e meu cabelo fica armado por conta da umidade constante. E eu nem vou falar de...

— Acho que ela já entendeu, Anastácia. – Mina parecia estar se decidindo se ria ou se irritava com meu falatório, mas Alice só sorria.

— Vocês são engraçadas! Nós poderíamos ir ao shopping qualquer dia... – ela começou a falar, mas sua expressão ficou vaga e ela se calou. É claro, eu já sabia o que estava acontecendo. Mas fiquei surpresa ao ver que ela também tinha a habilidade de previsão. Teria ela sido uma bruxa quando humana?

— Alice? – Mina tocou a mão da vampira, em tom preocupado. Essa era uma das características que eu mais admirava em Miranda: mesmo sendo muito reservada, ela se preocupava com todos – Alice, você está bem?

— Oh! – ela voltou a si e riu – Desculpem, eu tendo a me perder em pensamentos as vezes.

— Não se preocupe, acontece sempre comigo, eu entendo. – falei, e senti o salto da bota de Mina atingir minha canela novamente.

— Eu preciso ir agora. Espero que consigamos conversar mais vezes! – ela acenou e se levantou com a bandeja (intocada), deslizando até a mesa dos outros vampiros.

Eu queria saber porque havia uma humana ali com eles...

— O que você estava pensando? – Mina sibilou, mas eu pude me esgueirar de seu olhar severo graças ao sineta que tocava.

Já mais tarde, a rotina foi a mesma. Minha mãe nos buscou na escola, mas dessa vez nem saltou do carro quando parou em casa e falou que “voltava já”. Observei a direção que seguia, e me surpreendi ao ver que fazia o caminho para La Push.

— Que diabos sua mãe vai fazer na reserva, Anastácia? – a expressão de Mina estava tão confusa quanto a minha.

— Eu não sei. – pressionei os lábios – Mas vou descobrir.

— O que vai fazer? – perguntou receosa.

— Vou tentar segui-la por meio de minhas visões. Nunca tentei fazer isso, então fique fora de casa por uma hora. – falei, caminhando até a porta.

— Por que eu tenho que ficar fora de casa?

— Porque sua magia pode me atrapalhar, Mina. Sua aura mágica é muito forte, e pode atrair meus sentidos. – expliquei – Explore um pouco por aí, e volte depois de uma hora.

Entrei em casa carregando minha mochila e a de Mina. Ela havia aceitado facilmente, o que estranhei um pouco. Subi para o meu quarto e acendi dois incensos; me deitei e fechei os olhos.

Um uivo de lobo soou, e eu me arrependi de ter mandado Mina ficar lá fora. Mas a visão já havia me dominado, e eu não pude fazer nada.