Ana

Para mim, controlar as visões era muito mais difícil do que o comum.

Normalmente, as bruxas adquiriam o dom da previsão, com bastante treino e dedicação; mas outras o herdavam, de forma que ele vinha mais forte e indomável. Esse era o meu caso. Assim como minha mãe, Cassandra, eu possuía o dom da previsão, mas ao contrario dela, ainda não conseguia controla-lo. Nas vésperas de partir para Forks, eu havia visto em meu sonho algo que me deixou apavorada. Eram vampiros, muito deles, e pareciam estar se juntando as centenas quase como... se estivessem se preparando para uma batalha.

Não havia dito nada a minha mãe, e muito menos a Miranda. Minha prima estava mais pálida do que o comum durante a viagem, apesar de manter sua expressão livre de qualquer emoção.

Quando chegamos em nossa nova casa, meu desagrado entrou em nível máximo; não pela casa, mas pela localização dela, bem entre Forks e La Push, ou seja: exatamente no meio do nada. A floresta pelo menos me pareceu promissora, talvez eu encontrasse ali ervas e plantas diferentes. Iria falar sobre isso com Mina, mas ela se trancara no quarto e não saíra mais de lá pelo resto da noite.

Fui para a cama cedo, logo após de arrumar minhas coisas com cuidado e sem usar magia - admito, sou viciada no uso da magia, mas eu estava agoniada, e usar as mãos para algo aliviava minha mente. Para minha surpresa, não demorei a pegar no sono, e imagens borradas e pouco precisas começavam a se formar em meu sonho. A principio, na identificava nada, mas depois enxerguei com clareza.

Árvores altas, uma vampira ruiva de olhos tão vermelhos quanto seus cabelos, ela sibilava algo no ouvido de um vampiro que parecia ser mais jovem, quase como se estivesse dando-lhe instruções. A cena mudou e eu vi lobos, lobos correndo pela floresta e eles eram enormes; todos seguiam o que parecia ser seu líder, um grande lobo de pelagem negra como a noite. Vi um lobo cinza-prateado, um menor cor de areia quando molhada, mas um dos lobos me chamou mais a atenção, por ter parado bem em minha frente e me encarado com seus olhos castanhos e tristes. E então ele uivou.

E eu acordei em sobressalto.

Olhei no relógio ao lado de minha cama e fiz uma careta ao ver que eram três e trinta e cinco da manhã. Nem um pouco sonolenta, não conseguia me decidir se aquilo havia sido apenas um sonho ou uma visão. Essa era a pior parte de ser uma jovem vidente: ainda não ter aprendido como diferenciar uma visão de um sonho comum. Decidir me convencer de que fora apenas um sonho, e tentar dormir mais um pouco, mas um uivo alto vindo da direção da floresta gelou meu sangue.

Passei o resto da madrugada em claro.

Na manhã seguinte, Miranda e eu fomos despachadas na escola como se fossemos mercadorias, e minha mãe parecia estar com pressa para fazer sei-lá-o-quê. Pelo menos iria nos buscar, o que pouparia um longa caminhada para casa. Minha prima parecia melhor de manhã, mas eu sabia que ela precisaria de tempo para superar o que passou; quero dizer, depois dos problemas que o pai dela estava lutando para resolver.

Estranhamente, apesar da súbita sensação de que algo não estava certo naquela escola, minha manhã passou de forma agradável. Tentei ser simpática com alguns de meus colegas nas aulas, mas ignorava as perguntas pessoais que me faziam. De certa forma, tudo parecia estar certo e calmo, o que aplacou minha chama da desconfiança. Mas tudo estava bom demais para ser verdade.

E foi no intervalo que eu senti o tridente do capeta próximo à mim.

Eu estava reclamando de Mike Newton (agora lembrei o nome do merdinha) para Mina, enquanto ela fingia que me ouvia, até que suas feições delicadas se contorceram em um espasmo de dor. Alguém lera os pensamentos dela.

Só quando estávamos dentro do banheiro deserto foi que eu tive a confirmação de que, realmente, algo estava errado em Forks, e esse "algo errado" significava vampiros. Quando concordamos em contar para minha mãe sobre eles (embora eu desconfiasse de que ela já soubesse), segui para minha próxima aula de forma lenta.

Se haviam vampiros em Forks, talvez o meu sonho houvesse realmente sido uma visão.

O resto do dia passou como um borrão, e eu havia me isolado dentro de minha mente, apenas pensando e relembrando todos os aspectos possíveis da visão. Encontrei Mina do lado de fora da escola, e nos apressamos a percorrer o estacionamento juntas. Quanto mais rápido saíssemos dali, melhor.

Mas uma vampira, que mais parecia uma fada entrou em nossa frente, sorrindo. Ela parecia ser tão espontânea que precisei sorrir de volta.

— Olá! - ela exclamou, depois de dar uma olhadela para seus... amigos? Irmãos? vampiros, que nos observavam de longe - Vocês são Miranda Ashwood e Anastácia Lestrange, não são? Eu sou Alice Cullen!

— Muito prazer, Alice. - falei, olhando rapidamente para a entrada do estacionamento, vendo o carro de Cassandra - Eu sinto muito, mas nós...

— Eu quero apresenta-las ao pessoal, tenho certeza de que seremos grandes amigas! - ela exclamou.

— Na verdade, Alice, - Miranda começou, com um sorriso simpático e sua voz parecia pingar mel - Anastácia e eu estamos com pressa e precisamos ir embora. Mas eu tenho certeza - os olhos turquesa de minha prima se tornaram púrpura - de que você que voltar para junto de seus amigos agora.

A Cullen piscou os olhos e voltou a sorrir.

— Nos vemos amanhã. - acenou, enquanto saltitava até os outros vampiros, e a garota de cabelos escuros.

— Manipulação, Mina? - repreendi em tom de brincadeira, enquanto corríamos até o carro de minha mãe - Cassandra não vai gostar disso.