Rebirth escrita por Karis


Capítulo 1
Winter


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês?
Pra quem tá estranhando, sim, Rebirth está de volta. Nas notas finais irei explicar tudo com calma.
E para os que não estão estranhando, bem vindos! Espero que gostem.
E é isso aí, enjoy!



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Desde menina eu sempre costumava dar mais valor às coisas pequenas. Não precisava ao menos ser chamativo e nem conter uma etiqueta com números absurdos. Minha mãe, por exemplo, costumava dar ursinhos de pelúcia, assim eu estaria cheia de amigos. Mesmo que eles não falassem, ainda era alguma coisa.

Eu ainda me lembro do meu primeiro floco de neve, o primeiro que eu vi. Eram tão pequenos, mas muitos e cobriam a terra de branco. A cor do vestido favorito da minha mãe, a minha cor favorita. E eu estava casando no mesmo dia onde aquele montinho de pontos caíram e transformaram tudo mais bonito.

Já haviam passado três anos desde a grande guerra contra o Império Alvarez, e há dois anos Natsu tomou coragem e me pediu em namoro em frente de toda guilda, mas lógico, ao jeito dele. Tudo havia mudado a partir desse ponto. Nada mais era igual e também não voltaria a ser, principalmente os últimos seis meses.

Levy e Erza tentavam terminar de me arrumar entre puxões, enquanto eu quase morria pelo espartilho apertado. Ficar em pé me olhando no espelho não ajudava muito quando se está enjoada, e mesmo com o protesto das duas eu sentei na cadeira em frente ao espelho. Cansada era pouco demais para se resumir a minha pessoa.

— Lu-chan, tem certeza que está tudo bem? Eu posso comprar um remédio e...

— Não, não precisa Levy-chan. – a interrompi – Já, já passa. Juro que está tudo bem.

— Isso deve ser pura emoção. Eu estou tão feliz por você – disse Erza.

Levy e Erza por si eram bem estranhas. Tão contraditórias! O que não impedia nenhum pouco o fato de serem minhas melhores amigas. Levy tinha crescido bastante nesses últimos anos e o seu relacionamento com Gajeel também. Erza, por outro lado, continuava do mesmo jeito, assustadora. Jellal ainda se mantinha longe e, por incrível que pareça, ela nunca pareceu infeliz.

Voltei meus olhos para a minha frente e vi o quão deslumbrante eu estava naquele vestido. Era o dia dos meus sonhos, tudo tinha que estar perfeito, e mesmo decepcionada meu coração pulava por dentro fazendo com que as náuseas aumentassem.

— Ai que droga - resmunguei enquanto corria para o banheiro.

Erza e Levy seguravam o meu vestido para não sujar, enquanto eu jogava fora tudo o que eu havia comido de manhã. Levantei, dei descarga e olhei o vestido. Tudo certo.

— Não me olhem com essa cara. Eu estou bem.

— Lucy procure diminuir um pouco a ansiedade, você está nervosa à toa - Erza falou.

Ela tinha mesmo razäo, eu esperava que ela tivesse. Escovando os meus dentes ouvi o barulho da porta se abrindo. Era Juvia, eu tinha certeza. Até porque era a hora de fazer a minha maquiagem.

Levy procurava os meus sapatos enquanto Erza, ao meu lado, fazia de tudo para eu não estragar nada. Era impossível não haver qualquer acidente, mas Erza estava ali então era possível.

— Obrigada, Erza.

Logo fui pra sala e sentei de novo na cadeira.

— Pegue, Lucy-san - Juvia falou me oferecendo um copo de água.

Eu já estava melhor. Sem perceber, Juvia já fazia a minha maquiagem. Nós riamos. Era bom conversar com elas, era maravilhoso pra falar a verdade. Elas eram tão perfeitas! Até mesmo Juvia ria tendo cuidado para não borrar nada. Ela já estava com oito meses de gestação, Gray nunca perdeu tempo, nem um minuto se quer. Era perceptível a felicidade dela, assim como a minha. A cada olhadinha no espelho eu ficava rindo que nem uma boba. Era tão estranho!

— Meu Deus como você está linda! - ela disse ao terminar. - Mal posso esperar para Gray-sama pedir Juvia em casamento! Juvia vai ficar tão feliz!

— Okay, Juvia - falei rindo.

Juvia era muito divertida... e louca. Levy e Erza estavam quase chorando e, ao constatar esse fato, eu ri ainda mais. Elas estavam muito felizes por mim, eu também estava. Em menos de cinco minutos, ao me olhar no espelho e me ver assim, foi o suficiente para esquecer os últimos meses, até mesmo as últimas horas. Estava tudo tão impecável.

— Lucy! - as duas correram e me abraçaram.

Eu lutava contra as lágrimas. Era como o velho e antigo clichê "eu não vou chorar para não borrar a maquiagem". Dividida entre rir e chorar, puxei Juvia com o seu barrigão pelo braço para formar um perfeito abraço coletivo.

— Seria bom se as minhas madrinhas parassem de chorar para não borrar a maquiagem delas. - disse vendo ambas engolirem o choro. - Muito bem.

Olhei para o espelho e vi como estava linda. Era aquela imagem que toda garotinha um dia já sonhou. Nada poderia dar errado. Nada iria dar errado.

~

 

Eu andava de um lado para outro, decidida a matar Gray quando ele chegasse.

— Juvia, tem certeza que é o pai do seu filho que vem me buscar? A tradição é atrasar não parecer que desistiu do casamento! Ele deve estar no altar pensando besteira agora e...

— Lucy-san - gritou Wendy me interrompendo - se acalme!

Eu confesso, eu estava bem nervosa. Wendy havia acabado de chegar e se não fosse por ela eu já teria dado um ataque. Ela nem parecia aquela menininha, ela havia crescido tanto. Wendy era uma mulher agora, não aquela garotinha que tinha entrado na guilda deslocada.

— Okay, okay. Eu vou me acalmar. Mas cadê o Gray?

— Ele acabou de chegar. Vamos Lucy! – Juvia disse puxando.

As janelas eram fechadas, enquanto eu olhava o meu apartamento praticamente vazio, salvo alguns itens. Eu estava alegre ao olhar ele assim, quando o dia terminasse eu estaria em outra casa com o homem que eu amo, dormindo e acordando todos os dias ao lado dele. Tudo iria ser consertado.

~

 

O carro mágico tinha parado e eu estava tremendo até onde eu nunca pensei que poderia tremer. Meu coração batia rápido e a felicidade de olhar para a entrada da igreja era tão grande que eu não conseguiria medi-la.

— Não vá ter um infarto Lu-chan - Levy falava me abanando.

— Não vou.

Logo em seguida escorreguei pelo banco tampando meu rosto com as mãos.

— Você tem certeza que está bem? - perguntou as quatro.

Eu podia até imaginar gotas em suas cabeças. Ri com esse pensamento.

— Sim, estou.

Gray abriu a porta do carro e estendeu a mão.

— Senhorita?

— Obrigada, Cavaleiro - respondi brincando, aceitando a sua gentileza.

Não me surpreendi a sentir uma áurea raivosa atrás de mim, aliás, Juvia nunca iria mudar. Lógico, nem mesmo no meu casamento.

O vestido longo se arrastava pelo chão. Eu andava em direção ao mestre Makarov, à frente da Igreja. Juvia já tinha tomado seu lugar no banco da catedral, logo, Erza e Gray, já entravam na igreja de braços dados depois Levy e Gajeel ocupando seus lugares ao lado do altar.

Eu estava pronta, eu iria começar uma nova vida. O mestre Makarov sorriu e estendeu o seu braço para mim. Ele era como o meu segundo pai.

— Seja feliz, Lucy. Seja feliz, minha filha.

Eu iria ser.

Na minha cabeça passava tantas imagens, tantos sorrisos. Eu queria poder prever o futuro e ter certeza que a minha intuição estava certa. A intuição que eu ia ser tão feliz quanto um dia eu já fui.

E assim como um pai conduz a filha ao altar, o mestre me conduziu. Mas ele não estava lá.

Eu parei no meio da igreja atônica. Todos estavam de pé e me olhavam.

Erza e Levy estavam assustadas, pareciam querer saber o que estava acontecendo. Gray e Gajeel apertavam os punhos, eles com certeza sabiam o que havia acontecido e para a minha própria sanidade escolhi não perguntar. O meu coração se quebrou mais um pouquinho, mas eu não me importava, eu ia consertar ele depois. Então pus o meu melhor sorriso e caminhei em direção ao altar.

— Ele vai chegar depois, né Mestre? – sussurrei.

E eu tive a certeza que ele ouviu, só não quis responder.

Na frente do altar eu vi as pessoas sentando, enquanto meu sorriso não falecia. Eu era forte. Eu conseguiria aguentar. E eu aguentei.

Por 10 minutos.

Por 20 minutos.

Por 30 minutos.

O ditado "quem ama espera" parecia se adequar exatamente a esse tipo de situação, mas eu não queria fazer parte dele e muito menos queria desistir.

— Lu-chan, eu...

— Ele vai vim - eu a interrompi - ele vai vim.

Por 50 minutos.

O quão idiota eu era? Todos me olhavam e eu tive vergonha de mim mesma. Eu me perguntava por que estava ali. Me perguntava por que eu me odiava a esse ponto. De repente, todas as noites sozinhas e a mesma desculpa na madrugada voltaram novamente a minha mente.

"Ele vem. Ele vai vim". E eu repetia isso mentalmente tentando manter meus pés firmes no chão sem movê-los, sem vacilar, quase como uma estatua. Erza parecia com raiva, na verdade todos pareciam com raiva. Eu ri disso. Eu só sentia frio, mesmo as portas da igreja estando fechadas durante a tempestade de neve lá fora.

O enjoo subiu pelo meu corpo e eu tampei a minha boca.

E eu aguentei por mais 20 minutos.

Era como se existisse um buraco na minha garganta. As pessoas conversavam entre si, algumas eu nem mesmo conhecia. Outras eu conhecia tão bem. A Blue Pegasus, Sabertooth, Lamia Scale... Todos que eu conhecia dessas guildas estavam lá. Eles me olhavam de um modo tão triste. Até mesmo a minha guilda. Foi quando eu me dei conta que só duas pessoas das quais eu conhecia não estavam lá.

Eu sabia, só que no fundo eu não aceitava ser verdade. Eu carregava a culpa de ser um fardo e de muito mais. Ninguém poderia medi-la. Eu carregava tanta coisa, que a única certeza que eu possuía era que não poderia carregar mais nada.

E então a porta da igreja se abriu. Eu vi o seu rosto, enquanto ele lutava para recuperar o fôlego. Ele caminhava calmamente me olhando. Meu coração apertava e afundava, como alguém que tem seus pés presos pela neve quando caminha. É sufocante. E antes que eu pudesse perceber ele estava a minha frente, com as suas mãos entre as minhas, com um perfume que não lhe pertencia, que não me pertencia. Com o perfume de outra pessoa. Como ele podia ser tão imbecil?!

— Desculpe a demora, Lucy. Eu sinto muito! Vamos. - ele falou sorrindo pra mim.

O buraco em minha garganta aumentava e agora eu podia a sentir rasgando. Meus olhos transbordavam em lágrimas. Incrédula, eu puxei minhas mãos para soltar as suas e caminhei em direção à porta.

Levy, Erza correram em minha direção. E Natsu continuou parado de cabeça baixa, talvez pensando, mas tudo parecia fútil demais no momento.

— Lucy, tá frio! Você não está bem, vamos nos…

— Saiam da minha frente - falei entre dentes. - Agora.

Eu sabia que eu estava sendo fria com elas, mas estranhamente eu não me importava mais.

— Saiam agora da minha frente.

Então ele se colocou na minha frente com elas.

— Lucy, espera! Eu...

— CALA A BOCA! Cala a sua maldita boca. Não fale comigo – gritei. - Não pronuncie meu nome. Não me deixe ouvir sua voz, eu não quero ouvi-la. Eu não tenho tempo para isso.

— Eu não vou deixar você sair. Não desse jeito.

E a minha raiva de repente havia se tornado maior do que meu orgulho ou do o amor que um dia eu já pensei ter. Mas eu a aguentaria, eu a suportaria. Eu tinha tantas coisas para falar, tantas coisas inacabadas, mas era tarde demais. Eu estava muita cansada de rever erros e tentar resolve-los, quando o maior erro havia sido meu, por continuar insistindo em me fingir de cega.

— Erza e Levy, saiam da minha frente.

E elas me olharam com mágoa. Levy já chorava, enquanto Erza nem dava sinais de que iria ceder e sair do caminho. Se eu pudesse, daria tudo para voltar ao passado, eu ficaria calada e mataria o que um dia eu sabia que iria sentir. Eu não me iludiria e nem mesmo me machucaria.

— Saiam, por favor...

E Levy saiu, enquanto Erza ainda mantinha seus pés firmes no mesmo lugar. Ela era tão forte que chegava a dar inveja. Por um momento, eu quis ser como ela. Eu queria fingir que não havia me afetado passar por ele até chegar à porta da igreja.

— Não venham atrás de mim - falei caminhando para fora sem ao menos olhar para trás.

E todo meu fôlego havia desaparecido. Como se o ar a minha volta tivesse deixado de existir.

Eu tirava o véu, presilhas... Tudo que era fácil remover pelo meio do caminho. Tudo que pudesse aumentar minha dor ao olhar o meu reflexo. Eu só queria chegar em casa e achar uma maneira de fugir de tudo aquilo. Ainda havia me restado pelo menos um pouco de orgulho. Eu não podia voltar lá. Eu não conseguiria voltar. Eu não queria voltar para aquele maldito lugar que ele dizia ter construído para nós dois.

Depois de tanto correr eu não sentia mais minhas pernas e nem meus pés. O frio parecia rasgar minha pele e o meu cérebro. Rapidamente alcancei o meu chaveiro preso na minha perna, onde ainda estava uma chave do apartamento. Até perceber que a porta já estava aberta.

— Mestre…

E lá estava ele sentado. Era muita ingenuidade minha achar que ele me deixaria ir sem ao menos tentar reverter toda a situação.

— Minha filha, às vezes, nem sempre o que pensamos que é, realmente são. 

— Para quem o senhor está tentando mentir? Para mim ou para si? – ri em incredulidade.

Por um minuto, tudo aquilo pareceu muito irreal. Era irreal demais pensar que eu que estava escolhendo sofrer por algo que não existia.

— Eu também queria muito acreditar mestre, que nada disso estivesse acontecendo. Que esses últimos anos que eu passei, principalmente os últimos seis meses, estiveram só aqui, na minha cabeça. As noites que eu passei sozinha, esperando as madrugadas em que ele chegava. As reconciliações que nós tínhamos enquanto o cheiro que ocupava o corpo dele, nem mesmo era dele e sim dela. – falava baixinho sem ao menos saber se ele estava me escutando – Eu já menti para mim mesma, mestre, mais de uma vez. Por isso consegui subir em cima daquele altar depois de tudo, talvez por isso esteja doendo tanto dessa vez.

E ele permaneceu calado enquanto eu pegava algumas peças bem antigas que haviam sobrado da mudança mais cedo, que eu nem sabia mais se cabiam em mim, e colocava dentro da minha pequena mala sem destino algum.

De alguma forma eu sabia que não conseguiria mais permanecer em Magnólia. Seria ridículo caminhar pela rua e ver o mesmo olhar de pena. Eu só queria me esconder – e dane-se para aqueles que acharem no mínimo ridículo isso –, fugir. O mundo mágico havia festejado com o anúncio do nosso casamento, e com a notícia do polêmico final fresquinha, na menor das hipóteses, eu iria ser perseguida. Eu sabia disso, eu já havia sido uma repórter por tempo suficiente.

— Traições ou humilhações não definem vidas, Lucy.

E eu paralisei. Ele sabia, lógico que ele descobriria. Eu havia sido tão idiota em achar que conseguiria esconder dele. Mas ele devia também saber no que isso resultaria. E foi assim que em poucos segundos, a mesma frase, despertou em mim a ira e a frieza que eu nem sabia ter.

— O que você pretende com isso? – perguntei.

O clima da sala já havia mudado completamente para a forma mais hostil possível.

— Eu não sou como os outros Lucy, você devia saber. Algumas desculpas não conseguiriam esconder isso de mim. – sem perceber, a cada palavra meus punhos se fechavam cada vez mais, e ele parecia ver, por isso continuou a falar. – Se acalme, Lucy. Eu não sou seu inimigo.

— Pensei que a minha pergunta fosse fácil de ser respondida. Mas já que não tem interesse de respondê-la, não se intrometa em algo que não é da sua conta.

Eu estava perdendo tempo, enquanto já devia estar bem longe dali. E com a simples lembrança disso, fechei minha mala pronta para sair. Até ser impedida de novo.

— Eu já falei uma vez mestre, e essa será a última: não ouse se intrometer em algo que não é da sua conta. Você não sabe o que está fazendo.

— Eu fui como um pai para você, assim como fui para Natsu. Não posso fechar meus olhos para isso e deixar ele se afogar em uma mentira. Porque um dia Lucy, você sabe, ela irá vir à tona.

E naquele momento a minha pressa podia até ser grande, ah... Mas a minha raiva era ainda maior.

— Escute – minha voz saiu ríspida a um ponto que era desconhecido até mesmo para mim. –, abaixe o seu maldito ego. Saiba com o que está mexendo, pois no momento você parece que perdeu a noção do que está falando. Não ouse falar como se ele se importasse. – falava enquanto me aproximava até eu estar segura dele conseguir ouvir meu único sussurro – Quando a única coisa boa que eu ganhei, enquanto ele me usava bêbado pensando que eu era ela há exatamente três semanas atrás, foi isso.

E com a mesma força que as lembranças do dia me atingiam e traziam náuseas, os seus olhos se arregalavam.

— Não se preocupe, ele nem ao menos se lembra disso. Afinal, você criou um péssimo filho.

E saí, com uma única mala, ali estava toda a minha vida. Parando de caminhar apenas ao chegar à estação de trem de Magnólia.

Estranhamente eu não sentia mais nada por dentro. Eu me perguntava o porquê, quando eu tinha todas as razões para isso, mas eu não sabia de jeito nenhum. Então, direcionei meu olhar a mulher dos tickets que parecia estar vendo um fantasma. A notícia pelo visto já havia se espalhado.

— Só me dê uma passagem até o porto, por favor – ela me deu e eu entrei no vagão.

O vagão estava vazio e morno. O frio que eu sentia ia desaparecendo e ao sentar na poltrona a realidade me atingiu com mais força do que eu esperava.

Eu não sabia o dia do amanhã e isso complicava tudo quando não se é responsável mais só por si mesma. Coloquei a mão no meu ventre e olhei para a janela, o trem ia começar a partir. Eu não possuía arrependimentos, eu não precisava de mais nada para carregar.

Eu não precisava mais carregar as pequenas discussões que logo havia se tornado em grandes brigas. Nem as noites sozinhas e as madrugadas com o perfume dela. Os hematomas no corpo dele que eu sabia que não eram de missões e que não tinham sido feitos por mim também. No final, eu não precisava mais carregar a ideia de ser somente um fardo, ou, um passatempo que nem mesmo era divertido. Não precisava mais fingir que Lisanna nunca existiu entre nós, isso se alguma vez existiu “nós”. Pois haviam sido três anos, e mesmo no primeiro ano, no fundo eu já sabia que eu não era mais a primeira. Eu sempre fui a segunda.

Agora era só eu e a pequena vida que eu carregava, isso já era o suficiente. Uma pequena vida que só eu, e agora Makarov, tinha o conhecimento. Resultado da única noite que eu queria esquecer que havia existido, como ele já havia o feito mesmo inconscientemente. “Mas, eu iria ser mãe, passar por todo aquele pesadelo valeu a pena.” Talvez eu devesse pensar assim, mas sendo sincera, eu não conseguia.

Eu não tinha mais pai, mãe, amor, guilda e meus amigos eu mesma abandonei pela covardia de enfrentar toda humilhação, pelo medo. Porque eu, melhor que qualquer pessoa, sabia que mesmo depois de tudo, se ele soubesse disso me impediria de ir para longe, e isso eu não aguentaria.

Era difícil encarar o meu reflexo na janela ao meu lado, mesmo sabendo o que veria. Eu veria o meu cabelo quase nos ombros que ele insistiu para que eu cortasse, minha face toda borrada e meu vestido sujo pela neve lamacenta. Era deprimente.

— Virgo – a invoquei.

Eu não precisava nem ao menos pegar mais nas chaves para fazer uma invocação. Treino havia se tornado a segunda coisa mais frequente na minha vida. Abrir dois portões ao mesmo tempo nem me deixava mais cansada.

— Hime – falou Virgo se prostrando.

Ela sabia que eu não gostava disso, mas mesmo assim fazia questão de se prostrar.

— Virgo, você poderia me ajudar?

— Lógico, Hime-sama!

— Por favor, procure roupas normais para mim. Não precisam ser do mundo espiritual, só traga algumas normais. Quando eu pisar fora desse trem não quero que ninguém me reconheça. Por favor, faça isso.

Era incrível como eu não conseguia encará-la. Eu sentia tanta vergonha que nem na frente dos meus espíritos eu conseguia contê-la.

— Lucy. – ela me chamou pelo nome.

A surpresa me tomou e eu a olhei. Ela havia se agachado ao lado do meu assento olhando para mim. Nunca havia a visto tão séria. Seus olhos transbordavam a mais pura e densa compaixão. Eu sabia que eles virão o que aconteceu, eu os carregava para todo lugar. Eles sabiam de quase toda minha vida.

— Levante a cabeça. Você é muito jovem para isso e sua alma é tão linda! Sempre virão baixos e nesses momentos levante, mesmo que você esteja partida no meio. Isso significa ser humano. Se desmoronar erga tudo de novo. Então, carregue isso com os seus ossos ou cubra tudo debaixo da sua pele para que seja só mais uma memória de um passado distante. Recomece.

E minhas lágrimas caiam enquanto eu não possuía nenhuma expressão no rosto. Elas só... Caiam, escorregavam. Eu sempre acreditei em Deus. Acreditava que eu poderia consertar qualquer coisa se eu possuísse fé, mas até mesmo ela não parecia mais ser o suficiente. Não era suficiente! Nem saber como obtê-la de novo eu sabia.

— Eu nem sei como recolher os cacos ainda, Virgo. Eles são tão pequenos e tudo está tão confuso. Eu não consigo mais pensar no que fazer, eu não sei o que fazer.

— Largue-os. – disse simplesmente.

E meu olhar se prendeu no dela num dopor somente meu. Era como se a minha mente estivesse anestesiada.

— Não é tão simples. – falei em um pequeno riso.

— Sim. É.

— Você não pode me entender Virgo.

— Não. Não posso. Eu não consigo medir a sua dor Lucy, eu não posso lhe ajudar do jeito que você precisa. Só você pode mudar isso. Renasça Hime.

 

 

Um inverno vem

Um inverno esmaga tudo

Eu já ouvi coisas que

Uma vez eu amei

 

O inverno vem

O inverno esmaga tudo

Eu já ouvi coisas que

Uma vez tive


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Notas finais do capítulo

Enfim gente, vamos as explicações. Eu desmotivei.
Na verdade, eu não estava mais conseguindo escrever. Simplesmente nada mais na história estava me agradando. Eu estava decepcionada com o que eu estava escrevendo ao mesmo tempo em que decepcionava vocês pela espera.
Então eu decidi reescrever tudo novamente. E tantas coisas aconteceram nesse meio tempo, tantas que eu nem teria como contar por aqui. O que eu posso falar foi que eu adoeci de uma forma terrível e permaneci assim por bastante tempo.
Mas antes disso eu já havia prometido que eu não iria abandonar Rebirth, não disse? Demorou, mas foi essa promessa que me deu forças para postar novamente. E espero do fundo do meu coração que vocês gostem do resultado.
Beijos e até mais!



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