Operação Jardim Secreto escrita por Lura


Capítulo 19
Tudo o que Resta


Notas iniciais do capítulo

Uau, quando eu penso que nunca demorei tanto para atualizar, consigo atrasar ainda mais!

Lamento, de verdade.

Mas aqui estamos, com mais um capítulo.

Ainda estamos na preparação para o fim da história, mas espero que gostem. O ritmo é mais calmo, mas contém informações importantes.

Como não poderia deixar de ser, agradeço a todos que leram, comentaram, favoritaram a fic! Vocês me fazem feliz a cada postagem.

É isso, espero que curtam. Nos vemos lá em baixo (nas notas finais, é claro).



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Adrien não precisava ter visto a expressão de desagrado no rosto de seu pai para ter uma ideia da razão pela qual tinha sido chamado.

No passado, costumava ficar exultante quando Gabriel lhe dispensava algum tempo de sua agenda ocupada. Todavia, desde o desaparecimento de sua mãe, Emilie Agreste, tais momentos se tornaram escassos, sendo que, no geral, as poucas vezes que o designer de moda se preocupava em estar em sua presença, eram dedicadas a lhe repreender por algo que não tinha lhe agradado ou acrescentar compromissos em sua apertada agenda de modelo.

E dado os últimos acontecimentos, não precisava realmente que Nathalie explicitasse a razão da irritação de seu pai. Adrien sabia que, cedo ou tarde, ele tomaria conhecimento de toda a polêmica envolvendo o festival escolar e suas escapadas para visitar o Jardin D’eau com Marinette. Ainda assim, permaneceu calado enquanto a assistente exibia no tablet imagens da conversa “vazada”, assim como fotografias em que aparecia com a colega de sala e o Sr. Chevalier, cuidando ou passeando  pelo jardim.

— Primeiro você se envolve num episódio de bullying contra uma colega de classe. - Após a breve exibição, Gabriel iniciou seu discurso, a voz austera reverberando pelo escritório fechado. - Depois, você foge do seu segurança para encontrar essa mesma garota. - Continuou. - É bom que tenha uma ótima explicação, pois não estou satisfeito com os comentários que os jornalistas têm feito a seu respeito, Adrien. - Afirmou, sem alterar sua postura rígida.

O loiro inspirou fundo. Estava acostumado a se encolher ante o pai, mas desde que tornara-se Chat Noir, aprendeu, aos poucos, a manter uma postura mais confiante, ainda que no fim das contas não fizesse muita diferença.

Ao menos era bom para sua dignidade.

— Primeiro - Começou com firmeza -, eu não me envolvi em episódio de bullying nenhum. - Garantiu. - A história toda foi uma armação, tanto para mim quanto para Marinette. Aproveitaram-se que estávamos participando de uma peça de teatro e divulgaram uma conversa identificada com os codinomes dos personagens, apenas para forjar nosso envolvimento. - Concluiu.

Gabriel ergueu uma das sobrancelhas, demonstrando que não havia engolido a história. Todavia, o adolescente não vacilou. Não era uma verdade completa, mas não havia necessidade de entregar a versão verdadeira, uma vez que muitas outras surgiram com a divulgação online. Isso só serviria para expor Marinette.

— E segundo - Continuou. -, Marinette e eu visitamos o jardim antes de tudo isso acontecer. Ela estava procurando algo para inspirar nosso projeto no festival e eu a acompanhei. Foi quando conhecemos o Jardin D’eau e o Sr. Chevalier. - Novamente, distorceu a verdade, dessa vez para encobrir que encontrou Marinette ao acaso após Chat Noite lutar contra Chaotic, um dos akumas de Hawkmoth. Teria que pedir a mestiça para confirmar sua história, caso fosse necessário.

— Essa não é a mesma garota que te ajudou a fugir há algum tempo atrás? - O designer perguntou, tendo sua pergunta respondida quando Nathalie exibiu no tablet Fotos de Adrien e Marinette juntos em uma fonte vazia, no  metrô e sob os bancos do cinema. - Qual o seu relacionamento com essa menina, Adrien? - Questionou.

Ok, agora ele havia congelado.

Se aquela pergunta fosse feita duas semanas antes, Adrien responderia sem pestanejar que Marinette e ele não passavam de amigos. Mas como entregar essa resposta ante todas as desconfianças que rondavam sua cabeça?

— Somos amigos. - Respondeu ainda assim.

Gabriel lhe olhou de forma incrédula, por alguns segundos.

— As coisas eram mais simples quando você não ia à escola. - Declarou o designer, fazendo com que o estômago do modelo congelasse. - Não havia amigos, não havia complicações, não precisávamos pisar em ovos com uma legião de fãs enciumadas. - Discursou. - Agora, além de tudo que citei, ainda temos que lidar com uma garota que está sendo virtualmente massacrada. - Despejou.

— Marinette não tem culpa do que está acontecendo. - Defendeu o loiro.

— Aparentemente não. - Respondeu. - Mas já parou para pensar o escândalo que seria se os pais dela entrassem com uma ação de indenização contra nós? - Indagou. - E além de tudo, ainda tem essa história de recuperação do maldito jardim. - Completou.

Novamente, o adolescente enrijeceu. Estava imaginando quando a conversa chegaria àquele tópico.

— Suponho que saiba que os agentes daquele cantor… - Começou, reticente, a memória falhando.

— Jagged Stone. - Nathalie o lembrou.

— ...entraram em contato, solicitando a sua participação em uma peça de teatro que será encenada em um festival que estão promovendo para preservar o tal jardim. - Prosseguiu, como se não tivesse sido interrompido.

— Desde que eles apresentaram para Marinette a ideia da peça, eu imaginei que isso aconteceria. - Admitiu o modelo.

— Não muito depois, André Bourgeois me telefonou e expressou aos berros a sua indignação pelo meu filho estar participando de um movimento que vai contra os projetos da prefeitura. - O designer continuou.

— Na verdade, eu não estou participando de nada ainda. - Esclareceu Adrien, embora isso não fosse uma verdade completa. Afinal, Chat Noir estava a frente dos trabalhos para salvar o jardim. - Ladybug e Chat Noir divulgaram a campanha de preservação do jardim no mesmo blog em que divulgamos a peça da escola. Foi a semelhança do tema que levou os internautas ao equívoco de acreditar que a nossa peça também faz parte da campanha, e promoverem o movimento com o nome dela. - Explanou. - Mas isso não faz o menor sentido. - Declarou. - Chloé também participou da peça, algo que o pai dela não permitiria se fosse parte do projeto de preservação. - Concluiu.

Embora as expressões de Gabriel e Nathalie tivessem se mantido inalteradas, Adrien sabia que tinha um ponto. Todavia, sabia também que eles continuavam insatisfeitos com a situação.

— Isso não melhora sua situação perante a mídia. - Continuou o designer, após alguns minutos de silêncio. - Ainda que esclareçamos a situação, será apenas mais uma versão entre muitas. As pessoas acreditarão no que quiserem e as suas fotos com a garota e o tal senhor que cuida do jardim não ajudam, se quer saber. - Afirmou. - Apenas mais um dos resultados de suas ações inconsequentes. - Emendou, retirando os óculos.

Adrien suspirou, resignado. Não duvidava que, se a situação fosse menos complicada, seu pai emitiria uma nota de esclarecimento e, quem sabe, apoiaria o prefeito em sua decisão. Todavia, enquanto Marinette vinha sendo odiada pelas garotas de sua idade, a mídia adulta tinha um prato cheio para denegrir a sua imagem por estar envolvido em um episódio de bullying. Assim, ele precisava desenvolver atividades que despertassem a simpatia da população, não o contrário.

Sabia que seu pai chegara à mesma conclusão com a conversa mas, pela primeira vez, tinha a impressão que ele não sabia ao certo como agir.

— Eu preciso pensar sobre o assunto. Até que eu tome uma decisão, você está proibido de frequentar o jardim. -  Sentenciou o designer.

— Sim senhor. - Concordou o loiro, desaminado.

— Pode se retirar. - Gabriel falou, recolocando os óculos.

Assim como determinado, Adrien preparou-se para deixar o escritório, dirigindo-se à porta. Contudo, mesmo que não tivesse esperanças de influenciar a decisão de seu pai, parou sob a soleira, graças ao último pensamento que lhe ocorrera.

— Eu sei que preciso restaurar a minha imagem perante a mídia, e sei que apoiar o projeto de preservação do jardim seria uma boa maneira. - Declarou, com firmeza. - Assim como sei que a ideia não lhe agrada. - Continuou. - Eu apenas peço que pense no assunto, pai. - Pediu. - Ou que, ao menos, não apoie a decisão do prefeito. - Complementou.

Gabriel apenas arqueou uma das sobrancelhas, em claro desagrado para com a atitude ousada do filho. Mas o loiro não se intimidou.

— O jardim é tudo o Sr. Chevalier tem. - Continuou. - Tudo o que resta de lembrança da esposa e do filho que ele perdeu. - Explicou. - Eu sei como é isso. O senhor deve saber também. - Concluiu, deixando para trás o designer e a assistente, de expressões inalteradas, mas pensamentos cheios.

 

 

— Eu ainda não entendo como o Jagged conseguiu a autorização da prefeitura para realizar o festival na rua do jardim. - Alya cochichou para Marinette,  sem deixar de prestar atenção aos assuntos discutidos na reunião a sua volta. Seu talento jornalístico lhe dava uma habilidade incrível de se concentrar em várias coisas ao mesmo tempo

— Ele disse  que apenas pediu permissão para fazer o show. Parece que o prefeito nem se preocupou em ler o requerimento e já saiu assinando, só por saber que era do Jagged. - Marinette sussurrou de volta.

— Imagino a reação dele quando descobriu o verdadeiro propósito do festival. - Divagou a blogueira.

— Eu não gostaria de estar perto para ver. - Declamou a mestiça. - De qualquer forma, o que eu não entendo é o pai do Adrien ter deixado ele participar do teatro. - Emendou, jogando a cabeça sobre o encosto da cadeira onde estava acomodada. - Com toda amizade dele com o prefeito, e tal.

Alya perscrutou a sala, antes de responder. Os demais presentes pareciam não notar que uma conversa paralela acontecia ali.

— É uma jogada de marketing, amiga. - Comentou. - Não é realmente estranho, se pararmos para pensar. Isso vai desmentir o envolvimento dele com o episódio de bullying e ainda promover a sua imagem por participar de uma ação social. - Emendou, com desdém.

Ainda assim, Marinette não sabia ao certo como reagir a notícia. Fosse meses atrás, estaria exultante com mais uma oportunidade de passar mais algum tempo com o loiro, já que os momentos dele  com os amigos eram tão escassos.

Entretanto, na atual situação, tinha certeza que presença dele pioraria o quadro de bullying que vinha sofrendo.

— Resolvido o problema com o Adrien, ainda temos que decidir o que faremos quanto aos demais personagens faltantes. - Srta. Bustier lembrou.

A mestiça levantou a cabeça do encosto e encarou a professora, que estava acomodada no assento à sua frente, do outro lado da grande mesa oval. Sentia-se aliviada que ela tivesse concordado em auxiliar no projeto, principalmente em relação a negociação da participação dos adolescentes com os pais.

Infelizmente, não podiam usar o espaço da escola para ensaiar, ou envolvê-la no projeto, já que todas as instituições ligadas ao município foram proibidas pelo prefeito de apoiar a preservação do jardim. A própria educadora estava arriscando seu cargo apenas por estar ali.

Tanto que, naquela tarde, tiveram que se reunir em uma das salas de conferências do hotel em que Jagged Stone estava hospedado, que pela primeira vez, não era o Le Grand Paris, pertencente ao prefeito, por motivos óbvios.

— Certo, nós  precisamos de pessoas para interpretar o leão, a sereia e, o mais importante, a Princesa Girassol. - Enumerou Mylène, que comparecera acompanhada de seu pai e mais alguns integrantes da companhia de teatro em que ele trabalhava, que se voluntariaram no projeto. - É isso Nathaniel? - Perguntou para o amigo ruivo, que seguiria na adaptação do roteiro, auxiliado por profissionais. Afinal, a equipe que assumira a produção do festival insistiu em manter a essência amadoras da peça.

— Sim. - Confirmou o desenhista, de forma tímida.

— O que aconteceu com os antigos atores? - Questionou o pai de Mylène, alternando o olhar entre os adolescentes presentes.

— Chloé, que interpretava a terceira princesa, quebrou o pé durante o ataque do Ceifeiro. - Respondeu Srta. Bustier. - Está em recuperação e não tem previsão de retorno às aulas ainda. Mas ainda que tivesse, sendo filha do prefeito, dificilmente poderíamos contar com sua participação. - Completou.

— Eu diria “de jeito nenhum”. - Pontuou Alya.

— Os outros alunos possuem familiares que trabalham para o município, ou praticam esportes patrocinados pela prefeitura. - Continuou, referindo-se à Sabrina e Kim.

— Nós temos atores o suficiente para suprir a falta? - A diretora da companhia indagou.

— Acredito que sim, pois parte dos alunos integraram a staff no festival escolar. - Contou Marinette. - Dessa vez teremos profissionais trabalhando, então os participantes podem ficar inteiramente por conta da atuação. - Concluiu.

— O que nos leva a questão: - Mylène retomou a fala - Quais serão os substitutos?

Um breve silêncio recaiu sobre o local.

— Bem, essa decisão só pode ser tomada pelos envolvidos originalmente no projeto, penso eu. - Jagged manifestou-se pela primeira vez. - Nós atuaremos apenas como suporte, providenciando todo o necessário para adaptar o teatro ao novo cenário. - Lembrou.

Mais alguns segundos silenciosos seguiram, até que o rosto da blogueira se iluminou com uma ideia.

— Por que a Mari não interpreta a Princesa Girassol? - Sugeriu Alya.

Marinette sentiu o coração pulsar mais forte com aquela ideia. Ela, atuar como protagonista ao lado de Adrien? Poderia ser um sonho, se não estivesse sendo alvo de constantes abusos, o que certamente transformaria tudo em um pesadelo.

— Não é uma boa ideia Alya. - Contestou, sentindo uma pontada de revolta por ter que recusar algo que realmente desejava. - Você sabe que minha popularidade não está lá essas coisas para interpretar uma princesa. - Lembrou.

— Mas você vai participar de todo modo. - Retrucou a blogueira.

— Como bruxa. - A mestiça afirmou. - Muitos acham que é onde eu deveria estar, então a popularidade da peça não seria tão afetada. - Explicou. - Além do mais, eu já tenho uma noção das falas. Se eu saísse do papel, apenas teríamos o trabalho de adaptar mais uma pessoa a um papel novo. - Concluiu.

Algumas frases de concordância sucederam suas palavras.

— Então, quem será a princesa? - Alya perguntou, a contragosto.

— Bom, ainda podemos analisar as possibilidades, mas eu pensei que Rose seria uma boa candidata ao papel. - Sugeriu a adolescente de cabelos negro-azulados. - Até porque, as características físicas dela batem com as da Chloé: Loira, olhos azuis… - Enumerou. - Assim não ficará diferente da história em quadrinhos que o Nathaniel desenhou. - Completou.

Novamente, murmúrios de concordância apoiaram sua fala.

As discussões sobre a troca dos intérpretes seguiu por um tempo, sendo cotados outros nomes para desempenhar os papéis que estavam sobrando e ajustados outros assuntos referentes a nova ambientação. E quando o grupo acreditou que tivessem vencido essa parte, um pigarro irritado chamou-a atenção de todos:

— Acho que estamos esquecendo do elefante na sala. - A diretora da companhia de teatro falou, atraindo olhares de dúvida.

— Jagged também tem um elefante? - O Sr. Haprèle cochichou para a filha, um tanto admirado. - Pensei que fosse só um jacaré. - Completou, fitando o réptil que descansava em um divã, no outro lado da sala.

Mylène deu um tapa na própria testa.

— Não acho que seja isso que sua chefe quis dizer. - Cochichou de volta.

— Não mesmo. - A mulher loira de óculos de grau confirmou, uma vez que estava perto o suficiente para entender a conversa, fazendo com que pai e filha sobressaltassem, constrangidos. O grupo permanecia alheio.

— Ainda temos problemas pendentes na adaptação ? - Penny questionou.

— O maior deles, na minha opinião, mas ninguém o tratou como obstáculo até agora. - Respondeu.

— Que seria? - Jagged incentivou.

— A interatividade da peça. - Revelou. - Eu entendo que esse ponto era o diferencial do projeto original, e foi executado com sucesso em razão do público limitado. - Esclareceu. - Mas não vejo como pode dar certo em um evento de grande escala. - Continuou. - Penso que devemos adaptar a história em uma peça comum. - Sugeriu por fim.

— Eu tinha minhas dúvidas quanto à manter a interatividade da peça, mas imaginei que pudéssemos pensar em algo. - Comentou o Sr. Haprèle.

— Eu não acho que transformar a história em uma peça tradicional terá um efeito positivo no público. - Alertou Alya. - Desde que os rumores quanto ao festival em prol do jardim se espalharam, uma das perguntas que mais temos recebido no Ladyblog e no site da escola é se vamos apresentar a peça de novo e se o público poderá mesmo decidir como a peça caminha.

— Bom, a verdade é que na peça original, apenas a escolha da princesa era decidida por votação. - Lembrou Marinette. - Não a peça inteira.

— Mas pelo visto a galera está encarando isso como um jogo RPG. - Continuou Alya. - Talvez porque filmes e séries interativas estejam atraindo bastante atenção hoje em dia. - Pontuou.

O grupo refletiu em silêncio, por alguns segundos, cada qual tentando imaginar uma solução para o impasse em que estavam.

— Se tirarmos a singularidade da peça, pode ser que ela seja uma decepção. - Ponderou Jagged. - Não poderíamos adicionar mais pontos em que o público pode opinar?

A maior parte dos presentes franziu o cenho. A diretora meneou a cabeça, em descrença.

— Estamos cogitando retirar do público a faculdade de escolher o final da peça e você quer dar a eles o poder de decidir a peça inteira? - Indagou, incrédula.

— Bom, se for para o sucesso do festival, sim. - Desafiou o cantor.

— Não há como isso dar certo! - Exasperou-se a mulher. - Se a peça ao menos fosse realizada em um teatro fechado, mas estamos falando de um lugar aberto, com centenas, possivelmente milhares, de pessoas gritando. E se as opiniões ficarem divididas e não conseguirmos discernir? E se a divergência de opinião causar confusão entre o público?

— Ela tem um ponto nessa. - Admitiu Alya.

— Nesse caso, a gente arranja outra maneira de contabilizar os votos. - O astro do rock sugeriu, indiferente.

— Por favor, nos diga qual!? - Pediu a diretora.

— Um aplicativo para celular. - Quem respondeu foi Max, pronunciando-se pela primeira vez desde o início da reunião. Como havia comparecido na reunião apenas para auxiliar na construção do site oficial do festival, não achou que realmente chegaria a fazer o uso da palavra. Entretanto, ali estava ele. - Podemos desenvolver um aplicativo móvel e disponibilizar a informação no site oficial do evento. - Declarou. - Assim, se mais cenas interativas fossem adicionadas, elas poderiam seriam votadas e contabilizadas de maneira quase instantânea, e passadas à equipe. - Explanou. - Os atores poderiam ser informados sobre a decisão do público por um ponto eletrônico, e assim a peça seguiria normalmente. - Concluiu.

O garoto estava tão empenhado em seu discurso didático que, apenas após o término, deu-se conta dos olhares impressionados direcionados a si.

— É claro que estou falando da viabilidade apenas da parte técnica. - Justificou. - Não estou garantindo o sucesso em manter a interatividade da peça, ou na adaptação dos atores. - Asseverou.

— Olha, eu achei a ideia demais. - Elogiou Jagged. - Podemos trabalhar a partir daí.

A diretora suspirou, resignada.

— Precisamos começar os ensaios o quanto antes. Quanto tempo até o desenvolvimento do aplicativo? - Indagou.

— Se eu tiver o auxílio de uma equipe profissional, não muito na verdade. - Concluiu Max. - Se não houvesse pressa, Markovi e eu seríamos o suficiente, mas precisamos de agilidade e qualidade, fatores que não costumam caminhar no mesmo sentido. Então a solução é aumentar a mão de obra. - Explicou.

— Certo. - Decidiu Jagged. - Penny, por favor, providencie o aumento da equipe de tecnologia. - Pediu, enquanto a assistente anotava de imediato. - Com isso, acredito que até amanhã teremos uma resposta e poderemos montar um cronograma. Avisou.

— Sendo assim, no momento, só nos resta discutir os figurinos. - Comentou a assistente do cantor.

— A Marinette já fez os figurinos. - Alya, novamente, tomou a dianteira, crente que sua opinião tinha o mesmo peso de qualquer dos profissionais presentes. - Não há o que discutir. - Declarou, incisiva.

— Na verdade - Penny manifestou-se novamente. - Gabriel Agreste ofereceu-se para criar figurinos originais, como forma de contribuição com o projeto. - Comunicou. - Também Sugeriu que após o festival, leiloemos os figurinos na internet, para arrecadar fundos para a reforma. - Emendou.

— Como? - A blogueira perguntou, indignada. - Isso não é justo com a Mari! - Exclamou.

— Alya… - Srta. Bustier e Marinette disseram juntas, tentando aplacar a revolta da aspirante a jornalista.

— Não podemos simplesmente recusar uma oferta de Gabriel Agreste. - A diretora da companhia afirmou.

— Isso com certeza expandiria a divulgação do festival a outros nichos profissionais. - Ponderou Penny.

— Mas a Mari se esforçou tanto nessas roupas… - Tentou Alya.

— Não é sobre mim, Alya. - A mestiça Lembrou. - É sobre salvar o jardim. - Continuou. - E para salvar o jardim, não há dúvidas que aceitar a oferta do Sr. Agreste é o melhor. - Afirmou, ainda que estivesse um pouco chateada por ter seus modelos substituídos. - Minhas roupas era adaptadas, de qualquer forma. Isso poderia gerar problemas.

— Então posso confirmar que aceitamos a oferta? - A assistente de cabelos rosas Indagou.

— Ainda não. - Jagged tornou a falar. - Eu quero conversar com esse cara antes. - Alegou. - Também não acho justo com a minha garota que seu trabalho seja simplesmente substituído, após tanto esforço. - Completou, piscando de forma marota para a adolescente, que sorriu agradecida.

Entre declarações de apoio e discordância, a reunião seguiu, com a adolescente sino-franca suspirando a cada minuto. Sabia que os preparativos iniciais estavam longe de serem encerrados e imaginava todo o trabalho que teriam dali em diante, em relação aos ensaios e a organização do festival.

Contudo, repetia para si mesma que tudo valeria a pena, se tivessem ao menos uma chance, por menor que fosse, de salvar o Jardin D’eau e, consequentemente, as memórias do Sr. Chevalier.

 

...

 

— Vocês não têm mesmo nada melhor para fazer em um sábado à tarde? - Armand Chevalier resmungou, enquanto o trio se aproximava.

— E o senhor tem mesmo que reclamar todas as vezes que chegamos aqui? -  Devolveu Marinette, atraindo olhares engraçados da Srta. Bustier e de Adrien, que caminhavam ao seu lado. Ainda estavam se acostumando com a versão atrevida da garota.

O jardineiro estreitou os olhos.

— Encerramos os ensaios de hoje. - Caline contou. - Eu disse que passaria aqui para visitá-lo e os dois pediram para vir junto. - Explicou. - Mas eu acho que viriam de qualquer maneira. - Completou.

— Esses dois pirralhos não largam mais do meu pé. - Reclamou o velho. - Embora este aqui tenha sumido por um tempo. - Divagou, encarando Adrien.

— Meu pai meio que tinha me proibido de vir aqui, mas liberou algumas visitas depois que me autorizou participar da peça. - Justificou, resumidamente. Em suas visitas anteriores, tinha comentado com o jardineiro o difícil relacionamento que tinha com o pai, especialmente durante as partidas de xadrez que disputaram.

— Como vão os preparativos da peça? - Indagou Sr. Chevalier, propositalmente desviando o assunto. Sabia que o pai era um tópico incômodo para o loiro.

— Tudo bem, eu acho. - Respondeu o modelo, retirando o casaco e jogando em uma mesinha de concreto próxima, estranhamente intacta. - Não somos profissionais nem nada, mas acho que estamos progredindo bem, já que a diretora tem gritado menos conosco. - Contou.

— E eu que achava que tinha me cansado durante o festival escolar. - Comentou a asiática. - Atuar de verdade é realmente cansativo. - Emendou.

— É você ainda está cuidando dos figurinos, não está? - Perguntou Sr. Chevalier. - Não acha que já tem demais em seu prato? Devia aproveitar os momentos vagos para descansar. - Aconselhou.

— Nisso eu tenho que concordar. - Caline concordou.

— Eu estou bem. - A adolescente respondeu, impaciente. - Eu só trabalhei com o Sr. Agreste nos desenhos dos modelos. A confecção está ficando por conta da empresa. - Continuou. - Estou acompanhando a produção mais pelo aprendizado. Foi muito legal da parte dele aceitar que criássemos os figurinos em coautoria. - Concluiu.

— Foi justo. - Adrien opinou. - Afinal, você trabalhou nos figurinos desde o começo.

— É isso manteve a essência da peça como uma produção feita por adolescentes. - Completou a professora. - Estou tão orgulhosa de ver meus alunos trabalhando junto com profissionais! - Expressou, animada.

O jardineiro sorriu com a empolgação da jovem educadora.

— Eu espero que tudo dê certo para vocês. - Declarou seu desejo genuíno.

— Para nós! - Exclamou Marinette. - Nós definitivamente vamos salvar o jardim! - Garantiu.

O sorriso do velho se alargou.

— Sua confiança é admirável garota. - Comentou. - Bom, eu ainda estou curioso para ver como ficará essa peça interativa na prática. - Desviou novamente o assunto.

— Nós já lhe explicamos sobre o aplicativo. Podemos baixar no seu celular quando a versão de testes ficar pronta, assim o senhor também poderá participar. - Propôs o loiro.

— Claro. - Concordou. - Eu não perderia a oportunidade de decidir o que o seu personagem pomposo fará durante a peça. - O velho debochou.

— Ha, ha! - O adolescente simulou uma risada sem humor, acompanhando a gargalhada dos demais.

Ainda sob as risadas e brincadeiras direcionadas ao modelo, o trio recém chegado se organizou e tomou as  algumas ferramentas, insistindo para que Sr. Chevalier os orientasse no que poderiam ajudar - sob os protestos deste, é claro.

Após muito reclamar, ele finalmente decidiu que Srta. Bustier poderia lhe ajudar fertilizando alguns canteiros, enquanto Adrien e Marinette regariam outras áreas do jardim (segundo ele, água na mão dos adolescentes não seria tão nocivo às suas plantas como fertilizantes).

Por volta de uma hora e meia de trabalho, os garotos decidiram que haviam ficado em pé por tempo demais e mereciam uma pausa para o lanche.

Antes que o jardineiro pudesse reclamar, a dupla já estava correndo em direção a sua casa, com Srta. Bustier em seu encalço, que se voluntariou a acompanhá-los para que não colocassem fogo na cozinha.

O trio discutiu o que poderia fazer com os ingredientes à disposição rapidamente, dividindo as tarefas. O clima enquanto se esforçavam era tão agradável quanto aquele que mantinham quando ajudavam no jardim, sendo que, a todo tempo, conversavam, na maioria das vezes caçoando de Adrien por ser inexperiente na cozinha e ter que se limitar a preparar o suco e o chá, enquanto Marinette preparava a massa de bolinhos de chuva e a professora os fritava.

— Acho que é o suficiente. - Caline declarou, quando despejou os últimos bolinhos polvilhados com açúcar e canela, dentro de uma tigela. - Tudo certo aí, Adrien? - Brincou.

O loiro armou um bico por um momento.

— Eu sei fazer chá, ok? - Reclamou. - Só não estou encontrando o jogo de xícaras… - Acrescentou.

O grupo procurou os utensílios juntos por um momento, contudo, poucas peças do jogo foram encontradas, sendo insuficientes para servir a todos.

— Podem estar na sala ou na biblioteca. - A professora ponderou. - Vou dar uma olhada. - Decidiu.

— Eu ajudo a trazer. - Marinette ofereceu-se.

As duas deixaram a cozinha em direção a sala, onde encontraram poucas peças, as quais recolheram, seguindo em direção à biblioteca, finalmente localizando os itens faltantes, na mesa de centro.

Marinette passou a empilhar as porcelanas sobre a bandeja metálica que também se encontrava ali, quando se deu conta que Srta. Bustier não ajudava, pois segurava um dos vários porta-retratos espalhados pelo local.

Intrigada, a adolescente aproximou-se, percebendo que a professora contemplava uma das fotos do pequeno Antoine, especificamente, aquela em que estava abraçado ao amiguinho moreno e banguela, em frente ao chafariz do Jardin D’eau.

— A Srta. conhecia Antoine? - Curiosa, arriscou-se a perguntar.

A professora desviou os olhos da fotografia e mirou a aluna, antes de responder:

— Não. Mas ouvi muitas histórias sobre ele. - E voltou a fitar o retrato.

A garota Perguntou-se mentalmente de quem ela tinha ouvido as histórias, pois o Sr. Chevalier não era do tipo que falava muito e, pelo que sabia, Srta. Bustier o conhecera através de seu ex-noivo, Maurice, então não tinham uma relação tão longa assim.

Foi quando ela reparou que a educadora parecia não observar especificamente a figura loira de Antoine, mas o coleguinha que estava ao seu lado.

Algo “clicou” na mente de Marinette, fazendo com que ela tirasse as próprias conclusões, mas antes que pudesse perguntar sobre, um grito fez com que sobressaltasse.

— O que você está fazendo aqui? - Ambas viraram para encarar Maurice, que encontrava-se parado sob a soleira da porta que separava a sala da biblioteca. O rosto, geralmente galante e provocador, apenas demonstrava raiva intensa em direção a Srta. Bustier.

Alguns segundos tensos passaram, os quais permitiram que Adrien chegasse a biblioteca para conferir o que estava acontecendo. Entretanto, o loiro estagnou atrás de Maurice, sentindo o clima do ambiente e deduzindo que o encontro dos ex-noivos causara a tensão.

— Oi Maurice! - Marinette, despertando da própria inércia de constrangimento, tentou quebrar a tensão. - Essa é nossa professora, Srta. Bustier, que está nos ajudando a…

— Eu sei muito bem quem ela é. - Interrompeu. - O que quero saber é o que ela faz aqui. - Completou, praticamente rosnando.

Caline Bustier, que até então mantinha o semblante pálido e os olhos arregalados, repentinamente, sentiu o rosto corar de irritação.

— Você saberia se tivesse deixado Marinette terminar de falar. - Declarou, contendo a própria raiva.

— Não acha que fez estragos o bastante? - Continuou Maurice.

A mulher ruiva fechou os olhos turquesa e inspirou longamente, expirando de forma calma em seguida. Só então, abriu os olhos para encarar novamente o ex-noivo.

— Maurice, por favor - Pediu - não quero discutir com você na frente dos meus alunos.

— Devia ter pensado nisso antes de usá-los para vir até aqui! - Retrucou o homem.

Adrien e Marinette apenas olhavam de um para o outro, sem saber se deviam sair dali ou permanecer parados, como estavam.

— Você é mesmo doente se pensa que eu uso meus alunos como desculpa para qualquer coisa. - Respondeu a educadora.

— Seus alunos sempre foram a desculpa de tudo que você fez ou deixou de fazer na vida. - Devolveu o homem.

— Eu não vou ficar aqui ouvindo isso! - Decidiu a jovem professora, recolocando o porta-retrato em seu lugar.

O gesto não passou despercebido por Maurice, que olhou da fotografia para a mulher e sentiu a própria irritação aumentar.

— O que você disse para eles? - Questionou, o timbre se tornando mais irritado a cada palavra.

Caline piscou aturdida.

— O que eu disse? - Repetiu, confusa.

— Não se faça de desentendida! - Exclamou o homem. - Você não tinha o direito de contar a eles! - Esbravejou. - Isso não tem nada a ver com você, para começo de conversa.

Adrien e Marinette ficavam apenas mais atarantados, a cada segundo, sem entender o rumo que a discussão estava tomando.

— Como assim, eu não… - A educadora Continuou, seguindo o olhar de Maurice até a fotografia. Só então, entendeu a reação explosiva que teve. - Eu não disse nada, se quer saber. - Declarou, por fim. - Seus problemas são seus, e eu não pretendo mais me meter neles, uma vez que não somos mais nada um do outro. - Emendou, caminhando em direção a saída. - Mas se quer um último conselho - Recomeçou, parando para olhar para trás. - Vá a um psicólogo. Eu sei que já disse isso antes e, talvez, se tivesse me escutado, não estaria histérico assim. - Concluiu.

Os dois alunos observaram atônitos a professora sempre tão doce, mais uma vez, respirar profundamente antes de abrir um sorriso envergonhado.

— Adrien, Marinette. - Chamou. - Eu sinto muito que tenham presenciado isso. - Desculpou-se. - Eu estou indo agora. Vocês vêm comigo? - Perguntou.

Os adolescentes se entreolharam.

— Eu vou ajudar o Sr. Chevalier no jardim um pouco mais. - Decidiu a mestiça, embora não soubesse se estava fazendo a escolha certa, devido à tensão que ficará no local.

— Eu também. - O loiro manifestou-se.

— Certo. - Srta. Bustier concordou. - Me liguem se precisarem que eu os busque.

— Não precisa se preocupar, professora. - O modelo garantiu. - Meu motorista pode levar a gente.

Lançando um último sorriso à dupla jovem, Caline Bustier retirou-se, sem lançar sequer um olhar mais em direção a Maurice.

Os dois adolescentes se remexeram incomodados, cada um indagando para si próprio se poderiam escapar dali em silêncio ou se deveriam dizer alguma coisa.

— Ela não contou mesmo nada a vocês? - A pergunta de Maurice os pegou de surpresa. O homem se apoiava com ambas as mãos na lareira, mantendo o torso inclinado para frente e a cabeça baixa.

Novamente, os garotos se entreolharam.

— Eu não tenho ideia do que estavam falando. - Adrien garantiu.

Marinette já tinha tirado suas conclusões, mas manteve essa informação para si. Ninguém mais precisava saber, se Maurice desejava assim.

— Eu era amigo dele. - Ou talvez não desejasse.

Ambos os garotos fitaram o homem, aguardando as próximas palavras que sabiam que viriam.

— Eu era amigo de Antoine. - Afirmou, tomando em mãos o mesmo porta-retrato que Srta. Bustier segurara antes.

— Está foi a nossa última foto. - Afirmou. - A última foto antes de… Bem, eu não sei até onde vocês sabem. - Emendou.

Marinette tornou a estudar a fotografia, mesmo de longe. Dessa vez, especialmente, se ateve a expressão da criança banguela de cabelos castanhos. Era o semblante feliz de um menino que nunca imaginara que em breve, naquele mesmo local, perderia o amigo.

— Eu sinto muito. - Foi Adrien quem se expressou. Ele, mais que Marinette, conhecia a dor da perda, ainda que de forma diferente.

— Não. - Maurice retomou a palavra, colocando a fotografia de volta em seu lugar. - Eu é que sinto muito. - Comentou, virando-se e apoiando as costas na lareira. - Eu atravessei a rua correndo, sem olhar para os lados, naquele dia. - Revelou. - E Antoine veio atrás. Ele era um ano mais novo, eu devia ter cuidado dele. - Concluiu, abrindo um sorriso triste.

— Foi um acidente. - Marinette argumentou. - Você era uma criança, não tem porque se culpar. - Completou.

Maurice estudou-a com atenção.

— Talvez eu não me culpasse, se essa tragédia não tivesse acabado com a vida de Adeline e Armand. - Ponderou. - Mas bem, eles nunca mais foram os mesmos. E eu nunca pude fazer nada para ajudar. - Lamentou.

Adrien e Marinette entenderam que, o que quer que tivesse acontecido com os pais de Antoine, Maurice não iria revelar. Mas nenhum dos dois sentiu a vontade de perguntar, de qualquer forma. Ambos tinham ouvido a história de Sr. Chevalier, após a sua akumatização. Mas claro que, cada qual achava que o outro não sabia, já que suas identidades secretas, bem, ainda eram secretas um para o outro.

— Sequer consigo entrar nessa casa com frequência sem ser perturbado por lembranças. - Maurice continuou. - Logo eu, que deveria prestar assistência, deixei o Sr. Chevalier sozinho todo esse tempo, aparecendo de vez em quando, só para aliviar minha consciência.

O longo silêncio que se seguiu revelou para a dupla adolescente que o desabafo repentino de Maurice havia acabado. Entretanto, nenhum dos dois se sentiu apto a fazer qualquer comentário.

Ambos sabiam que o acidente que matou Antoine, fora provocado por um motorista embriagado. E Maurice com certeza também devia saber. Mesmo assim, após anos para processar e aceitar a realidade dos fatos, ainda se culpava.

Qualquer argumento deles não seria capaz de convencê-lo do contrário.

— Olha só para mim, enchendo dois adolescentes com os meus problemas. - Declarou, retornando gradualmente a sua pose descontraída habitual. - Eu sou uma vergonha. Caline está certo. Eu preciso de ajuda. - Comentou com descaso, enquanto se alongava.

Adrien e Marinette ainda pareciam incapazes de dizer qualquer coisa.

— E vocês, o que fazem aqui dentro ainda? Xô! Vão ajudar no jardim! - Determinou.

Sem pensar duas vezes, os garotos deixaram a biblioteca correndo.

— Vocês ainda podem fazer o que eu deveria ter feito. - Maurice Completou em voz baixa, para que ninguém mais ouvisse.

 

 

Antes de retornarem ao jardim, Adrien e Marinette passaram na cozinha.

Como não se sentiam à vontade para continuar na casa depois da cena que presenciaram, em vez de chamar Sr. Chevalier para comer, decidiram levar o lanche até ele.

Assim, pegaram uma toalha, guardanapos, copos descartáveis, além dos bolinhos de chuva e o suco feitos antes.

O chá havia esfriado.

Surpreendentemente, Armand Chevalier não Reclamou por ter que comer fora de casa, ou sentar-se na toalha estendida no chão. Também não questionou a ausência de Srta. Bustier, ou a demora para retornarem.

Ainda, não demonstrava confusão ou curiosidade. Parecia, na verdade, saber de tudo.

Talvez soubesse mesmo.

O grupo comeu em silêncio e, após terminar, juntou a própria bagunça, deixando-a em um canto para recolherem quando retornassem.

Logo, continuaram os trabalhos no jardim: Sr. Chevalier fertilizando e os adolescentes regando, cada qual com uma mangueira.

E além do burburinho provocado pelas conversas dos visitantes que circulavam pelo local - ainda estavam se acostumando com isso -, a tarde seguiu silenciosa e sem graça.

Não que o velho jardineiro estivesse achando ruim, claro que não. Afinal, aquele silêncio o lembrava da paz que desfrutava ao trabalhar, antes de conhecer os garotos, tentava se convencer.

Com certeza, a impaciência que estava sentindo devia-se ao movimento provocado pelos outros visitantes. Não à apatia dos pirralhos.

O dia provavelmente teria terminado naquele ritmo, se o acaso - ou talvez a má sorte de Marinette -, não tivesse determinado uma mudança nos eventos.

Adrien terminou de regar um dos canteiros e, quando foi passar para o próximo, que ficava logo atrás, não se preocupou em olhar se alguém atravessava o pequeno caminho que os separava.

Claro que a mestiça tinha que estar passando bem ali, naquele exato momento, apenas para tomar uma esguichada de água na cara.

O modelo ficou estupefato por um momento, vendo a garota tossir e cuspir o pouco de água que tinha entrado em suas narinas e boca.

A menina mirou-lhe os olhos azuis, atordoada, a franja negra grudando na testa pela umidade, a blusa molhada, da gola até a barriga, como se tivesse derramado bebida em si mesma.

A culpa do loiro durou apenas um segundo, pois no seguinte, estava gargalhando com força, ao ponto de dobrar a barriga, sem fôlego.

Marinette estreitou os olhos, sentindo o sangue subir à cabeça. Aquilo não ficaria assim.

Antes que pudesse pensar no que realmente estava fazendo, direcionou a própria mangueira, também ligada, para a cabeça do rapaz, que ainda estava inclinada para baixo.

Adrien levantou-se num pulo, exclamando um “hei” surpreso, a cabeleira loira espirrando água, apenas para encontrar o sorriso prepotente da mestiça.

— Você não fez isso. - Declarou, abismado.

— Parece que eu fiz. - Ali estava, a expressão atrevida da colega de classe com a qual ele ainda estava se acostumando.

— Você não tem medo que eu… - O modelo bem tentou ditar uma frase que parecesse ameaçadora, mas foi interrompido pelo novo jato de água que a asiática jogou em sua cara.

Dessa vez, foi o loiro que cuspiu e tossiu.

Ele ainda estava ocupado, tentando se desengasgar, mas nem por isso deixava de olhar indignado para  a garota, que ria com vontade.

Ele sabia que argumentos mãos adiantariam ali. Por isso ele fez o que qualquer outra pessoa madura teria feito na mesma situação.

— Adrien, para! - Marinette gritou, quando sentiu a água esguichar em seu peito. - Eu só descontei! - Reclamou,  dividindo-se entre correr e acertar o colega de volta.

— Eu te acertei sem querer! - Reclamou o loiro, perseguindo a colega.

— Vocês dois, parem! - Sr. Chevalier começou a gritar, mas foi ignorado com louvor. - Parem já! - Exigiu.

Mas os garotos continuaram em seu jogo de gato e rato, onde alternavam em perseguir e ser perseguido, ficando cada vez mais molhados.

Suas risadas aumentavam gradualmente e atraiam a atenção dos visitantes, tanto que alguns tinham os celulares nas mãos, por reconhecerem o jovem modelo, ávidos para registrá-lo em um momento de descontração.

Ignorando tudo ao redor, os adolescentes seguiram com sua brincadeira, sendo que a mestiça estava em seu turno de caçar o loiro.

Os dois correram em direção ao bosque, até o fim do alcance das mangueiras, e nem por isso pararam. Apenas as largaram e continuaram correndo.

Adrien não esperava mesmo que Marinette o alcançasse tão rápido, uma vez que a garota tinha dificuldade de dar três passos sem tropeçar.

Entretanto, após circular poucas árvores tentando despistá-la, olhou para trás a fim de localizá-la, apenas para se arrepender em seguida.

Ele mal conseguiu ver a garota se aproximando.

Marinette, em um impulso sobre-humano, lançou-se contra ele, fazendo com que batesse a lateral esquerda do corpo em um tronco.

O loiro gemeu de dor e ajeitou-se, de modo que as costas se apoiaram na Madeira.

A mestiça, aparentemente, também havia sofrido com o baque, pois permanecia escorada contra o peito dele. Instintivamente, o garoto levou as mãos aos ombros dela.

Ambos ofegavam.

Bons segundos se passaram, até que os adolescentes se dessem conta da situação em que se encontravam.

Estavam molhados.

Grudados um no outro.

E, graças aos céus, não parecia haver ninguém por perto para testemunhar aquela situação estranha.

Nem por isso, a garota deixou de dar um pulo ao ver que estava perto demais do garoto que passara as últimas semanas dividida entre amar e odiar.

Sem coragem de encará-lo de imediato, tentou recuperar o próprio orgulho, antes de proferir, indignada:

— Você me paga Agreste! - Declarou, torcendo uma de suas marias-chiquinhas para escorrer um pouco de água. Adrien, de imediato, retirou as mãos dos ombros dela, ante o timbre irritadiço. - Olha o que você fez comigo! - Exclamou, somente então erguendo a face para encará-lo diretamente.

Apenas para emudecer no segundo seguinte.

Porque embora o garoto estivesse tão molhado quanto ela em relação às roupas, o mesmo não poderia ser dito do cabelo, que ao contrário do de Marinette, não estava encharcado, mas apenas úmido.

Úmido e bagunçado o suficiente para que a franja loira caísse sobre a testa e as demais mechas douradas se projetassem para todos os lados, fazendo uma combinação familiar com os olhos verdes-ácido e o sorriso ladino.

E é por isso que a jovem de cabelos azulados encontrava-se paralisada.

Porque ela reconheceria aquele penteado desleixado e aquela expressão matreira em qualquer lugar.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu custei, de verdade, a pensar numa maneira para o teatro interativo dar certo no festival. Isso não entrava na minha cabeça. Isso foi um dos fatores que influenciaram na demora da atualização. Depois da ideia do aplicativo, a inspiração voltou rapidinho.

Espero que vocês tenham gostado do capítulo Só a título de curiosidade, a história do Maurice não foi um elemento adicionado de última hora na história. Ela foi planejada com antecedência e o relacionamento dele com o Sr. Chevalier foi decidido na mesma época em que postei o capítulo em que a Srta. Bustier foi akumatizada.

No mais, o que acharam desse final? Hehe, permitam que eu viva para postar o próximo!

É isso, cada vez mais perto do fim, o que eu mal posso esperar, sinceramente! Quero muito ver essa história concluída. Maaaas, até lá, ainda tem um cadinho de coisa pra acontecer.

Beijinhos e até o próximo!



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