Operação Jardim Secreto escrita por Lura


Capítulo 16
Memórias Plantadas Junto às Flores


Notas iniciais do capítulo

Yay! Finalmente alcancei as postagens do Spirit! Ou seja, quem prefere acompanhar por aqui, pode ficar tranquilo pois a fic não estará mais atrasada. As próximas atualizações, serão juntas. =D

Então, é isso. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756870/chapter/16

— Chloé!!! - O grito de André Bourgeois, atraiu a atenção dos dois heróis, que até então, estava concentrada no velho sentado sobre a grama.

Os portadores dos Miraculous observaram o político, já livre das raízes que o imobilizavam - as quais deixaram como lembrança apenas a dor em seus pulsos e tornozelos - correr aos tropeços em direção a filha.

— Papai! - A menina, que encontrava-se caída no meio da clareira, choramingou de volta.

Assim que o prefeito alcançou a garota, praticamente jogou-se no chão e a abraçou, para, em seguida, examiná-la, aflito, em busca de qualquer ferimento.

— Vamos querida, vamos sair desse inferno! - Chamou, levantando-se e estendendo a mão para a filha, que não tardou em aceitar.

Contudo, assim que tentou firmar-se em seus próprios pés, soltou um grito agudo, tornando a cair.

— O que foi, querida? - O político perguntou, desesperado. - Está machucada? - Inquiriu.

— Meu tornozelo! - Engrolou, chorando de dor. - Está doendo muito! - Reclamou.

Ante a queixa da filha, André Bourgeois ergueu a barra da longa e rodada saia amarela que a filha usava - restaurada graças aos poderes de Ladybug -, sentindo-se empalidecer ao vislumbrar o pé da menina, torcido em um ângulo estranho, o osso partido e projetado contra a pele, como se estivesse ao ponto de rasgá-la.

— Está quebrado! - Gritou, desesperado.

Os heróis se entreolharam, preocupados.

— Não deveria ter sido curado com os seus poderes? - Questionou, levantando-se e caminhando rumo a Ladybug. - O que raios você fez de errado? - Concluiu, irado.

— Hei! - Chat Noir, tomando as dores da parceira, exclamou, irritado, ameaçando avançar contra o prefeito.

Contudo, foi contido pelo aperto condescende em seu ombro, da mão da portadora do Miraculous da Criação.

— Eu sinto muito, Sr. Bourgeois! - Desculpou-se a heroína. - Os poderes do Miraculous costumam restaurar os danos causados diretamente pelos akumas. E mesmo assim, o funcionamento dos poderes curativos ainda são uma incógnita para mim. - Explicou. - Talvez Chloé tenha se machucado por outro motivo. - Supôs.

A risada seca do político fez com que a tensão que envolvia o ambiente disparasse.

— Por outro motivo? - Ironizou. - E por que outro motivo minha filha teria se machucado? - Perguntou, gritando a plenos pulmões. - Ela se feriu durante o ataque do akuma! - Afirmou.

— O Senhor não pode afirmar isso. - Chat Noir contestou, ácido. - Não estava lá quando ela foi capturada. - Emendou.

— Mas estava aqui quando esse velho decrépito foi possuído! - Retrucou, ainda aos berros, apontando o dedo para a figura lamentável de Armand Chevalier. - Ou seja, é tudo culpa dele e desse maldito jardim! - Concluiu.

O velho olhou, atordoado, para o dedo apontado em sua direção e, em seguida, para o olhar transbordante de fúria de André Bourgeois, simultaneamente, piscando algumas vezes, aturdido, como se estivesse com dificuldades de assimilar o que estava acontecendo ao seu redor.

— Eu… - Começou, olhando para a garota loira caída a metros de si e, em seguida, novamente para o prefeito. - Eu não sei… Não queria… - Expressou, sem realmente conseguir formular uma frase coerente.

Mas isso não impediu que o prefeito continuasse a descarregar sua raiva.

— Não queria? - Questionou. - Você e essa sua obsessão por esse monte de mato  quase mataram minha filha e transformaram Paris em uma selva! - Acusou. Mas isso vai acabar! - Declarou, decidido. - Eu vou acabar com esse jardim até o fim do mês, ou não me chamo André Bourgeois! - Garantiu, caminhando de volta em direção a Chloé.

— Espera Senhor Bourgeois! - Pediu Ladybug, apenas para ser ignorada pelo prefeito, que apanhou a garota loira no colo e deixou a clareira, às pressas.

— Eu… - A voz frágil e vacilante de Chevalier chamou novamente a atenção dos heróis. - Eu machuquei aquela garota? - Questionou. - Eu machuquei pessoas? - Insistiu nas perguntas.

— O senhor não fez nada. - Chat Noir abaixou-se para encará-lo nos olhos. - Hawk Moth fez. - Garantiu. - O senhor é apenas mais uma vítima, como todos os outros. - Reforçou.

— Eu não deveria machucar pessoas… - O velho seguiu dizendo, como se não tivesse assimilado as palavras do loiro. - Deveria protegê-las… - Emendou, reticente.

Os heróis trocaram um olhar preocupado, quando o apito uníssono de seus Miraculous os alertaram de que não tinham muito tempo.

— Precisamos ir. - Ladybug comentou, aflita.

— Eu sei. - Chat Noir respondeu. - Mas não podemos deixar ele aqui. - Declarou, fitando a figura atordoada da vítima e, constatando que, embora soubesse que ela morava por perto, não sabia exatamente o local.

A dupla de adolescentes passou o par de minutos seguintes empenhando-se em convencer o velho a se levantar e dizer onde morava, para que pudessem deixá-lo em segurança antes de finalmente partirem. Contudo, seus esforços não surtiam qualquer efeito, vez que o pobre homem seguia firme em seu posto, murmurando lamentações e pedidos de desculpa.

— Não podemos ficar mais! - A menina praticamente gritou, desesperada, ciente que estava beirando o limite de sua transformação.

— Mas ele… - O loiro começou, mas foi interrompido.

— Você tem suprimentos? - A portadora do Miraculous da Criação perguntou, significativamente.

O rapaz não precisou de muito esforço para entender a que ela se referia.

— Sim. - Confirmou, lembrando-se dos pedaços de queijo fedorento envoltos em plástico que deixou no bolso de sua calça, mais cedo, temendo ser pego em uma situação semelhante à ocorrida após o ataque de Chaotic, onde ficou pedido, sem dinheiro e sem meios de comunicação a quilômetros de casa.

Podia-se dizer que havia aprendido a lição com eficácia.

— Ótimo! - Comemorou a heroína. - Senhor Chevalier… - Chamou, também abaixando-se para conversar com a vítima. - Por favor, nos espere apenas alguns minutos - Pediu. - e o levaremos em segurança para casa. - Prometeu, sem, entretanto, obter qualquer resposta.

A garota levantou-se, apressada, seguida do parceiro.

Os dois trocaram um olhar, preocupado, cientes de como era arriscado o que estavam prestes a fazer.

— Você pode ir, se quiser. - Pediu ela, querendo evitar qualquer situação em que pudesse comprometer sua identidade. - Eu o levo para casa. - Garantiu.

— Podemos fazer o contrário também. - Sugeriu Chat Noir. A verdade é que ele estava preocupado com o guardião do jardim, e queria ter certeza de que estaria bem quando tivesse que deixá-lo, uma vez que o conhecia, ao menos infimamente, e sabia o quanto aquele lugar significava para ele.

Mal sabia que a menina, a sua frente,  a qual mordia lábio inferior como se pudesse, com tal gesto, para aplacar o conflito interno que vivia, tinha exatamente a mesma preocupação.

— Não. - Negou ela. - Eu quero fazer isso. - Afirmou.

— Juntos, então? - Inquiriu o rapaz.

— Juntos. - Assentiu ela. - Me encontre aqui o quanto antes. - Pediu.

— Ok. - Concordou. - Por favor, Sr. Chevalier, espere pós nós. - Pediu, antes de se afastar.

Os dois heróis correram para direções opostas, sumindo em meio às árvores, cada qual se escondendo o melhor que podia. E assim como prometido, não levaram nem dois minutos para retornarem, com suas transformações renovadas, compartilhando uma exclamação de surpresa quando viram o velho parado em meio a clareira, a expressão de atordoamento que ostentava até momentos antes, já completamente apagada e substituída por uma careta mau-humorada.

— Vocês dois não precisam fazer isso. - Falou o velho, apanhando sua foice de jardinagem no chão. - Posso ir para casa sozinho. - Alegou, esforçando-se para não parecer rude.

— Por favor, nos deixe acompanhá-lo. - Pediu Chat, ciente que se exigisse acompanhá-lo , provavelmente afugentaria o homem teimoso.

Ladybug, percebendo a abordagem tática, o encarou com admiração. Contudo, ela não foi a única a notar a artimanha do herói.

— Você é esperto, garoto. - Elogiou Sr. Chevalier. - Se existirem outros como você, talvez essa geração não esteja tão perdida. - Comentou, fazendo com que os dois adolescentes se lembrassem que, quase um mês antes, ele fizera exatamente o mesmo comentário em relação a Marinette. - Vamos? - Chamou, cortando o pensamento dos dois jovens, direcionando-se a uma das trilhas que ligavam a clareira ao resto do jardim.

Os três caminharam em silêncio, o barulho dos passos esmagando a folhagem e os galhos secos caídos sendo o único som que preenchia o ambiente, até que alcançaram a parte dianteira do jardim, onde trilharam, com cuidado, o caminho de concreto semidestruído.

Até que o velho parou, entre diversos canteiros de flores, do ponto onde podia ler perfeitamente a placa desgastada com o nome do jardim.

— Algum problema? - Ladybug Perguntou, gentilmente.

O Senhor permaneceu em silêncio por longos minutos, os olhos vidrados na placa, a atenção dos dois heróis concentrada em si.

— Eu só não consigo aceitar que esse lugar deixará de existir. - Desabafou.

— Eu também não conseguiria. - Comentou Chat Noir. - Esse é provavelmente o jardim mais fantástico que vi na vida! - Exclamou, tentando animá-lo.

Uma sombra de um sorriso percorreu a face do velho.

— Meus motivos são egoístas, jovem. - Revelou. - Eu apenas mantive esse jardim de pé por me recusar a deixar que um lugar tão presente em minhas lembranças sucumbisse. - Contou. - Não foi pelas flores e plantas, ou pela história local. Foi pura e simplesmente porque é um lugar importante para mim. - Completou.

Os dois adolescentes seguiram em silêncio, dando o espaço necessário para que o Sr. Chevalier continuasse sua história ou se calasse, se assim quisesse.

E para a surpresa de ambos, ele seguiu falando.

— Foi exatamente nesse lugar que eu conheci a minha adorada Adeline. - Contou. - Na época ambos éramos comprometidos e tínhamos outros objetivos, mas soubemos, no instante em que nos encontramos, que não poderíamos seguir nossas vidas separados. - Emendou.

“Naquela época esse jardim já era fantástico. Era calmo, acolhedor… As crianças corriam por aqui durante todo o dia e, quando entardecia, muitos adultos compareciam apenas para apreciar o pôr do sol refletido no lago. Era uma visão de tirar o fôlego.”

Os portadores dos Miraculous se entreolharam, um acordo silencioso de que permaneceriam ali até o fim do relato, o qual, pressentiam, não seria agradável.

— Adeline e eu decidimos começar a nossa vida por perto, já que foi aqui que nos conhecemos. Queríamos que nossas crianças corressem e brincassem aqui, assim como aquelas que víamos todas as tardes.

“Ah, crianças… Como Adeline as amava! Ela era professora infantil, e tinha um jeito gracioso e enérgico para lidar com elas. Eu ainda me recordo o quanto ela estava radiante quando me contou que estava esperando o nosso primeiro filho… E do quanto ela ficou desolada quando o perdemos dois meses depois.”

O olhar de aflição apenas cresceu no rosto mascarado dos adolescentes, junto com um intenso sentimento de pena.

“Mas Adeline era otimista acima de tudo. E recuperou-se mesmo depois que nos perdemos nosso segundo e nosso terceiro filho… Até que finalmente fomos abençoados com nosso querido Antoine.”

Sr. Chevalier fez uma pausa na própria história, ocasião em que retirou os óculos de aros grossos e limpou as lentes casualmente em sua camisa, inspirando fundo diversas vezes, durante o processo.

Os dois heróis sentiram como se ele estivesse se preparando para uma parte mais difícil de sua narrativa.

— Durante alguns anos eu senti que eu era o homem mais feliz e abençoado de todos. - Contou. - Tinha um bom trabalho, uma esposa maravilhosa, um filho lindo. A dor do que tínhamos perdido parecia muito distante perto da felicidade que tínhamos. - Narrou.

“E apesar do pouco tempo que nos sobrava em razão do trabalho, sempre trazíamos Antoine aqui, principalmente durante as tardes. Até que ele foi crescendo, saudável e esperto, e começou a vir ao jardim sozinho, para brincar com seus amigos.”

Outra pausa. A Tensão do ambiente era palpável.

— Mas em uma tarde, Antoine saiu com um amiguinho para brincar no jardim e não mais voltou. - Relatou, a voz tornando-se mais dura. - Um motorista alcoolizado levou minha pobre criança… E toda a alegria de nossa casa junto com ela.

“Adeline e eu nunca teríamos imaginado… Esse bairro é sempre tão tranquilo… Mal passavam veículos aqui, na época.”

— Eu… - Ladybug começou, aproveitando o momento em que o velho parou para se expressar. - Sinto muito. - Lamentou.

O senhor apenas agitou as mãos, como se aquilo não importasse.

— Depois do acidente, Adeline caiu em uma depressão profunda. - Seguiu dizendo. - Nós não podíamos ter mais filhos, em razão de complicações ocorridas durante a gravidez de Antoine. Nossa casa já não tinha vida, e minha esposa nunca mais conseguiu visitar o jardim… Até que ela também se foi, dez anos depois, sem jamais recuperar a alegria contagiante que me atraiu desde o começo. - Disse, recolocando os óculos. - E tudo que me sobrou foi uma casa assombrada por memórias e esse jardim… Ao qual me apego miseravelmente, me recusando a esquecer da melhor parte da minha vida e libertar as memórias de minha esposa e filhos. - Concluiu.

Ladybug e Chat Noir perceberam que o velho havia terminado sua história.

Perceberam, também, que ele não falaria mais sobre o assunto, embora estivessem genuinamente surpresos, pois haviam recebido muito mais informações que esperavam.

E mesmo tendo ajudado tantas pessoas por tanto tempo, naquele momento, os heróis sentiam o peso de não saber como agir.

Pois nada que dissessem, poderia amenizar a amargura do velho jardineiro.

— Eu agradeço por terem me impedido de causar uma tragédia maior. - O próprio Sr. Chevalier retomou a palavra, deixando os dois jovens envergonhados pela incapacidade compartilhada de romper o silêncio. - Vocês podem ir agora. Estou bem. - Garantiu, caminhando em direção à rua.

— Espera! - Ladybug chamou, apressando-se em acompanhá-lo. - Nós vamos levá-lo até a sua casa. - Afirmou.

— Isso! - Concordou Chat Noir. - Precisamos garantir sua segurança! - Acrescentou.

O velho virou-se para encarar os dois adolescentes, o semblante tanto triste quanto brando.

— Não há necessidade. - Garantiu. - Eu moro aqui na frente. - Contou, apontando para a elegante casinha de dois andares, de pintura envelhecida, situada exatamente à frente do jardim. - É só atravessar a rua, vocês não precisam me acompanhar. Deviam ficar e apreciar a vista, enquanto podem. Aconselhou, antes de retomar seu caminho.

Os heróis observaram o jardineiro transpor, em passos lentos, o caminho para a sua casa, até sumir, entrando pela porta dianteira. E permaneceram estáticos, ao menos alguns minutos, sem nada dizer, dividindo a exasperação de estarem impotentes diante de uma situação injusta. Isto é, até Ladybug resolver que seria uma boa ideia descontar sua frustração no objeto inanimado mais próximo.

— Isso não é justo! - Bradou, ao mesmo tempo em que chutava uma pequena placa de madeira quebrada, que outrora sinalizara a proibição de pisar na grama, os cabelos negro-azulados esvoaçando com o movimento.

Chat Noir observou, os olhos verdes fluorescentes arregalados, os destroços de madeira apodrecida voarem para longe.

— My Lady! - Exclamou, espantado.

— Não é justo! - Repetiu ela. - Não é! Ele perdeu tudo que tinha de mais importante Chat! - Comentou, entristecida. - Viveu uma vida de perdas e agora, está prestes a perder ainda mais! - Desabafou.

O herói felino se aproximou lentamente pelas costas da parceira e, com cautela, apoiou ambas as mãos aos ombros dela, intimamente, esperando uma reação de rejeição pelo contato.

Contudo, para sua surpresa, tal reação não veio.

Assim, permitiu-se pressionar, levemente, tomando o cuidado de não feri-la com suas garras, sentindo o quanto estava tensa sob seu toque.

— Não é mesmo, Bugboo. - Começou ele, calmamente. - Mas infelizmente a vida é assim. Quando menos se espera, ela toma algo de precioso e tudo o que te resta é encontrar a melhor maneira de não enlouquecer com as próprias lembranças. - Falou, o tom se tornando ligeiramente amargo, ao pensar nas diferenças do próprio comportamento e o de seu pai, ante a ausência de sua mãe.

Ladybug, por sua vez, não deixou passar a diferença no timbre do parceiro.

Um tanto surpresa, virou-se repentinamente, apenas para encontrar um sentimento que quase nunca visualizara nas íris felinas do amigo: dor.

— Você perdeu alguém. - Foi uma afirmação.

— Eu não quero falar disso. - Respondeu ele, o tom amistoso, apesar da resposta cortante.

Por um instante, a garota de vermelho sentiu-se egoísta.

Egoísta sim, pois ela, criada por pais amorosos, cheia de parentes incríveis e amigos maravilhosos, ainda não experimentara a dor da perda.

Sua vida podia estar uma porcaria no momento, mas ainda poderia se gabar de ter todo o suporte que precisava.

Entretanto, nunca se preocupara em saber como era a vida pessoal e afetiva de seu parceiro, em parte, bem verdade, para preservar o sigilo de suas identidades. Mas isso não justificava negligenciar qualquer tristeza que ele pudesse estar sentindo.

— Eu sinto muito, por você também. - Murmurou a adolescente, embora não soubesse pelo que estava lamentando.

Chat Noir sorriu.

— Obrigada, My Lady, mas você não precisa realmente se preocupar com isso. - Garantiu. - Afinal, tem coisas que nem toda a preocupação do mundo pode mudar. - Declarou. - Entretanto, vale a pena se esforçar para aquilo que podemos contribuir. - Completou.

A heroína piscou, um tanto confusa.

— O que está querendo dizer? - Indagou, sem ânimo para deduções.

— Que você não pode aplacar a dor da perda do Sr. Chevalier, mas pode ajudar a impedir que ela se torne ainda maior. - Respondeu.

— Você quer dizer que podemos tentar encontrar uma maneira de salvar o jardim. - Arriscou.

— Você chegaria a essa conclusão ainda que eu não dissesse. - Afirmou o rapaz. - Sei que vai pensar em algo. - Acrescentou. - E então é só me dizer Ficarei feliz em ajudar. - Concluiu, acenando antes de se virar e caminhar para longe.

— Você já vai? - Ladybug perguntou, piscando incrédula.

Geralmente, era nessa hora que ele a chamava para sair ou algo assim. Na realidade, na maioria das vezes, ela ia embora primeiro, não sendo raras as ocasiões em que deixava o parceiro para trás, falando sozinho.

Chat Noir virou-se para encará-la, inicialmente ostentando uma careta de dúvida, a qual não tardou em se contorcer em um semblante convencido.

— Parece que a senhorita deseja desfrutar mais da minha companhia. - Gabou-se, balançando as sobrancelhas de forma sugestiva. - Se for o caso, eu posso até pensar em ficar mais um pouco. - Ponderou. - Afinal, eu sou totalmente desfrutável. - Emendou com um gracejo.

A heroína rolou os olhos para cima.

— Piada horrível, como sempre. - Atalhou, embora ostentasse um sorriso singelo. Não daria o braço a torcer, mas a verdade é que sentia o peso que se instalara em seu interior, em razão da história do Sr. Chevalier, se dispersar pouco a pouco, graças ao humor do companheiro.

— Disponha. - Respondeu ele, com uma piscadela. - Falando sério agora, você está bem? - Perguntou, preocupado. - O akuma meio que me pegou no meio de um compromisso, mas eu ainda tenho um tempinho, e não me importo de ficar até que se sinta melhor. - Garantiu, embora estivesse mentindo.

Afinal, o ataque do Ceifeiro interrompeu a última apresentação de sua turma no festival cultural, e era bem possível que todos o estivessem procurando naquele momento.

Mas, de qualquer forma, ele demoraria pelo menos que quinze minutos para retornar à escola, então não havia muita lógica em se preocupar se atrasaria mais ou menos.

— Eu… - Começou Ladybug, passando as mãos de forma nervosa pelos cabelos soltos. - Também tenho compromisso. - Completou, lembrando-se da escola. - Na verdade, eu deveria estar correndo agora mesmo, mas mesmo sabendo que terei problemas caso não volte, eu simplesmente não tenho vontade de ir. - Desabafou, sentindo os problemas sofridos nos últimos dias pesarem em seus ombros mais que nunca. Era muito egoísmo querer, ao menos dessa vez, fugir de tudo?

O loiro sentiu o desconforto crescer em seu interior, por ver a colega tão desanimada.

Aquilo não devia acontecer.

Ela era o lado confiante e brilhante da parceria. Toda escuridão e depressão deveria ficar só com ele, pois sempre poderia esconder bem, por trás de suas gracinhas.

Ela deveria apenas continuar transbordando confiança e positividade, por onde quer que passasse, tornando-se um modelo de esperança para quem precisasse.

Assim como ele precisava.

— Uma volta no jardim, talvez? - Sugeriu, decidido a animá-la. - Não foi o que o velhinho nos disse para fazer? - Lembrou. - Se esse lugar faz tão bem para ele, talvez também faça a nós. - Concluiu seu raciocínio.

A joaninha soltou uma risada gostosa, encarando o parceiro com carinho.

Ela realmente tinha muito mais que merecia, agora que parava para pensar. Mesmo agora que descobrira que o rapaz, além de sua vida heróica, lidava com problemas que ela nem sonhava, estava sendo consolada, em vez de consolar.

— Não precisa gatinho. Você pode ir. - Declarou, agradecida. - Acho melhor eu me apressar também. - Decidiu.

— Tem certeza? - Insistiu ele. - Eu posso achar suas flores preferidas e fazer um buquê para te alegrar. - Brincou. - Não seria roarmantico?  - Gracejou.

Novamente, a menina gargalhou.

— E deixar o Sr. Chevalier ser akumatizado de novo por você ter arrancado as flores dele? - Indagou. - Não, obrigada. - Dispensou, abanando as mãos - Até porque, eu duvido que tenha minha flor favorita aqui e, ainda que tivesse, você não poderia fazer um buquê dela. - Comentou, apanhando o próprio ioiô.

O olhar que o portador do Miraculous da destruição lhe lançou em resposta, beirava a indignação.

— Primeiro: Você já olhou para esse lugar? - Questionou. - Eu aposto que posso encontrar qualquer planta aqui! - Afirmou, convicto. - Segundo: - Seguiu enumerando os próprios motivos - Por que eu não poderia fazer um buquê da sua flor favorita? Ela é carnívora ou algo assim? - Perguntou, lembrando-se dos terríveis inimigos vegetais que enfrentaram não fazia nem uma hora.

A verdade, era que estava genuinamente curioso. Afinal, sua Lady não costumava soltar nenhum tipo de informação pessoal, por mais segura que fosse, por isso, qualquer detalhe sobre a personalidade dela, lhe era precioso.

— Qual a sua flor favorita? - Insistiu, ao ver que ela permanecia calada.

Ele só não esperava que um sorriso ligeiramente triste, riscaria a face da garota, como se aquela simples pergunta, lhe despertasse uma série de lembranças desagradáveis.

E esperava, muito menos, a resposta que viria a seguir:

— Lótus.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso.

Este capítulo encerra a parte "meio" da fic. Estamos, oficialmente, caminhando para o final (assim espero, porque essa coisa meio que tem vida própria).

Espero que tenham curtido.

Se tudo der certo, no próximo, o Adrinette volta de leve, hehe!

Beijinhos!

P.S.: Algum palpite da solução que a Ladybug vai encontrar?