Operação Jardim Secreto escrita por Lura


Capítulo 11
Trama


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Cá estou com aquele que, é provavelmente, o capítulo mais tretoso da fic. Se não for o primeiro, perde só para o próximo, hehe!

Preparem os coraçõezinhos, pois chegamos ao ápice das intrigas!

Enfim, espero que gostem. Lembrando que a fic está adiantada no Spirit.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756870/chapter/11

Chloé lixava as próprias unhas, demonstrando mais interesse em alinhá-las do que na conversa que se desenrolava naquele momento, o que atraiu certa indignação do garoto de óculos sentado à sua frente.

Constrangida, Sabrina que, como sempre, acompanhava a filha do prefeito de forma leal, lançou ao terceiro um sorriso amarelo, ganhando como resposta apenas um revirar de olhos.

— Deixa eu reforçar, para caso não tenham entendido. - O jovem tomou a palavra, a fim de esclarecer a situação em que as duas garotas tentavam lhe meter. - Para fazer o que estão me pedindo, vou precisar hackear dois e-mails, dois blogs e adulterar um arquivo. - Explicou.

— E o e-mail da gráfica. Não esqueça o e-mail da gráfica. - Sabrina asseverou.

— Três e-mails então - Corrigiu ele.

— Acha que consegue, Michel? - Indagou a ruiva, demonstrando certa desenvoltura para com o garoto.

— Tá brincando? - Um vinco de indignação surgiu na testa do adolescente, que talvez pudesse ser considerado atraente, não fosse pelos cabelos acastanhados sempre desalinhados ou pelas roupas desleixadas. - Tem certeza que precisam de um hacker para isso? Um tutorial na internet talvez resolvesse. - Debochou.

— Acontece que não temos tempo, Michel. - Justificou Sabrina. - Eu sei que poderíamos fazer pelo menos as edições, mas o Nathaniel falou que enviaria a história para a Alya assim que terminasse, e ela garantiu que postaria no blog da escola e no Ladyblog ainda hoje. - Completou.

Inesperadamente, a loura estalou a língua, sinalizando que finalmente interviria na conversa.

— Pare de se justificar! - Ralhou para a melhor amiga, que se encolheu. - Nós estamos pagando, e pagando bem, portanto, se quisermos que faça o nosso dever de física ou plante bananeira no pátio, terá que fazer. - Alegou, prepotente.

Michel encarou a figura retraída da ruiva, questionando-se porque ela se rebaixava a capacho da filha do prefeito. Não que ele sentisse pena, ou algo assim, mesmo que conhecesse Sabrina desde a infância, onde chegaram a compartilhar algumas brincadeiras graças ao fato de serem vizinhos. Era mais curiosidade em razão de uma menina inteligente como ele sabia que ela era, se submeter a tal humilhação.

Sem disposição para engolir os desmandos da loira, suspirou, antes de se manifestar:

— Terei que fazer, se eu quiser fazer. Até onde eu saiba, ainda não recebi pelo serviço, então posso desistir a qualquer momento. - Avisou. - E lembre-se loira: eu não preciso do seu dinheiro para viver. Estou fazendo isso mais por interesses pessoais que profissionais. - Revelou, mal se importando com o fato de Bourgeois estreitar os olhos em sua direção.

Afinal, estava sendo sincero quanto às suas intenções.

Embora Michel fizesse o estilo nerd-gênio-da-informática, era fato que possuía um bom relacionamento com a maioria dos alunos de sua classe, mantendo amizade com boa parte deles. Classe esta que vinha se preparando para apresentar uma peça de teatro ao final do festival cultural, mas viu o interesse do público alvo ser quase que inteiramente desviado para o inovador teatro interativo, projeto da sala das duas garotas a sua frente.

Logo, era mais que óbvia a insatisfação dos colegas de Michel e dele próprio, ao serem ofuscados, inobstante terem escolhido o tema primeiro.

Portanto , essa era a principal razão pela qual Michel decidira ajudar a loira em sua empreitada: realizar uma pequena vingança contra a turma impostora, embora seus colegas não soubessem disso. Motivo egoísta e infantil, mas ele era autoconfiante o suficiente para se permitir realizar os próprios desejos, independentemente de quão absurdos ou idiotas fossem.

Contudo, ele não conseguia entender que tipo de vantagem as duas garotas poderiam ter ao sabotarem a própria turma, uma vez que a nota delas também dependia do projeto. Curioso, externou tal dúvida, recebendo a esperada resposta mal-educada da loira:

— Embora não seja da sua conta - Começou. -, saiba que não estamos sabotando nada. - Dissimulou, polidamente. - Somente estamos contribuindo com o aparecimento da verdade. - Concluiu.

Michel nada tinha entendido, mas decidiu que também não fazia questão. Apenas faria o trabalho para o qual estava sendo contratado, sem maiores envolvimentos, para evitar eventuais complicações.

— Bem, tudo certo então. Eu vou ficar vigiando as mensagens dos dois, e começo assim que os e-mails forem enviados. - Avisou. - Vocês tem certeza que ele vai enviar via e-mail, certo? - Perguntou, para garantir.

— Sabrina? - Chloé chamou, implicitamente ordenando que a outra respondesse ao questionamento.

— Nathaniel está agora mesmo finalizando a história introdutória, na biblioteca. Ele está trabalhando na escola para poder participar dos ensaios, quando for necessário. - Respondeu a ruiva. - Eu ouvi ele dizer que enviaria para Alya assim que terminasse, pois ela quer postar ainda hoje. Como ela não pode acessar o Ladyblog utilizando a rede da escola, creio que postara utilizando o celular. - Concluiu.

— Ela pode rotear o sinal para um notebook. Existe a possibilidade dele transferir por pen drive, ou mesmo, baixar direto no computador dela, através da nuvem. - Michel ponderou, cauteloso.

— Mas você não vai hackear os blogs também? - Chloé indagou, como se fosse a coisa mais simples do mundo. - Que diferença faz, no final?

Michel conteve o ímpeto de bater a mão contra a própria testa. Não que não fosse, para ele, relativamente simples realizar o serviço. A questão era o tempo que dispunha para tal.

— Nessa possibilidade, não posso garantir que conseguirei alterar o arquivo antes que alguém o baixe. - Avisou. - Fora que terei que excluir o arquivo das postagens e fazer o upload novamente. A garota é esperta, pode perceber. - Emendou.

Chloé suspirou, entediada. Não estava acostumada a ter dificuldades em resolver seus problemas que, na maioria das vezes, sumiam ante as vultuosas quantias de dinheiro que seu pai despendia. Talvez, por isso, tivesse tanta dificuldade em enxergar quando algo realmente constituía um obstáculo.

— Me prove que você é capaz. - seu tom era imperativo. - O objetivo eu lhe dei. Não me importa o que você precisará fazer para cumpri-lo, desde que consiga. - Sentenciou. - Ao final, pagarei o combinado. - Concluiu, dando as costas e deixando o quarto do garoto que, para ela, era pouco mais que um desconhecido.

Michel observou a filha do prefeito sumir porta a fora, sentindo certo alívio por finalmente tê-la longe de seu espaço pessoal. Até a atmosfera parecia ter ficado mais amena, apenas com a saída dela. Isso apenas comprovava a sua impressão de que aquela garota era ruim até a alma.

— Podemos confiar em você, certo Michel? - O questionamento de Sabrina atraiu o garoto de volta para a realidade, o qual ajeitou os óculos de grau antes de responder.

— Você acha que se eu fosse confiável, aceitaria fazer um serviço desses? - A pergunta poderia parecer irônica, mas o tom do garoto era extremamente sério.

Sabrina desviou os olhos, constrangida.

— Eu não sou confiável. Você é sua amiguinha, muito menos. - Jogou na cara da menina, sem dó nem piedade.

Desconfortável, a ruiva levantou-se da cama, onde estivera sentada e direcionou-se a porta, parando apenas quando alcançou a soleira para virar-se para trás, sem, entretanto, realmente encarar o garoto.

— Diz pra Tia Augustine e pro Tio Pierre que eu mandei um abraço. - Pediu.

— Tá. - Michel respondeu, apático. - Aparece qualquer dia para jantar. Eles vivem reclamando que você não vem mais aqui. - Revelou. - Mas imagino que seja em razão de suas novas amizades. - Concluiu com sarcasmo.

Sorrindo de forma triste, Sabrina deixou o ambiente sem nada dizer.



• • •

 

— Nem acredito que finalmente conseguimos passar a peça inteira! - Mylène comemorou, jogando ambos os braços para cima.

Os demais alunos soltaram risadinha ante a reação exagerada da colega, embora a compreendessem bem. O Festival Cultural seria no próximo sábado e, embora ainda fosse quarta, estavam bem atrasados em relação a confecção do cenário. Por sua vez, embora tivessem finalmente conseguido ensaiar a trama do início ao fim, ainda estavam longe de alcançar a perfeição.

— É. Conseguimos, mas não graças a certas pessoas. - Alya resolveu alfinetar, deliberadamente encarando a filha do prefeito .

— Sabrina! - Chloé chamou, com descaso, seguindo na atividade de lixar as próprias unhas, da qual ela se ocupava a cada pausa nos ensaios. - É impressão minha ou tem um inseto zunindo? - Questionou, sem se preocupar em disfarçar a ofensa.

— Eu vou te mostrar quem é o inseto, sua barata tonta! - Embora tivesse iniciado as provocações, a blogueira estava decidida a não sair por baixo, de modo que ameaçou avançar contra a loira, sendo contida a tempo pelo namorado DJ.

— Hei! - Marinette exclamou, autoritária. - Nada de brigas! Eu não aguento mais brigas! - Ditou, deixando seus colegas em dúvida se aquilo era uma ordem ou um desabafo. - Já basta a confusão que o 3º “C” aprontou essa semana. - Emendou.

— Disso não tivemos culpa. - Alix deu de ombros. - Não somos responsáveis pelo recalque alheio. - Completou.

— Eu entendo a reação deles. - Rose defendeu. - Afinal, eles escolheram fazer o teatro primeiro. - Lembrou.

— É, mas nada justifica o barraco que eles fizeram na internet. - Nino opinou. - E a gente não copiou a ideia deles. Fizemos tudo com o aval da direção. - Asseverou.

— É. Simples assim. Agora faz isso entrar na cabeça deles. - O timbre de Alya saiu irritadiço, uma vez que ela se lembrara das horas que passara trocando provocações com os alunos que usaram os comentários do Ladyblog apenas para lhe ofender, devido aquela rixa idiota, bem como da meia hora que acabou passando na direção no dia seguinte, quando prints misteriosos da briga foram parar nas mãos do Sr. Damocles.

— O importante é que estamos tendo mais reações positivas que negativas. - Marinette tentou acalmar os ânimos dos colegas. - Muitas pessoas têm me perguntado sobre o nosso projeto e cobrado o lançamento da HQ introdutória. - Contou, animada.

— Tudo graças ao Adrienzinho! - Chloé vangloriou o modelo, fazendo voz infantil, ao mesmo tempo que atirava os braços em torno do pescoço dele. - Quem não vai querer assistir uma peça em que ele seja o protagonista? - Indagou retoricamente, piscando os longos cílios.

Adrien, que permanecera quieto, até então, apenas removeu, de forma cuidadosa, os braços da amiga de seu entorno.

— Eu duvido muito, Chloé. - Contestou, constrangido. - Todos têm feito um ótimo trabalho. Fora que o Nathaniel desenha pra caramba, e todo mundo sabe. Até eu estou ansioso pelo lançamento da HQ. - Revelou.

— Falando nele… - Mylène Avisou, no mesmo momento em que avistou o ruivo entrando no ambiente.

Nathaniel, que pegara o fim da conversa, encontrava-se tão rubro quanto os próprios cabelos, por ter seu talento enaltecido pelo modelo, além do fato de estar sobre os olhares de todos os colegas de sala.

— A-acabei. - Gaguejou.

— Finalmente! - Alya comemorou, correndo em direção ao recém chegado. - Cadê? - Perguntou, afoita.

— Mandei no seu e-mail. - O desenhista respondeu.

— Vou postar agora! - Comunicou a morena, apanhando o próprio smartphone.

— Mandou uma cópia para a gráfica também? - Marinette perguntou, se aproximando, no que o ruivo apenas meneou a cabeça positivamente. - Você é incrível, Nathaniel! - Elogiou.

— Aww, eles não são fofos? - Chloé debochou, fazendo a mestiça revirar os olhos.

Uma pequena discussão se seguiu entre as duas, enquanto o ruivo se afastava cautelosamente, desejando ter um buraco onde pudesse se enfiar.

— Ué! - A exclamação de Alya chamou todos de volta a realidade. - Ainda não recebi o e-mail. - Avisou.

— Olhou a caixa de spam? - Nathaniel sugeriu, embora duvidasse do próprio palpite.

— Sim. - Confirmou a morena.

— Eu vou enviar novamente . - Avisou o ruivo, pegando o próprio celular para a ação. Uma vez que já havia anexado o arquivo, não precisaria usar um computador, mas apenas reenviar o e-mail do aplicativo móvel. - Pronto. - Anunciou, ao concluir. - Recebeu? - Perguntou.

Alya atualizou a própria caixa de entrada, crispando o semblante em estranhamento. Em seguida, conferiu a caixa de spams.

— Não. - Negou, por fim.

— Que estranho. - Comentou Nathaniel. - Eu te passo pelo pen drive então. - Decidiu, preparando-se para voltar a biblioteca.

— Afinal, vocês me fizeram vir aqui, de noite, para ensaiar ou não? - Chloé perguntou, disfarçando o próprio nervosismo em um tom irritado. - Porque se for para ficar enrolando, eu vou embora! - Ameaçou. - Depois ainda enche a boca para falar que por minha causa, não conseguem ensaiar direito. - Concluiu, encarando a blogueira diretamente.

A morena cerrou os punhos e franziu as sobrancelhas, causando a impressão de que, a qualquer momento, espumaria de raiva.

— Ela está certa. - Ao ouvir tais palavras saírem da boca de Mylène, a blogueira quase caiu para trás.

— Mylène! - Exclamou indignada.

— Nós conseguimos permissão para ensaiar na escola a noite, mas ainda temos um horário limite. - Argumentou a loira de dreads. - Vamos aproveitar que Nathaniel finalmente terminou e ensaiar todos juntos. Você pode postar a história depois, não pode? - Indagou.

— Ela pode. - Marinette garantiu, amparando a melhor amiga pelos ombros.

— Até você? - Alya perguntou incrédula, torcendo o pescoço para encarar a asiática.

— Vamos lá Alya, não podemos perder tempo com mais discussões. - Insistiu, em tom de súplica.

A blogueira suspirou, derrotada, deixando-se ser conduzida por mais uma sessão de ensaios, só não protestando mais a cada oportunidade, em razão de ter recebido, entre uma cena e outra, a notificação com a chegada do e-mail de Nathaniel.

Assim, quando finalmente atingiram a hora limite, a morena, ansiosa por iniciar logo a divulgação do projeto, arrumou seus pertences, mais que depressa, e deixou a escola correndo, mal se despedindo dos amigos.

Mas não apenas ela. Todos pareciam impacientes, loucos para deixar o ambiente escolar, depois de terem passado praticamente todos os períodos do dia nele.

Marinette, particularmente, estava mais que aflita para chegar em casa, tomar um banho, atirar-se na cama e apagar até o dia seguinte, parando antes apenas para, talvez, ler o quadrinho de Nathaniel, uma vez que estava tão curiosa quanto o resto da turma.

Uma pena que a sua agenda de heroína, não costumava respeitar seus planos civis. Ela não sabia, mas no fim das contas, aquela noite, seria mais longa do que desejava.

 

• • •

 

Um incêndio.

Marinette já havia impedido acidentes de trânsito, quedas de helicópteros e até um assalto ou dois. Mas nunca havia auxiliado no resgate a vítimas de incêndio. Tampouco, ajudado os bombeiros a conter o fogo.

Resultado? Passara quase toda a noite atuando como heroína, ao lado de Chat Noir e, quando passou por sua claraboia, caindo diretamente sobre o colchão de sua cama, faltava apenas um par de horas para que seu despertador tocasse. Exausta, adormeceu antes que se destransformasse por completo.

Na manhã seguinte, não fosse Tikki ter passado minutos a fio berrando em seu ouvido e, posteriormente, obrigado-a a tomar um banho frio, provavelmente não teria se levantado para ir a escola.

E mesmo após ter praticamente pulado, em razão do contato da água gelada contra sua pele, ali estava ela, arrastando os pés em direção ao colégio, a cara amassada de quem não havia dormido nada, mais parecendo um zumbi de séries de ação.

Sem se preocupar por estar atrasada, seguiu em ritmo molenga, até alcançar a sala de aula, onde apenas o fato de praticamente todos os seus colegas estarem lhe encarando de forma temerosa, despertaram sua mente.

— Tem alguma coisa errada. - Pensou, passando os olhos pelos presentes, captando a tensão que circundava a classe. - Aconteceu alguma coisa? - Perguntou, confusa.

Afinal, mesmo Adrien lhe encarava com certo nervosismo.

— Você não leu minhas mensagens? - Alya respondeu com outra pergunta, aproximando-se devagar.

A blogueira, parecia estar em estado tão deplorável quanto a asiática. As bolsas escuras, sob seus olhos, denunciavam que ela havia passado boa parte da noite em claro.

— Droga, você realmente não leu? Achei que apenas não quisesse me responder. - Comentou.

Um vinco de dúvida marcou a testa da garota de cabelos negro-azulados. Por que razão ela não iria querer responder as mensagens da melhor amiga? Afinal, o único motivo pela qual não o fizera, pensava ela, era por não tê-las visto, uma vez que, após o exaustivo resgate da noite anterior, Marinette pegara o telefone celular apenas para desativar o despertador, ignorando qualquer outra função.

— Vocês vão me dizer o que raios está acontecendo ou não? - Questionou, irritada. Para que toda a turma estivesse naquele estado, só poderia ter acontecido algo referente ao festival, e isso a preocupava ainda mais. Logo depois de terem tanto trabalho para ajeitar as coisas…

— É melhor você ver, Mari. - Rose declarou, lhe passando o próprio smartphone cor de rosa, o qual estava desbloqueado e exibindo em sua tela uma imagem em específico.

A mestiça apanhou o aparelho, sua confusão aumentando cada vez mais, até que certo alívio lhe preencheu ao identificar os personagens presentes na ilustração.

— Hei! - Exclamou, animada. - É a história do Nathaniel! - Completou.

— Continue lendo, amiga. - Alya orientou, séria, fazendo com que toda a empolgação de Marinette se esvaísse.

A garota começou a passar as páginas do arquivo PDF, lendo, rapidamente, as linhas introdutórias e, posteriormente, os balões de fala dos personagens. E, conforme o fazia, seus olhos se arregalavam mais e mais.

— Mas que… - Começou, atordoada. - O que significa isso? - Perguntou, erguendo o telefone celular e encarando o ruivo desenhista, diretamente, enquanto se aproximava a passos largos.

Nathaniel encolheu-se em sua carteira.

— E-eu juro que eu não fiz isso, Marinette! - Garantiu, sem conseguir evitar de gaguejar.

Afinal, Marinette parecia furiosa. Verdadeiramente furiosa, como nunca vira.

— Eu juro que conferi o arquivo antes de enviar para Alya e ele estava com os nomes corretos. - Reforçou, desesperado.

— É, mas eu só baixei e postei, do jeito que você me enviou! - Declarou a blogueira, também se aproximando.

— Você tá dizendo que eu fiz isso? - O ruivo levantou, abandonando a pose assustada para também assumir uma feição irritada.

— E você? Está dizendo que eu fiz? - Alya devolveu a pergunta, inclinando-se sobre o ruivo, que era consideravelmente menor que ela. - Ou está sugerindo que os personagens simplesmente mudaram de nome no meio do caminho? - Completou, sarcasticamente.

“Mudaram de nome”, a frase repetia-se pela mente de Marinette. Simplesmente mudaram de nome.

Fosse apenas esse o problema, Marinette pensaria em um jeito de resolver. A questão era, os personagens principais, não haviam tido seus nomes alterados ao acaso, mas sim, para os codinomes da “Operação Jardim Secreto”. E com isso, ela não sabia se poderia lidar.

Aquilo só podia ser um pesadelo.

— Foi você, não foi? - Mudando o foco de sua ira, Alya caminhou até a filha do prefeito, a qual colocou, teatralmente, a mão direita sobre o próprio peito.

— Eu? - Perguntou. - Que interesse eu teria em mudar o nome dos personagens? - Forjou um tom inocente.

— Ora, você sabe… - A morena começou, apenas para ser interrompida.

— Sei o que, Alya? - A loira desafiou. - O que eu deveria saber que, supostamente, me motivaria a mudar os nomes dos personagens do teatro? - Seguiu questionando. - Deve ser um motivo muito bom, para eu chegar ao ponto de tomar uma atitude que também me prejudicaria. Afinal, também estou atuando. - Completou.

A morena, sem palavras, foi obrigada a sustentar o olhar vitorioso da filha do prefeito. Ela sabia, muito bem, que não poderia falar nada, sob pena de entregar Marinette e a paixão secreta que ela sentia por Adrien, o que culminou na famigerada “Operação Jardim Secreto”. E Chloé também sabia, pelo visto.

— Todos sabemos que, se há alguém louco o bastante para fazer algo que prejudique a turma a esta altura, este alguém é você. - A blogueira praticamente rosnou. - Não pense que somos idiotas Chloé. Todos lembramos que os nomes alterados, foram justamente aqueles que você sugeriu para a Srta. Bustier quando o Nathaniel apresentou o primeiro roteiro. - Lembrou.

— Bom, parece que o desenhista de meia tigela gostou tanto da minha sugestão, que resolveu acatá-la, afinal. - Dissimulou a loira, penteando os próprios fios dourados com os dedos. - Um pouco tarde, não acham?

Alya bufou e se afastou, batendo os pés. Se passasse mais um segundo que fosse perto da loira, certamente a espancaria. Quando alcançou o lado oposto da sala, foi recebida pelo namorado, que tentou acalmá-la alisando-lhe os ombros.

— O que vamos fazer? - Mylène tomou a palavra, preocupada. Afinal, eles recém haviam conseguido ensaiar a peça completa e, agora, teriam que lidar com a mudança nos nomes dos personagens.

Marinette passou a mão pelos cabelos negro-azulados, em sinal de desespero, sem coragem de encarar os colegas. Especialmente Adrien.

Sentia que tudo que estava acontecendo , era sua culpa. Se não fosse por sua estúpida paixão pelo modelo, bem como por sua incapacidade de se confessar, jamais estariam passando por aquilo. Ela era mesmo um fracasso.

Atarantada, suspirou, antes de manifestar-se.

— Você já excluiu as postagens do seu blog e do blog da escola, Alya? - Questionou.

A morena torceu as mãos de forma nervosa, fazendo que que a asiática entendesse que o pior ainda estava por vir.

— Eu não estou conseguindo acessar o blog como administradora, Mari. - Contou. - Nem o da escola, nem o Ladyblog. Antes eu pensei que fosse problema na hospedagem, mas agora, acho bem provável que tenha sido hackeado. - Concluiu sua desconfiança encarando a filha do prefeito nos olhos.

— Então os arquivo ainda estão disponíveis para download. - Concluiu. - Há algum jeito de termos uma noção de quantas pessoas baixaram? - Indagou, apertando a ponte do nariz com o polegar e o indicador.

— Bem… - A blogueira começou. - Até pouco antes de você chegar, ao menos duzentas pessoas haviam comentado a postagem no Ladyblog, sendo que pelo menos cento e dez reagiram positivamente a história. - Revelou. - Isso foi até onde consegui contar.

“Claro”, Marinette pensou. O blog de Alya havia alcançado, em pouco tempo, uma popularidade absurda, ainda mais após a sua entrevista no programa de Nadja Chamack. Se havia alcançado aquele número de comentários e visualizações apenas da noite para dia, não queria nem imaginar quantos seriam até o dia da apresentação.

— Cento e dez pessoas leram. - Comentou, desanimada. - Cento e dez possíveis expectadores.

— Isso sem contar aqueles que leram pelo blog da escola, ou pelas postagens que compartilhamos. - Lembrou Alix. - Nós já excluímos os compartilhamentos, mas se considerarmos Adrien, por exemplo, que tem milhares de fãs… - Sugeriu.

— É possível que muito mais pessoas tenham lido. - Concluiu a jovem sino-franca.

Era oficial. Sua vergonha era pública e nacional. Agora, provavelmente, todo adolescente da França, se ainda não sabia, acabaria por saber da trágica e humilhante história de “Lótus” e “Botão de Ouro”. Desolada, fez das tripas coração para conter as lágrimas, que ameaçavam sair.

— Oh, céus - Levou as mãos a testa, sentindo-se completamente desamparada - , isso tem como piorar? - Perguntou.

Ao ver a garota questionar, alguns dos colegas pensaram em gritar para que ela não o fizesse. Porque, se há uma coisa que sempre pode acontecer, é piorar. Como se para desafiar as regras do azar, provando que a Lei de Murphy sim, existe, ao menos uma vez na vida, todas as pessoas passarão por uma situação em que pensam ter alcançado o fundo do poço, apenas para descobrir, que, na verdade, o fundo não existe. Então, ou você continua caindo na sucessão de desgraças que lhe espera, ou arranja um jeito de escalar as paredes, quem sabe ser puxado para cima.

Marinette, por sua vez, ao ver sua professora adentrar a sala, animadamente, com uma grande caixa em mãos, concluiu, naquele momento, que ainda estava despencando no tal poço. Porque aquela caixa tinha um logotipo que ela conhecia. Um detalhe essencial que passara despercebido no meio de toda aquela situação.

— Bom dia turma! - Srta. Bustier saudou, empolgada. - Os exemplares da introdução do teatro que vocês mandaram imprimir, acabaram de chegar! - Anunciou, colocando a caixa de papelão sobre sua mesa. - Estou tão ansiosa para ler! Eu acabei dormindo cedo, por isso não fiz o download no blog da escola. - Contou.

Enquanto a educadora abria o pacote, a mestiça correu em direção a mesa, sendo seguida de perto pelos colegas, que repentinamente se viram tomados pela mesma dúvida que ela.

Caline sequer estranhou a afobação de seus alunos, por julgar que estavam tão ansiosos quanto ela. Por isso, não questionou quando Marinette praticamente arrancou uma das revistas de dentro da caixa, sem se preocupar se danificaria o frágil papel. Apenas começou a realmente se preocupar a situação, quando notou que o semblante de seus pupilos caía, conforme as páginas eram folheadas.

Estavam, de fato, perdidos.

— Na revista também… - Alya, que se encontrava a direita da melhor amiga murmurou. - Os nomes foram adulterados. - Completou.

— A gente gastou uma fortuna para imprimir isso. - Nino, postado logo a esquerda, comentou.

— O que vamos fazer? - Foi Adrien que perguntou, fazendo com que o coração da menina de cabelos negro-azulados se comprimisse ainda mais, apenas por ouvir seu timbre. Aquele era o lembrete que o seu grande amor estava presenciando o maior vexame de sua vida.

Respirando fundo e, lutando para conter o choro que se debatia violentamente em seu interior para sair, Marinette inspirou longamente, antes de proferir:

— Nós vamos mudar os nomes na apresentação.



• • •

 

Se dois dias antes, a turma da Srta. Bustier estava comemorando o sucesso de, finalmente, ter conseguido passar a peça completa, agora, eles lutavam contra o tempo para conseguirem decorar os novos nomes dos personagens e fazer os últimos ajustes no cenário e nos figurinos.

Nem era preciso que um expert avaliasse a situação, para que os adolescentes soubessem que tudo parecia caminhar para um grande desastre.

Adrien e Marinette, que antes representavam, respectivamente, o “Príncipe Áster” e a “Maga Liana”, os dois personagens com mais falas durante a peça, agora se desdobravam para se acostumar que tinham se tornado “Príncipe Botão de Ouro” e “Maga Lótus”. E além das dificuldades óbvias da troca dos nomes com os quais já estavam habituados, tinham, ainda, que lidar com as provocações de seus colegas.

Adrien pois, provavelmente, não existia no mundo um nome mais queima-filme que “Botão de Ouro”, já que até mesmo Nino, de forma particular, acabava fazendo piadinhas com tal apelido, o que o estava deixando profundamente irritado. Ele desejava que, quem quer que tivesse participado da “Operação Jardim Secreto” original, pudesse ter pensado em uma flor que não fosse tão constrangedora para lhe nomear. Ou então tivesse desistido de vez daquela ideia toda. Era tão óbvio que só podia dar errado. Tanto que agora estavam vivendo aquela situação absurda.

Marinette, por sua vez, tinha que forçar uma frieza que sabia não ter, para aguentar ser chamada de “Lótus” a todo momento, sem demonstrar que, na verdade, queria sair correndo, por ter parte de sua história mais vergonhosa praticamente exposta a público.

“Para que, afinal?”, questionava-se com frequência. Apenas para ser a bruxa, que jamais ficaria com o mocinho da história, o “Príncipe Botão de Ouro”? Porque, as únicas opções que os expectadores tinham para fazer, era eleger dentre as Princesas “Margarida”, “Hibisco” e “Sakura”, interpretadas, nessa ordem, por Chloé, Alya e Kagami, qual se casaria com o protagonista. Ou melhor, “Girassol”, “Lírio” e “Tulipa”. Nem mesmo as princesas haviam escapado da tramoia que adulterou os nomes dos personagens, herdando, também, outros codinomes referentes a “Operação Jardim Secreto” original, o que havia trazido um grande problema de adaptação, vez que o cenário tinha sido planejado e distribuído de acordo com as flores que as meninas representavam antes.

Contornando na marra todos esses problemas, a turma seguiu com o projeto, sendo que, era visível, em meio aos alunos de outra classe, o quanto a ideia do teatro interativo vinha sendo comentada e aguardada com ansiedade, principalmente, em razão da atuação de Adrien e dos quadrinhos confeccionados por Nathaniel, que cativaram um público considerável, o qual não tinha como saber a verdadeira história e as armações que continham nas páginas desenhadas.

E antes que percebessem, havia chegado a véspera do festival escolar. Último dia de ensaio e, também, dia da montagem do jardim de origami, que ambientaria a peça.

Naquela manhã de sexta-feira, Marinette não pôde evitar de travar antes mesmo de adentrar o colégio, diante das escadas que conduziam ao pátio.

Faltava, agora, menos de vinte a quatro horas para o início das apresentações. O nervosismo de ter que atuar lhe consumia, assim como o sentimento de miserabilidade por ter que se submeter a interpretar uma personagem praticamente baseada em um de seus planos desastrosos de conquista.

Sentia-se completamente humilhada, com a auto-estima adentrando o subsolo. Entretanto, engolira completamente seu orgulho, para não ter que ver sua turma sofrer com mau-desempenho por algo que essencialmente era culpa sua.

— Vai dar tudo certo, Marinette! Você já enfrentou coisas muito piores e venceu sempre! - A vozinha aguda de Tikki incentivou, abafada pelo tecido da bolsinha cor de rosa, dando a coragem que a garota precisava para finalmente entrar na escola.

— Obrigada Tikki! - Agradeceu sincera, finalmente, começando a transpor os degraus da entrada do colégio.

Infelizmente, seu surto de coragem se esvaiu tão rápido quanto veio, ao notar os olhares de praticamente todas as pessoas presentes no pátio, desde amigos a desconhecidos, convergirem em sua direção. E olha que haviam muitas pessoas ali. Praticamente, o colégio todo.

A mestiça tivera a impressão de estar tendo um dejà vu. Um dejà vu em escala muito maior. Ela nem sabia qual tinha sido a última vez que vira tantas pessoas reunidas no pátio. Ainda mais olhando para ela. Isso geralmente só acontecia quando protagonizava qualquer um de seus tombos fenomenais.

— Por que estão todos olhando para mim? - Perguntou baixinho, mais para si mesma, enquanto perscrutava o ambiente ao redor.

Foi então que ela viu.

Pregada, em uma coluna próxima, estava uma folha, em tamanho A-4, possivelmente responsável por aquele reboliço todo.

Marinette apanhou o papel, constatando que ele trazia os seguintes dizeres: “A Verdadeira História de Lótus e Botão de Ouro.” Seguindo sua análise, viu que, logo abaixo da famigerada frase, havia uma fotografia. Uma fotografia da conversa que tivera com suas amigas sobre a “Operação Jardim Secreto”, a qual havia se perdido após cair nas mãos de Adrien.

Completamente chocada, sentiu os olhos marejarem e, para empurrar-lhe ainda mais para baixo, percebeu que cartazes idênticos a aquele, estavam pregados por toda parte. Centenas deles.

Aquela havia sido a gota d’água.

Sem conseguir manter-se indiferente ao mundo que desabava ao seu redor, simplesmente correu para fora do colégio, ignorando as vozes amigas que gritavam seu nome, de forma preocupada. Estava jogando tudo para o alto. Queria ir para longe de tudo.

Infelizmente, não conseguiu ir muito além.

Pois no meio do caminho, como tinha de ser para que o clichê de sua vida se concretizasse, esbarrou em alguém. Alguém que possuía olhos verdes vivos e encantadores, como duas esmeraldas, os quais lhe encararam preocupados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TREEEEEEEEEEEEEEEETA!!!!!

É disso que eu gosto!!!!!!!!

E aí? O que vocês acharam? O que acham que vai acontecer com o nosso shipp?

Espero que vocês tenham gostado do capítulo!

Beijinhos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Operação Jardim Secreto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.