Um dia Normal escrita por NMCMsama


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Um conto que escrevi inspirado em uma história real de uma conhecida minha referente da necessidade de expor sua orientação sexual...
Espero que gostem!



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Era um dia normal como qualquer um outro na cidade #. O cotidiano seguia o seu ritmo característico de uma letargia matinal que logo seria acompanhado por uma euforia louca banhada em cafeína e que findaria o dia com um trôpego e depressivo retorno aos leitos. O estudante & estava na parada de ônibus, como lhe era habitual todos os dias uteis da semana. Ali estavam as mesmas pessoas de todas as manhas. Tudo igual. Nada diferente. Um sentimento de tranquilidade e segurança envolvia o estudante que cantarolava uma música qualquer...

Então, ocorreu...

Um garoto chegou a parada, ofegante e se sentou ao lado de &. Isso não era algo habitual de se ver.

— Sabe me dizer se o ónibus que vai para a faculdade já passou? – Perguntou o estranho.

& o encarou por logos 10 segundos, tempo suficiente para seus neurônios despertarem de seu torpor e assim articularem um pensamento inteligível e sinalizassem a sua boca a fazendo formular uma resposta.

— Ainda não passou, pelo menos, não vi nenhum ônibus desde que cheguei...E já faz uns 10 minutos. – Informou, solicito.

— Obrigado.

& ainda não tinha terminado sua fala.

— Alias, sou hétero.

O estranho o encarou com o cenho franzido.

— Er...Ok. – Respondeu com evidente confusão.

& esperou...Esperou, mas o estranho nada disse. Isso não era normal.

— Sou hétero, branco e de direita. – Talvez o estranho não tivesse entendido, logo era melhor se repetir. Quiçá desejasse mais informações?

— ... Bom para você?

Agora era a vez de & franzir o cenho.

— Você não vai dizer nada?

— Tipo o que?

— Sua orientação sexual, por exemplo. – & já estava perdendo a paciência com a falta de noção do estranho.

— E eu preciso?

— Lógico que sim, são as normas básicas de educação.

— Normas básicas?

“Ele deve ter algum retardo mental...” pensou & com pesar.

— Sim, normas básicas. Afinal, para evitar problemas futuros você deve me informar, de antemão, que grupo você pertence.

— Problemas?

— Você pergunta muito, não é mesmo?

— Bem, pergunto porque não estou entendendo!

& era um bom cidadão, era obvio que o estranho iria ter problemas se continuasse naquela perigosa ignorância, era o seu dever instruí-lo assim poderia retornar a seu cotidiano normal.

— Vejamos, por exemplo, vamos gerar a hipótese que você fosse um homossexual e flertasse comigo... Para evitar esse embaraço, eu te informei a minha orientação sexual e se você já tivesse informado a sua eu saberia como deveria me portar ao seu lado. Poderia, por exemplo, te evitar e sentar em outro banco! Viu? Ao revelar que grupo pertences, contratempos como esse seriam evitados.

— Hum... – O estranho não parecia ainda convencido.

— Quer outro exemplo? Pois bem, ao falar que sou de direita já indico como se fundamenta minhas ideias do ponto de vista político, se você me informasse que era de esquerda, poderíamos evitar discussões desnecessárias sobre esse assunto, já que pertencemos a grupos claramente diferentes!

— Mas seria preciso te informar isso? Tipo, você poderia muito bem descobrir isso só falando comigo! Ou pelo meu modo de me portar?

& negou com a cabeça.

— Eu estou justamente te explicando isso! Conversar significa se expor a uma possibilidade de conflito! Mas ao saber que grupo você pertence eu posso traçar rotas de dialogo que não culminem em desastre social! Pessoas pertencentes a grupos diferentes devem se preocupar em se portar de uma maneira tal que não ofenda o outro grupo... De modo que grupos afins fiquem juntos e grupos divergentes devem, educadamente, se distanciar. Assim, vivemos em uma sociedade pacifica e sem conflitos, cada um em seu devido lugar social/político/econômico!

O estranho fez uma careta, claramente não concordava, & cogitou a possibilidade de o estranho fazer parte do grupo Anarquista...

— Bom dia! Poderia me informar que ônibus devo pegar para ir ao centro? – Uma senhora se aproximou da dupla e inqueriu – Alias, sou lésbica.

— Bom dia. – Respondeu &— Você precisa pegar o 34 ou o 23. E eu sou hétero.

— Obrigada. – Ao falar isso a mulher saiu rapidamente dali, como que fugisse de um predador.

O estranho observou tudo isso com assombro.

— Viu? Ela ao informar que é lésbica evitou que eu flertasse com ela e pedisse o seu número de celular ou algo do tipo. – & aproveitou o momento para ensinar o seu “pupilo”.

— E você iria paquera-la? Ela tem tipo... 60 anos! E você não parece ter mais de 30...

— Bem, isso seria rapidamente resolvido quando descreve mais minhas preferências sexuais, ressaltando a minha Gerontofilia.

— O-Ok... – O estranho se afastou um pouco de &.

— Agora que você entende, pode me informar a que grupo pertence?

— Olha, cara... Eu acho que não devo ser obrigado a contar essas coisas assim! Não vejo lógica nenhuma nisso! E daí que somos diferentes? Isso não deveria ser um empecilho para conversarmos sem precisar me rotular em uma categoria!

— Como não vê lógica? Acabei de lhe informar vários argumentos plausíveis! – Disse & irritado – Um exemplo claro de que grupo você pertence está bem aqui!

& apontou para o braço do estranho.

— A sua pele! – Completou, vendo que o estranho era muito lento para entender o obvio!

— O que tem ela?

— É negra!

— Pois é, eu não sou cego...

— Você deve pertencer ao grupo dos negros!

— Isso meio que é obvio, não?

— Mas você tem a obrigação de me informar!

— Mas você mesmo concluiu isso sem precisar que eu falasse nada!

— Bem, mas você pode não se sentir incluso no grupo...De modo que falar sobre os benefícios da escravidão para o nosso país não seriam algo perigoso de ser abordado em uma conversa amigável.

— Como é?

Um ônibus parou e o estranho suspirou aliviado, sem ao menos se despedir saltou do banco em que compartia com & e adentrou no veículo.

— Esses jovens de hoje em dia... – Comentou um homem que estava próximo de &— Simplesmente não entendem que existem um modo que as coisas são construídas. Se as coisas são assim devem continuar sendo assim! Para quê discutir? Tentar mudar de grupo?

& assentiu em concordância, sentia pena do estranho, iria ter sofrimentos desnecessários com esse estilo misterioso de ser.

— Alias... – O homem sentou ao lado de &— Sou Hétero que uma vez ou outra tem aventuras com jovens do mesmo sexo. Mas sou hétero.

— Sou hétero também. – & achou melhor acrescentar – Só hétero.

— Ah! – O homem soltou um suspiro triste e se afastou.

“Conflito evitado!” Concluiu & alegre de si mesmo.

Por fim, a sua monótona rotina tinha se restaurado.


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Notas finais do capítulo

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