Espirais escrita por neko chan


Capítulo 9
9° ciclo da espiral




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756683/chapter/9

— Verificou se pegamos tudo? - digo imprensando a ultima peça de roupa dentro de umas das caixas

— Acho que sim. - ela suspira se sentando na frente da porta larga da parte de trás do veículo e balançando os pés para fora

— Já se decidiu para onde quer ir agora?

— Eu não sei bem... acha mesmo que deveríamos apenas ignorar tudo que encontramos?

— Pode ser apenas uma coincidência, você sabe, não podemos realmente afirmar que aquilo era para nós

— Talvez......

— Você quer mesmo procurar aquilo? - sento-me ao lado dela e ela balança a cabeça afirmativamente - Certo.... ok, podemos fazer isso

— Tem certeza?

— É o que você quer, não é?

— Sim, mas....

— Não é como se tivéssemos algo especifico para fazer

Ela me abraça me impedindo de a abraçar de volta, deixando meus braços colados ao corpo, o nível extremo de calor no toque de um lobisomem costumava ser um pouco incomodante para a maioria das outras espécies, mas talvez eu não tivesse percebido que estava com tanto frio, aquele abraço pareceu aquecer meu corpo inteiro, era tão confortável que comecei a me sentir sonolenta e me senti com frio novamente quando ela se afastou.

— Onde deveríamos procurar primeiro? - ela pergunta

— Talvez...... na ultima cidade em que visitamos? Lembra, aquela casa

— Acho que faz sentido

Ela sorri e pula para o chão se dirigindo ao banco da frente.

— Não prefere que eu dirija?

— Precisarei cuidar do seu machucado de novo depois, então eu prefiro que você fique deitada

— Não quero fazer você ter tanto trabalho

Brook dá alguns passos para se aproximar de mim, coloca suas mãos nas minhas bochechas, o calor deixara minhas orelhas fervendo e os pelos de minha nuca arrepiados, ela desce minha cabeça até bem perto da dela e encosta minha testa na dela.

— Se você vai se sentir sozinha, deveria apenas me dizer. - fala baixo por estar bem perto de mim e eu fico quieta - Pode se deitar no meu colo se preferir

O dia estava bem frio como de costume, Brook levou um cobertor para o banco da frente, se sentou e me ofereceu seu colo, era um pouco estranho, ela esta com roupas diferentes do normal, uma saia azul escuro com uma blusa branca com o colarinho da mesma cor que a saia, eu me deitei e senti o conforto convidativo de seu colo, ela me cobre com o lençol e acaricia minha cabeça com uma mão virando a chave do veículo com a outra.

— Vai ser uma descida complicada, tente se segurar. - ela diz

Solavancos e balanços tornaram o descanso quase impossível ali, demoramos algum tempo para sairmos da montanha, e mais um pouco até chegarmos até a cidade. A casa da árvore continuava igual a como deixamos, mas, agora, parecia um pouco mais vazia e solitária, comecei a notar coisas nela que não havia notado antes enquanto caminhávamos mais uma vez por ela, notei os 2 quartos secretos no 2° andar, um de uma adolescente e outro de uma criança, um pouco parecido com o quarto do templo, notei também as marcas nos colchões do 3° andar, um deles parecia mais fundo que os outros, provavelmente alguém mais pesado dormia nele, um outro parecia de alguém mediano e o terceiro quase não havia marcas, devia ser alguém realmente pequeno e magro.

— Eu deveria cuidar do seu machucado logo. - ela olha para mim juntando as foto do chão do terraço

— Não se preocupe com isso, eu ficarei bem. - digo um pouco tonta

— Não seja tão teimosa, venha aqui. - ela abre os braços e me deixa descansar em seu ombro

Por algum motivo, notei que comecei a sentir necessidade do contato com Brook, era confortável, eu me sentia bem com ele, talvez até mesmo aquele sentimento que chamavam de felicidade, ela fica ali acariciando minhas costas por algum tempo.

— Pode esperar aqui até que eu pegue as coisas no veículo?

— Claro

Brook de deita no chão e desce as escadas rapidamente, o céu cinzento me incomodava agora, as cores eram sempre as mesmas, todos dos dias, eu estava começando a me cansar de todo aquele cinza. Ela voltou algum tempo depois com a pequena caixa metálica do kit de primeiros socorros e alguns tecidos em mãos, minha visão estava embaçada, eu quase não conseguia definir seu rosto até que ela se sentasse perto de mim, levanta um pouco minha camisa e retira o tecido ensanguentado de cima dos buracos da ferida.

— Audrey, isso está bem...... terrível

— Talvez

— Acho que não temos escolha. - ela pega agulha e linha e me mostra

— Está brincando comigo, não está?

— É só até o machucado se fechar, se não você vai perder sangue até morrer

— Não temos uma alternativa melhor?

— Eu posso bater na sua cabeça e te deixar inconsciente

Suspiro e aperto os olhos com força apertando os punhos.

— Apenas faça rápido. - digo relutante

Ela segura minha mão antes de começar, leva minha mão até sua perna me deixando segurar em sua saia para que eu a puxasse quando sentisse muita dor, a pequena e gelada agulha metálica na minha pele gerava um terrível desconforto, era tudo tão frio, o arfar quente que eu mesma produzia era o que impedia meus lábios de congelarem. Quando termina de fechar os machucados, ela os limpa com algodão, álcool e água, e o enfaixa novamente com um pedaço rasgado da velha calça cinza que ela usava.

— Se sente melhor? - pergunta

— Frio... - respondo tremendo

— Está tudo bem. - me abraça fazendo com que eu quase derretesse com aquele calor, eu a abraço de volta com cuidado para não abrir as feridas, eu desejava que ela pudesse cobrir inteiramente meu corpo frio - Trouxe algumas roupas para você, caso estivesse com frio. - me mostra uma calça folgada preta e uma blusa rosa - Não se mexa muito, eu vou ajudar você

Levanto meus braços como ela pede, me pergunto o motivo dela não me ajudar a descer as escadas e fazer isso em um quarto um pouco mais aquecido do que aquele inferno gelado do lado de fora, mas se eu dissesse alguma coisa ela realmente se sentiria muito mal por não ter pensado nisso, então apenas observo seu rosto concentrado enquanto ela me ajuda a me despir e coloca roupas novas em mim com um sorriso de "missão cumprida" logo depois.

— Melhorou?

— Claro, obrigada. - dou um sorriso

— Deite aqui, vamos olha para o céu um pouco. - me oferece eu colo mais uma vez e eu deito - Devia ser tão mais bonito quando não era dessa cor, não acha? É difícil acreditar que as pessoas podiam ver isso todo dia e mesmo assim não paravam para ficar horas aproveitando aquela maravilha

— As pessoas só dão valor para coisas que não veem todos os dias, então sempre deixavam coisas assim passarem como algo não tão relevante

— O que você acha que temos agora que sentiríamos saudades se tudo voltasse a ser como a milhares de anos atrás?

— Provavelmente nada

— Essa foi uma resposta bem rápida. - ela ri e ficamos um tempo em silencio apenas olhando a grande cúpula cinza acima de nossas cabeças

— Na verdade, acho que sentiria saudade de uma coisa sim

— Do quê?

— Das cores que só você trás no meio de todo cinza


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espirais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.