Espirais escrita por neko chan


Capítulo 4
4° ciclo da espiral




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2 de maio, o dia em que finalmente encontramos o caminho para fora daquela floresta, me sentia fraca por ter passado todo aquele tempo comendo tão pouco, Brook estava dirigindo enquanto eu estava deitada no colchão tentando ler o livro que ela trouxe conosco.

— Ei, Brook, veja aqui. - digo colocando a cabeça pra fora da janela - Acho que descobri sobre o que fala o livro

— Mesmo? - ela se vira surpresa

— Acho que são anotações sobre os monstros que deveríamos matar, elas devem ser bem antigas. - passo a mão pela página do livro aberto em minha mão

— Então talvez nos livremos de um problema se conseguirmos ler, não?

— Não é como se fosse existir uma solução milagrosa aqui, se tivessem descoberto algo já teriam feito algo a respeito

— Talvez..... ou poderiam não ter descoberto que sabiam de algo

— E por que não falariam que descobriram uma coisa importante dessas?

— Eu não sei, podemos descobrir o que aconteceu se descobrirmos como ler esse livro

— Eu vou tentar mais um pouco então

— Ah, não agora, chegamos. - ela fala quando avista uma cidade a poucos metros de distância

Brook para o veículo bem na entrada para podermos andar um pouco, me sentia meio tonta a cada passo que dava, minha barriga roncava como louca e a dor parecia envolver meu corpo inteiro.

— Você não prefere voltar? - ela pergunta

— Vou ficar bem

— Acho melhor você descansar mais um pouco, eu vou encontrar alguma coisa para você comer

— Eu ainda consigo ir

— Não! - ela fica a minha frente me olhando irritada com a cabeça inclinada para cima para poder me olhar nos olhos

— Pode ser ruim se você ficar sozinha, e se alguma coisa desse errado?

— Então.... - ela para pra pensar um pouco e se vira de costas - Suba

— O que?

— Suba, eu carrego você

— Você também não está em muita posição de fazer esforço, não estamos comendo muito recentemente

— Mas você sempre me deixa comer mais do que você, então eu tenho que cuidar de você dessa vez

Não estava me sentindo muito bem pra discutir, então apenas me segurei nos ombros dela e dobrei os meus joelhos, ela me levantou sem muita dificuldade e voltou a caminhar. Ela me carregou por alguns minutos naquela cidade deserta até que encontramos uma fabrica muito grande.

— Acha que era uma fabrica de rações? - ela me pergunta

— Eu não sei, mas precisamos encontrar combustível para o veículo logo, não podemos demorar muito por aqui

— Vamos apenas dar uma olhada, não adianta de nada conseguirmos combustível se morrermos de fome no meio da viagem

Ela entra ainda me carregando, andamos por um tempo no meio de varias maquinas grandes e antigas que pareciam estar sem uso a muito tempo. Brook me coloca no chão por um tempo enquanto verificava o depósito.

— Tiramos a sorte grande! - ela diz segurando um saco marrom muito grande em mãos, aparentava ser bem pesado, estava escrito "ração" dele

 Ela rasga um pedaço do saco com os dentes e uma pequena nuvem de pó branco sai de dentro, coloca a mão dentro do saco e seus dedos voltam sujos com o pó que havia dentro, ela o lambe e faz uma careta

— Acho que isso não é comida

— Ainda temos que assar

— Assar?

— A comida não esta pronta, é apenas o pó, ainda temos que misturar com água e fazer a massa

— Então vamos fazer!

— O que mais tem ai dentro?

— Vejamos... - ela volta para dentro - Açúcar, chocolate, morango, uva e pêssego

— Devem ser a parte do pó que vai dentro, pegue tudo, vamos fazer isso. - me levanto com dificuldade - Eu vou procurar um forno que ainda esteja pegando

— Entendido

Caminho pela grande fábrica até encontrar os fornos, haviam 5 neles na parte que encontrei, 3 deles não estavam mais funcionando, mas 2 ainda estavam bons, chamei Brook para trazer os sacos até ali.

— Agora só precisamos de água. - digo

— Onde vamos encontrar por aqui? Acho que nossa ultima garrafa acabou ontem

— Não chove a algum tempo, então não acho que será tão fácil de encontrar

— Talvez nos tanques, fabricas assim não costumam ter tanques reservas?

— Espero que não estejam vazios

Demoramos um bom tempo até encontramos a porta que nos levava até o tanque, o local estava parcialmente destruído, dos 6 tanques de 200 metros que haviam ali, 3 estavam recobertos de escombros e pedaços caídos da fábrica e 2 dos quase intactos estavam vazios, por sorte, o ultimo deles ainda tinha uma quantidade ótima de água, pegamos os baldes e bacias abandonados ali e juntamos bastante água, tanto para nós levarmos quanto para fazermos a comida, ainda retiramos um pouco para lavarmos nossas roupas ficando apenas com as de baixo.

— Acho que nunca trabalhamos tanto em um dia só. - ela diz sorrindo largando a bacia com água no chão perto do forno

— Tem razão, mas pelo menos tivemos sorte

— Como fazemos a comida?

— Assim. - eu pego uma tigela entre as milhares jogadas pelo chão e encima das mesas e coloco um pouco do pó principal, misturo com o pó de "chocolate" e adiciono água até metade da altura de onde o pó ia, começo a misturar com as mão amassando a massa que começava a se formar entre meus dedos

— É como magia! - ela fala impressionada olhando para a massa

— Depois você ajeita na forma que quiser e deixa no forno até que endureça

— Eu quero tentar! - dá pequenos pulos empolgados

— Aqui. - entrego o saco para ela e ela despeja na tigela fazendo uma bagunça

— Tome cuidado, não podemos desperdiçar isso

— Desculpe. - ela tenta colocar com cuidado, mas continua se atrapalhando

— Me deixe ajudar. - fico atrás dela e a ajudo a segurar o saco, ela coloca o pó de "uva" e adiciona água, mas começa a fazer outra bagunça na hora de fazer a massa

— Isso é muito difícil

— Tem que mover as mão com cuidado. - ainda atrás dela, seguro suas mãos e as movo sob a massa até ela ficar na consistência certa

— A sua barriga é quentinha. - ela ri

— Pra você pode parecer, mas eu estou congelando, mal posso esperar pra ligarmos o forno

— Talvez as roupas sequem mais rápido se as deixarmos perto do forno

Brook e eu juntamos as massas numa bandeja grande e fizemos a forma das rações com elas, Brook fez varias pequenas asagaos parecidas com a que vimos alguns dias atrás, eu apenas optei pela forma retangular normal, deixamos no forno enquanto nos aquecíamos perto dele, aquela fabrica era mais fria ainda sem nossas roupas de cima.

— Nossas roupas estão secas. - ela as tira de perto do forno e me entrega minhas calças cinza e a camisa branca que usávamos como uniforme no laboratório, suas roupas eram iguais as minhas, apenas diferenciávamos pelo tamanho - Acha que deveríamos levar roupas conosco?

— Onde encontraríamos roupas?

— Talvez em alguma casa ou loja

— Seria um desperdício de espaço e geraria um peso desnecessário

— Mas usamos as mesmas roupas a tanto tempo

— Nos preocupamos com isso depois

Depois que as raçoes da primeira fornada ficaram prontas, nós comemos bastante ali mesmo, sentadas no chão sem nos importarmos com nada, nunca me senti tão bem comendo antes.

— O que será que era um chocolate? - pergunta

— Eu não sei. - dou uma mordida na barra - Talvez algum doce, não colocamos açúcar nesse e ele é bem doce

— Deveríamos fazer os outros logo antes que escureça lá fora, ainda temos que procurar combustível

Arrumamos as coisas assim que terminamos de comer e usamos todo o pó que encontramos para fazer bastante comida, juntamos tudo em caixas próprias para aquilo que estavam no depósito e levamos a comida e a água de volta para o veículo fazendo algumas viagens de ida e volta bem cansativas.

Encontramos um posto que ainda havia combustível e juntamos tudo o que sobrara para levarmos ao veículo, além de encontramos uma antiga loja de conveniência perto do posto onde algumas latas de comida ainda estavam na validade.

— Hoje foi nosso dia de sorte com toda certeza, veja só quanta comida! - ela admira as latas de comida dentro da caixa - Sopas, comida em conserva, salsicha, isso tudo parece uma delicia

— Não se empolgue demais, não sabemos quando encontraremos uma cidade com tanta comida de novo

— Certo. - ela fecha a caixa novamente e pega o livro o abrindo em uma página qualquer e de deitando de costas no colchão

— Ainda nada? - pergunto e ela balança a cabeça negativamente - Bem, eu... não consegui encontrar roupas, mas... na loja perto do porto eu encontrei isso. - retiro a corda com pequenas lâmpadas de trás das minhas costas

— Legal! - ela se levanta para ver de perto - O que é isso?

— Eu não sei, mas parecia estar em bom estado

— Tente ligar

— Ok

Eu afasto algumas caixas e coloco a ponta na tomada disponível, as luzes se acendem e começam a piscar.

 - Isso é incrível! - ela sorri ficando com o rosto bem próximo da corda - Eu tive uma ideia!

Brook retira a corda da tomada e começa a enrola-la nas barras de ferro que davam a volta no teto para nos segurarmos em caso de subidas ou decidas difíceis.

— Apague as luzes. - ela me pede e eu desligo o interruptor, colocando a base da corda na tomada novamente

As pequenas luzes começam a brilhar acima de nossas cabeças, Brook me puxa para a cama me fazendo bater as costas no colchão e se deita ao meu lado olhando para cima com um grande sorriso.

— Você sabia que antigamente o céu era tão claro que as pessoas podiam ver estrelas todas as noites? - ela me pergunta

— Estrelas? Acho que já ouvi falar, mas não me lembro bem

— Eram como pequenas luzes que brilhavam bem alto no céu, as pessoas formavam desenhos ligando as estrelas

— Acha que elas ainda estão lá encima, tipo..... depois da nevoa

— Quem sabe?

Ela continua sorrindo enquanto encara as estrelas improvisadas, mas esse sorriso, por algum motivo, era um sorriso triste.

— Nós vamos ver algum dia. - viro a cabeça para olha-la - Nem que tenhamos que escalar a montanha mais alta do mundo para fugirmos nessa nevoa

— Você promete?

— Eu prometo

Naquela noite descobri 2 coisas que me foram muito importantes, a primeira era que havia algo maravilhoso bem acima de mim esse tempo todo e eu nunca poderia imaginar que tal coisa existia, e a segunda era que haviam varias emoções que poderiam ser colocadas em um sorriso, mas aquele ultimo sorriso que Brook me deu, no entanto, era de alguma emoção que eu desconhecia.


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