— Dormimos demais, dormimos demais, dormimos demais! - escuto Brook reclamar correndo de um lado pro outro tentando me acordar
Abro os olhos e puxo o relógio ao meu lado e vejo que já passara das 14, me levanto em um pulo.

— Como dormimos tanto? Nem fomos dormir tão tarde. - digo

— Eu não sei, apenas precisamos nos vestir e ir embora

Ainda estávamos naquele quarto que encontramos antes, antes de dormirmos, Brook buscou pijamas para dormirmos ali, ficamos no chão apenas com lençol e travesseiros.

— Audrey, ajuda.... - ela me pede tentando tirar a blusa presa em sua cabeça

— Brook, não temos tempo, eles podem chegar a qualquer momento. - puxo a camisa dela a deixando apenas de calças de pijama e sutiã, retira a calça também pra se trocar

— Pode me passar o meu vestido?

— Aqui...- pego o vestido de cima do balcão, mas antes de entregar a ela, ouvimos barulho de passos se aproximando - Se esconda

Eu a puxo e a levo para o primeiro lugar onde achei que poderíamos no esconder: os pequenos armários de baixo do balcão, ela se senta de costas em minha frente entre as minhas pernas. Encarei seus ombros nus por um tempo, a pele morna dela encontrava em mim, estava um pouco mais fria que o normal, tento abraçá-la para que ela se aqueça pelo menos um pouco.

— Consegue ouvir alguma coisa? - pergunto a ela

— Está perto

— Como são os passos?

— Pesados e espaçados, provavelmente alto

— Acha que tem pernas finas?

— Talvez... - para e escuta um pouco mais, vejo suas orelhinhas se movendo - É, muita chance

— Provavelmente é um mudador de mentes. - suspiro - Não podemos mesmo sair daqui

Paro de falar ao ouvir a porta de abrindo e passos ossudos batendo no chão, Brook abraça minhas pernas, suas mãos tremiam um pouco.

— Está tudo bem, eu não vou deixar ele encontrar em você. - falo em seu ouvido

— Não faça isso. - se vira e fica de frente para mim, ainda entre minhas pernas, com seus braços em volta do meu corpo - Não se machuque por mim de novo

Ela fica quieta me olhando, sua respiração fazia cócegas na minha pele e sua cauda balançava timidamente.

— Sabe, Audrey.... - ela deixa seu rosto mais próximo - Você tem um cheiro muito bom

Brook se coloca mais para cima, seu pequeno corpo inteiramente encima do meu enquanto ela estava com o rosto enterrado no meu pescoço. “Certo, devemos estar perto da primavera, ela continua sendo um lobisomem, mesmo sem as flores e as árvores, né? Seria indelicado perguntar a ela em que época do ano estamos? Ela não tem culpa disso, mas o que aconteceria se eu perguntasse e ela respondesse ‘inverno’?”.

— Brook?....

— Hm? - continua em meu pescoço - O que foi? - seus lábios se movem encostando em mim

— Em que época do ano estamos?

— Primavera

— Começou hoje?

— Provavelmente

— Não pode fazer isso quando estivermos fora de perigo?

— Isso o que? - levanta a cabeça pra me olhar

— Eu que pergunto, o que exatamente você está fazendo?

— Tentando te impedir que você faça algo burro

— Então você deveria apenas pedir. - suspiro - Não me faça sentir assim

— Assim? - ela sorri - Desculpe, fiz você se sentir desconfortável?

— Se você estivesse com roupas....

— Ah, pode me ajudar? Não tem muito espaço pra me mover

Consigo ajudá-la a se vestia com dificuldade, ficamos muito tempo ali dentro, eu estava extremamente faminta, foram horas até que aquela criatura saísse dali, ainda tivemos que esperar até que Brook pudesse confirmar que ele estava longe o suficiente para sairmos.

Nunca fiquei tão feliz de voltar para o veículo para comer, salsichas enlatas nunca pareceram tão atraentes.

— Traçando o curso para onde? - Brook pergunta de sentando ao meu lado enquanto eu girava a chave

— Próxima cidade, espero acharmos um laboratório nela

— Espero poder ver como era o mundo sem essa névoa. - deixa a cabeça no meu ombro - Pense como seria lindo ver as flores toda primavera

— Por falar nisso...... o que acontecia com você quando era primavera quando morávamos no laboratório?

— Eles me deixavam trancada num quarto, geralmente com travesseiros ou ursos de pelúcia

— E você.......

— Eu...... pessoalmente não tenho ideia, mas acontecia inconscientemente

— Vamos parar de falar sobre isso então,.... por quanto tempo você vai ficar assim?

— Algum tempo, eu não sei, 1 ou 2 meses? Talvez 3

Semanas de viagem, Brook e eu ficamos dentro do veículo todo esse tempo, lá fora estava mais perigoso que o normal, então, quando achamos um ambiente seguro, saímos para passear e ficamos fora por um bom tempo.

— Audrey! Suba aqui! - ela me chama de cima de uma árvore, era como levar um cachorro para passear

— É perigoso, essas árvores estão mortas, podem se quebrar facilmente

— Não seja negativa, se divirta! Eu já não estava mais aguentando ficar dentro daquela caixa de metal com rodas. - ela tenta pular de um galho pro outro, mas ele se eu quebra e ela cai nos meus braços

— Imaginei que isso fosse acontecer

— Foi o cabelo

— O que tem o cabelo?

— Está muito grande, não consegui ver que o galho estava frágil

— Nas últimas 6 árvores?

— Isso, certamente foi o cabelo!

— Ok, você quer que eu corte?

— Mesmo? Eu quero

Voltamos ao veículo para pegar uma tesoura, ela se senta em uma raiz de uma árvore grande e eu tento cortar seu cabelo o melhor possível.

— O que achar?
— Ficou muito bom. - sorri - Agora eu posso subir em todas as árvores que eu quiser! - levanta-se e começa a subir na árvore grande enquanto eu me preparo para pega-la quando ela caísse de novo - Eu não falei que eu ia conseguir ver tudo? - diz já lá encima

— O que achou?

— Uma cidade!

— Muito longe?

— Alguns quilômetros ao norte, acho que chegaremos em algumas horas.... não parece muito grande, uma aldeia talvez

— Então vamos logo

— Indo! - ela pula do galho e cai nos meus braços de frente pra mim - Essa foi a parte que eu mais achei divertida