Espirais escrita por neko chan


Capítulo 10
10° ciclo da espiral




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Procuramos por algum tempo andando pelos mesmos cômodos da casa, o cansaço e a frustração de não encontramos nada logo começa a mexer com nossa estabilidade mental e resolvemos apenas dar uma pausa e comer alguma coisa.

— Ei, Audrey

— Hm? - pergunto com uma barra de ração na boca desviando o olhar distraído da cama para ela

— Já matamos vários daqueles monstros desde que fomos criadas, não?

— Provavelmente

— O número deles nunca parece mudar, independente de quantos matamos

— Talvez eles tenham uma reprodução rápida

— Reprodução?

— Talvez não tenham te explicado sobre isso

— O que é?

— Uma forma de perpetuar a espécie

— Como?

— Tendo filhos

— Igual a nós?

— Não, nós não nascemos, nós fomos feitas em laboratório

— Os bebês não nascem assim?

— Eles vêm do úteros de suas mães 

— O que é uma mãe?

— A mulher que fica grávida e cuida do bebê quando ele nasce

— E como ela fica grávida?

Parei por um segundo encarando seu rosto curioso, pude pensar em diferentes palavras que poderiam responder essa pergunta, mas pra todas elas faria uma nova pergunta tendo que me fazer dar mais detalhes sobre esse assunto, eu me sentia um tanto quanto ansiosa falando disso.

— Ela encontra um parceiro para formar uma família

— E como aparece o bebê?

— Eles........ - paro por um momento pensando se eu deveria ou não responder, uma grande e desconfortável sensação de frio na barriga começa a me perturbar - Eles fazem sexo

— O que é isso?

— Você não é nova demais para estar perguntando isso?

— Nós duas temos 14 anos!*

 

— É uma pergunta muito difícil de responder

— Mas eu quero saber

— É quando duas pessoas se gostam muito e ficam mais próximas fisicamente uma da outra

— Então nós podemos fazer isso? - me pergunta animada com os olhos brilhantes

— Claro que não, duas garotas não podem fazer isso

— Mas você disse que é para ficar mais próximo, por que não podemos ficar mais próximas?

— É outro tipo de proximidade, proximidade romântica, quando você quer abraçar e beijar a pessoa

— Ah. - ela se ajeita timidamente no chão onde estávamos sentadas, desviando o olhar para outro lado - Entendi

— Deveríamos voltar à procurar? - pergunto tentando mudar de assunto

— Acho que é melhor

Brook e eu começamos a nos levantar, mas eu sinto uma pequena tontura e tropeço sem cair para o lado.

— V-você está bem? - ela pergunta

— Apenas me senti tonta por um segundo, mas eu vou ficar bem

— Você deveria descansar, talvez seja por causa do machucado, não deveria se esforçar muito

— Não estou me esforçando muito, vai ficar tudo bem

Ela se enfurece e me puxa pelo pulso me fazendo deitar na cama do quarto e se sentando no chão perto da cama de costas para mim.

— Durma um pouco, você pode  sair quando estiver realmente se sentindo bem

Suspiro, sabia que não iria adiantar discutir agora, de certa forma eu sabia que ela estava certa, então apenas fiquei ali deitada agarrando o lençol e encarando o cinzento teto com rachaduras.

— Pelo menos venha dormir um pouco também

— Eu vou apenas esperar você dormir e continuar procurando um pouco 

— De jeito nenhum. - estico meio-corpo para o lado e seguro sua mão - Venha descansar comigo

— Ok

Brook se aconchega debaixo do lençol de frente para mim, não sei exatamente quando tempo ficamos em silêncio encarando uma a outra, parecia uma imagem congelada, eu não conseguia me concentrar de alguma forma, seus olhos cinzas, como todo o ambiente a nossa volta e meus próprios olhos, pareciam mais brilhantes e coloridos que todo o cinza que eu via em volta, seu rosto pequeno de bochechas pálidas a faziam parecer uma boneca de porcelana, era engraçado para para prestar atenção nela, estivemos juntas por bastante tempo, mas parecia que eu estava a vendo pela primeira vez.

Ela abaixa suas orelhas de lobo as colocando para trás poucos segundos antes de colocar sua cabeça entre meu pescoço e meu corpo.

— Descanse bem. - ela diz baixo, provavelmente se preparando para dormir

— Tente não dormir demais

 

 

— Você não conseguiria viver sem mim, eu sei disso. - escuto uma voz feminina ao meu lado, viro o rosto, mas não consigo olhar bem para ela, era como se seu rosto fosse apenas um borrão

— Tem certeza que não é o contrário? - pergunto como se não tivesse controle sobre minha própria voz

— Você fica solitária mais rápido

— E você ficaria sem a coisa que mais gosta de fazer se eu não estivesse aqui

— Acho que você tem um ponto. - ela ri e olha para frente, meu olhar acompanha o dela e vejo um pôr do sol, um belo pôr do sol de uma vista a cima de um barranco com o mar embaixo de nossos pés pendurados para fora da beira

— Queria que pudéssemos fazer isso todos os dias

— Até poderíamos, mas temos trabalho a fazer. - resmunga se jogando para trás deitando na grama

— Não vi nada que nos impede então. - me deito ao lado dela - Poderíamos sair do exército e passar o resto dos nossos dias saindo juntas

— Quem dera. - ela ri

— Apenas vamos esquecer do trabalho por um momento e pensar em nós. - passo a mão pelo rosto dela - Só em nós

A garota me beija, eu não conseguia processar aquela informação, o calor que se expandia pelo corpo, a ansiedade tomando minha mente, a excitação sexual e o sabor que sentia em minha boca, eram sensações novas e repentinas que acabaram por me deixar tonta e com a mente completamente em branco.

— Eu te amo, querida. - digo

— Eu também te amo

 

 

 

Abro os olhos assustada, mesmo quarto, mesma cama e mesma lobisomem dormindo profundamente ao meu lado, muito provavelmente foi apenas um sonho estranho, gostaria de poder dizer que apenas o ignorei e continuei a dormir, mas aquela cena grudou na minha mente, eu a vi e revi varias vezes em pensamento, havia muita coisa nela que estava fora da minha compreensão.

Me viro para o lado tentando buscar conforto na familiar imagem de Brook dormindo ao meu lado, minha ansiedade apenas atacou tão fortemente quanto antes.

— Audrey? - ela murmurar esfregando os olhos - O que foi? Teve um pesadelo?

— Apenas um sonho confuso

— Eu também. - ela ri com a voz rouca ainda muito sonolenta - Tinha uma garota comigo, eu não sabia que garotas se beijavam. - ela ri novamente e pega no sono tão rápido quanto acordou

Talvez estivesse apenas sendo sonâmbula, não deveria saber do que estava falando direito, apenas me cubro com o lençol e fecho os olhos novamente esperando para descobrir o que aconteceria se eu dormisse novamente.


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Notas finais do capítulo

* apenas lembrando que as duas foram criadas em laboratório e tem a mesma aparência desde que “nasceram”, esse 14 anos é apenas o tempo em que elas estão funcionando
Vamos ter um capítulo rápido, pq hoje foi dia de trote na faculdade e eh to toda dolorida e com cansaço/sono, parece que minhas pernas e braços vão cair kkkkkkkkkkkkkkkkkk (cada “k” é uma lágrima)



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