— Sara? - não obteve resposta. — Hey!- mais uma vez ela não respondeu. — SARA!!

A morena a olhou assustada.

— Oi!

— Perdida em pensamentos de novo. Tem que seguir em frente, amiga!

— Mas eu tentei fazer isso, Rayle.

Sara passou esse tempo todo tentando esquecer Grissom, tentando não pensar nele, tentando seguir sua vida, tentando gostar de outra pessoa. Mas foram tentativas fracassadas.

— É, foi uma pena seu namoro com o Doug não ter dado certo.

Doug Wilson era investigador também, mas tipo que só investiga casos de transportes aéreos. Ele e Sara trabalharam juntos num acidente, passaram muito tempo juntos e viraram bons amigos. Mas a verdade era que Doug ficou caidinho por ela, porém só às vezes demonstrava.

— Mas você tem que sair mais, conhecer gente nova... Eu vou sair com o Renê amanhã e eu não quero que fique sozinha aqui.- Rayle disse com aquele tom de preocupação. Tinha acabado de chegar do trabalho e estava vestindo seu pijama.

— Acho que eu vou dar uma volta amanhã também.- antes que Rayle pudesse falar algo, ela logo tratou de dizer: — Sozinha.

Rayle suspirou.

— Como foi no trabalho hoje?- Sara mudou de assunto.

— Foi bem. Inclusive…- Rayle sentou-se na cama e se cobriu olhando para Sara que estava deitada na cama de cima. — Hoje o Roger chegou pra gente, Renê e eu, e disse que estava feliz pelo nosso namoro estar realmente sério.

— Mas vocês contaram pra ele?

— Não. Ele disse que sabia desde o começo, ou seja, além de não sabermos disfarçar porra nenhuma…- Sara riu. — … não era problema isso.

— Menos mal né?! Aliáas… você nem me contou né?- Sara se sentou na hora.

— O que?

— Você… Renê… quatro paredes…

— Contei sim!- Rayle afirmou indignada. — Como não? Que absurdo, Sara! Eu tinha certeza que tu tava cochilando aquele dia.- Sara não aguentou e riu.

— Espera aí, eu não durmo em conversas não!

— Como é que não lembra do que eu te contei depois da minha primeira noite com ele?

Sara não teve argumentos.

— Se lascou, quem cala consente.

— Não vem com essa não!

— Tem um ano que a gente namora, Sara. Pelo amor de Deus, eu falei sim. Estou muito indignada agora, dá licença!

Sara deu risada da indignação da amiga, era muito engraçado quando Rayle ficava assim.

— Calma vai, eu juro que não lembro. Você só contou uma vez então, senão eu me lembraria.

— Foi justamente no dia que eu contei que você dormiu acordada enquanto eu falava. Como eu não percebi? Nem entusiasmada você estava.

— Espera, por que eu ficaria entusiasmada na sua narração de um sexo?

Rayle ficou em silêncio por alguns segundos olhando pra ela.

— Ai que disneycessário, Sara.

A morena deu risada.

— Acho que depois dessa a gente tem que ir dormir, né? Só o que vou dizer é que ele é ótimo no assunto e eu tomo muito cuidado por conta das possíveis consequências.

— Muito bom saber disso… Das precauções, eu digo.

Rayle sorriu.

— Você fica vermelha quando está sem graça, é engraçado.

— Não mais que o Grissom.- sorriu.

Não demorou para o sorriso de Sara sumir.

— Ah não… Eu não devia ter dito nada.- Rayle se culpou pela tristeza da amiga. Levantou e foi deitar com ela. — Não fica triste, vem cá...- a loira aconchegou a cabeça de Sara em seu colo. — Você vai vê-lo de novo. Se for pra vocês ficarem juntos, vocês vão ficar.

~  ☺  ~

Dois dias se passaram e…

— Raayleee! - Sara começou a rir de felicidade e correu até o quarto.

— Que foi, louca? - Rayle saiu assustada do banheiro com os cabelos molhados.

Sara contou que Grissom havia ligado pra ela pedindo ajuda numa investigação em Las Vegas e que precisava muito dela lá.

— Ahhhh! - gritaram como costumavam fazer.

— Quem sabe ele precise de você em algo mais além da investigação. - piscou pra amiga.

Sara riu.

— Será que eu tenho chance?

— Claro que tem!

Rayle perguntou quanto tempo ela ficaria lá e quando ela iria. Sara iria no dia seguinte e ficaria somente uma semana. Porém, houve uma mudança de planos.

~  ☺  ~

Uma semana depois, Sara havia ligado para Rayle avisando que voltaria na companhia de Grissom, mas não disse o porquê. A fotógrafa foi até o aeroporto, depois de tomar um sorvete com Renê, no horário marcado de chegada para recebê-los.

— Sara! Grissom! - Rayle os viu no desembarque e correu para abraçá-los.

— Oi Rayle!

— Senti saudades de você, maluquinha!

— Maluquinha é sua vó, Sara!

Gil e Sara riram.

— Nossa, quanto tempo, Grissom! Como você está?

— Estou muito bem. E você?

— Ótima. Por que voltou com a Sara? Motivo especial? - fez cara de maliciosa e Sara logo tratou de explicar.

— Não deixa de ser especial. Grissom veio comigo pra resolvermos tudo no laboratório e lá em casa.

— Tudo o quê? - Rayle não entendeu.

— Eu vou me mudar pra Vegas, Ray.

— O que??? Como assim, Sara?

Sara não sabia se Rayle estava feliz ou decepcionada.

— Eu chamo o táxi. - Gil resolveu deixá-las conversando sozinhas.

— Grissom me ofereceu um emprego em Vegas e eu decidi aceitar.

— Por que não me contou pelo telefone, sua louca?- Rayle nunca ia ficar triste com isso, queria que ela fosse feliz independente de estar perto ou longe dela.

— Porque quis fazer uma surpresa. É um grande passo, não só na minha carreira, mas talvez na minha vida pessoal também.

— Para bom entendedor, meia palavra basta. - riram. _ Amiga, isso é incrível! Fico feliz por você!

— Sério?

— Claro que sim! Sou sua melhor amiga, quero que seja feliz! Estou muito orgulhosa.

— Obrigada!- Sara se emocionou e a abraçou.

Rayle deu uma força ao arrumar tudo também e depois Grissom as ajudou com as malas até o aeroporto.

— Pode ficar com meu carro.

— Ah, muito obrigada!

Sara riu com a ironia, pois tinha consciência que Rayle não sabia dirigir.

Mas seu sorriso sumiu ao perceber que era uma despedida.

— Vou sentir sua falta... - abraçaram-se.

— Eu também... Muita! - uma lágrima caiu dos olhos castanhos dela e, ao se separarem, Sara a recolheu.

— Não chora, maluquinha. Eu vou manter contato, tabom? Não vou esquecer você.

Sorriram uma pra outra com aquela carinha fofa de “a saudade vai doer” e Grissom chamou a atenção delas.

— Tudo pronto. Vamos?- se aproximou.

— Vamos sim. - Sara sorriu para Grissom e voltou sua atenção à Rayle. _ Dá um aviso meu pro Renê?

— Claro.

— Diga que se ele não cuidar bem de você, vou dar uns cascudos nele!

Rayle deu risada.

— Pode deixar que dou seu recado.

Abraçaram-se mais uma vez pra finalizar.

~  ☺  ~

Ainda naquele mesmo dia, depois do expediente, Rayle foi pra casa junto com Renê e contou a ele o porquê de estar pra baixo.

— Não é que eu não esteja feliz por ela, não é isso. É um grande passo na carreira dela e ela vai estar mais perto do homem que ela gosta, mas eu nunca fiquei tanto tempo longe dela. Eu vou sentir muita falta.

— Tenho certeza que vocês sempre vão manter contato, independente do que aconteça. Não precisa ficar assim, princesa.

Rayle sorriu. Ele sempre foi muito cavalheiro e carinhoso com ela, e esse apelido passou a ser mais frequente quando ele falava com ela. Ela adorava.

— Pelo menos não vou ficar sozinha aqui.

Renê sorrindo disse:

— Na falta da melhor amiga pra se divertir, cá estou.

Rayle também sorriu com essa resposta e o abraçou pela cintura.

— Te amo.

Rayle sentiu um beijo ser depositado em sua testa e a resposta dele em seguida.

— Também te amo.

~  ☺  ~

Um mês se passou e as duas se falavam todos os dias. Rayle sabia da dificuldade que Sara tinha pra dormir por conta dos pesadelos relacionado à sua infância que eram frequentes. Em uma madrugada qualquer, Rayle recebeu a ligação da amiga e mesmo com sono atendeu com alegria.

— Sarita!

— Oi Ray. - soluçou depois de cumprimentar a loira.

— O que houve, amiga? Está tudo bem?

— Não. Acabei de acordar.

Rayle soube interpretar aquela frase muito bem e seu coração doeu.

— Ainda está tendo pesadelos?

— Sim, e continua sendo sempre o mesmo. Eu não sei mais o que fazer. Eu não consigo, de jeito nenhum, superar a morte do meu pai, Rayle.

— Sara, fica calma. Você vai superar tudo isso, amiga. Você é forte. Tudo o que você precisa é de mais tempo.

— Está demorando demais e eu estou me esforçando.

Rayle resolveu tentar distraí-la um pouco, era boa nisso.

— Sei que está. Vamos fazer o seguinte, me conta como está sendo as coisas aí, porque eu estou mega curiosa.

— Está tudo indo bem.

— Está se dando bem com todo mundo?

— Não, com todo mundo não. - sorriu ao se lembrar e secou as lágrimas.

— Ué, como não?

Sara contou que se dava bem com o crush e mais dois da equipe, com um nem tanto e com outra era missão quase impossível, que inclusive era a melhor amiga de Gil. Conversaram por mais alguns minutos e Rayle bocejou.

— Eu te acordei, não foi?

— Não, eu já estava acordada.- mentiu.

— Rayle, eu te conheço e sei quando você mente. Volte a dormir, mais tarde eu te ligo.

— Não, não quero te deixar sozinha aí de madrugada.- Rayle abria sim mão de sua noite de sono pra entreter a amiga para que ela não se sentisse sozinha. — Você precisa de alguém pra conversar. Me conta do Grissom.

— Rayle, é sério…

— Me conta do Grissom!!!

Sara riu. Ela tinha a melhor amiga do mundo e sempre agradeceria por isso.