Re;Blade escrita por phmmoura


Capítulo 8
Capítulo 7 - Fael da Tribo da Floresta




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Então essa foi a vida e morte de Fael, membro da Tribo da Floresta, pensou a espada após o jovem respirar pela última vez e a vida deixar seus olhos no instante seguinte.

Depois disso, ele e os anciões foram tachados como traidores…

Fael escolheu se sacrificar para que o resto de seu povo não morresse lutando a batalha dos outros… Mas ele jamais imaginou que o Reino mandaria tantos para lidar com os “traidores” que permitiram a passagem do inimigo para suas terras. Especialmente após lidarem com todo o exército dos Habitantes da Areia.

Mas, no fim, ao menos sua morte não foi em vão. O sacrifício de Fael e dos demais impediu que a tragédia de dez anos atrás se repetisse…

Ou o Reino destruirá os que restaram depois?

Mas, não importa o quanto pensasse, Tetsuko não chegava em uma conclusão.

Sou só uma espada, no fim das contas. Só posso ser empunhada. Não posso mudar o destino de nada… muito menos o meu próprio… Seja matar ou proteger, depende de quem me empunhar.

Mesmo após morrer, Fael não soltou a espada.

Aquilo fez Tetsuko sorrir em sua cabeça.

Morrer segurando sua arma… isso sim é um verdadeiro guerreiro. Alguém digno de empunhar uma espada como eu.

Ela queria fechar os olhos dele, mas, sem mãos, não havia nada que pudesse fazer além de rezar pela alma dele.

Descanse, Fael da Tribo da Floresta. Descanse em paz sabendo que sua história não será esquecida.

Após terminar sua prece, Tetsuko olhou em volta.

Não parecia haver sinal de vida no campo de batalha além dos corvos circulando nos céus.

Acho que precisarei esperar até que os ratos apareçam… Imagino também se existem catadores neste mundo…?

Tetsuko amaldiçoou a falta de controle sobre si mesma e quis saber quanto tempo teria que esperar até que seu próximo usuário aparecesse.

Ela fechou os olhos que não possuía e aguardou…

***

— Isso foi brutal… — disse alguém, despertando a espada.

Até daquela distância, Tetsuko sentiu o choque na voz do garoto.

— E isso por que o Reino pôde mandar o exército depois de lidar com os Habitantes da Areia. Se tivesse, teria sido um massacre total — respondeu outra voz.

Três pessoas caminhavam pelo campo de batalha.

Uma arrastavam um carrinho de madeira caindo aos pedaços enquanto os outros se inclinavam sobre os corpos e carregavam qualquer coisa útil.

Tetsuko podia ver espadas, lanças, armaduras, capacetes, botas, vestimentas de couros. Eles pegavam tudo e colocavam no carrinho, estivesse inteiro ou quebrado.

Por um instante, eles pararam. A mais alta se inclinou por sobre um corpo e gemeu enquanto tentava virar o cadáver para o lado.

— Podem parar de ficar olhando feito bestas e me ajudar com essa droga? — retrucou ela e os outros logo foram ajudá-la.

Então tem catadores por aqui também, pensou Tetsuko, sorrindo.

Por algum motivo, aquela ideia era reconfortante.

Após conseguirem girar o cadáver, retiraram a armadura e qualquer outro pertence de valor.

Então se moveram para o corpo seguinte, aproximando-se cada vez mais de Tetsuko.

Os três não eram o único grupo de catadores no campo de batalha.

Até onde sua vista alcançava, Tetsuko podia ver vários grupos vasculhando o campo de batalha atrás de qualquer coisa de valor.

Então é assim que encontrarei meu próximo usuário… sendo vendida por catadores… catadores que ficam felizes com qualquer pedaço de metal que não esteja quebrado…

Tetsuko sentiu uma vontade repentina de rir.

Eu era exigente demais para quem vendia minhas armas no meu mundo e agora serei vendida como uma lataria qualquer!

Demorou um pouco para ela parar sua risada que não emitia som.

Acho que o destino é assim mesmo… e aqui vai o meu, pensou enquanto os catadores se aproximavam dela.

Então o trio finalmente chegou onde Tetsuko estava.

— Ei, olha só… — disse o garoto empurrando o carrinho, apontando para Fael. — Não é o traidor?

A mulher olhou para onde ele apontava. Então fez uma carranca.

— Ele parece… tão jovem — disse a garota, caminhando até ele, inclinando-se para olhar seu rosto mais de perto. — E bonito… se não tivesse traído o reino e lutado contra os Habitantes da Areia, poderia estar vivo…

— Não tem como saber agora, tem? — disse o garoto, parando o carrinho e dando de ombros. — É uma pergunta pra profeta responder. Só sei que ele causou muitas mortes…

— É… foi tudo por causa dele — disse a mulher, olhando para Fael com uma expressão estranha.

Então, de repente, ela o chutou para o lado. E de novo, e de novo.

Enquanto chutava o cadáver, seu rosto se contorcia com mais raiva, seus chutes ficando mais pesados também.

A cada chute, a cabeça dele balançava molemente.

A cada chute, Tetsuko sentia a raiva ardendo dentro de si.

— É por causa dele que o Reino deu a louca… por causa dele que os soldados saíram da cidade… por causa dele que a mamãe foi morta naquele beco… por causa dele, perdemos tudo… é tudo culpa dele! — gritou ela, sem jamais parar o pé.

Os outros olharam na direção dela, mas ninguém disse nada.

Tetsuko sentiu a energia dentro dela arder sem controle.

Então ela concentrou aquela energia na mulher.

Pare, pensou, transformando a energia dentro de si em algo frio. Não importa o quanto o culpe, não insulte os mortos. Não insulte Fael da Tribo da Floresta, meu usuário.

A mulher finalmente parou de chutar o morto.

Arfando e suando, ela tirou o cabelo da frente do rosto.

Então seus olhos caíram sobre a espada que Fael se recusava a largar.

A mulher encarou Tetsuko por muito tempo, sem se mover.

— Ei… dá uma olhada na espada — disse ela quando notou Tetsuko.

— Como um macaco desses arrumou uma espadona dessas? — perguntou o garoto, estendendo a mão para pegá-la.

— Espera! — gritou a mulher. — Não toque nessa espada!

O garoto congelou e olhou para ela, aterrorizado.

— Por quê…?

A mulher mordeu os lábios enquanto os irmãos a encaravam.

Ignorando as crianças, ela empurrou a mão do garoto para o lado e se aproximou.

Ela abriu, com dificuldade, os dedos duros e retirou a espada da mão fria de Fael.

A mulher levantou-se, encarando intensamente Tetsuko.

Ela virou a espada, examinando cada centímetro da lâmina.

Ela pode me sentir, percebeu a ferreira. Não sabe que há uma alma nesta espada, mas pode sentir a energia dentro de mim.

Tetsuko tentou depositar aquela energia que se acalmara na mão da mulher.

Mas, novamente, ela não sentiu a correnteza dentro de si se mover.

Essa energia não obedece à minha vontade…

— Não importa onde o traidor a conseguiu — disse a mulher, por fim, caminhando em direção ao carrinho. Porém, sem jamais tirar os olhos de Tetsuko. — Provavelmente roubou de algum nobre idiota que morreu tentando criar fama pra si.

Ela olhou em volta, conferindo se alguém olhava na direção deles.

Os outros catadores voltaram a seus serviços, fingindo que não olhavam.

Mas Tetsuko notou que alguns ainda olhavam para ela.

A mulher tirou um pano sujo do carrinho e limpou o sangue da espada.

Então ela pegou uma das roupas de pano que cataram e envolveu Tetsuko com ela antes de colocar a espada no meio de seus espólios.

Seus irmãos ainda encaravam o estranho comportamento da mulher.

— Essa espada é mais valiosa do que tudo que conseguimos até agora — sussurrou, olhando em volta para se certificar de que ninguém escutava. — Vai atrair atenção desnecessária.

O garoto arregalou os olhos e caminhou até o carrinho. Ele moveu alguns pedaços de armadura para esconder mais Tetsuko.

— Ninguém vai ver agora — disse, orgulhoso.

— Boa ideia. — A mulher mostrou um sorriso cansado para ele.

— Melhor esconder o cabo também — disse a garota. — Não tem joias, mas é elegante demais pra uma lâmina qualquer.

Ela puxou o pano e envolveu-o ao redor do cabo.

Tudo escureceu para Tetsuko.

Então esses são meus novos donos…

Ela estava satisfeita enquanto a usassem ou vendessem para alguém que usasse.

Prefiro alguém forte, mas uma espada é feita para ser usada, pensou.

Foram as palavras pelas quais viveu no mundo anterior.

Ela odiava consertar espadas mal-usadas, mas odiava ainda mais a manutenção e limpeza das não usadas.

Aquelas lâminas que nunca foram usadas para o que foram criadas, servindo apenas de decoração para algum samurai idiota e acumulando poeira.

Tetsuko fechou os olhos que não tinha mais e apreciou o balanço do carrinho enquanto os irmãos continuavam sua busca por algo útil.

— Ei, esta luta foi estranha demais, não acha? — A voz da garota ecoou após um tempo.

— Foi sim — respondeu a mulher. — Meu amigo soldado disse que eles deveriam ter mandado 2000 pessoas para lutarem com os macacos e segurar os Habitantes da Areia, mas, no último minuto, receberam ordens de ficarem em posto. Algo sobre relatórios de outros invasores, aí não puderam se mover.

— Outros invasores? Nesta área? — A voz do garoto não escondia seu medo.

— Sim…

— Como? Daqui só dá pra as pessoas virem do Vale ou da Floresta. Ninguém pode cruzar as montanhas — disse o garoto com a voz cansada após o carrinho ter ficado preso em algo.

— Não foi por aqui. Meu amigo falou que teve relatos de invasores de todos os lado. Por isso eles ficaram em posição, sabendo que os macacos morreriam. Mas ficaram surpresos quando os Habitantes da Areia cruzaram a Floresta intactos.

— Ainda não acredito que os macacos deixaram eles passarem sem lutar — disse o garoto.

— Graças a eles, o forte perdeu o comandante — disse a garota.

— É… O exército vai precisar de um novo comandante. As coisas vão mudar por aqui.

— Por quê? Duvido que o novo comandante será diferente do anterior.

— Pelo que fiquei sabendo, vai ser sim — disse a mulher, com a voz pesada.

— Enquanto houver lutas aqui por perto, podemos conseguir dinheiro.

Tetsuko escutou tudo e não se importou.

Ainda que se importasse, não havia nada que pudesse fazer para mudar qualquer coisa.

Mas algo dentro dela ficou incomodado com aquelas palavras.

Não me sinto não ser relacionada a isso, acho que é graças às memórias de Fael…

Bom… Tudo que posso fazer é esperar que meu próximo usuário seja alguém como ele.

Matarei os inimigos perante ele.


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