Re;Blade escrita por phmmoura


Capítulo 7
Capítulo 6 - Aquele que empunha - Parte 3




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Antes que partissem, Fael chamou Lia para conversarem a sós.

— Tome cuidado, por favor — disse quando estavam sozinhos. — Se descobrir qualquer coisa, sopre o chifre. Irei imediatamente.

— Você também — disse ela, unindo suas mãos às dele, gentilmente acariciando-as. — Por favor, cuide-se.

Fael mostrou um sorriso triste e uniu as duas testas.

— Espero que ninguém encontre nada — sussurrou ele para ela.

— Não é só você.

— Eu planejava pedir pra um com você quando eu vencesse a Caçada — disse ele, tentando conter as lágrimas.

— E se eu vencesse?

— Então eu esperaria que você me pedisse — disse, sorrindo.

— Sendo assim, já está decidido, vamos nos tornar um quando isso acabar. — Lia riu.

— É uma promessa.

Os narizes dos dois se tocaram, um sinal de amor, antes de se unirem a seus respectivos grupos.

Por favor, que não seja nada demais, rezou ele para seus ancestrais, apertando a lança que já pertenceu a seu pai.

Mas sua prece foi em vão.

Eles encontraram os Habitantes da Areia próximos ao rio que atravessava a Floresta.

Não pode ser… Ninguém no grupo teve qualquer reação enquanto observaram os invasores.

Tantos… eles planejam invadir o Reino novamente, Fael percebeu logo, as memórias voltando à sua mente.

Sua respiração ficou rápida e fraca. Ele sentiu uma dormência gelada assolar seu corpo. Isso não pode estar acontecendo de novo… não, por favor…

— Fael… — sussurrou uma de seus amigas.

Mas ele não demonstrou reação. A mulher balançou o jovem.

— Fael — disse ela, com a voz mais firme. — O que faremos agora?

— Precisamos… precisamos… saber… quantos são… — Fael conseguiu dizer com a voz rouca, sem tirar os olhos dos Habitantes da Areia.

Sem dizer nada, eles assentiram e foram para direções diferentes.

Fael ficou parado onde estava, observando o grande número de forasteiros andarem em uma formação fechada.

Ainda que eles sejam fortes e mortais na areia, a quantidade não deveria fazer tanta diferença na Floresta… Mas se queimarem tudo como da última vez…

O tempo passou lentamente enquanto ele esperava pelos números.

Mas, quando seus amigos retornaram, ele não pôde acreditar nas notícias que trouxeram.

— Não pode ser — disse Fael, com a voz grave, e ombros caindo.

— Ainda que não sejam tantos quanto antes, não podemos lutar.

— Seremos todos mortos desta vez.

— O que faremos, Fael?

— Nada… Não vamos fazer nada — disse, ainda sem tirar os olhos do grupo.

Até daquela distância, ele reconheceu as máscaras de pano que eles usavam. É a mesma coisa… ainda após dez anos…

— O quê? Não podemos fazer nada! Não quando estão invadindo nossas terras de novo — disse a mulher numa voz baixa.

— Fazer o quê? Não podemos lutar contra eles! Mesmo dentro da Floresta, não temos pessoas o bastante!

— Eles só precisam cortar ou queimar as árvores pra nos encurralar…

— O que faremos?

Antes que Fael pudesse responder, todos ouviram algo que fez o sangue deles congelar.

Duas trombetas ecoaram pela floresta.

Então, de outra direção, mais duas. E mais duas..

— O que…? — A mulher soltou Fael, olhando para a direção da última trombeta. — Mais inimigos…?

— Esse não é o único grupo…?

Fael caiu no chão, passando ambas as mãos pelo cabelo.

Lia… por favor, esteja bem, pensou.

Em algum lugar escondido de sua mente, ele pensou na mulher que amava, percebeu que havia algo que precisaria fazer.

Com muita dificuldade, ele pegou o chifre preso em seu cinto de couro.

Ele respirou fundo e soprou duas vezes, o mais alto que pôde.

O som ecoou pela floresta novamente.

Após ele desaparecer, restou somente o pesado clima entre eles.

— Não… não podemos lutar — disse, sua mente sem funcionar direito.

Ainda assim, ele virou-se para o inimigo.

Eles pararam de caminhar.

Todos ergueram suas armas, prontos para lutar contra qualquer ataque surpresa.

— Eles não conseguem achar a fonte das trombetas— disse a mulher, o alívio era claro em sua voz.

— Então ainda temos uma chance — disse Fael. Ele virou-se para seus amigos. — Dois de vocês vão ficar aqui para observá-los. O resto vai voltar e avisar aos anciãos da situação.

— O que você acha que vão decidir?

Não é nossa luta… se quiserem invadir o Reino… se for assim, certamente vão mandar reforços, disse Fael para si mesmo, sentindo o estômago apertar.

Os dias seguintes passaram lentamente.

Ninguém da Tribo da Floresta conseguiu descansar.

Todos tinham um dever a cumprir. Desde coletar suprimentos até criar armas.

Sejam os velhos demais ou os que mal aprenderam a caminhar.

Fael e os demais estavam a cargo de observar os invasores.

Ele mal conseguira dormir. Mas, junto a Lia, recusou-se a tirar os olhos dos inimigos.

Eles sabiam, pelos outros grupos de observação, que o exército invasor dos Habitantes da Areia era muito maior que o de dez anos atrás.

Não somente guerreiros dessa vez. Jovens e velhos, homens e mulheres.

Todos os habitantes do deserto estão aqui, soube Fael. Alguma coisa deve ter acontecido nas terras deles…

Mas isso não fazia diferença.

Ainda que queiram invadir o Reino faz muito tempo, não faz sentido trazer aqueles que não podem lutar.

Então há a chance de não planejarem lutar contra nós… não há sentido em perder qualquer pessoa que possa lutar agora…

Então eles querem guardar suas forças até que o exército chegue? Evitar uma luta inútil? Da última vez, quase nos dizimaram, mas não era nem metade de suas forças…

Os dias passaram, os Habitantes da Areia não mostraram sinais de que iriam lutar. Apenas continuaram adentrando a floresta.

Eles sabem que foram descobertos, pensou Fael quase duas semanas depois. Não só pelas trombetas, mas por também serem guerreiros. Não tem como não terem nos notado após tanto tempo…

— Fael — sussurrou seu amigo. — Volte para o vilarejo. Você também, Lia.

— Não posso, eu…

— Os anciões estão o chamando — disse ele, sem olhar nos olhos de Fael. — É sobre os reforços do Reino…

Fael arregalou os olhos e levantou.

Ele olhou para os Habitantes da Areia novamente antes de voltar para a Tribo.

No instante em que chegou, todos olharam para ele.

Ainda que ninguém dissesse nada, ele sabia que havia algo de errado. Era óbvio pelo rostos deles.

— O que houve? — perguntou, olhando os mais chegados nos olhos. Mas eles evitaram o contato visual.

— Fael — disse a senhora de idade com uma voz grave. — O Reino não mandará reforços.

Silêncio encheu a clareira quando ela disse aquilo.

Fael sentiu sua garganta ficar seca e a mente vazia.

— Então… — conseguiu dizer com a voz rouca. — Nós…

— Sim. — Ela fechou os olhos para impedir suas lágrimas. — Estamos a própria mercê…

Pela primeira vez, em semanas, Fael não sentiu desespero.

Em vez disso, ele sentiu a raiva queimar dentro de si. Toda a raiva e frustração da situação fez as palavras saírem.

— Por que eles não mandam ajuda? Não deveríamos ser todos do mesmo país? Viver sob o mesmo rei? São inimigos dele! Ainda que nunca tenhamos o visto, somos povo dele também! O inimigo dele vai matar o povo dele!

Todos abaixaram o olhar. Sentiam o mesmo.

Lia correu até chegar ao lado dele, mas mesmo o toque dela não fez diferença para acalmar a ira de Fael.

— Conte a Fael. — A anciã virou-se para o mensageiro.

— E-Eu entreguei nosso pedido — disse ele, com a voz trêmula.

— Por que eles não vão nos ajudar? — perguntou Fael tentando não descontar sua raiva no homem mais jovem.

Ele engoliu em seco e olhou para o chão, com medo de olhar nos olhos de Fael.

— Eles… eles disseram que estavam tendo dificuldade com outras invasões também… Por causa disso, não podem deixar as cidades sem proteção… só podem enviar os exércitos maiores quando o inimigo estiver perto o bastante….

— Estamos mortos quando o inimigo chegar perto o bastante! — gritou Fael, a voz ecoando pelas árvores.

Um silêncio longo e pesado preencheu a clareira.

— O que faremos agora…? — perguntou alguém, quebrando o silêncio após muito tempo.

— Anciões! Fael! Lia! — Uma jovem garota veio correndo. Ela parou perante eles, arfando e colocou as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego. — Os Habitantes da Areia…

— O quê?! Eles atacaram? — perguntou Fael, quase balançando a garota.

— Não… eles… mandaram… uma mensagem… — Ela respirou fundo. — Eles ergueram a bandeira branca.

— Não querem lutar?

— Então querem o quê?

As pessoas perguntavam mais e mais, mas ninguém tinha a resposta.

Fael olhou para os anciões.

Então a senhora, que ajudou a criá-lo depois de sua avó morrer, assentiu.

Com Lia ao seu lado, ele correu até a posição de vigia.

Todos os rápidos o bastante foram com ele.

— O que eles estão fazendo…? — perguntou Fael, mais para si do que para aqueles ao seu redor.

O grupo de Habitantes da Areia que eles assistiram ainda marchava.

Mas eles mudaram sua formação.

Agora caminhavam em formação de lança, com os guerreiros na outra ponta para proteger as pessoas de dentro da formação.

Mas os que estavam na ponta da formação, em vez de carregarem armas, bradavam uma bandeira branca.

— Eles estiveram fazendo isso por um tempo já — informou um garoto que ficara para vigiá-los.

Fael entendeu imediatamente.

— Eles querem atravessar a floresta em segurança…

Eles não pretendem lutar conosco…

— O que faremos? — perguntou Lia.

Fael jamais tirou os olhos da bandeira, observando a ponta da lança enquanto o grupo se movia.

Apesar das bandeiras, os guerreiros da outra parte da formação ainda carregavam suas armas.

Mas eles estão se certificando de que estão apontadas pro chão… será um sinal de que não querem conflito pro seu povo…?

— Fael… — Lia segurou sua mão, observando os invasores ao lado dele.

A respiração de Fael ficou rápida e rasa.

Ele sabia o que aconteceria se permitissem que os Habitantes da Areia passassem livremente pela floresta.

O Reino nos tachará como traidores por não lutar contra os inimigos jurados do Rei.

Eles vão matar os líderes… Eu incluso… Mas a tragédia de dez anos atrás não se repetirá…

Após muito tempo, os anciãos chegaram. Eles já sabiam da situação.

— Os outros grupos estão fazendo o mesmo — disse um dos anciões.

Ela observou a bandeira por muito tempo antes de se virar para o jovem.

— Estamos velhos. Não ligamos de morrer se significar a sobrevivência dos mais novos…

Ela parou de falar, deixando as palavras não ditas no ar.

E quanto a você?

Fael tirou sua atenção da mulher e voltou-a aos invasores.

— Não quero ver meus amigos e entes queridos morrendo… não outra vez… não por causa de uma luta que não é nossa…


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler.
Espero que tenha gostado



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