Re;Blade escrita por phmmoura


Capítulo 5
Capítulo 4 - Aquele que empunha - Parte 1




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Fogo e morte espalhavam-se pela floresta. Os gritos de medo e dor preenchiam e cortavam o ar.

Até dentro da caverna segura e escondida da Tribo da Floresta, todos podiam ouvir.

Os gritos preenchiam e ecoavam nas paredes de pedra, ficando mais altos, como se fossem súplicas da própria caverna.

Como se um monstro pudesse surgir e matar a todos.

Fael tremeu e chorou.

Ele abraçou a cabeça, cobrindo os ouvidos.

Não fez diferença. Ainda podia ouvir os gritos. Seu corpo não parou de tremer.

O garoto sentiu dentro de sua alma. A floresta não pertencia mais a eles.

Por que… por que isso está acontecendo…? Por que agora…? A gente deveria estar celebrando… Deveria ser um tempo de alegria… como sempre…

O choro do garoto ficou mais alto.

A senhora ao seu lado puxou ele e a garota para mais perto de si, abraçando seus netos.

Fael sabia que a avó queria reconfortá-lo com as palavras, dizendo que tudo ficaria bem.

Mas nem ela pôde se forçar a dizer tal coisa.

Estava com tanto medo quanto ele.

O garoto envolveu-a com seus pequenos braços, tentando encontrar o conforto que estava acostumado a sentir da avó.

Encontrou o que desejava, mas não foi o bastante para acalentá-lo de seus medos.

A garota, ao contrário de Fael, não tremia ou chorava.

Ela não demonstrou qualquer reação enquanto a avó a abraçava com mais força.

Faela estava de olhos fechados, com o rosto tenso e travado.

O único sinal de que ainda estava viva era a fraca respiração.

Mas o garoto sabia que não era só isso. Sabia muito bem o que a irmã fazia.

Ela se concentrava, escutando qualquer som próximo da caverna.

Apesar de ser um ano mais nova que Fael, ela apertava com ambas as mãos a velha lança feita de presa de um Javali Lança do pai deles, pronta para usá-la contra qualquer invasor que encontrasse a caverna onde estavam.

Diferente de Fael, Faela era talentosa com armas. Tinha talento como guerreira.

Todos reconheciam sua habilidade desde pequena.

Estava destinada a lutar, a proteger.

Destinada a ter o nome entoado pelos Guardadores da História do Povo da Floresta.

Se não fosse pela Faela, eu… nós todos estaríamos mortos, pensou o garoto, tremendo mais ainda ao lembrar.

Ele virou-se para a irmã, olhando para aquele rosto tenso, buscando encontrar um pouco da coragem dela dentro de si.

Ele queria abraçá-la, agradecê-la silenciosamente por salvá-los quando o mundo dos dois começou a desabar.

Mas impediu-se de fazê-lo.

Ela precisa se concentrar agora… Não posso atrapalhar ela… Ela não pode ser incomodada… Ela vai nos salvar… que nem antes…

Todos, independentemente de idade ou sexo, pertencentes à Tribo da Floresta sabiam o que fazer em caso de problemas.

E, quando todos os pássaros voaram, com os guinchos preenchendo o ar, todos sabiam que algo estava errado.

Em um instante, todos sabiam que a fonte do medo dos pássaros não pertencia à floresta.

Ainda que não soubessem o que causara o distúrbio, sabiam de seu perigo.

Todos ficaram em alerta, do mais novo ao mais velho, prontos para fazer o que precisasse ser feito.

Os velhos demais e jovens demais para lutar iriam se esconder na caverna.

Os que pudessem manejar armas protegeriam os que não podiam até estarem sãos e salvos. Então se juntariam aos demais guerreiros e caçariam o que havia interrompido a paz da floresta.

Após o grupo guerreiro ser dividido, cada um prosseguiu com seu dever.

Fael e Faela despediram-se de seus pais e seguiram a avó.

Cada galho que pisavam, cada pedra que chutavam, cada som que era produzido ao redor dos dois os assustavam.

Não pense, disse o garoto para si mesmo. Não pense… ou entrará em pânico…

Fael tentou imitar sua irmã mais nova e controlar sua respiração, mas falhou.

Tinha dificuldade para respirar. Era difícil demais respirar fundo.

Após uma longa caminhada que parecia não ter fim, estavam quase perto da caverna.

Então, escutaram algo não natural.

Não veio do grande bando de jovens e velhos. Muito menos dos guerreiros acompanhando-os.

Era um som raramente escutado naquela floresta.

Porém, mesmo assim, todos reconheceram o som de metal.

Fael tentou escutar a origem do som, mas parecia vir de todas as direções, como se tentasse cercá-los.

Como se tentasse afogá-los.

Os guerreiros se prepararam, erguendo seus machados de pedra e lanças.

Então, o som parou abruptamente.

A floresta ficou estranhamente quieta.

Os invasores apareceram do meio das árvores em seguida.

Os guerreiros avançaram para lutar e proteger seu povo.

Gritos de guerra e outros gritos ecoaram pela floresta.

No meio da confusão, alguém gritou, mandando-os correr.

Os que não ficaram paralisados de medo obedeceram.

Fael não correu. Ele tentou, mas suas pernas se recusaram a sair do lugar.

Confuso, ele soltou a mão da avó.

Sua respiração ficou ainda mais rasa e acelerada.

Ele estava prestes a desmaiar.

Não posso… vou morrer… Sabia, e mesmo assim, não conseguiu se forçar a correr.

Então a irmã o empurrou com força e ele começou a caminhar, quase tropeçando em suas pernas duras.

De algum jeito, ele estava correndo para a caverna com todos os outros.

Quando olhou para trás, percebeu que a irmã não estava mais atrás dele.

Antes que pudesse gritar seu nome, contudo, ele chegou à caverna com os demais.

Mas não estavam sozinhos.

Dois invasores os seguiram.

Fael tremia tanto que não pôde fazer nada. Nem mesmo fugir.

Ele caiu para trás, olhando para as máscaras de pano que os dois usavam, tentando olhar nos olhos daqueles que invadiram a floresta de seu povo.

Só podia ver a morte neles.

Um deles ergueu uma lâmina de metal curvada, pronto para atingir o senhor mais próximo.

Porém, antes que o invasor descesse a arma, algo o atingiu no pescoço.

Uma lança feita de madeira.

Mas não era qualquer lança.

A ponta era feita de presa de um Javali Lança.

A máscara caiu, revelando uma mulher. Ela desabou para frente, arfando, enquanto o sangue saia de sua boca.

O outro invasor olhou em volta, procurando por quem jogara a lança, sua lâmina curvada em uma mão.

Então Faela surgiu de trás da sombra de uma árvore.

Ela encarou o invasor com olhos gélidos e uma mão nas costas.

Apesar de ser somente uma garotinha, o homem estava alerta.

O tempo passou e tudo que fizeram foi encarar um ao outro.

Então Faela correu e jogou uma pedra na cabeça dele.

O invasor desviou facilmente da pedra.

Mas Faela queria era recuperar a lança.

O homem percebeu e bradou a espada na direção dela.

A garota agarrou a arma e usou toda sua força para redirecionar a lâmina para uma raiz de árvore.

Embora arfasse, o plano funcionara. A arma dele ficara presa.

Sem perder tempo, ela enfiou a lança em sua garganta.

Antes que a presa o atingisse, ele soltou a arma, saltando para trás.

Ele nem aterrissara quando sacou duas adagas, correu na direção de Faela no instante em que os pés tocaram na terra.

Apesar do diferença de força, nenhum dos ataques dele funcionou. Suas lâminas jamais tocaram a garotinha.

Faela era rápida demais.

Porém, nenhum de seus ataques causaram qualquer dano ao invasor.

Não fez diferença quando ela bateu com a outra ponta da lança no pulso dele para desarmá-lo.

Foi como se nada tivesse acertado-o.

Preciso fazer algo, pensou Fael, quando sua mente voltou a funcionar.

Apesar de sua velocidade, Faela já estava ficando sem ar, o homem, por outro lado, não parecia cansado.

Preciso ajudar ela…

Em um momento de coragem, Fael pegou uma pedra, a mesma que a irmã jogara e o homem desviara.

Ele apertou a pedra com as mãos com tanta força que doeu. Sua mão perdeu toda a cor e então jogou na direção do invasor.

A pedra o atingiu na máscara de pano, mas não causou dor ao invasor.

Mas foi o bastante para fazer o homem desviar sua atenção para o garoto por meio segundo, a raiva transparecendo em seus olhos.

Aquele breve instante foi o suficiente.

Faela desapareceu de vista.

Quando ressurgiu, estava em cima de uma árvore.

Ela pulou, mirando a ponta da lança na cabeça do homem.

Ainda que ele fosse muito mais forte do que ela, não conseguiria mudar o trajeto da arma.

Não quando ela apoiava todo o seu peso nela.

A lança de presa de Javali Lança perfurou o rosto dele.

Penetrou com facilidade o crânio, dada sua dureza.

O sangue jorrou e cobriu a garota.

Ela ofegava e mal conseguia ficar de pé.

Mas estava bem.

Graças à Faela, eles estavam a salvo.

A avó deles correu até a garota, levando-a gentilmente até a caverna.

Faela não parecia perceber a senhora perto dela.

Seu rosto estava pálido e vermelho.

O resto do grupo já entrara, aliviado quando a avó deles os informara do ocorrido.

Então todos esperaram pelo sinal da Tribo da Floresta ecoar pela floresta.

Mas o sinal de que tudo estava bem nunca veio.

Eles ficaram a noite toda na caverna, com medo ou aceitando seus destinos.

Nenhum dos irmãos dormiu aquela noite.

Fael estava com medo demais para dormir. Temia fechar os olhos e descobrir que todos morreram quando ele os abriu de novo. Isso se pudesse os abrir de novo.

Faela ficou parado no mesmo lugar, guardando a entrada da caverna, segurando com força a lança ao ponto de seus tendões perderem a cor.

Quando a manhã chegou e nenhum sinal apareceu, eles decidiram deixar a caverna.

A distância para o vilarejo foi tão longa quanto na noite anterior.

Apesar do sol brilhar alto no céu, não ajudou a diminuir seus medos.

Então finalmente alcançaram o vilarejo.

Só para descobrir que não havia mais nenhum vilarejo.

Tudo fora queimado ou destruído.

Os mortos encheram o local tanto que era difícil ver a terra.

Havia corpos de invasores e do povo da Floresta.

Mãe… pai…

Os irmãos correram pelo campo de morte, procurando, desesperados, pelos rostos de seus pais.

Nenhum deles sabia se queriam encontrá-los, mesmo assim, procuraram.

Então os encontraram.

Lá estavam seus pais, do outro lado do vilarejo, cercados por dezessete invasores usando as mesmas máscaras de pano.

Ambos com muitos cortes e feridas, mas ainda seguravam suas armas.

O garoto ficou de joelhos, chorando nas mãos.

A garota ficou parada no lugar, as lágrimas caindo silenciosamente.

A avó deles apareceu.

Ela também chorou, abraçando os irmãos como fizera a noite toda.

A Tribo da Floresta precisaria juntar os pedaços.

Precisariam reconstruir o vilarejo, suas vidas, tudo.

Em um mundo sem muitos de seus amados, sem seus pais.


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