Re;Blade escrita por phmmoura


Capítulo 25
Capítulo 24 - A determinação de Alonso




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O cheiro podre de comida estragada e fezes misturados no ar incomodavam os sentidos de Tetsuko. Até enquanto Nicolas pegava a tocha e se direcionava à última porta da prisão, era muito. Tem o cheiro da morte…

Mas a alma dentro da espada sabia que não era o caso. Ela ainda podia sentir a energia de seu antigo portador dentro da prisão. Faz uma semana… ele ainda está vivo… mesmo que por pouco…

Alonso sentava no canto quando Nicolas abriu a porta da cela escura e sem luz.

Apesar da fraca luz repentina que vinha da tocha perfurar a escuridão, brilhava com a força de um sol para o lorde. Ainda assim, ele não tremeu ou demonstrou qualquer reação. Somente fechou os olhos e ergueu suas mãos acorrentadas para cobrir o rosto.

— Não podemos continuar assim, meu senhor — disse Nicolas ao prisioneiro assim que viu a comida intocada no outro lado da prisão. Ele pegou a bandeja e balançou a cabeça quando a cheirou. — Já faz alguns dias, você deve estar faminto.

— Estou — disse Alonso com um sussurro fraco, porém contendo a dignidade de um lorde.

Nicolas fungou, mas nada disse para ele.

— Então você deveria comer — disse, jogando algo para o lorde aprisionado. — Vai morrer caso não coma, e isso seria um problema para mim.

Alonso ergueu uma mão e tentou pegar, mas estava fraco demais para reagir a tempo. A fruta o atingiu no rosto e caiu no chão, rolando quase fora do alcance dele, centímetros de distância das fezes do lorde.

Ele pegou a maçã e seus olhos brilharam de fome, a baba escorrendo pelo canto dos lábios. Ainda assim, ele não comeu a fruta.

Quando Alonso se acostumou à luz, ele encarou o homem que um dia já fora a Espada do Rei. A determinação em seu olhar era tão forte quanto a fome.

— Prefiro morrer… satisfeito em saber… que não cooperei com você — sussurrou Alonso, jogando a maçã de volta. A fruta rolou até parar aos pés de Nicolas.

Tetsuko sorriu em sua mente. Como esperado de meu antigo portador. Encontrei muitos samurais que se posavam de fortes, mas eram covardes no instante em que perdiam a vantagem.

Mas Alonso não era um desses nobres. Apesar de não receber nada para comer ou beber por dias, o lorde jamais perdeu sua dignidade ou orgulho.

É incrível que ele tenha a força para recusar comida por tanto tempo, pensou a alma dentro da espada, olhando para a refeição intacta. Seu plano falhou, portador.

O plano de Nicolas era simples. Em vez de torturar Alonso, ele fez o prisioneiro ficar com fome por cinco dias. No sexto, ele ofereceu comida. Mas o lorde se recusou a comer.

Apesar da determinação, a falta de nutrientes era clara no corpo de Alonso.

O nobre, que um dia já fora tão imponente que poderia ser o próximo Yasuhiro-sama liderando seus exércitos, estava horrível. Suas maçãs do rosto afundaram, os lábios estavam finos e rachados. O cabelo caía em alguns pontos da cabeça e havia uma dor constante óbvia em seu rosto.

Porém, o olhar determinado permanecia. O par de olhos ainda brilhavam com o fogo da determinação.

Ele aceitou a morte, entendeu Tetsuko.

Para sua surpresa, aquilo a deixou um pouco triste.

Acho que fiquei mais apegada a ele do que pensei… diferente da única luta que tive ao lado de Fael, eu me fortaleci ao lado dele…

Se ela fosse um samurai, aprovaria a decisão de Alonso de dar fim a própria vida para preservar seu nome e orgulho.

Mas ela não era. Antes de ser uma espada, ela era uma ferreira, uma forjadora de espadas.

No meu mundo, as pessoas me odiavam e chamaram de traidora. Mas se eu ainda pudesse criar espadas com aquele corpo, eu teria escolhido viver…

Mas isso não faz diferença agora… Não posso fazer nada para ajudar o Alonso.

A alma dentro da espada se focou em seu novo portador.

Eu pertenço a ele agora…

Tetsuko soube, mesmo sem sentir sua energia, que Nicolas era muito mais forte que Alonso.

Ela também sabia que, estando ao lado dele, poderia controlar sua energia e ficar mais forte.

Apesar disso, ela não se sentia animada ou excitada com a ideia.

Ele pode ser mais forte, mas não passa de um fantoche daquela energia retorcida… O quão forte a espada de um fantoche pode ser?

Nicolas pegou a fruta e encarou Alonso.

— Acho que você é um lorde melhor que eu jamais fui — disse com um sussurro bravo, esmagando a maçã, o suco escorrendo por seus dedos.

Como acontecera diversas vezes antes, a forte energia apareceu dentro da corrompida, como ondas criadas por uma pedra sendo jogada em um balde.

Mas logo ela foi dominada pela energia retorcida e não restou nada.

Ele foi controlado, Tetsuko fechou os olhos que não tinha.

Após uma semana na cintura dele, ela já entendeu o que era. Acontecia algumas vezes. Nicolas se tornava outra pessoa, seu antigo eu, que um dia fora Espada do Rei.

O gatilho para isso era despertar sua raiva ou falar do passado, especialmente quando o assunto de como ele perdeu tudo vinha à tona.

Quando aquilo acontecia, o ex-nobre era revivido.

Mas aquilo durava pouco tempo. A energia corrompida logo o dominava, e seus olhos perdiam o brilho da vida, tornando-se tão cansados quanto os mortos.

Deve ser o Caos Sortudo… E se eu estiver certa, então tudo, desde o instante em que presenteou Alonso com as plantas fedidas, faz parte do plano dele… Mas o que ele tem a ganhar com a prisão de Alonso?

Nicolas jogou a fruta destruída no lorde.

— Você não me dá escolha, Alonso — disse antes de fechar a porta, deixando o prisioneiro preso na completa escuridão novamente.

— Ele ainda não desembuchou? — perguntou Otto assim que Nicolas retornou à sala principal do esconderijo.

Aquele quem já foi a Espada do Rei negou com a cabeça enquanto sentava na cadeira.

— Ele é mais determinado do que pensei… todo lorde que conheci até então resistia um pouco de tortura… a maioria usava a mesma desculpa de honra… mas jamais vi um que poderia resistir a fome…

— Deixe-os com fome então dê comida a eles… Eles não estão acostumados a ficar famintos por dias — disse Otto com uma voz baixa e brava.

O líder dos bandidos da floresta fechou o punho até perder um pouco de cor. Mas ele não parou de tremer.

Está vindo, sentiu a alma dentro da espada.

Em um piscar de olhos, a energia corrompida que dominava sua alma diminuiu.

Sua antiga energia era mais forte, tentando vencer a outra.

Nicolas o observou com olhos semicerrados, como se sentisse o mesmo que Tetsuko.

— Você tem razão, companheiro — disse com um tom alegre, pegando uma garrafa de vinho na mesa.

Ele serviu dois copos e ofereceu um para seu novo companheiro.

Otto aceitou, e Nicolas bebeu de uma vez.

Otto observou seu vinho, com um olho brilhando e o outro pálido. Enquanto a luz e escuridão batalhavam dentro de si, ele também bebeu.

Ao mesmo tempo, sua energia original enfraqueceu até ser consumida pela corrompida.

O vinho tem algum papel nisso…

Tetsuko entendera esse tanto.

O que a alma dentro da espada não descobrira ainda era por que simplesmente não enfiar aquele vinho goela abaixo em Alonso.

Isso faria a energia corrompida dominá-lo, certo? Ao menos foi o que aconteceu com o bandido…

— O que faremos, então? — perguntou Otto com uma voz mais calma, quase sem alma.

— Vejamos se ele pode resistir mais alguns dias sem comida. Se puder, precisarei usar outros meios…

Tetsuko queria ouvir quais eram esses outros meios, mas Nicolas não disse mais nada.

Enquanto Otto ia falar com outros bandidos, aquele que já fora a Espada do Rei desembainhou a espada e encarou a lâmina.

Ela odiava aquilo.

Ele fazia isso de tempo em tempo, sempre que ficava em silêncio e sozinho.

A alma dentro da espada sabia que seu novo portador não estava só divagando.

Ele está tentando sentir se tem algo dentro desta arma.

Não foi a primeira vez que Nicolas a encarou intensamente.

E aqueles olhos a deixavam desconfortável.

É como se alguém me olhasse de longe. Esses olhos pálidos e mortos são assustadores…

— Você. — Após muito tempo, Nicolas guardou a espada e chamou um bandido próximo. — Leve esta espada até o ferreiro. O mande dar um trato e fazer uma bainha a partir desta madeira.

Ele entregou Tetsuko e uma estranha madeira avermelhada que estava perto da garrafa de vinho.

O jovem bandido com cabelo curto e uma cicatriz na bochecha assentiu, depois correu sem dizer nada, quase tremendo.

Quando ele bateu na porta da forja, uma voz raivosa o mandou ir embora. O jovem bandido engoliu em seco e bateu de novo.

— O quê? — perguntou o ferreiro, furioso, quando o garoto entrou.

— O-o chefe pediu… para dar um trato e fazer uma bainha para esta e-espada — conseguiu dizer o bandido, aos gaguejos.

O ferreiro quase arrancou a espada e madeira da mão do garoto.

— Todo mundo bebendo e celebrando, e eu aqui, trabalhando sem parar… — murmurou, sem prestar atenção ao bandido mais.

Finalmente, uma bainha nova!

Mas essa não era a razão para a alma de Tetsuko arder de animação.

Era a primeira vez dela dentro de uma forja desde que se tornou uma espada.

Eu queria saber como era ser polida… aposto que vai ser ótimo!

Conforme o ferreiro a colocava no guarda-espada, ela olhou para o bandido. Agradeço!

Então ela finalmente o reconheceu.

Eu sei quem ele é! É o rapazinho do exército do Alonso!

Ela arregalou os olhos que não tinha mais.

Se ele está aqui, isso significa que era o traidor dentro do exército…

Foi assim que o Nicolas conseguiu a informação sobre o plano?

Mas e quanto à energia corrompida de Caos Sortudo? O garoto não tem nada… está normal em tudo que posso sentir…

A alma dentro da espada só podia especular enquanto sentia o pano quente envolvendo seu corpo e limpando toda a poeira nela.


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