Re;Blade escrita por phmmoura


Capítulo 19
Capítulo 18 - Caos Sortudo




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— Sinto muito por aparecer do nada, Lorde Alonso — disse o homem conhecido como Caos Sortudo ao entrar na tenda. Apesar de seu tom amigável, havia algo de errado em sua voz. — Estive cuidando de certos assuntos na área quando escutei que estava perseguindo os bandidos. Após saber do ocorrido na floresta, eu precisava vir ver seu estado. Em nome da amizade que tive com seu pai.

— Não precisa se desculpar, Lorde Dale. Você é bem-vindo aqui… sempre… e eu agradeço por sua preocupação — disse Alonso. Apesar do tom polido, Tetsuko soube que ele se esforçava para não deixar transparecer o que realmente sentia. O nobre mais jovem conseguira fazer uma reverência para o homem mais velho.

Lorde Dale era, de fato, um homem que parecia mais velho do que deveria ser.

Com um cabelo branco curto, bigode que mal aparecia e uma aparência frágil, ele se parecia com um senhor de idade, apesar de ser só dez anos mais velho que Alonso.

Sua aparência faz as pessoas o subestimarem… Aposto que ninguém que o encontra pela primeira vez acredita nos rumores…

No entanto, a alma dentro da espada podia ver além daquela aparência frágil.

A energia dele… não parece ser de um humano…

Tetsuko se concentrou sem tirar os olhos do homem.

Ela teria estremecido se ainda tivesse um corpo humano.

A energia dele é muito retorcida, suja… e profunda…

Como se pudesse distorcer qualquer coisa que chegue perto o bastante…

Talvez seja essa a causa do apelido, pensou a alma dentro da espada, observando o homem o tempo todo.

Caos Sortudo tirou seu casaco de viagem. Nesse instante, um de seus soldados ofereceu para guardar as roupas.

— Obrigado — disse para seu homem antes de dispensá-lo.

— Por favor, sente-se, meu senhor — disse Alonso, indicando uma das cadeiras em volta da mesa onde os mapas estavam.

Dale mostrou um sorriso amigável e sentou.

— Obrigado, Alonso. Estive viajando por muito tempo. É bom sentar em algo além de uma sela — disse, soltando uma risada animada.

O escudeiro que estava no canto da tenda foi para frente. Apesar do nervosismo, ele serviu três copos de vinho sem derrubar uma única gota e então saiu sob a ordem silenciosa de Enrique.

Caos Sortudo aceitou sua bebida. Ele demorou-se a observar os mapas enquanto bebia.

— Então eles escaparam — disse em voz baixa, abaixando o copo, o sorriso sumiu de seu rosto enquanto olhava para o lorde mais novo.

Era difícil dizer se estava zombando ou não de Alonso.

— A batalha… foi mais difícil do que previ… Subestimei os bandidos — admitiu ele, abaixando a visão. A frustração era óbvia em sua voz.

— Não tenha vergonha, meu amigo. Não o culpo. E duvido que alguém importante irá — disse Dale, bebendo outro gole de vinho. — Os bandidos da floresta nunca deveriam ser subestimados… Mas isso já passou. O que importa agora é o próximo passo. Tem alguma pista de aonde eles vão?

O lorde e conselheiro trocaram olhares.

O que você fará, meu portador? Contará tudo ao homem que pode ser sua ruína?

Tetsuko observou o homem que a manejava lutar para fazer sua decisão.

Antes da chegada de Caos Sortudo, Alonso e Enrique discutiram sobre compartilhar o que sabiam com o outro lorde.

O conselheiro foi contra, dizendo que não poderiam arriscar a reputação de Caos Sortudo ser real ou não.

Alonso sentia o mesmo, mas, como Lorde Dale era mais importante que ele, isso poderia facilmente destruir o nome do jovem nobre dentro da corte.

Após um silêncio breve que pareceu durar uma eternidade, Alonso inclinou-se sobre a mesa e apontou para um lugar no mapa.

— Nossos batedores não puderam encontrá-los, mas acreditamos que estão indo para aqui… ou aqui — disse, mostrando o possível esconderijo para os bandidos da floresta no sudoeste primeiro.

— O Labirinto de Colinas de Pedra ou o Pântano — disse Dale com uma voz séria, deixando o vinho na mesa a uma distância segura dos mapas. — Pelo que meus homens comentam, ainda há um número de bandidos por essas bandas… Sua patrulha não encontrou nada?

— Infelizmente, não — disse Enrique com uma voz frustrada, fechando o punho. — Apesar de estarem fora de seu esconderijo, eles conhecem a região bem mais do que nós. E não somente isso, como nossos mapas da área estão muito desatualizados…

— Isso não é bom… essa área muda bastante por causa das épocas chuvosas… — Dale esfregou seu pequeno bigode enquanto murmurava. — Acho que tenho um mapa mais recente. Não me importo de compartilhá-lo com você.

— Seria de grande ajuda, Lorde Dale… — Apesar da felicidade, havia mais cuidado na voz de Alonso.

Ainda que precise, você mesmo disse que ele traz o caos para os outros. Por que está aceitando sua ajuda?

A alma na espada não acreditava em tais boatos. Mas, após sentir a energia do homem, ela queria manter distância dele e de qualquer ajuda que o mesmo oferecesse.

Era claro a ela que seu portador compartilhava dessa ideia. Mas, ao mesmo tempo, a ideia da ajuda nessa situação complicada era tentadora demais. Ainda que viesse de um homem conhecido como Caos Sortudo.

Dale encarou o lorde mais novo por um tempo.

— Você hesita em aceitar minha oferta — disse, em voz baixa.

Alonso não fez contato visual.

Caos Sortudo virou o mapa, batendo o dedo na região do pântano.

— Você sabe qual o grupo que reside aqui, certo?

— Sim…

As expressões de Alonso e Enrique ficaram sombrias.

— Então sabe que o reino não pode permitir que os dois grupos se unam… especialmente agora. Precisa dar um fim aos bandidos da floresta antes que não tenham opção além do pântano.

O rosto de Alonso perdeu um pouco de cor ao pensar naquilo.

Tetsuko entendeu o motivo.

Se os bandidos do pântano ganharem mais força numérica, serão uma grande ameaça. Muito mais do que meros ladrões…

Se isso acontecer, o reino terá de chamar um dos exércitos que protege as fronteiras… deixando-os vulneráveis para uma ameaça de fora.

— Você parece estar entendendo, Alonso. Mas não sabe toda a história — disse Dale, soltando uma risada fraca e cansada.

— Como assim?

— O líder dos bandidos do pântano… Nicolas já foi a Espada do Rei — disse Dale, com uma voz sombria.

— O quê? — exclamaram Alonso e Enrique em conjunto.

— Sim… era um homem ardiloso e um comandante ríspido… mas, graças a ele, o reino venceu muitas batalhas e expandiu suas fronteiras… Por causa disso, ele recebeu o comando do exército real, o posto militar mais alto… mas, alguns anos atrás, ele desobedeceu uma ordem direta do rei…

— Que ordem…? — perguntou Enrique.

— A nação aliada vizinha estava sob ataque. Um exército de fora conseguiu raptar o príncipe deles. Seu pai e eu estávamos entre os lordes enviados pelo rei para ajudar a Espada Nicolas a resolver a situação… Mas ele ignorou as ordens do rei e atacou… o príncipe de nosso aliado morreu por causa das ações dele…

— Me lembro disso… foi quando meu pai… — Alonso ficou quieto.

— Sim… foi quando seu pai morreu — disse Dale, balançando a cabeça, uma sombra ficou sobre seu olhar. — A Espada Nicolas recebeu a sentença de morte, mas conseguiu escapar e tem vivido como líder do Pântano desde então…

Um silêncio penoso preencheu a tenda.

Após um bom tempo, Dale pegou seu copo de vinho e terminou de beber em um gole só.

— Sinto muito por citar isso… Sei que amava seu pai e que ele morreu muito jovem…

— Obrigado, Lorde Dale — disse Alonso, mas sua mente parecia distante.

Caos Sortudo abaixou o copo com muita força, trazendo a mente do jovem lorde de volta.

— Se puder destruir os bandidos da floresta, não há motivo para se preocupar com Nicolas.

— S-Sim… você tem razão — disse Alonso, com a voz trêmula.

— E o ajudarei com isso — disse Caos Sortudo com um sorriso paternal.

— O quê? Aprecio, Lorde Dale, mas não precisa…

— Os bandidos estão atrapalhando meus negócios também. Fico mais do que feliz de ajudá-lo a se livrar deles. E, para isso, tenho algo que pode ajudá-lo. Enrique, poderia mandar meus soldados trazerem?

Enrique não entendeu do que ele falava, mas ainda caminhou até a porta da tenda.

Dale levantou da cadeira e indicou que Alonso o seguisse. Os lordes aguardaram do lado de fora.

Os soldados dele traziam um carrinho até a entrada da tenda. Tetsuko não ficou sem perceber que eles usavam panos para esconder os rostos.

— Que cheiro é esse? — perguntou Alonso quando o carrinho se aproximou o bastante.

Um cheiro nojento e forte vinha do carrinho, como se algo estivesse apodrecendo.

— Uma planta que encontrei na floresta dos macacos — disse Caos Sortudo, com orgulho. Apesar de tentar não demonstrar, até ele estava incomodado pelo cheiro. — Tive sorte de encontrar uma grande quantidade.

Era óbvio, pelo rosto do usuário, que ele não fazia ideia de onde ou para o que as plantas poderiam ser usadas, mas ainda sorriu de um jeito nobre.

— Ótimo, meu senhor. Sortudo como sempre — disse, sem conseguir esconder a ironia.

Dale fingiu não ouvir ou não se importou.

— Estou dando isso para você — disse, dando tapinhas no ombro do lorde mais novo.

Alonso olhou o carrinho e então seu dono.

— E o que devo fazer com isso?

Dale mostrou um sorriso enquanto balançava a cabeça.

— Ah, você não parece ter muita criatividade no campo de batalha, entendo. É uma pena. — Ele assentiu e murmurou. — Se atear fogo nessa planta, o cheiro que ela criar tornará impossível que qualquer um respire. Se fizer isso nas circunstâncias certas…

— Podemos afastar os bandidos! — completou Alonso.

— Exato. A fumaça que essa planta produz é forte. Se a queimar antes do sol chegar no meio do céu, a fumaça permanecerá no chão. Nenhum bandido poderá respirar e você poderá matá-los quando ficarem sem ar.

— Mas não tenho certeza de que eles se dirigem ao Labirinto das Colinas de Pedra…

— Mas eu sim, meu amigo. Meus batedores encontraram rastros de um grande número de pessoas viajando naquela direção pela noite.

Alonso arregalou os olhos. Então encarou a nojenta planta verde e amarelo.

É um plano interessante, admitiu Tetsuko. Se a fumaça ficar perto do chão, com o vento certo, os soldados podem atrair todos os bandidos… e sem a vantagem da área…

A ex-humana sabia que o portador pensava o mesmo.

Também sabia por que ele hesitava. Não conheço sua fama como Caos Sortudo, mas, se quiser acabar com essa perseguição o mais rápido possível, precisará aceitar a ajuda que ele oferece.

Após muito tempo, Alonso fechou os olhos e assentiu.

Quando os abriu, ele virou-se para o outro nobre e ofereceu sua mão.

— Obrigado por toda sua ajuda, Lorde Dale — disse, com uma voz sincera.

O outro nobre sorriu e aceitou a mão.

— Sem problema. Apenas uma mão amiga ajudando a outra.

Os soldados observando isso tinham a mesma expressão preocupada.

Tetsuko olhou em volta. Até o conselheiro tinha essa expressão.

Quão forte é a fama desse homem?

Ainda assim, ela não se importava.

Porque a alma na espada ansiava por ser usada novamente.

Para cortar inimigos, absorver suas energias.

Quando percebeu no que pensava, uma risada seca ecoou em sua mente.

Acho que sou mesmo uma espada agora…

Mas ela não se sentia mal.

Era quem… o que ela era.

Sou uma arma… uma arma que deve ser usada.


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