Aquele dia passou rápido assim como a disposição dos rapazes após o breve mal estar na sala de reuniões, seguido da discussão no salão de treinos e logo todos estavam de volta ao lar naquela noite de chuva.

— Tae-ah! Trouxemos algo especial para você. – Jimin anunciou assim que chegaram na grande casa em que moravam, mas não houve resposta – Ele não veio para casa, hyung? – Jimin perguntou para Yoongi.

— Tomara que sim. – Os sete iam entrando com suas mochilas e bolsas amarrotadas de equipamentos e algumas roupas – Taehyung-ah. – Yoongi chamou com sua voz grave e linear à medida que entrava no corredor procurando o Kim que voltara mais cedo.

— Aguardem aqui, fiquem à vontade. – Jin falou simpático – Querem alguma coisa para comer? Ou que tal um soju?

— Hyung! Não cause má impressão já oferencendo bebida às convidadas. Elas mal chegaram. – Jimin cutucou o mais velho.

— Ah, então você está aqui.  – Min Yoongi, mais para o interior da casa, já dentro de um dos cômodos, sussurrou falando mais para si mesmo ao ver Taehyung dormindo, aconchegado pelo edredom. O jovem rapaz suspirava em um sono profundo.

O Min aproximou-se observando um pedaço de papel na escrivaninha ao lado e lendo pôde identificar em uma caligrafia desleixada a letra de uma de suas músicas; a que mais ele carregava consigo representando a cicatriz marcada em seu coração; em sua alma. A representação de seu Estigma:

Eu tenho escondido isso, vou te contar uma coisa

Apenas para deixar enterrado

Agora eu não posso mais suportar isso

Por que eu não podia dizer, então?

Tenho estado ferido, de qualquer maneira

Realmente, eu não posso suportar isso...

— O que será que aconteceu para tê-lo deixá-lo assim? – Yoongi murmurou consigo depositando o papel novamente no pequeno móvel e observou seu amigo mexer-se inconsciente ainda envolto pelo sono. Ainda tão jovem tendo passado por coisas tão pesadas de tal forma que algumas vezes questionava-se se o outro poderia carregar. E este era o medo de todos. Porém, confiavam em Taehyung e sabiam que ele tinha uma força descomunal. Mas ainda assim, precisava ter os hyungs e o maknae por perto; Taehyung ainda precisava desse apoio, assim como o próprio Min e cada um deles, afinal, eram uma família.

— Hyung? – Taehyung abriu os olhos e levantava-se lentamente.

— Como se sente?

— Bem. Mas poderia estar melhor, eu só--

— O que foi isto? – Yoongi o interrompeu levantando o pedaço de papel novamente em suas mãos.

Taehyung emudeceu.

— Sabe que pode contar conosco, não sabe?

— Sei, sim, hyung.

Yoongi apenas meneou a cabeça.

— Então vamos, tem alguém te esperando. – Taehyung fanziu os cenhos em interrogação, mas foi ignorado logo sendo puxado quarto afora - Mas você precisa conversar, estamos entendidos? Não deve carregar isto sozinho.

— Hyung, eu não quero que carregem este fardo por minha causa, eu pos--

Mas foi novamente interompido. Yoongi o puxava pelo braço levando-o até a sala de estar e empurrando-o quando chegaram próximo do cômodo onde todos estavam.

Taehyung enrubesceu assim que avistou as duas gerentes na sala da sua casa e parou bruscamente ao avistar Bea Ni sentada em seu sofá.

— Tan-dan! – Jimin exclamou deixando um Taehyung envergonhado e uma Bea Ni vermelha olhando para qualquer ponto interessante no chão menos para o homem à sua frente.

 - Porque não e disse que ela estava aqui? – O Kim mais novo falou entre dentes para Yoongi ao seu lado, mas este apenas sorriu sabendo que esta havia sido a melhor forma de “avisar” que a gerente estava ali. Apenas mostrando-a ali. O mais pálido escondia um sorriso travesso nos lábios. 

— As trouxemos para elas verem algumas peças que já estão aqui conosco. – Hoseok levantou duas bolsas grandes, uma em cada mão, parecendo animado e Taehyung pôde ver o mesmo sorriso maroto formar-se também em Hoseok – Não houve problema em temos pego algumas. Acreditaram no que dissemos e não levantamos suspeitas. – Ele abriu um sorriso agora satisfeito.

— E onde estão os outros? – Taehyung perguntou curioso.

— Aí sim, levantaríamos suspeitas, se todos saíssemos no mesmo horário da empresa. – Namjoon explicou olhando Taehyung de cima abaixo com uma expressão entre curiosa e pasma – da próxima vez, podemos tentar. – Levantou-se indo na cozinha com um pigarro escondendo um sorriso com as mãos, apesar de suas covinhas claramente presentes.

— Poderia me trazer uma água, por favor, Namjoon-ssi? – Hua Le inquiriu em um tom reticente ainda não tão confortável com o novo ambiente.

— Claro! Pode vir, se quiser. – Namjoon respondeu tranquilo rumo à cozinha e Hua Le o seguiu soltando uma piscadela para Taehyung ao mesmo tempo em que levantou o polegar em um sinal de “legal”. Yoongi seguiu Hua Le juntando-se à ela e ao Namjoon.

Uma conversa paralela começou entre Jimin e Bea Ni, Jin e Hoseok. Então, Jungkook foi até Taehyung que ainda encontrava-se estático no começo da sala percebendo que algo estava acontecendo sem que se desse conta do quê exatamente. O maknae aproximou-se e falou mais baixo, apenas para que o amigo o ouvisse:

— As trouxemos hoje porque vimos alguma coisa de errado com você, hyung e sabemos que quando você fica estranho, prefere não falar com ninguém. Mas, achamos que fazer esta surpresa para você seria uma boa forma de começarmos também com nossa ajuda secreta à equipe da Kang’s Company. Unir o útil ao agradável. – O maknae deu um pequeno soco no ombro do amigo – E então, funcionou? Está se sentindo melhor?

— Ye, estou sim. Estou feliz de vê-la aqui. – Olhava-a deslumbrado - Hoje cedo eu simplesmente não conseguia olhar para Bea Ni... – Taehyung falava introspectivo e igualmente baixo observando a garota conversar com os demais parecendo mais à vontade com eles. Vez ou outra ela lhe lançava um olhar tímido e logo o vermelho voltava ao seu rosto.

Taehyung afastou-se um pouco do grupo pensativo e a indecisão sobre como falar do seu passado para a garota que amava ainda mexia com sua cabeça. Seria um mal necessário, mas aquilo poderia mudar tudo e simplesmente entrou em estado de negação. Um medo profundo o tomou fazendo-o recuar e afastar-se durante o dia mesmo sabendo que não conseguiria ficar um minuto sequer sem pensar na Bea Ni.

Jungkook o olhou compenetrado deduzindo que sabia a que se referia o amigo, mas o que ainda não sabia era o porquê de Taehyung ter ficado alheio durante todo o dia ao ponto de voltar para casa antes do final do expediente. O que teria acontecido?

— V hyung, podemos conversar quando estiver pronto para isto. Sabe que somos um pelo outro. Mas, acho que quem não vai querer olhar na sua cara por um tempo será a Bea Ni-ssi já que o namorado dela anda por aí só com uma calça de tecido surrada e sem camisa. É a primeira visita dela, hyung!  - Jungkook falou sem conter o riso fazendo Taehyung abafar uma exclamação no mesmo instante em que Hua Le voltava da cozinha comentando:

— Nova tática, Tae?

Todos desataram a rir jogando almofadas no Kim mais novo que correu corredor adentro. Agora entendia porque dos sorrisos com vestígios de que estavam aprontando.

— Aish, o Yoongi hyung vai se ver comigo!

Taehyung vestia uma camisa às pressas e treinou durante alguns segundos no espelho uma expressão mais próxima de algo inabalável possível; quiçá, brilhoso, maciço e talvez ainda jogasse tinta marrom sobre si e um pouco de verniz, porque só com uma cara de pau para encarar Bea Ni depois de tamanha gafe.

Voltando para onde estavam reunidos foi recebido com gritos, tapas e mais algumas almofadas, as quais não perdeu tempo em retribuir jogando-as de volta e um completo alvoroço formou-se em questão de segundos.

— Aish!! – Taehyung desvencilhou-se da mira de Jin.

— O que Bea Ni e Hua Lee-ssi irão pensar seu moleque?! – Jin exclamou protegendo-se de uma almofada vinda do Jimin – Sem camisa pela casa, até parece que não aprendeu nada direito!

As duas riam divertindo-se com tudo aquilo e foram para trás de um dos sofás.

— Tudo culpa do Yoongi hyung, Jin hyung! – Tae defendeu-se agarrando uma almofada atirada pelo Yoongi.

— Não fiz nada. – Yoongi defendeu-se sem argumento abaixando-se um segundo atrasado, sendo acertado em cheio no rosto por Hoseok que logo entregou o outro:

— Yoongi não perde a oportunidade de nos zoar. AH! – Gritou correndo para longe do mais pálido que mirava agora sua sandália.  

— Nós não somos esses loucos que aparentamos ser! – Namjoon falou entre risos, correndo pela sala de estar em busca de um travesseiro largado no chão. Seus olhos brilhavam tamanha era sua animação com o momento.

— O Nam hyung tem razão – Jungkook começou com um sorriso que extendia-se de orelha a orelha – Não somos esses loucos que aparentamos ser, somos mais do que aparentamos.

Gargalhadas retumbaram na casa, inclusive das duas jovens escondidas por um dos sofás, mas isto não foi o suficiente para se protegerem daqueles sete rapazes e sem que esperassem, almofadas caíram em suas cabeças aos montes.

As duas se entreolharam pasmas e como se aquilo fosse um grande absurdo, levantara-se num rompante de trás do estofado prontas para contra-atacar.

Em meio àquela brincadeira, amofadas, travesseiros e vezes uma sandália ou outra voavam pelo cômodo entre falas aleatórias, risos e exclamações quando com um sobressalto Bea Ni viu-se sendo levada para fora do campo de visão de todos. Parando ao final do corredor da extensa casa, Taehyung começou ansioso:

— Bea Ni, me desculpa. Eu não quis que aquilo acontecesse; tudo foi culpa do Yoongi hyung. Eu tinha acabado de acordar e ele foi me puxando para a sala e não me dei conta. Eu sequer poderia imaginar que você estaria aqui, tudo não passou de uma brincadeira do hyung, mas juro que não--

— Tae-ah! Calma. – Bea Ni o chamou com um sorriso tranquilo tocando o rosto do Kim que respirou fundo assentindo – Você estava estranho hoje cedo. Não o vi saindo da empresa. Sequer falou comigo... – Ela comentou cabisbaixa.

— Eu... Me desculpa.

— O que houve?

Taehyung olhava para Bea Ni profundamente e esta manteve o contato visual aguardando uma resposta.

— Promete que vai estar sempre comigo?

Bea Ni franziu o cenho.

— Por que isto agora, Tae? O que aconteceu?

— Promete?

Ela tinha medo de promessas. Tinha medo de não poder cumprir. Tinha medo que não cumprissem.

Suspirou pesarosa.

— Porque eu não estaria? – Ela respondeu com outra pergunta e sua voz era mais baixa. Não soube o motivo, mas sentiu seu coração comprimir.

De repente os dois destoavam da alegria que pairava na sala de estar com as brincadeiras e sorrisos ainda audíveis.

Taehyung a olhava no fundo nos olhos. Parecia embebedar-se da beleza interior que via. Parecia buscar ali seu refúgio. Analisou-a em cada mínimo detalhe, cada traço e tocou o rosto de Bea Ni com carinho. Ela cerrou os olhos permitindo-se sentir a proteção que o Kim lhe proporcionava e, sem mais, seus lábios foram tomados profunda e lentamente.

Deixaram-se levar naqueles breves minutos à sós e ela permitiu que Taehyung avançasse com sua língua fazendo o coração de ambos tamborilar apressado a medida que os sentimentos os tomavam.

Eles se amavam. Seria impossível negar.

Taehyung afastou-se aos poucos deixando pequenos selos em Bea Ni.

— Eu preciso te contar, Bea Ni. Não aguento mais, você precisa saber...

— Do que está falando Taehyung?

— Confia em mim?

— Você está estranho hoje, Tae.

— Confia? – Sua voz era calma e aveludada, apesar de um pouco apreensia.

— Desse jeito parece que você fez algo de muito errado. – Ela buscava vestígios de respostas no olhar do outro e já ficava tristonha com aquele clima.

Taehyung segurou o queixo de Bea Ni delicadamente.

— Preciso saber que não vou te perder.

Foi a vez de Bea Ni em avaliar aquele homem à sua frente. Cada detalhe de sua expessão e olhar ansioso; cada gesto amoroso e traços bem desenhados. Não sabia o que estava acontecendo, mas seguramente ele tinha dificuldades em tocar em tal assunto. Assim como ele a deu o tempo que precisou para expor seu passado e falar sobre seu grande fardo e todo o relacionamento abusivo que sofreu, ela o daria o tempo necessário. Mas ainda assim, estava sendo difícil para ela sentir-se já apegada ao Taehyung sem saber ao certo quem era ele, de fato. O que ele tanto omitia. Quais os motivos de sua saúde e humor instáveis.

— Eu quero estar ao seu lado, Taehyung, mas sinto que precisamos conversar. Sinto que precisa confiar mais em mim do que me pedir para que eu confie em você.

— Eu confio! Eu só... Estou inseguro. É difícil para mim. Além dos meus amigos naquela sala – ele apontou aflito – nunca sequer mencionei nada para ninguém sobre o que me aconteceu alguns anos atrás.

Bea Ni franziu o cenho, curiosa e aproximou-se passando seus dedos por entre aqueles fios acinzentados.

— Tome o tempo que precisar. Estarei aqui, esperando. – Em seguida envolveu seus baços no pescoço do Kim e encostou seus lábios aos dele com delicadeza.

Ele agradeceu e iniciaram outro beijo cúmplice. O Kim envolveu a cintura de Bea Ni colando seu corpo ao dela e seus lábios eram sincronia perfeita.

— Sabia que gostei do que vi hoje? – Bea Ni afastou-se falando com o coração descompassado, fazendo referência à ausência da camisa mais cedo. Enquanto isto, o Kim direcionou seus beijos ao pescoço da mesma.

— Ah, é? – Respondeu voltando aos lábios da namorada sem hesitar.

— Uhum. – Murmurou Bea Ni levando suas mãos ao abdômen do mais velho que suspirou com o toque, fazendo-a arrepiar-se.

— Você me fez renascer, Bea Ni. – Taehyung confessou sem aviso prévio e ela, por sua vez, podia jurar que seu coração se fazia audível mesmo com toda a bagunça dos demais lá fora.

Sorriu entrelaçando suas mãos às dele, levando-as em seguida para as suas costas contornando-a num abraço. Envolveu a cintura de Taehyung e descansou a cabeça em seu tórax que subia e descia agitado e pôde ter a certeza, mais uma vez que seus corações falavam a mesma língua.

Permitiram-se ficar assim e desejavam ali fazer morada: Taehyung, aos braços da mulher que lhe trazia de volta à vida e Bea Ni aos braços do homem que lhe apresentava o que era o verdadeiro Amor.

— Taehyung! – Ouviu-se a voz de Jin.

— Acho que precisamos voltar. – Bea Ni sussurrou em meio ao abraço, mas o Kim a apertou impedindo-a de desvencilhar-se.

— Tudo bem. Vamos ao trabalho. – Segurou-a pela mão e rumaram para a missão do dia.

— Oi amiga. Tudo bom? - Hua Le perguntou com um sorriso ladino que apenas Bea Ni conhecia.

Bea Ni aproximou-se da outra prestes a dar-lhe um beliscão, mas esta logo se safou emendando um comentário:

— Essas peças são mesmo lindas! – Hua Le exclamou enquanto reviravam as bolsas com as roupas.

— Por onde começamos? – Jimin foi o primeiro a querer saber.

— Bom, devemos analisar algumas peças e registrar algumas coisas: Estilo, detalhes, peferências, modelos, cores e combinações, ok? – Hua Le explicou, no que concordaram com atenção – Logo depois passamos para as medidas de cada um, de acordo? – Mais uma vez, menearam a cabeça em concordância.

Bea Ni já tinha consigo pastas e papéis que trouxera além de outras anotações referentes ao primeiro projeto. Talvez ajudasse e adiantasse o trabalho.

— Ah, espera um pouco! – Hoseok exclamou envergonhado enquanto Hua Le ajustava a gola da camisa que ele usava, observando as costuras e corte da mesma com seriedade.

— Tudo bem. – Ela respondeu dando alguns passos para trás, mexendo distraída na fita métrica penduada em seu pescoço – Sei que pode ser desconfortável, mas fique tranquilo, será rapidinho! Garanto que não vai doer.

Hua Le falou descontraindo o clima apreensivo dos sete rapazes. Logo, Hoseok gritou agudo simulando uma corrida no mesmo lugar e em seguida deu alguns saltos sacudindo as mãos.

Depois do susto com o ato repentino, Hua Le soltou um sorriso divertido.

Os sofás haviam sido afastados para o canto, assim como a pequena mesa que ficava ao centro do ambiente e tudo ficou ainda mais amplo. As roupas foram espalhadas, assim como planilhas, réguas, pastas, canetas e fitas métricas.

— Vai lá, hyung! – Jimin exclamou sentando-se no chão, sobre o tapete felpudo.

Hua Le voltou a aproximar-se de Hoseok e este apertou os olhos sem saber o que fazer. Ela riu divertida cutucando-o nas costelas fazendo sobressaltar-se.

— O quê? O quê? – Ele perguntou perdido e os outros voltaram a rir.

— Relaxe. – Hua Le ordenou com gentileza.

— É importante que vocês fiquem à vontade ou não conseguiremos fazer nosso trabalho. – Bea Ni olhou para todos num gesto amigável – Assim levaremos a noite inteira! – Sorriu.

— O que não seria ruim. – Taehyung falou baixo, mas todos ouviram.

Os mais novos sorriram.

— Aigoo. – Namjoon deu um tapa na cabeça do Kim mais novo fazendo Hua Le sorrir e Bea Ni sentir as bochechas arderem.

Hua Le aproximou-se mais uma vez de Hoseok, determinada em concluir esta etapa, o que seria um grande desafio levando em consideração a hora que já avançava. Contornou o peitoral do mesmo com a fita métrica enquanto ia dizendo as medidas para a amiga ao lado que anotava. Em seguida, contornou a cintura percebendo que ele estava prestes a sair correndo, mas logo concluiu abaixando um pouco mais, no segundo seguinte, para tirar a medida do quadril.

— Já não é o suficiente? – A voz grave de Yoongi foi ouvida de imediato, saindo reticente ao ver a garota passar a fita métrica na altura do bumbum do Hoseok, para assim ter as medidas exatas do quadril do mesmo.

Mesmo sendo este seu trabalho e estando acostumada com tudo isto, que diga-se de passagem, nem era tão problemático assim, Hua Le devia confessar a si mesma que aqueles sete rapazes chegavam a intimidar a qualquer pessoa tamanha beleza que possuíam e o Yoongi, em especial, lhe despertava alguns sentimentos para que limiavam a timidez. Com os demais, conseguia se divertir e aproximar-se naturalmente, mas com o Min Yoongi era um tanto diferente. O porte altivo e carrancudo do mais pálido lhe chamara a atenção e quando ele sorria tudo se iluminava da forma mais doce. Com uma dose de mistério e sinceridade aquele homem lhe parecia a melhor das contradições.

Ele podia parecer rude algumas vezes com sua objetividade afiada, mas era tão cuidadoso. Parecia sempre observá-la e poderia jurar que ele parecia enciumado. Ele criava uma barreira que vezes ele mesmo tentava quebrar.

— Aish. – Hua Le resmungou para si mesma, sentindo-se uma tremenda boba e constrangiu-se. Odiava a ideia de estar dando tanta atenção ao jeito do Min.

Bea Ni lhe diria que o nome disso é paixão.

Eca! — Pensou ela e jogou os cabelos para trás, nervosa.

— Bom, precisamos ter medidas de tórax, cintura, quadril, costas, cava a cava, pescoço, braços, contornos... - À medida que Bea Ni explicava Hoseok sorriu em desespero tamanho era seu descoforto, principalmente por ter sido o primeiro – Mas como temos peças de todos vocês aqui, podemos usar como base. Porém, como algumas peças são mais largas ou mais ajustadas que outras, talvez seja preciso tirar os contornos em cada um mesmo. – Ela concluiu dando de ombros.

Hua Le continuou com seu trabalho pausando para fazer as anotações enquanto a amiga explicava o que seria preciso.

Olhou de relance para trás e Yoongi assistia ao trabalho das duas concentrando-se no que Hua Le fazia com uma careta sutil.

— Disfarça mais, hyung. Ainda dá para reparar, nessa sua cara mau-humorada de noite mal dormida, que não está gostando do que vê. – Jimin sussurrou aproximando-se de Yoongi.

— Fica quieto, pirralho. – Respondeu de imediato fazendo Jimin ir sentar-se longe do mais pálido, todo satisfeito, fugindo de um possível cascudo.

Após os esclareciementos de Bea Ni, os rapazes ficaram em silêncio por breves segundos, até desatarem em risos nervosos.

— Aish, mas, - começou Jungkook – até parece que não estamos acostumados com isto, não é mesmo? – Tentava convencer-se e aos demais.

— Ye, tem razão! Estamos acostumados com nossa equipe de sempre, no ateliê da empresa, além de fazer um tempão que não precisamos disso, mas tudo ok! Estamos super acostumados. – Namjoon falou e todos riram, inclusive as duas gerentes.

— Prontinho! Está liberado desta tortura, Hobi-ssi. – Hua Le anunciou passados os minutos necessários e curvou-se em uma breve reverência.

Hoseok respirou aliviado e largou-se em um sofá por cima das roupas espalhadas. Em seguida, distraiu-se separando apenas as suas.

Os demais rapazes coçaram a nuca sem jeito, imaginando que deveriam ficar quietos e calmos para que o trabalho fluísse e a ajuda deles desse realmente certo. Afinal, foram eles que deram a ideia. Mas as duas gerentes, ao trabalharem, exalavam concentração e profissionalismo.

Elas se esforçavam para deixá-los o mais tranquilos possível com aquilo tudo. Sabiam que para tirar as medidas e contornos que precisava para começarem com as criações e moldes, poderia ser um tanto desconfortável, mas era impossível ser de outro modo.

— Quem será a próxima vítima? – Bea Ni brincou para que eles se soltassem e houvesse um voluntário o quanto antes.

Taehyung deu um passo à frente já com um sorriso nos lábios, no que Bea Ni retribuiu.

O Kim mais novo caminhou até ela tomando-a nos braços como num passo de dança e segurou-a jogando-a levemente para trás, com ares dramáticos roubando-lhe um beijo rápido.

Todos falaram ao mesmo tempo fazendo um grande burburinho e Taehyung sentiu um deles lhe chutar, o que o fez rir. Em seguida, mais uma almofada lhe acertou em cheio quando se virou para ver as reações dos amigos.

— Aish! – Taehyung exclamou esfegando o rosto e Bea Ni escondeu-se atrás dele.

— Não vamos segurar vela, não, ow! – Jin reclamou tentando acertar outro chute.

Hua Le observava distraída, deliciando-se com aquele grupo inusitado e tão acolhedor. Seus olhos pousaram em Yoongi e ele já a observava com um meio sorriso. Parecia tímido e logo desviou o olhar. Hua Le levou a mão ao peito, sentindo borboletas voarem em seu estômago.

— Não sou eu quem vai tirar suas medidas, Tae-ah. – Bea Ni sussurrou animada com o clima novamente descontraído.

— Claro que vai, amor. – Ele sussurrou de volta.

Bea Ni o olhou. Ele conseguia deixa-lá sem palavras com pequenos gestos. Mas logo virou-se para Hua Le alguns passos atrás.

— Le-ah, vamos continuar, vem tirar as medidas do Taehyung.

— Eu? Acha mesmo que ele quer que seja euuu a fazer isto? – Ela apontou para si mesma em tom de reprovação, fazendo drama.

Todos continuaram com os risos.

Bea Ni enrubesceu.

— Parece que alguém está com vergonha agora... – Taehyung provocou.

— Shiu. – Bea Ni murmurou escondendo o rosto com as mãos.

Taehyung a abraçou depositando um beijo no topo da cabeça da namorada.

— Ih, casem logo. – Namjoon soltou resolvendo abrir um livro e Hoseok gargalhou vendo agora Taehyung ficar rubro.

— Entra para a fila! – Jimin exclamou cutucando Jungkook que esbugalhou os olhos para o mesmo.

— Eu, hein! – O mais novo defendeu-se assustado, falando grosso e no segundo seguinte sobressaltou-se ao ouvir seu celular tocando. Pôs a mão no peito fazendo uma careta.

— “Yoboseyo, jagi-ya” ­— Hoseok imitou Jungkook com uma voz mansa e romântica, o contrário do que o mais novo aparentava ser – Larga dessa pose de durão, Jungkook. Não é segredo para ninguém que você é caidinho pela Heuna-ssi.

O maknae acertou o hyung com um travesseiro fazendo-o abrir um largo sorriso e então, atenteu o celular:

— Yoboseyo, jagyia. – O maknae iniciou na chamada de forma inevitável. Sempre que estava com sua noiva, a Heuna, seu coração era preenchido pela admiração e amor mais genuíno.

No mesmo instante, todos riram tão sincronizados que seria impossível mais perfeito se houvessem combinado. A onda de gargalhadas foi tanta, por puro sarro com o mais novo, que as paredes pareceram tremer. Jungkook fez careta, dando língua e continou com a conversa com sua noiva.

— Meu Deus, Taehyung! – Bea Ni começou – não aguento mais rir assim. – A gerente se recuperava enxugando as lágrimas pelos risos seguidos.

Em meio à distração dos demais, Taehyung roubou-lhe mais um beijo, deixando-a surpresa.

— Ok! Vamos, abra os braços. – Ordenou Bea Ni falhando horrivelmente em disfarçar a satisfação que sentia. Levantou os braços do Kim de maneira brusca contornando seu tórax com a fita métrica.

Taehyung apenas seguia as instruções em meio àquele saudável alvoroço e uma paz pôde fazer-se presente em si, como um bálsamo.