Meu Pequeno Anjo escrita por Lelly Everllark


Capítulo 2
Sem pânico, está tudo bem.


Notas iniciais do capítulo

Oiie amores, cá estou eu outra vez e agora com o primeiro capítulo da história!! ♥
Eles serão narrados em primeira pessoa pelo Connor e a Izzie, e pelo menos agora no inicio vai ser de forma alternada, mas não contem sempre com isso, por que podem aparecer dois capítulos narrados pelo mesmo personagem mais pra frente u.u
Dito isso, espero que gostem e quero opiniões...
BOA LEITURA!! :3



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   Connor

  É engraçado o quanto a vida de alguém pode mudar em apenas algumas horas. Quer dizer, há um dia atrás eu era só um cara de vinte e cinco anos que dividia o apartamento com dois colegas, tinha um emprego do qual gostava bastante e ia a festas ocasionalmente. Mas agora cá estava eu tomando café com uma garotinha de cinco anos que não tinha dito uma única palavra até agora, na verdade eu nem mesmo tinha ideia de se ela sabia ou não falar.

  - Angie, você quer mais cereal? – perguntei tentando quebrar o silêncio e ela apenas olhou para a própria vasilha quase vazia e depois assentiu, sem  dizer uma única palavra. – Certo – suspirei.

  Depois de colocar o cereal em sua vasilha e na minha própria olhei para o relógio, marcava 08h32m e isso queria dizer que eu estava atrasado. Tinha que chegar a empresa as nove e gastava meia hora até lá. Mas hoje eu não iria, não podia ir. Seria a primeira vez em três anos que eu faltaria o trabalho sem motivo, sem eu estar à beira da morte como diria minha mãe.

  Eu tinha que decidir o que fazer, eu tinha aceitado ficar com ela em ímpeto de coragem, mas a verdade era que eu estava perdido. Nunca tive nenhum cachorro, como eu poderia cuidar de uma criança? Mesmo que Angie me parecesse uma criança tranquila, isso estava errado, nenhuma criança devia ser calada assim, o sobrinho de Stuart, um dos caras que moravam aqui comigo, era a prova disso. O garoto passou uma tarde com a gente quando a mãe dele precisou ir ao médico e nós (eu, Stuart e Jace nosso outro colega de apartamento), passamos maus bocados cuidando dele. Mas a loirinha senta a minha frente parecia quase indiferente a tudo, e quando eu digo tudo é tudo mesmo, a delegacia na noite passada, ao apartamento novo, e o fato de ter que ficar com um estranho, no caso eu. E isso era um pouco assustador, afinal, ela devia estar assustada.

  - Angie, você por acaso está acostumada com estranhos? – perguntei e ela me olhou sem entender. – Digo, eram muitas pessoas diferentes que cuidavam de você?

  Ela balançou a cabeça afirmativamente.

  - Seus pais passavam muito tempo fora? – quis saber e ela assentiu outra vez e depois voltou a comer seu cereal. – Angie – chamei mais uma vez e ela me olhou curiosa. – Você sabe o que aconteceu com eles? Os seus pais?

  Ela olhou para a própria vasilha e balançou a cabeça concordando sem me olhar e apontou para cima. Mesmo que essa fosse a primeira “conversa” que eu tive com a pequena, eu entendi o que ela queria dizer. Seus pais estavam no céu.

  - Vamos tomar um banho? – a chamei depois de uns minutos, essa conversa tinha tomado um rumo completamente deprimente.

  É claro que ao invés de me responder ela ficou de pé e eu suspirei mais uma vez, ia ser um longo, longo dia.

  Dar banho nela e trocá-la não foi a parte difícil, difícil mesmo foi quando ela simplesmente se sentou na beirada da minha cama esperando que eu arrumasse seu cabelo. Juro que entrei em pânico, o que eu tinha que fazer? No fim apenas o penteei e deixei como estava, seu vestido florido que ela tinha trago na mochila tinha ficado lindo nela. Mas outra coisa que me surpreendeu foi a quantidade de coisas que ela tinha na mochila, um vestido, três blusas, dois shorts, uma calça, dois pares de meia e três calcinhas, só, nada mais. Depois teria que ligar para Helen e perguntar se eu poderia pegar mais algumas coisas pra ela, não dava pra eu cuidar de uma garotinha por um mês só com isso, disso eu tinha certeza.

  Assim que voltamos para a sala eu liguei a TV e resolvi falar com a única pessoa que poderia me dar uma luz agora. Peguei o celular e disquei o número da minha mãe.

  - O que foi agora Connor Scott? — ela perguntou assim que atendeu e eu ri. Angie me olhou curiosa, dei um sorriso pra ela também que desviou o rosto e encarou a TV, fiquei sem entender e resolvi voltar minha atenção à conversa com Dona Vera.

  - Nossa mãe, oi pra você também.

  - Oi Concon, a que devo a honra da ligação?

  - Mãe! Não me chama assim! – fiz careta e a ouvi rir do outro lado da linha. Conversar com minha mãe era sempre assim e eu amava isso nela, acho que era por isso que ela era a única mulher da minha vida já há algum tempo.

  - Mas então meu amor, por que ligou?

  - Você já soube sobre o meu pai? – perguntei sem saber como começar o assunto.

  - Sobre o acidente com a esposa? Já sim. Apareceu na TV hoje cedo. Eu gostaria de dizer que estou triste, mas não é como se isso fosse verdade. E você filho, como está?

  - Surpreso – disse sinceramente e acabei olhando para a garotinha sentada ao meu lado no sofá, Angie nem piscava vendo o desenho. – Acho que também não estou exatamente triste, mas sinceramente não sei. Só que não foi por isso que eu liguei para a senhora.

  - Não?

  - Não. Você sabia que meu pai tinha uma filha?

  - Seu pai? Uma filha? Como assim?

  - Eu a conheci ontem de madrugada. Ela se chama Angelina, tem cinco anos e está bem aqui agora sentada no meu sofá – listei e o telefone ficou mudo por uns instantes. – Mãe? A senhora está aí?

  - Por quê?

  - Por que ela está comigo? Ou por que eu sei disso tudo?

  - Por que ela está ai, que brincadeira é essa, Connor?

  - Quem dera isso fosse uma brincadeira, e ela está aqui por que era isso ou um orfanato – disse um pouco mais baixo, mas Angie nem pareceu perceber que era dela que eu falava. – Até morto o meu pai consegue fazer bagunça – disse sem pensar e acabei me arrependendo, ele ainda era meu pai, e o tempo que passou comigo tinha sido maravilhoso, mas ainda assim, isso não compensava o fato dele ter sumido quando eu tinha sete anos.

  - O que você pretende fazer agora? — minha mãe perguntou depois de um tempo ignorando meu último comentário. Agradeci mentalmente por isso, mamãe sempre sabia o que dizer, ou às vezes o que não dizer.

  - Estava esperando que a senhora me dissesse o que eu devia fazer – admiti e quase podia vê-la abrindo um sorriso do outro lado da linha.

  - Eu sabia que você tinha aprontado — ela disse divertida. – Mas você sabe que criar uma criança é uma grande responsabilidade, não é? Por que a aceitou?

   - Por que eu não consegui dizer não, por que eu sei a dor de perder alguém importante e por que me disseram que seria por pouco tempo. Só até acharem um lar pra ela.

  - Você sempre teve um coração enorme Concon — mamãe sorriu e eu gemi.

  - Mãe!

  - Tudo bem, tudo bem. Se você está determinado a fazer isso, vou te ajudar. Coloque ela na linha, quero falar com a minha nova netinha.

  - Mãe, Angie é minha irmã, então isso faz dela sua enteada e não sua neta.

  - Você a adotou Connor, então isso faz dela sua filha e consequentemente minha neta. Agora passe logo o telefone pra ela.

  - Isso não vai adiantar, Angie não disse uma única palavra até agora. Não é como se ela fosse falar com você.

  - Entendo — mamãe suspirou. – Isso tudo deve ser de mais pra ela. Então traga ela aqui em casa. Hoje não posso, mas quero conhecê-la, que tal amanhã?

  - Tudo bem – concordei. – Até amanhã então, mãe.

  - Até Concon — ela riu e desligou, eu acabei por abrir um meio sorriso também.

  Quando voltei meu olhar para Angie, ela me olhava também, seus olhos azuis me analisando de forma curiosa.

  - Estava falando com a minha mãe – disse e a garotinha apenas piscou pra mim. – Ela quer te conhecer, vamos visitá-la amanhã, o que acha? – perguntei, mas ela não disse nada, suspirei frustrado. – Você pode falar comigo, Angie, não precisa ter medo, não vou machucá-la.

  Ela abriu a boca como se fosse mesmo dizer alguma coisa, mas parou no meio do caminho, respirei fundo e deixei por isso mesmo. Forçá-la só seria pior.

  O restante do nosso dia se passou comigo fazendo monólogos e Angie assentindo ocasionalmente, aproveitei o tempo para ligar para o meu chefe, Rick, e explicar a situação, ele assim como a minha mãe ficou surpreso por saber que agora eu era responsável por uma garotinha de cinco anos. Aproveitei que Angie havia caído no sono vendo um filme da Barbie e fui dar uma organizada no apartamento.

  Normalmente nem eu, nem os meninos ligávamos muito pra isso, sempre tinha alguma garrafa vazia de cerveja em algum canto, ou uma caixa de pizza com alguma fatia dentro em algum lugar, mas quando Angie quase comeu uma dessas fatias eu decidi que era hora de me livrar delas. Achei mais do que gostaria se quer saber, afinal agora eu tinha lingerie feminina o suficiente para abrir um sex shop, e eu sabia que oitenta, talvez 90% delas eram das “acompanhantes” de Stuart, aquele ali sabia se divertir. Depois de juntar tudo, aproveitei que Angie ainda dormia tranquilamente na minha cama e resolvi adiantar um projeto da logomarca de uma padaria que eu estava fazendo.

  Já estava perto das sete da noite quando resolvi acordar a loirinha para jantar, afinal, ela precisava de sono para a noite também, mas eu não a culpava por estar cansada, essa última noite deve ter sido uma das mais longas da sua vida. Tinha terminado de salvar o arquivo no notebook quando um grito me fez dar um pulo.

  - Mas que merda é essa!? – Stuart gritou, ele já estava sem camisa, enroscado em uma ruiva que eu nunca tinha visto na vida e pra minha surpresa o motivo do seu grito estava de pé no meio do corredor piscando e com os cabelos despenteados, Angie parecia à beira das lágrimas.

  - Eu é quem pergunto! – esbravejei indo até a loirinha e a pegando no colo. – Está tudo bem, esse idiota é um amigo meu. – garanti vendo Stuart piscar enquanto nos encarava, a ruiva com ele que tinha os três primeiros botões da camisa social aberta, parecia ainda mais confusa. – Precisava ficar pelado no meio da sala? – quis saber e moreno a minha frente continuou me encarando.

  - O que está acontecendo aqui? – meu amigo perguntou finalmente. – Por que tem uma garotinha no meio do corredor?

  - É uma longa história e vejo que agora está ocupado – disse olhando sugestivo para a ruiva e Stuart suspirou.

  - Agora o clima já acabou. Podemos continuar outro dia Dany? – ele perguntou e ela sorriu pra ele já fechando os botões da camisa.

  - Quando quiser – ela o beijou e depois seguiu para a porta. – É só ligar.

  - Vou ligar mesmo – Stuart disse dando um daqueles sorrisos sacanas que só ele conseguia e a ruiva saiu. Meu amigo se virou pra mim colocando a camisa outra vez. – Agora me diz por que tem uma garotinha na nossa casa.

  - Vem, vamos sentar – chamei e afaguei os cabelos de Angie que tinha escondido o rosto em meu pescoço, aquilo me fez sorrir, por que aparentemente ela não falava comigo, mas parecia bem confortável com a minha presença. – Você já pode olhar – disse a ela me sentando e a ajeitando em meu colo. – Aquele é o meu amigo Stuart, ele é bem legal e normalmente não sai por ai gritando com as pessoas. E Stuart – encarei meu amigo que olhava surpreso para a loirinha em meu colo. – Essa é Angie, minha irmã mais nova e a partir de hoje, por algumas semanas ela vai ficar aqui com a gente.

  - Certo, sua irmã – ele repetiu piscando. – Agora quero a versão completa. Por favor.

  Resolvi contar logo a historia toda a Stuart, não tinham mesmo por que esconder nada, e foi o que fiz, e durante toda a conversa Angie permaneceu em meu colo, brincando com o colar que eu tinha no pescoço, ela não disse nada, mas também não saiu de onde estava.

  Depois de falar tudo Stuart ainda me encarava como se eu fosse louco e bem, talvez eu estivesse quando aceitei a responsabilidade de cuidar de Angie, mas agora já tinha ido. Mas ao invés de me repreender, meu amigo sorriu e disse que como eu era o “paizão” eu devia dar o meu melhor. Eu acabei rindo também e fui fazer algo pra gente jantar. Os meninos haviam me dado esse apelido, por que de longe eu era o mais responsável de nós três, Stuart era o mais velho, mas as vezes (ou sempre) agia como um adolescente e Jace era um loiro de vinte anos que ainda nem tinha terminado a faculdade de arquitetura e fazia bicos como DJ, então não era muito difícil ser o mais responsável, ser o “paizão” como eles diziam.

  Mas foi no meio da noite quando Jace chegou às quatro da manhã fazendo uma barulheira absurda e acordando Angie que dormia ao meu lado na cama, que eu decidi que isso não dava pra continuar assim. A loirinha me olhou bocejando e eu tomei uma decisão. Iria arrumar um apartamento pra mim. Eu já queria fazer algo assim, mas nunca tinha realmente tomado qualquer iniciativa, só que Angie havia se tornado minha faísca de coragem. Eu sei que era errado, mas eu podia usá-la como desculpa para que os meninos não ficassem chateados e depois que ela fosse embora teria um apartamento só pra mim. Minha casa.

  E quando eu comuniquei isso no café da manhã no outro dia, Jace ainda morto de sono piscou pra mim e Stuart parecia surpreso de mais pra falar qualquer coisa que fosse. Como hoje era sábado, estávamos todos em casa.

  - Você vai embora? – o moreno perguntou com a colher de cereal a meio caminho da boca. Angie era a única que comia sem se importar com o que estava acontecendo a sua volta.

  - Vocês sabem que eu queria me mudar já há algum tempo – suspirei colocando café em minha caneca. – E eu não quero atrapalhar a privacidade de vocês, e vocês moram aqui, e não dá pra ter uma garotinha de cinco anos passeando por ai enquanto vocês querem fazer certas coisas— disse olhando sugestivo para Stuart.

  - Como é que eu ia saber que ela estava aqui? – ele perguntou na defensiva e eu dei ombros.

  - Tudo bem, não importa. Mas pensem pelo lado bom, agora vocês podem dar suas festas toda noite sem se preocupar comigo.

  - Vendo por esse lado – Jace disse rindo.

  - Você vai mesmo, né? – Stuart quis saber e eu assenti. Já tinha me decidido. – Então boa sorte, e nem pense que não iremos visitá-lo assim que der.

  - Eu não esperaria menos – sorri e nós voltamos a comer.

  Eu já tinha planejado ir atrás de alguns apartamentos que eu tinha visto nos classificados noite passada, depois de não conseguir mais dormir por causa de Jace, Angie também demorou a pegar no sono, ela ficou lá deitada me encarando como se fosse à coisa mais interessante do mundo. Iria passar na casa da minha mãe e depois sairia com Angie atrás de uma casa pra nós, digo pra mim.

  Mas não consegui nem sair de casa entes de receber uma mensagem de dona Vera.

  Mãe: Concon, sinto muito fazer isso com você afinal eu queria mesmo conhecer a Angie. Mas aconteceu um imprevisto e Raul se machucou com a churrasqueira. Não se preocupe, ele está bem, mas vamos passar a manhã toda no hospital, leve ela pra jantar lá em casa. Beijos, te amo.

  Eu suspirei olhando para o celular e cogitei a ideia de ligar pra ela, mas se ela não havia me ligado era por que não podia, mamãe odiava mandar mensagens.

  - Mudança de planos, Angie – disse entrando no carro depois de colocá-la no banco de trás. – Não vamos mais à casa da minha mãe. Vamos atrás de uma casa nova pra gente, o que acha?

  Surpreendentemente dessa vez ela não só assentiu, como sorriu pra mim também. Aquilo me pegou desprevenido. Eu teria que tomar cuidado, ou se não acabaria me apaixonando por esse anjinho. Me livrei desses pensamentos assim que dei partida no carro, precisava de um apartamento, não de mais um problema.


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Notas finais do capítulo

E então? Quero opiniões, please!!
Beijocas de pudim e até!! :*



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