O dia de Connor foi o mesmo de sempre, acordou com a conquista de Stuart da noite saindo às escondidas pela porta, tomou café na padaria perto de casa e foi para o trabalho na pequena empresa de design gráfico que tanto gostava, não teve nada incomum, nada diferente, por isso que ele não conseguia entender como tinha terminado ali na delegacia às quatro da manhã, aquilo era algum tipo de brincadeira, tinha que ser.

  Ele havia recebido um telefone uma hora antes e atendeu sem entender quem o estava ligando às três da manhã e quando o fez esperava fervorosamente ser engano para que ele pudesse voltar logo a dormir, mas não foi bem assim, por que quando uma voz grave perguntou “Quem está falando é o Sr. Connor Scott?” ele sabia que não podia ser boa coisa. Nunca era.

  Então ouviu a mensagem e foi até a delegacia, mesmo que o policial do outro lado da linha não tivesse especificado o motivo da intimação ele não ia esperar virem buscá-lo, afinal ele não se lembrava de ter feito nada que o levasse para a cadeia.

  Mas nada preparou Connor para o que viu assim que chegou, a garotinha loira usando pijama cor de rosa de corações era de longe a coisa que mais se destacava ali, no meio daquelas várias pessoas sérias andando pra lá e pra cá.

  - Sr. Scott? - perguntou um policial sério assim que ele entrou na delegacia.

  - Sim, sou eu.

  - Eu sou o capitão Vargas e fui eu quem falou com você no telefone mais cedo - explicou e Connor assentiu, havia reconhecido sua voz assim que ele lhe fez a primeira pergunta. - Acredito que o senhor esteja curioso com a ligação repentina, estou certo?

  - Sim - Connor concordou - Eu ainda não entendi por que me chamaram aqui.

  - Então venha que vamos te explicar - o capitão chamou seguindo para uma porta a esquerda e depois se virou para a mulher morena ao lado da garotinha - Venha Helen, e traga ela também.

  Connor não entendeu o pedido, mas não disse nada, apenas seguiu com o capitão, Helen e a garotinha para a sala. Chegando lá além da garotinha ninguém se sentou.

  - Por favor, sente-se - ofereceu o capitão a ele e o mesmo negou com a cabeça.

  - Estou bem, obrigado. Só quero que me digam o que está acontecendo aqui.

  - Certo - o capitão Vargas começou. - Nós não temos boas notícias para você senhor Scott. Seu pai se envolveu em um acidente de carro na noite passada juntamente com sua esposa, foi fatal, eu sinto muito.

  - Meu pai morreu? - perguntou surpreso. Connor não via o pai desde os seus sete anos, não é como se ele estivesse abalado ou coisa assim, mas no fim ele ainda era o seu pai. 

  - Sim. E eu sei que é repentino, mas nós precisamos falar sobre o futuro da sua irmã.

  - Claro... Espera, o que!? Falar sobre o futuro de quem? - ele piscou verdadeiramente confuso encarando o capitão.

  - Sua irmã - ele disse simplesmente apontando para a garotinha loira sentada de pijama no sofá da sala onde se encontravam. Ela os olhou curiosa como se o fato de estar na presença de estranhos fosse algo normal.

  - Eu não tenho irmã - foi tudo o que Connor conseguiu dizer enquanto ainda encarava a garotinha.

  - Sinto muito em ser eu a te dizer isso e nessas circunstâncias, mas você tem sim. Essa é Angelina Scott, ela tem cinco anos e é a filha do seu pai que estava em casa durante o acidente.

  - Mas eu nunca soube nada sobre isso - sussurrou ainda sem acreditar, mas é claro que não sabia, seu pai não dava as caras há quase vinte anos então era muito pouco provável que ele soubesse algo sobre a meia irmã vinte anos mais nova que ele.

  - Senhor Scott - a morena, Helen, o chamou. - Eu sei que isso tudo é um choque, mas preciso que entenda a situação, se você não ficar com sua irmã ela vai acabar em um orfanato. Ela precisa de você.

  - Vocês querem que eu fique com ela? - Connor finalmente tinha entendido o motivo da ligação, da conversa e da garotinha. Mesmo depois de morto seu pai ainda conseguia surpreendê-lo. Uma irmã? Sua responsabilidade? Isso só podia ser uma brincadeira mesmo. - Desculpe, mas eu não posso fazer isso - ele respondeu e fez menção em sair, mas Helen o chamou mais uma vez.

  - Senhor Scott, por favor, eu sou assistente social há quase dez anos, então sei do que estou falando. Essa garotinha não tem mais ninguém, o irmão de sua mãe já deixou bem claro que não a quer, você é a única pessoa que lhe resta, por favor, reconsidere. Nem que seja por alguns meses, só até acharmos um lar pra ela. Angie precisa de você, de uma chance a ela. Por favor.

  Ele parou onde estava e olhou não para a morena que tinha dito palavras tão fortes, mas sim para a garotinha que agora ajeitava distraidamente o cabelo da boneca que tinha nas mãos. Ela era tão pequena e já estava sozinha, e Connor entendia esse sentimento, mesmo que Angelina ainda não o entendesse, ele sabia muito bem a dor se ser abandonado. Ele não sabia como faria isso e nem o porquê de sua mudança repentina de ideia, mas estava convencido de que levá-la consigo era o certo a fazer, ao menos por hora.

  - Tudo bem, eu a levo comigo - Connor disse por fim e os olhos de Helen brilharam com sua resposta. - Mas só até vocês acharem uma família pra ela.

  - Claro, certo - Helen sorriu e depois olhou para o capitão como quem diz “Viu como eu estava certa?”. - Isso já é o suficiente - disse por fim e se virou para a garotinha. - Angelina, tem uma pessoa que eu quero te apresentar - ela disse e a pequena a olhou com curiosidade e apontando para Connor, Helen deu outro sorriso. - Aquele é o seu irmão Connor e você vai ficar com ele por algum tempo, eu tenho certeza de que ele é um cara legal.

  Quando o olhar de Angelina passou de Helen para Connor o mesmo acabou sorrindo, aquilo era loucura, aquela situação toda era uma loucura, mas ele tinha certeza de que talvez esse não fosse um fim, e sim um novo começo.

—X-

  Izzie encarava os três testes de gravidez em sua mão completamente em pânico, não pode dar positivo, não pode dar positivo. Era o que ela repetia pra si mesma há quase cinco minutos depois de ter feito xixi em todos eles. Isso não devia estar acontecendo, simplesmente não devia, tinha sido apenas uma festa e alguns beijos, tudo bem, talvez tenha sido mais que isso, mas ainda sim, ela não podia estar grávida, isso não devia ser assim, era a primeira festa que ela ia em meses, estava começando a se sentir uma jovem outra vez, ia só beber e dançar, não era pra ter terminando assim.

  Duas semanas atrás Izzie finalmente, de acordo com suas ex-colegas de faculdade, iria aproveitar a vida, e como a definição de “aproveitar a vida” pra elas eram festas e mais festas, convenceram a amiga a ir a uma também, depois dos vários meses indo do hospital para o trabalho Izzie não pensou duas vezes antes de aceitar, nada podia dar errado, não é?

  Mas deu, claramente as bebidas e a “diversão” foram de mais, afinal Izzie nem ao menos se lembrava de ter saído da festa acompanhada, mas quando acordou no dia seguinte nua na cama de um dos caras mais galinhas da faculdade ela decidiu fingir que nada tinha acontecido, seria melhor pra todo mundo e o como o idiota com quem estava pareceu incrivelmente feliz com a ideia e foi o que fez.

  Só que seu plano foi por água abaixo uma semana depois quando sua menstruação simplesmente se esqueceu de aparecer, só que ela simplesmente ignorou o fato e seguiu com a sua vida, mas depois que se passou outra semana e nada aconteceu ela decidiu encarar a realidade e fazer o teste, só que daria negativo, tinha que dar.

  O som do alarme que Izzie havia colocado a tirou de seus pensamentos, ela não queria ver, mas precisava e foi só tomando uma coragem que ela não sabia possuir que ela conseguiu olhar, e lá estavam, para o seu desespero as duas listrinhas cor de rosa que definitivamente não podiam aparecer, e estava presente em todos eles, não havia por onde correr, tinha vinte e um anos e estava grávida de um idiota que mal conhecia, quando na verdade devia estar começando sua vida, sua faculdade. Ela não devia estar ali sentada no chão do banheiro sem ter ideia do que fazer, devia estar em novo começo, não em um novo fim.

  - Izzie! Você está aí? - Gwen chamou do outro lado da porta.

  Izzie pensou em não dizer nada e fingir que definitivamente não estava ali, mas no fim, decidiu por não fazer isso, sua amiga não tinha culpa da sua vida estar indo por água abaixo.

  - Estou!

  - Ótimo! Sai daí então, temos um problema.

  - Outro? - ela não se conteve e perguntou assim que abriu a porta, a morena de olhos verdes e mechas roxas no cabelo sorriu pra ela.

  - Vem logo - Gwen chamou outra vez e as duas seguiram para a pequena sala do apartamento que dividiam.

  - Sr. Alberts? - Izzie perguntou assim que viu o dono do prédio parado ali no meio da sua sala. Ela olhou do homem para a amiga sem entender. - Aconteceu alguma coisa?

  - Sinto muito te dizer isso Izzie, e assim encima da hora, mas eu vendi o prédio há dois dias.

  - O que!? - ela perguntou surpresa e se virou para Gwen que não parecia tão surpresa quanto devia estar. - Você sabia disso?

  - Não! É claro que não, mas eu tinha ouvido boatos, só não sabia que eram verdade. Por que não nos disse nada Sr. Alberts? - a morena se virou outra vez para o homem.

  - Por que como você bem colocou, eu não sabia se ia dar certo ou não a venda. De qualquer forma é isso.

  - Então temos que falar com o novo dono, não é? - Izzie suspirou.

  - Não exatamente - o Sr. Alberts disse e ambas as amigas ficaram sem entender. - Isso não vai ser necessário.

  - Como assim? - Gwen perguntou.

  - O novo dono quer demolir o prédio e construir um supermercado, me desculpem, mas vocês terão que sair.

  - Sair? - foi tudo o que Izzie conseguiu repetir.

  - Sair pra onde exatamente? - Gwen piscava sem entender.

  - Desculpem meninas, eu estimo muito as duas, mas precisava fechar esse negócio, o novo dono deu até o fim de semana para saírem, boa sorte - o senhor sorriu e dito isso saiu pela porta.

  - Três dias? Três dias! Ele nos deu três dias pra sair e ainda diz que nos estima muito? Só pode ser brincadeira! - Gwen praguejava.

  - Eu estou ferrada - Izzie murmurou e a amiga se virou para encará-la. - Por que agora além de mãe solteira, eu também sou uma sem teto.

  - Ai meu Deus, Izzie! Não me diga que deram positivo?

  - Todos eles - murmurou e Gwen a abraçou.

  - Nós vamos dar um jeito - a amiga garantiu e Izzie quis muito acreditar nessas palavras. 

  Por que dada a sua atual situação, só um milagre para salvá-la, afinal, não eram nem nove da manhã ainda e Izzie já não tinha mais ideia do que fazer com sua vida.

  Ferrada nem descrevia mais sua situação.