Cappuccino escrita por Ahrilyn, Passarinho


Capítulo 1
Milk&Coffee


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic foi criada para suprir a necessidade de um final decente entre a MC e a Jaehee no jogo, já que o final original decepcionou muitos jogadores. Uma em especial é a nossa melhor amiga, Innanis, que quase quebrou seu celular ao descobrir que perdera 11 dias de vida para não ganhar um pingo de romance. Mas não tema, jovem padawan, estamos aqui para defende-la dessas decepções! ~ou tentar~
Este é um de nossos humildes presentes para tentar te mostrar o quão especial você é para nós. Te admiramos demais, nossa mestra da Biologia, das Letras, orgulho do Luís Gustavo. Te amamos muito! Espero que aprecie esta leitura como nós apreciamos a sua presença em nosso dia-a-dia.

Ah, recomendamos a todos que leiam enquanto escutam esta música:
in love with a ghost | we've never met but, can we have a coffee or something? (https://youtu.be/0XZJ5mD6nSU)

Boa leitura!



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Final Day / Party

Meu coração retumbava a uma frequência que denunciava toda minha vontade de arrancá-lo de mim. Ele fazia tanto barulho que eu não conseguia sequer ouvir o que Jaehee me falava. Eu estava paralisada, meus pés trancados ao piso, tentando decifrar que frases confusas eram aquelas que passavam pelos seus lábios. Porém, eu sabia que nenhuma delas continha o que aquele tambor incessável no meu peito ansiava.

— ... você aceita? — Ela perguntou a mim, a luz dos candelabros da festa refletindo nas lentes de seu óculos.

— Ah, sim, claro... Eu adoraria trabalhar em uma cafeteria com você. — Disse covardemente, incapaz de expressar minha frustração em descobrir que a conversa que eu tanto esperava era sobre uma proposta comercial. Tentei reprimir minhas emoções por um momento, mas logo precisei inventar uma desculpa para fugir dali. — E-e... Eu... tenho que ir ao... b-banheiro!

Quando percebi, já estava correndo em direção à saída. Estava tão constrangida e magoada... Tudo que eu queria era me transportar para minha cama. Não a cama da Rika, no apartamento da Rika, onde estão as roupas e os móveis da Rika. Para debaixo de minhas próprias cobertas e pelúcias, onde poderia ler os meus livros, na minha casa, onde eu poderia chorar à vontade.

Não me sinto acolhida naquele espaço, e sim como se estivesse aprisionada no lar de um desconhecido, constantemente assombrada pelo pressentimento de que alguém está ali a me observar. Refletir sobre isso me fez perceber que ir para lá ia me fazer sentir pior neste momento, então vislumbrei no final da rua uma pequena praça. Me aproximei e  vi um balanço um tanto enferrujado, onde me sentei e passei a observar as poucas árvores ali presentes.

E só então me permiti devanear sobre como seria se fosse audaciosa o suficiente para me declarar para Jaehee. Será que ela sente o mesmo que eu? Suas palavras por tantas vezes fizeram brotar em mim esperanças de que nós pudéssemos ser... mais. Senti meus olhos marejarem ao perceber que só eu via as coisas desta maneira, e logo não conseguia mais enxergar as árvores.

— Innanis... — Ouvi uma voz suave atrás de mim chamar meu nome, aquele doce timbre que eu reconheceria em qualquer lugar.

Rapidamente, limpei as lágrimas que permaneciam insistentemente atrapalhando minha vista e logo pude ver Jaehee me encarando. Ela parecia confusa, porém, não disse nada e se sentou no outro banco do balanço, mexendo levemente o mesmo com o impulso de seus pés. Juntei forças por alguns minutos até que, finalmente, respirei fundo e consegui dizer algo.

— Como me encontrou? — Perguntei, já que não tive coragem de esclarecer minha verdadeira dúvida “Por que veio atrás de mim?” ainda.

— Pedi ao Luciel que descobrisse sua localização através das câmeras de segurança da cidade, fiquei com medo de que algo tivesse acontecido. Vim até aqui porque você parecia triste, prestes a chorar... — Jaehee terminou a frase olhando para baixo, e fitou suas mãos sobre seu colo por alguns segundos até voltar a encarar meus olhos. — Isso... É por causa da minha proposta? Você não precisa aceitar se não quiser, eu só achei que... Bem, eu queria... passar mais tempo com você. Mas é uma decisão importante, então não quero que aceite apenas para não me magoar.

— Não estou aceitando para não te magoar, eu também quero passar mais tempo com você.

— Então por que está triste? — Ela indagou.

— Não quero falar sobre isso. — Não consegui evitar soar um pouco rude com esta frase, e era visível que Jaehee estava cada vez mais confusa com minhas atitudes. Me senti mal por isso e tentei animá-la. — Não precisa se preocupar, está tudo bem.

— É claro que eu me preocupo, eu me importo com você, Innanis. Você me apoiou quando eu estava em crise, se você não estiver se sentindo bem quero saber para poder te ajudar também. Você é bela demais para esconder seu rosto atrás de lágrimas, não quero vê-la chorar. — Ela nunca tinha me dito algo assim, antes. Talvez por isso, meu coração tentou alimentar-se de ilusões novamente. E funcionou.

Enquanto refletia sobre como responder, senti uma gota d’água pingar em minha bochecha. Levantei a cabeça para observar de onde esta gota viera quando várias outras começaram a cair. Jaehee segurou em minha mão e me puxou.

— Venha, vamos nos abrigar em algum estabelecimento até a chuva passar. — Ouvi sua voz, um pouco abafada pelo som da chuva.

O primeiro estabelecimento pelo qual passamos era — ironicamente ou não — um café. Era um lugar encantador, com uma temperatura acolhedora, uma decoração aconchegante e um aroma maravilhoso de café novo. Entramos e fomos bem recebidas pela atendente, que nos conduziu até uma mesa vazia ao lado da janela. Eu podia observar as gotas de chuva escorrerem janela abaixo, produzindo com isso sons agradáveis. A janela estava embaçada devido ao contraste de temperatura entre o tempo frio e chuvoso lá fora, e o clima morno dentro desta cafeteria.

Encarei a mulher sentada em minha frente e percebi que ela se encontrava tão perdida em seus próprios pensamentos quanto eu, então me permiti apreciá-la. Jaehee possui uma beleza única, ao meu ver. Ela não precisa se esforçar ou se encaixar em padrões para ser atraente, simplesmente é. Não apenas pelo seu físico, mas também pela sua inteligência, seus esforços e sua empatia com as dificuldades do próximo.

— Boa tarde, senhoritas! — Fui retirada de meus devaneios por uma garçonete estridente. — O que vão querer hoje?

— Eu gostaria de um cappuccino, por favor. — Jaehee pediu, e então as duas olharam para mim, esperando minha escolha.

— E-eu ainda não me decidi.

— Sem problemas. Quando escolher, é só chamar que anotaremos seu pedido! Por favor, sintam-se confortáveis! — Disse a garçonete, sorrindo educadamente antes de retornar ao balcão.

Agora a chuva já se transformara em uma tempestade, e era possível ouvir o som de vários trovões. O café já estava cheio de pessoas que procuravam por abrigo, e se tornara difícil escutar o som das gotas caindo na janela. Tudo que eu ouvia agora era o burburinho de dentro daquele estabelecimento.

— Já está mais calma? Podemos falar sobre o porquê de você estar se sentindo triste? — Jaehee pediu. Eu não queria preocupá-la ficando em silêncio. Porém, dizer como realmente me sinto estava fora de cogitação.

— Eu só estou me sentindo desconfortável no apartamento da Rika, sabe? Parece que aquele lugar é de uma estranha que pode chegar a qualquer momento para retomar seu lar, e eu sou só uma intrusa. — Era minha desculpa, mas não fugia da verdade. — Queria poder voltar pra minha casa... Eu sou capaz de fazer os trabalhos lá, Seven pode criar um sistema de segurança impecável só para mim, e...

— Eu entendo. — Ela repousou os braços sobre a mesa. — Olhando por esse lado, não é difícil imaginar o quão fatigante deve estar sendo para você. Nunca concordei nisso desde o início, mas, eu,  como uma mera secretária, não podia fazer nada. Ou melhor, ex—secretária. — Dizia a última palavra em um tom levemente mais alegre, seguido daquele sorriso de alívio que me contagiava tão involuntariamente.

— Você parece contente com a saída do emprego. — Tentei mudar de assunto, evitando que o assunto da conversa girasse ainda mais em torno de mim. 

— E estou, me sinto tão liberta... É como se tivesse rejuvenescido dez anos!

— Mas, Jaehee... — “Você só tem vinte e seis anos”, era o que eu queria dizer, mas vê-la com tanta satisfação me impediu de continuar. — Fico feliz que agora você possa seguir seu sonho.

— Foi graças ao seu apoio que consegui a coragem que tanto precisava. — Falou. — Agora, estou livre para fazer o que quiser. Quem sabe eu possa abrir uma cafeteria como esta em que estamos? Seria um sonho... — Sua face, de esperançosa, tornou-se ligeiramente amuada. Ela tentava disfarçar mas, por algum motivo, eu sabia. — Sim, seria realmente um sonho... mas talvez eu quisesse acordar o mais rápido possível desse sonho, se você não estivesse nele...

Prendi a respiração, amassando a saia do meu vestido com minhas mãos frias. Não, de novo não. Isso é cruel demais.

— Me desculpe. — Ela continuou. — Não quero colocar pressão, mas eu não consigo mais me ver sem sua companhia. Seria tão bom... Nós duas abrindo a cafeteria toda manhã, indo à cozinha preparar os bolos, aprendendo receitas novas, servindo o café... — Ela pausou, pensativa. — Oh, eu tive uma ideia sobre como resolver seu problema com o apartamento da Rika.

Ergui meus olhos, a garganta seca.

— Qual ideia você teve? — Tentei parecer o mais inalterada possível.

— Você poderia ir morar comigo. — Jaehee falava aquilo com um brilho invejável nos olhos. E com esses mesmos olhos, ela tinha percebido o quanto me choquei com sua ideia. — Quero dizer, claro que não permanentemente, não quero forçar você a ficar comigo tanto tempo, mas até termos um salário estável. Até lá, eu farei de tudo...

— Jaehee...

— ... para te....

— Jaehee.

— ... fazer sentir parte do lar. Eu quero sua felicidade, acima de qualquer coisa, e eu-

Jaehee! — Em um tom ligeiramente mais alto, a interrompi. — Por que você está fazendo isso comigo?

— Porque você é uma preciosa amiga, e eu posso te afirmar que é a melhor que já tive em toda a minha-

— Não, Jaehee... Não... — Estava acontecendo de novo. Senti minha visão enturvar-se a cada lágrima que vertia em meu rosto. E na frente dela. Na frente da Jaehee.

Bem na frente dela.

— Innanis!? O que foi? Me perdoe, se foi algo que eu disse, se minha ideia te ofendeu... — Ela levantou-se da sua cadeira, a sua sombra envolvendo minha patética imagem secando as gotas que caíam sem parar.

Você não fez nada de errado. — Abaixei minha cabeça. — Eu que fiz. Eu que fui idiota. Eu que deixei isso acontecer. Eu que dei ouvidos ao meu coração, eu que me apaixonei por você, e eu que mereço o que está acontecendo agora.

Era isso. Eu simplesmente falei o que estava preso dentro de mim ao longo de todos esses dias. E eu sabia que, depois disso, nunca mais poderia ser amiga dela de novo. Então, se é para ser agora, então que seja.

— Você não sabe o quanto dói, Jaehee... O quanto dói todo esse carinho que você me dá. O quanto dói saber que você é tão inalcançável. O quanto meu estômago se embrulha enquanto eu cruzo os dedos para que você esteja no celular ao mesmo tempo que eu, para que eu possa falar com você, escutar sua voz... E o quanto meu peito aperta toda vez que você não está. Eu gosto tanto de você, que eu não consigo... — Eu estava gritando internamente. “O que você está fazendo?!”. Mas as palavras saíam sozinhas, e não podia mais controlá-las.  — Eu te quero tanto que eu me iludi ao ponto de pensar que sua proposta não seria de trabalho, mas sim de... outra coisa. Quando estávamos no telefone, eu estava tão certa de que era isso, e esperei tão ansiosa... Claro que eu quero trabalhar com você, mas eu... 

Não consegui continuar, porque parecia que eu estava falando com o nada. Nenhuma resposta, sequer um som saía dos lábios dela. Eu sentia seu corpo imóvel, de pé diante do meu.

Ela parecia prestes a sair dali. Sair correndo. Para nunca mais me ver.

Era uma sensação de rejeição tão palpável.

Eu levantei meu rosto para ver a reação dela diante daquilo.

Um trovão me surpreendeu, transformando a atmosfera tensa em uma completamente mais tensa. O trovão foi alto, denunciando o poder de um raio forte o suficiente para derrubar uma casa. Exceto que o raio se chamava Jaehee, e o trovão foram seus lábios encontrando-se com os meus. E sim, esse raio me deu um choque muito, muito forte.

Ah, como eu queria que meus olhos não estivessem embaçados pelas lágrimas agora.

Tudo que eu queria era não acordar desse sonho. Será que cochilei no balanço? Ou estou sonhando desde a noite passada? Se for a segunda opção, amanhã eu tenho de ir para a festa da RFA, não tenho? Mas é de tarde, então eu posso dormir um pouco mais, não posso?

Foi tão real. A carícia dos seus dedos entrelaçados aos meus cabelos, o toque do seu polegar na minha bochecha, limpando minhas lágrimas. A impressão de que ela estava ao meu alcance, e que eu podia tocá-la também. Até mesmo quando nos separamos, eu sentia seu hálito quente contra o meu. Era tão real.

E era tão real porque era a realidade. Eu não estava sonhando. Não. Ela estava ali, logo à minha frente, com os óculos e cabelos levemente desalinhados, olhando nos meus olhos como se eles fossem dois diamantes, através de seu óculos totalmente esbranquiçados. Retribuí seu olhar com uma mistura de espanto e... uma felicidade um pouco óbvia, que não pude conter só para mim, e acabei por soltar um murmúrio bem baixinho.

—Jae...hee?

— Se eu soubesse de tudo isso antes... — Disse ela pausadamente enquanto se recompunha, o rosto irreconhecivelmente ruborizado. Não que eu a culpasse, já que provavelmente estava tanto quanto ela, só era estranho vê-la fora de seu padrão. — Se eu soubesse disso antes, teria sido tão fácil. Depois de um tempo que ficamos amigas, eu suspeitei que algo dentro de mim já me dava os sinais, mas eu não soube como reagir. Eu nunca senti isso por alguém antes, e nunca pensei que sentiria por outra mulher. E como você foi a primeira, eu fiquei insegura... E se você gostasse do Zen? Você é tão próxima do Zen...

— Mas...? — Um furacão de coisas passou pela minha mente. Eu ainda estava processando tudo aquilo. — Eu pensei que você gostasse do Zen...

— Eu? Não, eu sou fã, mas nunca atrapalharia a carreira profissional dele com isso. Prefiro admirá-lo de longe ou dar suporte a ele. — Ela terminou de ajeitar-se. — O que eu sinto por ele não se compara ao que eu sinto por você. Não importa quantos DVDs eu assista dos musicais dele, nada se equivale com o que acabou de acontecer agora. Eu não sei como, mas-

Uma garçonete, a mesma que tinha nos atendido antes, interrompeu Jaehee.

— Aqui está seu pedido, senhorita! — Falou, logo virando-se para mim — E a senhorita, já decidiu o que vai querer?

— Ah, eu...

— Não, estamos bem. — Jaehee respondeu antes que eu pudesse, soando irritada com a interrupção. O porquê de ela ter respondido por mim, eu não sei.

— Muito bem. Tenham um bom dia! — Respondeu a garçonete, já afastando-se da nossa mesa.

— Sabe, Innanis, — ela continuou o que falava antes — eu não sei como, mas eu me apaixonei por você tão naturalmente. Foi como... — ela meneava seu copo, lentamente, olhando para o seu conteúdo — como o café se mistura com o leite. Na minha opinião, somos como este cappuccino. — Ela me estendeu o copo. — Eu sou o café, e você o leite. A natureza nunca disse que era o certo nos misturarmos, porque eu sou um grão e você é um líquido. Porém, após ser moída e diluída, finalmente consegui me juntar à você. E no fim, nos tornamos um cappuccino.

Era uma comparação tão inocentemente posta da parte dela, que não pude não soltar um sorriso.

— Eu concordo, prefiro um cappuccino do que o leite ou o café sozinhos. — Minha voz não soou tão composta como eu pensei que sairia.

— O tempo está melhorando. — Ela sorriu de volta para mim. — Em breve teremos de voltar à festa. Mas antes, preciso terminar de beber esse cappuccino. — Ela colocou a mão sobre o copo dela que eu segurava. — Você poderia me ajudar a terminá-lo antes de irmos?

Eu, totalmente sem jeito ao sentir a palma dela sobre a minha, fiz um “sim” acanhado com a cabeça. Enquanto bebíamos, observávamos a cena de tranquilidade tão impassível da rua do outro lado do vidro da janela. Impassível, sem contar o pontinho laranja saltitante, completamente encharcado pela chuva e auto-identificado como “Defensor da Justiça 707”, gritando nossos nomes por todos os lados, corrompendo a calmaria e atiçando a risada em nossa mesa.


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Notas finais do capítulo

E aí, Coelo, fomos aprovadas? Espero que quem chegou até aqui tenha apreciado esta fanfic que levou uma noite e madrugada para ser feita com todo carinho em homenagem à nossa Sensei. Desculpem por qualquer erro, e obrigada por terem lido ♥ Críticas construtivas são sempre bem-vindas!



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