Ana e Joseph escrita por carlotakuy


Capítulo 1
One-shot




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A chuva caia forte enquanto a ventania fazia as árvores balançarem junto aos fios de energia, naquela sombria rua, e a água gélida alagava a calçada da lanchonete. O letreiro da mesma vacilava em seus circuitos luminosos em neon, anunciando que mesmo àquela hora da noite, ela se encontrava aberta.

O lugar estava pouco movimentado e duas a três pessoas se dispersavam pelas mesas ao redor da dupla que jazia sentada próxima à janela, observando as gotas de chuva caírem lentamente pelo vidro.

Eles nada falaram desde a chegada e Ana remexia na xícara de café sobre a mesa. Seus olhos não podiam acreditar no que viam. Era ele mesmo! Bem ali na sua frente! As fotos que ela havia espiado dele, da infância à adolescência, não chegavam aos pés daquele homem parado bem ali.

Todo o ar ao redor dele era sombrio. Seus cabelos estavam emaranhados e longos. Seu rosto, cansado, denunciava insônia. Os olhos piscavam de instante a instante, seguindo da janela para Ana num ciclo.

Foi ele quem a levou para lá, para a lanchonete. Depois de sua crise de lágrimas quando ele a abordou na rua. Joseph havia ficado surpreso com sua reação ao ponto de transparecer nervosismo e lhe oferecer algo para se acalmar.

Como se um café fosse fazer seu coração parar de bater acelerado e suas mãos de tremerem ao olhar naqueles olhos.

Ana suspirou tomando mais um gole do café e Joseph a olhou intrigado, como se um simples movimento dela fosse algo jamais visto antes.

— Então, você é um assassino.

A voz de Ana saiu tranquila, mas dentro de si um emaranhado de sentimentos dançavam a impedindo de raciocinar como deveria.

— Sim, sou.

Seus olhos permaneceram parados um no outro por longos segundos antes das próximas palavras.

— E por que você mata?

Joseph a olhou com clara confusão, demonstrando nunca ter recebido essa pergunta. Mas Ana estava séria e irredutível, mantendo seu olhar firme sobre o dele. Ela o procurara por tanto tempo...

— Por prazer.

Ele lhe respondeu num sussurro melancólico. Ana deixou sua visão voltar-se ao café a sua frente. Era isso. Seu amor era um assassino e matava por puro prazer. 

Mas por que as batidas de seu coração não cessavam? Por que ela o queria tanto?

Não entendia como um amor de infância durara tanto tempo. Qualquer atração por ele já deveria ter sumido de seu corpo e seu coração. Eles eram crianças, mal sabiam o que estavam fazendo naquela época.

Na verdade, ela sabia. Foi a primeira a perceber que estava apaixonada por ele, mas não o contou. Guardou seus sentimentos por longos meses até que lhe fosse dito que seriam separados. Separados de escola e de vizinhança. 

A lembrança daquele dia lhe era tão clara como o dia. Ela chorou copiosamente ajoelhada aos seus pés e ele a tentou acalentar. O sorriso que ele lhe lançou durante seu sofrimento permaneceu vivo dentro dela. Era o seu porto seguro.

Quando ela o abraçou, ele a correspondeu, mas nada disse. Quando ela o beijou, ele lhe correspondeu, mas nada disse. E quando ele foi embora...

Ana olhou mais uma vez para o homem a sua frente e ele a olhou de volta. A voz dele foi firme.

— O que você quer?

O sorriso que tomou o rosto da garota se misturou com suas lágrimas em questão de segundos. O que ela queria? Ana já não sabia mais. Havia deixado tudo para trás. Família, emprego, namorado... Havia se empenhado numa busca por Joseph, apenas para acabar ali, numa lanchonete, sem ser sequer reconhecida.

Mas não, ele não tinha culpa. Era tudo culpa dela. Ela não devia ter escutado a conversa das suas colegas de trabalho sobre o assassino em série. Ela não devia ter aprofundado suas buscas por informações acerca dele. Tudo que ela fez a afastou de todos.

Seu namorado terminou o relacionamento. Sua mãe a intimou a só se aproximar quando tirasse aqueles pensamentos malucos da cabeça. Seu chefe a demitiu. O quão longe ela foi?

Entre seus devaneios ela percebeu a mão áspera de Joseph lhe tocar o braço. Quando ela o fitou seu coração riu junto consigo. Ele parecia apavorado, estendendo-lhe guardanapos para cessar o choro e empurrando sua xícara de café para mais perto dela, afim de acalma-la.

Ana, de súbito, pegou na mão dele com as suas. A examinou cada centímetro e sorriu. Com delicadeza ela tocou suas bochechas com a mão dele e mesmo contrariado, ele a permitiu. O calor que chegava de sua mão era tão acolhedor que Ana soltou um baixo gemido de satisfação. Os olhos do homem piscaram e ele a encarou de uma forma mais sombria.

Ana percebeu, mas não se deixou abalar. Decidida ela o encarou de volta e sentiu a mão dele descer suavemente de seu rosto para seu pescoço, parando na base do mesmo.

— O quão prazeroso seria rasgar com as unhas essa pele tão macia?

O coração de Ana acelerou e todo seu corpo tremeu. O sorriso de vitória já brilhava no rosto de Joseph quando ela agarrou sua mão e a prensou ainda mais contra sua pele.

— Você pode fazer o que quiser comigo.

As palavras saíram de sua boca como água a desaguar no mar. Todo o sentimento que ela nutria por ele era como uma bomba prestes a explodir. Joseph sorriu e tentou afastar-se, mas novamente ela o segurou e olhando no fundo dos seus olhos, disse:

— Por favor, faça o que quiser comigo.

A expressão no rosto do homem mudou e além de confusão apenas alegria era notável. Ele se afastou rudemente e nada disse. Ele levantou-se e nada disse. E após ele depositar o dinheiro do café sobre a mesa, Ana sentiu o coração latejar de dor. Joseph deu os primeiros passos para fora da lanchonete e tudo dentro dela desmoronou.

Sem pensar duas vezes ela o seguiu até a saída e já fora da lanchonete, sob a chuva, ele a encarou uma vez mais.

— Não me siga.

— Eu não posso.

— Não procure mais sobre mim.

— Eu não posso.

— Vá embora daqui.

— Eu não posso!

Ana gritou sobrepondo-se ao barulho alto da chuva. Ele suspirou pesadamente e a garota abraçou-se desolada. Como um cavalheiro, Joseph tirou seu sobretudo e a cobriu.

— Ficar junto de mim é perigoso.

Seu tom era sério e de preocupação. Ele tocou em seu próprio peito e a olhou com os olhos mais gentis que ela já vira.

— Há algo dentro de mim que não controlo.

— Também há algo dentro de mim que não controlo — ela deu um passo na direção do mesmo.

Joseph não recuou, mas a fitou com curiosidade. Ana, por sua vez, pegou delicadamente a mão dele a pondo sobre seu peito. Ele tentou desvencilhar-se, mas a garota a segurou com força.

— Há um sentimento incontrolável dentro de mim — seus olhos se encontraram — e ele chama por você.

Com poucos segundos a expressão no rosto do homem se suavizou e Ana percebeu que ele também podia sentir as batidas desenfreadas em seu peito.

— Mas eu sou um assassino.

— Ele sabe disso. Eu sei disso. Você sabe disso. Mas e daí?

O sorriso no rosto de Ana se sobrepôs à chuva e Joseph estremeceu. Ela o puxou para longe da lanchonete entrando em um beco qualquer. Lá a chuva quase não caía e lá eles ficaram.

— Quem é você? E por que tudo isso por mim?

O olhar de Ana transbordou tristeza. Nem ela mesma sabia o porquê daquilo, mas já estava feito e para ela era tudo que bastava.

— Você não precisa saber quem eu sou — ela o envolveu com seus braços e ele apenas a acompanhou, fazendo o mesmo nela — apenas me ame por uma noite e serei completamente sua.

— Em que sentido você diz isso?

Ela levantou a cabeça para fita-lo e ele a observou cheio de desejo.

— Perfure o meu corpo, arranque minha carne, queime-me, esfole-me, esquarteje-me. Meu corpo será completamente seu, para todo e qualquer prazer que você deseje.

Ana parou seu rosto a centímetros dos lábios dele, fitando seus olhos obscuros e cintilantes pela sombra do pecado.

— Tudo o que peço é que me dê uma noite para saciar meu próprio desejo de você. Não precisa saber meu nome. Não precisa saber quem eu sou. Eu sei quem você é, e pra mim, isso basta.

Ana o beijou profundamente. O beijo infantil de anos atrás foi anulado pela intensidade com que Joseph correspondeu aquela súplica. Todo o corpo da garota fervilhou com as mãos ásperas e firmes que percorriam o mesmo, sedentas. Ela estava louca por aquele homem e aquela entrega era tudo que ela precisava.

Ana, internamente, já havia dado adeus a sua família e sua vida. Joseph era seu futuro e final dali em diante.

Ele a puxou pelas pernas e a enganchou em sua cintura. Ana sentiu o gosto doce dele percorrer-lhe a boca. Ele a prensou contra a parede e ela arfou, dominando o prazer que a tentava consumir. 

Quando seus olhos novamente se encontraram, ela pôde ver todo o desejo nublar o homem. Naquele momento ele a desejava e a queria mais do que tudo. Era o suficiente para ela.

Num movimento rápido ele a pôs no colo e a levou dali. Dentro de um quartinho qualquer, arrombado pelo homem, a dupla continuava o que havia começado. A chuva já não os tocava e o único líquido presente naquele lugar era o suor que saia de seus corpos, já nus. Joseph e Ana transaram por longas horas.

E ao findar, quando o resquício do último gozo saiu, Ana sentiu-se estranhamente satisfeita. Joseph a matou logo em seguida, ainda sentindo o cheiro e o gosto do corpo dela em si. 

— Desculpe Ana, você foi maravilhosa até o final. Como sempre.

Joseph passou a mão pelos lábios ainda sentindo o gosto do sangue dela em sua boca e sorriu, beijando o topo da cabeça da garota, que jazia ao seu lado na cama, sem respiração.


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Notas finais do capítulo

Obra puramente ficcional.



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