Flowers escrita por Labi, MrsNobody


Capítulo 1
Único ♥


Notas iniciais do capítulo

Depois de mil RPs eu e a minha mestra, a Doubleside, decidimos adaptar um deles para fanfic. Como tal, a fic ficou um pouco acelerada, meio ptpt meio ptbr (que para nós já é normal).
Queríamos algo divertido e leve e foi com isto que ficamos. Esperemos que gostem também ♥



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Akutagawa achava-se uma pessoa competente, prestável, um bom assassino, discreto, sabia programar uma bomba, sabia como fazer caligrafia, ramen instantâneo e como torturar uma pessoa sem a matar. Mas parecia que nem todas essas qualidades agradavam particularmente a Atsushi que sempre torcia o nariz quando o moreno lhe contava como tinha sido o seu dia.

Em defesa do mafioso, era o próprio Atsushi quem começava a conversa. Que raio de pessoa faz uma pergunta que não quer ouvir resposta?  Ah claro... Alguém como a Bola de Pêlo.

 

O rapaz de cabelos grisalhos tinha entrado na sua vida sorrateiramente, de mansinho, o que era em igual parte irritante e natural. Akutagawa não sabia onde tinha a cabeça quando lhe prometeu que deixaria de matar durante seis meses... que logo passaram a sete... a nove... um ano e dois meses.

(O mais provável era que estivesse no mesmo lugar de quando começou a aceitar jantar com o mais jovem com uma frequência alarmante. Ou como Dazai por vezes implicava: estava a pensar com a cabeça errada.)

 

Suspirou e descruzou as pernas, esfregando a testa, frustrado. Tinha entrado em daydreaming e continuava a olhar para o relatório que devia estar a ler. Tal relatório já podia estar terminado não fosse a Bola de Pêlo o vir distrair em pensamentos. Maldito.

 

"Dia mau?"

 

Akutagawa olhou pelo ombro e encarou o seu executivo que estava na secretária atulhada de papéis, "Não me consigo concentrar."

"Hum... Por que será?", Chuuya comentou com um falso desinteresse e um sorrisinho malicioso que fez com que Akutagawa franzisse o sobrolho. Aquele baixinho parecia inocente mas era metade (a melhor metade, nas palavras dele) da temível Soukoku

"Porque dormi mal."

"E por que será?"

"Porque estava acordado."

 

O tom emburrado, mas sério, do subordinado fez com que Chuuya rolasse os olhos, "És um poço de divertimento."

"Não é isso que o Dazai-san costuma dizer de ti?"

"Akutagawa...", deu um estalido com a língua, "Não se fala no nome do Diabo dentro do meu escritório, ok? Não me faças ter de te expulsar."

Ele deu de ombros e olhou de novo para os papéis.

 

Atsushi estava chateado consigo.

 

Podia parecer uma conclusão óbvia para qualquer pessoa mas Akutagawa não era qualquer pessoa e as suas skills sociais precisavam de ser polidas.

Era verdade que entendia algumas das personalidades à sua volta (e, por extensão, da ADA). Sabia que quando Chuuya estava a andar pelo tecto a falar sozinho era porque Dazai o tinha irritado de novo. Se Dazai entrava pela ventilação do escritório do ruivo é porque estava a fugir ao excesso do trabalho na Agência e Kunikida não o podia capturar ali. Quando Higuchi andava a assobiar pelos cantos é porque o date com a Gin tinha corrido bem.

Mas essas observações eram apenas isso, observações.

Akutagawa não conseguia entender se o que irritava Chuuya sobre Dazai era o mesmo que fazia o ruivo deixar o seu trabalho para se sentar no sofá com o moreno deitado no seu colo a falar sobre novas formas de suicídio ou se Mori permitir que Elise lhe fizesse a maquilhagem era um gesto apenas bondoso e não porque queria ficar em bons termos com ela.

Sim, porque Atsushi lhe tinha explicado que algumas pessoas faziam gestos bondosos ou carinhosos apenas por vontade própria e não porque lhe trazem benefícios.

E era justamente por isso que o moreno sabia que o seu... rival?... parceiro? estava amuado consigo.

 

Olhou para o telemóvel de novo e não havia nenhuma sms. Nem uma. Nem uma única partilha de fotos de gatinhos ou memes com fotos do Kunikida feitos pelo Dazai.

Nada. Zero.

 

O jantar -que não tinha sido combinado- no dia anterior até que tinha corrido bem em grande parte. O grisalho aparecera-lhe à porta sem avisar, carregado com sacos de mercearia e já entrara porta dentro a discursar como uma alimentação saudável era importante. Mesmo não sendo nenhum chef de culinária, Akutagawa tentou ajuda-lo a preparar a comida (e admitia que chegava a ser terapêutico) enquanto o mais jovem falava pelos cotovelos e contava as coisas engraçadas que se passaram durante o dia na Agência.

Akutagawa apenas o ouvia, fazendo breves acenos com a cabeça. Não falava muito, não era seu hábito. Mas tudo complicou-se quando Atsushi o encarou com aqueles olhos brilhantes e bonitos e o questionou sobre o seu dia.

Ora, Akutagawa não tinha motivos para lhe mentir. Nem para lhe dever justificações e foi sincero:  Um grupo de contrabando chinês tinha entrado em território da Port Máfia e calhou a si torturar o homem para obter mais informações.

O sorriso do mais jovem caiu no momento e iniciou-se uma longa discussão que só terminou com o grisalho a sair porta fora.

Mas o mafioso não se sentia culpado de nada. Fez o que o Boss mandou, não matou ninguém, foi sincero ao responder a pergunta. Então, onde estava o problema? Estava no idealismo de Atsushi. E era por isso que a Shin Soukoku nunca funcionaria bem por mais que tentassem se entender e passar tempo juntos para diminuir as divergências.

Então, se não era culpa sua, não devia sentir-se culpado por não sentir culpa. Nem fazia sentido!

 

Não tinha percebido que tinha suspirado de novo e foi Chuuya que o fez voltar ao presente.

"A bufares assim, vais ficar sem ar."

"Eu não estou a bufar."

"Imagina!"

Houve um silêncio momentâneo e o mais jovem encarou o ruivinho, "O Atsushi amuou comigo."

"Que raio fizeste? Nunca vi o Tigre incomodado com ninguém. Nem com a Múmia."

"Ele perguntou o que tinha feito durante o dia e eu respondi."

 

Chuuya teve o descaramento de rir da desgraça alheia e Akutagawa amuou também.

 

~*~



"Ku-ni-ki-da-kun~! Olha! O nosso estagiário favorito está irritadinho."

"Ele não é um estagiário.", o loiro respondeu com um suspiro de quem já tinha perdido a paciência mas que sabia que era inútil explodir.

"É sim. Se eu pedir café ele vai buscar."

"Dazai."

"És um chato, Kunikida. Se continuas assim azedo ninguém te vai querer e vais morrer sozinho rodeado de gatos. Não é, Atsushi-kun~?"

Atsushi deu um grunhido de resposta e continuou a bater furiosamente no teclado enquanto escrevia o relatório.

"Estou ocupado."

Dazai pousou uma mão no peito de forma dramática e encarou o loiro, "Kunikida! Ouviste isto? O estagiário respondeu-me seco. Que falta de respeito! Ocupado, diz ele."

"Ocupado como tu devias estar também se estivesses a trabalhar." , o mais velho sibilou, ajeitando os óculos na ponta do nariz mas Dazai apenas abanou com a mão de forma desdenhosa, "Eu estou a trabalhar. Brainstorming mental!"

"De quê? Suicídio?"

"Não exactamente." , levantou um dedo no ar em pose filosófica, "Novas formas de suicídio que permitam que eu irrite o Chu em menos de cinco minutos."

Atsushi falou, ainda num tom seco quase resmungão, "O Chuuya-san diz que só o facto de estares a respirar é o suficiente para o irritar."

"Ahh e desde quando é que a opinião dos Anões conta?"

Sem parar de digitar (ele ignorava os possíveis erros de digitação, e sabia que Kunikida revisaria seu relatório assim que terminasse), Atsushi deu de ombros:

“Desde que conheci Chuuya-san”

“Oh~ Kunikida, nosso estagiário está nos traindo!”, Dazai fingiu drama, jogando o corpo esguio sobre o colo de Kunikida, como se fosse uma donzela a desmaiar, “O que fizemos para merecer tanta ingratidão?”

Kunikida, pudico como só ele, enrubesceu com a ação de Dazai. ajeitou os óculos e, de forma nada delicada, atirou o suicida no chão.

“Você e Chuuya-san se envolvem romanticamente e o traidor é o Atsushi?”

Dazai, ainda no chão, resmungou:

“Não nos envolvemos romanticamente que nojo!”

“Achei que para fazer sexo, era necessário amor”

“Kunikida-kun, por isso que você ainda é virgem”

“Eu não sou--”, suspirou fundo e esfregou a testa mais uma vez. Devia ter continuado a sua carreira como professor e aturar pirralhos mimados do que ter de estar ali a aguentar aquele louco.

“Ohhh Kunikida!”, chamou num tom dramático e sentou-se no chão, “Tu não és virgem? Que vergonha! Não ser virgem nem casado! Que desonra para a tua família. Que diria a tua mãe se soubesse? Mais- Quem foi a sortuda? Foi nos teus tempos de universidade? Tu sabias como meter ou- Não, não espera. Meteram em ti, não foi? Tu tens cara de quem gosta quando--”

“CALADO.”

“Rude! Muito rude! Eu estou só a manifestar interesse.”

Kunikida apontou para o computador, “E se fosses manifestar interesse no teu trabalho?”

Dazai fez um biquinho mas levantou-se e sacudiu o casaco, “Para alguém que não gosta de autoridade consegues ser quase um ditador. E eu ainda reclamava do Chuuya de TPM!”

“Reclama menos e trabalha mais, que tal?”

“Chato.”

 

O mais jovem não lhe deu mais conversa e assim que o moreno se sentou ao computador ele foi tratar de papelada para o arquivo, deixando-os a sós.

 

Atsushi achou que a discussão terminaria ali mas… não. Claro que não. Claro que Dazai não deixava um assunto morrer com tanta facilidade.

Depois de cinco minutos de silêncio, Dazai começou a rodar na sua cadeira a suspirar, “Atsushi, sabias que ontem a Port Mafia  teve um bom negócio? Eles conseguiram interceptar um carregamento de droga. Um passarinho disse-me que depois de um tiroteio conseguiram capturar um dos cabecilhas e o homem foi torturado de tal forma que contou logo tudo. Curioso, hum? O Mori-san deve estar bem humorado hoje.”

 

O estagiário fez um biquinho amuado, encarando Dazai, “Dazai-san, eu não gostaria de saber disso.”.

Claro que o suicida, malicioso por natureza, usou a fraqueza de Atsushi para se divertir, “Oh, Atsushi-kun~”, sorriu, “Está chateado que seu namorado está a torturar pessoas?”. Atsushi corou até as orelhas, e mesmo que Kunikida tenha censurado o moreno aos berros, Dazai continuou com seu sorrisinho maldoso ao ver a expressão perdida e apavorada do mais jovem, “E-eu não tenho namorado!”, resmungou, “Oh! Pobre Akutagawa-kun~ Ele vai ficar tão chateado ao saber que os sentimentos dele não são recíprocos~”, deu de ombros, dramático, e Atsushi começou a balançar as mãos em frente ao corpo, “N-Não! O Akutagawa eu somos apenas parceiros, Dazai-san!”

“Em teoria, podem continuar parceiros de casa ou de cama.”

Atsushi, inocente, franziu o sobrolho, “Tu e o Chuuya são parceiros de cama?”

O mais velho emburrou na hora e deu um estalido com a língua, “Eu já disse que isso é nojento.”

“Por quê? O Chuuya-san parece um modelo, não é nojento.”

“Eu não tenho fetiche com anões. Mas hey, o Akutagawa pode ter fetiche com furries, aproveita.”

“Eu não sou um furry e não há nada entre mim e o Akutagawa.”

“O primeiro passo para a cura é admitir a doença!”

 

Atsushi rolou os olhos e tentou ignora-lo. Não havia nem nunca iria haver nada entre si e o mafioso que não trabalho. Akutagawa era teimoso, vingativo, chato, respondia em monossílabos, parecia um emo, era pálido demais, magro demais, tinha uma caligrafia bonita, lia poesia quando achava que ninguém estava a ver, tinha uma aura calma quando estava relaxado e-  Espera, não. Algumas dessas coisas estavam erradas.

Não só Akutagawa era o inimigo como também agia sempre de oposição a si e isso enervava o detective.

Inicialmente até tinha pensado que as coisas entre eles podiam ser cordiais mas não. Akutagawa não facilitava. Também não era difícil de perceber que tal coisa era uma missão impossível. Bastava ter Dazai e Chuuya como exemplo. Eles não se suportavam! Ou pelo menos diziam que não, Atsushi tinha as suas dúvidas.

 

O seu telefone tocou algumas vezes ao longo da tarde mas cada vez que via o nome de Akutagawa (cujo nome de contacto Dazai tivera a gentileza de trocar para ‘Amorzinho ♥ ‘ fazia já uma semana mas que Atsushi se tinha esquecido de trocar) resmungava e ignorava a notificação.



~*~

 

“Akutagawa. Eu estava a falar a sério quando ameacei atirar-te pela janela se continuas a suspirar pelos cantos.”

O mais jovem encarou Chuuya quase com uma expressão ofendida que em nada demovia o ruivo.

“Eu não estou a suspirar.”

“Ah verdade, tens razão. Tu estás a bufar faz duas horas. És como um gato irritado agora? Que aconteceu?”

 

O mais jovem cobriu os lábios com a mão, um gesto típico seu, e fechou os olhos, suspirando pela milésima vez (e precisando desviar de um grampeador que foi jogado em sua direção por Chuuya).

“O Tigre está ignorando minhas ligações”.

 

Chuuya mudou sua expressão. De irritado, ele se tornou cúmplice de Dazai (mesmo que não soubesse), e sorriu com uma malícia só dele.

“Oh~ Está chateado que seu gatinho o esteja a ignorar?”. Akutagawa franziu o cenho e, sem descobrir a boca, encarou o mais velho, “Aquele imbecil inútil não é meu ‘gatinho’.”

O ruivo continuou a sorrir, cruzando os braços e assentiu a cabeça em concordância, “Claro, claro, vocês mais jovens usam o termo ‘furry’, certo?”, Chuuya se desviou de Rashoumon (que, obviamente, Akutagawa usara apenas para assustá-lo), rindo em seguida, “Oh, Aku~ Não precisa ficar tímido apenas porque a Maldição da Soukoku está se concretizando~”.

 

Ah, a Maldição da Soukoku.

Akutagawa já tinha ouvido falar dela: mais cedo ou mais tarde, os integrantes da Soukoku acabariam por se comer. Havia acontecido com Fukuzawa e Mori (e Akutagawa torcia o nariz só de pensar naquele casal peculiar), volta e meia ainda acontecia com Chuuya e Dazai (embora ambos fossem negar com veemência sempre que questionados), e agora… Bem, agora a dupla sob a nomeação Soukoku (ou, melhor dizendo, Shin Soukoku) era Atsushi e Akutagawa.

ADA e a Port Mafia.

Yin e Yang.

Tigre e Dragão.

Um inútil metido a pacifista e… Bem, Akutagawa não tinha muito o que dizer sobre si mesmo.

 

“Só porque você e Dazai-san não conseguem controlar os próprios hormônios, não significa que eu precise seguir o exemplo de vocês e me envolver com aquele Tigre imbecil.”.

 

Era sua intenção irritar o ruivinho mas quando o viu sorrir mais malicioso já previa o pior.

“Ai sim? Mas já pensaste nisso, não já?”

“Não, eu-”

“Sem dúvida que sim. E ,para que se conste, eu sei controlar os meus hormonas.”

“Não é o que parece.” , resmungou entre dentes e viu com alguma satisfação o mais velho fazer uma careta.

“É o que parece sim! Quero aquela Múmia anormal longe de mim e--”

O seu telefone tocou, um número sem nome no visor. Isso apenas porque Chuuya se recusava a guardar aquele número nos seus contactos (mesmo que soubesse o número de cor e salteado).

“Ah que merda. Eu disse para não se falar no nome do Diabo!” , reclamou mas atendeu, pousando as pernas sobre a mesa de forma desleixada, “Fala da Morgue.”

“Oh eu pensei que tinha ligado para a toca do Hobbit, desculpe senhora, foi engano.”

“Vai-te foder Múmia.”

“Olha a língua, Chuchu. Que diria a senhora Kouyou se soubesse como o pupilo favorito fala sem maneiras?”

“Diz o que queres e deixa-te de merdas.”

“Queria ouvir a tua voz aveludada!”

“Dazai.” , disse num rosnado que fez o outro rir.

“Era só para te pedir que avisasses o teu estagiário para parar de incomodar o meu durante o horário laboral. O Atsushi-kun está distraído hoje com o telemóvel e o Kunikida-kun não deixa utilizar o telefone durante o trabalho.”

“Suponho que estejas a quebrar a lei agora mesmo?”

Dazai voltou a rir, “Sim, já viste? Violar as leis do Kunikida-kun só para falar contigo. Queres uma demonstração de amor maior?”

“Na verdade, quero.”, o ruivinho disse mas acabou por sorrir divertido, “Gostava que te atirasses de um prédio mas que fosses bem sucedido desta vez. Só para parares de chatear.”

 

Os dois continuaram com aquela discussão por alguns minutos e Akutagawa sabia que eventualmente ele era o assunto porque Chuuya olhava na sua direcção, o telemóvel apoiado no seu ombro.

Franziu o sobrolho e comentou, num tom desinteressado, “Isso é o vosso ritual de acasalamento?”

 

Chuuya lhe ergueu elegantemente o dedo do meio, e Akutagawa rolou os olhos.

“Ok, Múmia. Agora me deixa em paz.”, e encerrou a ligação, voltando sua atenção ao mais jovem, “Parece que seu gatinho está ciente de todas as 57 ligações e 28 mensagens que você realizou.”, lhe piscou o olho.

Akutagawa piscou, observando seu celular, e resmungou: “Foram só 27 mensagens”.

“Akutagawa...”

O moreno suspirou outra vez, frustrado, “Ele fez uma pergunta e eu respondi com sinceridade… E depois ficou ofendido.”

“Com sinceridade?”

“Sim. Só lhe falei no cabecilha da máfia chinesa e como o tinha apanhado..”

 

Chuuya deslizou na cadeira, ficando ainda mais torto (Kouyou matava-o se o visse naquela postura, sem dúvida) e deu um facepalm, “Aku… A maior parte das pessoas não está à espera de ouvir um ‘O dia correu bem, querido. Torturei um homem hoje! E tu?”

“Eu não tenho culpa que ele seja estúpido e sensível demais! E não o trato por ‘querido’”

“É uma questão de tempo. Mas sabes que mais? Tens de ser cavalheiro e diplomático para resolver isto se te incomoda tanto..”

“Não eu--”

O ruivo voltou a sentar-se direito para o conseguir encarar, “Ouve, resolve as coisas rápido: admite que exageraste, compra umas flores e pede desculpa. Poupa no drama, rapaz”

 

O mais jovem o encarou, mas, ao perceber que Chuuya falava com sinceridade, suspirou, “Que tipo de flores?”. Chuuya sorriu, mas antes que pudesse responder, foi chamado às pressas por Mori. Pediu licença a Akutagawa, e lhe entregou um cartão de uma floricultura (a sua favorita).

Apesar de ter olhado com desconfiança, disse a si mesmo que nunca na vida iria alinhar naquilo.




Akutagawa parou em frente à morada do cartão, vendo uma pequena lojinha com portas e janelas de madeira de aspecto acolhedor cheio de todo o tipo de plantas.

Tinha um mau pressentimento e achava estúpido sentir-se culpado pela situação mas talvez a sugestão de Chuuya não tivesse sido tão má assim. Eram só flores, o que podia correr mal?

Respirou fundo e entrou na pequena loja, não demorando para ver uma senhora pequenina de cabelo branco ao balcão.

Ela assustou-se quando o viu mas logo sorriu, “Boa tarde, menino. Posso ajudar?”

Akutagawa a encarou, assentindo de leve, “Eu vim comprar flores”.

Certo, aquela resposta havia sido óbvia, mas o moreno nunca havia feito isso. Ele nunca dera flores para ninguém, assim como nunca havia recebido.

A senhora, entretanto, sorriu, e mostrou algumas belas flores ao mafioso, “Qual a ocasião?”.

Akutagawa não podia ser tão sincero. A senhora não podia saber que ele fazia parte da Port Mafia e nem que havia “brigado” com seu parceiro de luta porque tinha torturado um homem no dia anterior.

Não.

Ele não queria ter de matar a velhinha.

“Eu… briguei com meu… parceiro?”

Ela pestanejou e voltou a sorrir, “Ah, esqueço sempre como os tempos mudam! Quando eu tinha a tua idade nenhum homem comprava flores para o ‘parceiro’ sem ser às escondidas.”

Limpou as mãos no avental e começou a andar de um lado para o outro enquanto pousava alguns utensílios de jardinagem e pegava noutros para preparar o ramo. O mafioso ainda estava especado no mesmo lugar, sentindo-se estranho ali no meio de todas aquelas flores coloridas.

“Qual dos dois fez asneira?”

“... Pelos vistos… fui eu?”

A florista riu de novo, “Nesse caso, rosas vermelhas~! É para levar hoje?”

“Não, eu…”, coçou a bochecha e suspirou, “É para fazer uma entrega amanhã.”

“Oh~ Uma surpresa! Que amor.”

Akutagawa, coitado, não entendia as palavras da senhora. Inexperiente no quesito amizade, e mais inexperiente ainda no quesito “comprar flores para seu parceiro de lutas que não gosta do seu trabalho como mafioso e torturador, mas que mesmo assim tenta ser seu amigo”, ele continuou parado no mesmo lugar, vendo a senhora a ajeitar o ramo com diversas rosas vermelhas, quebrando um pouco a cor forte com pequeninas flores brancas.

“Deseja colocar um cartão?”.

O mafioso piscou, pensando por um tempo.

Talvez um cartão fosse uma boa ideia, mas ele não sabia o que escrever. Ele era péssimo naquilo, e pensava que, se escrevesse alguma coisa errada, Atsushi acabasse com mais raiva de si ainda.

“Eu… você pode escrever qualquer coisa…?”

 

A senhora levantou o olhar para o encarar e sorriu delicadamente, “É mais pessoal se fores tu a escrever, não achas?”

Akutagawa coçou a bochecha, “Eu não sei… Eu não… faço isso muitas vezes?”

“Ah entendi.”, também ela fez uma pose pensativa e ofereceu-lhe uma caneta, “Porque não o convidas para jantar no restaurante favorito dele? Talvez seja mais fácil de pedir desculpa em pessoa.”

 

O mafioso assentiu, é… aquilo fazia sentido. Mas não tinha a mínima ideia de qual era o restaurante que Atsushi mais gostava. Podia sempre improvisar.

 

Aproximou-se do balcão para escrever o bilhete na sua caligrafia bonita e desenhada que parecia saída de um livro antigo.

 

“Desculpa por te ter ofendido quando respondi à tua pergunta idiota. Podes vir jantar comigo mais logo?  - Akutagawa.”

 

A senhora leu o bilhete e balançou a cabeça, “Está meio grosseiro, não acha? Por que não tenta ser mais gentil?”, sorriu.

Akutagawa piscou, “Gentil? Por que?”.

“Porque é para o teu parceiro. Tem de ser mais gentil e delicado.”

Não que fosse admitir mas o mafioso achava que esses dois adjetivos se encaixavam perfeitamente com Atsushi. Deu um estalido com a língua e voltou a escrever outro.

 

“Desculpa por ter discutido contigo. Jantamos juntos mais logo?”

 

Ela sorriu, satisfeita, e ajeitou o bilhete próximo ao ramo.

Pediu o endereço de entrega para Akutagawa, e o mafioso seguiu de volta para a sede da Port Mafia, a consciência mais leve.





Atsushi ainda estava de mau humor na manhã seguinte. Talvez um humor ainda pior.

Estava tão habituado a mandar mensagens a Akutagawa para se distrair que precisava de se lembrar que estava amuado e que não queria falar com ele.

Tal facto causava algum divertimento aos membros da agência que achavam engraçado que o sempre tão sorridente e querido Atsushi se tinha tornado numa versão só um pouquinho menos rabugenta que Kunikida.

Respondia torto, resmungava sozinho e andava a bufar em irritação por todo o lado.

 

Dazai se aproximou de Atsushi, que resmungava qualquer coisa grosseira enquanto terminava um relatório (que devia ser feito por Dazai), e implicou, “Então, Atsushi-kun? Já fizeram o ‘sexo de reconciliação’?”.

Atsushi o encarou com a pior expressão possível, e o suicida sorriu com malícia, “Eu nunca, jamais vou me envolver com aquele emo sem ser por obrigação!”.

Dazai deu o seu sorriso característico, “Então há a possibilidade por obrigação?”

“Não!”

“At-su-shi-kun~ Pareces o Kunikida a reclamar! Que coisa mais chata. Será que tens o mesmo problema que ele?”

“Qual problema?”

O mais velho deu um suspirou e cruzou os braços, abanando com a cabeça, “Falta de sexo.”

Atsushi encarou-o fixamente e se o olhar matasse, Dazai estaria já reduzido a cinzas.

“Não deve ser esse o problema.” , disse, num tom monocórdico, “Porque nesse caso tu também estarias bem rabugento, Dazai-san.”

“Ah, que falta de respeito com os mais velhos Atsushi-kun~”, fingiu estar ofendido, mas continuou a sorrir.

 

Atsushi estava pronto para fazer algo que nunca tinha feito antes: mandar Dazai para um local nada legal.

Mas, um animado Ranpo, com Karl no ombro, entrou a correr e a falar alto alegremente: “O Akutagawa-kun mandou flores para o Atsushi!”, disse, balançando um cartão enquanto segurava as flores na outra mão.

Todos os detectives presentes no momento pararam o que estavam a fazer e olharam de Ranpo para Atsushi, novamente para Ranpo e de novo para Atsushi.

Fez-se um silêncio de morte e Atsushi, depois do choque inicial, começou a corar até às orelhas.

“...O quê?”

Ranpo saltitou até perto de si e deu-lhe o ridiculamente enorme ramo de rosas cor-de-sangue para o colo.

As meninas deram um ‘Ownn’ uníssono e Ranpo pousou o cartão sobre o ramo.

 

Atsushi continuava petrificado e toda a gente olhava na expectativa e com curiosidade. Ranpo  acenou com a mão para chamar a atenção de Atsushi, “Não vais ler~?”

 

O mais jovem engoliu em seco, pegando rapidamente o cartão das mãos de Ranpo e o abrindo.

O rosto de Atsushi ganhou tons inimagináveis de vermelho, e a ADA se dividiu em mais “owns” e sorrisos maliciosos.

Dazai, ao ver seu pupilo petrificado com um enorme ramo de flores no colo, lhe arrancou o cartão e leu elegantemente em voz alta: “Own! É um convite amoroso ~”

 

O silêncio quebrou-se e todos os detectives começaram a aplaudir, assobiar, e houve até mesmo um ‘’Vai-te a ele, Tigre!” de Keiji.

Mas Atsushi só queria morrer.

Que um buraco enorme abrisse por baixo de si e o engolisse. Que raio estava Akutagawa a pensar ao fazer aquilo?!

Levantou-se num salto e arrancou o cartão das mãos do seu superior, indo a passos rápidos para o telhado da ADA para longe de todos.

 

Akutagawa só podia estar doido. Claro, era isso!

Provavelmente ele havia bebido alguma coisa com Chuuya e o álcool afetara seu cérebro.

Sentiu-se no telhado e abraçou os joelhos, observando a cidade naquele entardecer frio. Tinha o bilhete de Akutagawa entre as mãos, e mordeu o lábio inferior antes de voltar a lê-lo.

Era um convite para jantar… com Akutagawa… só os dois…

Corou ainda mais e a sua irritação voltou.

Pegou no telemóvel e procurou pelo contacto do moreno (que demorou a encontrar porque ainda estava como ‘Amorzinho ♥ ’ , maldito Dazai) e bufou enquanto esperava que o outro atendesse.

“Estou?”

“Tu por acaso tens algum tipo de atraso mental? És louco?!”

“O que-”

“Que ideia parva foi essa das flores?!”

Houve um silêncio do outro lado e quando Akutagawa voltou a falar pareceu estranho, quase incerto, aos ouvidos do detective.

“Eu-” , deu um suspiro e bufou irritado também, “Ouve, Bola de Pêlo, tu é que estavas todo amuado porque és idiota! Eu só segui o conselho do Executivo para pedir desculpas quando eu nem sequer tenho culpa!”

“Como assim não tem culpa?! Você é um insensível! Como pode achar normal torturar qualquer um que seja?!”

“Insensível? Você que é  sensível demais! O homem que eu torturei tinha matado centenas de crianças apenas para despistar a polícia e continuar com o tráfico de drogas tranquilamente, e eu sou o insensível?”

Atsushi pestanejou, ficando sem palavras porque nada o tinha preparado para aquilo e Akutagawa continuou a resmungar do outro lado, “Sabes que mais? Esquece, foi uma ideia estúpida. Ignora as flores.”

Antes que o detetive tivesse tempo de dizer alguma coisa, o outro desligou a chamada.

 

Atsushi encarou o celular, sentindo-se péssimo por algum motivo.

Suspirou, esfregando a mão na testa, e olhou uma outra vez para o cartão. A caligrafia bonita de Akutagawa fez o tigre pensar no mafioso a ir comprar flores para si e…

Mandou uma mensagem para o moreno, ainda incerto: “Eu aceito o seu convite.”.

Ficou uns dez minutos ali quieto a olhar para o telemóvel na expectativa e a minuto que passava o seu coração apertava um pouco mais… Até que o aparelho vibrou e ele assustou-se, abrindo a mensagem logo.

 

“Tigre, daqui o Chuuya. O meu subordinado chato está no canto amuado então tive de lhe roubar o telemóvel para responder mas ele vai jantar contigo. Às 21 horas no Monarch, a mesa está reservada.”

 

Quase de seguida, recebeu outra mensagem mas dessa fez de Dazai.

 

“Não te esqueças de proteção! O Kunikida é muito novo para ser avó!”

 

Atsushi bufou, respondendo um “Kunikida-san não é minha mãe” antes de voltar ao escritório.

Péssima ideia: todos os detetives não paravam de o encarar, trocando segredinhos entre si. Mas o pior de todos era Dazai. O suicida falava sobre Atsushi e Akutagawa se envolverem romântica e sexualmente, assim como dizia que Kunikida seria uma boa avó (e o loiro berrava que Atsushi não era seu filho - e pedindo para Atsushi não transar com o inimigo. Já bastava Dazai).

Dazai começou a defender-se e a provocar o loiro, que por sua vez  berrava de volta e Atsushi sentia uma dor de cabeça gigantesca.Ranpo observava aquelaenquanto petiscava as pipocas que Edgar lhe trouxera e Tanizaki tentava acalmar os ânimos sem sucesso.

Fukuzawa, como era um homem sábio, sequer saiu do gabinete ao ouvir a gritaria.

Quando estava bem perto de perder a paciência,Atsushi  levantou-se e pegou nas suas flores, vestindo o seu casaco rapidamente, “Vou sair mais cedo. Até amanhã.”

 

Foi para o seu apartamento e entrou no chuveiro. Ainda não acreditava que jantaria com Akutagawa. Num restaurante.

Aquilo seria mesmo um jantar romântico?

Impossível.

Akutagawa e romance não existiam na mesma sentença, a não ser que ela fosse “Akutagawa nunca daria certo com romance”.

Bufou, vestindo-se sem pressa e se encaminhando para o restaurante na hora marcada.

 

Mentiria se afirmasse que não se surpreendeu ao ver o moreno já à porta do restaurante. Akutagawa não parecia muito diferente do normal -o que não admirava porque estava sempre vestido de preto.

Atsushi suspirou pela milésima vez e aproximou-se, “Boa noite.”

Também esperava alguma resposta seca do mafioso mas ele foi estranhamente suave e abriu-lhe a porta para ele entrar, “Boa noite.”

 

Certo, aquilo era estranho… Mas Atsushi não desgostava cem por cento daquilo.

Sentaram-se numa mesa discreta, e Atsushi coçou a nuca ao ver os preços registrados no cardápio.

“A-ahn…”

“Escolhe qualquer coisa… eu pago.”.

“Eu não posso aceitar.”

Akutagawa suspirou, “Eu convidei, eu pago. Não há discussão no assunto.”

Atsushi engoliu em seco e percebeu que quase todos os nomes do cardápio vinham em francês, o que dificultava as coisas. O mafioso, notando a expressão dele, apontou para o menú, “Estes quatro são bifes com molhos diferentes, em baixo tem peixe. Eu recomendo os bifes grelhados, são os melhores da cidade.”

O tigre se escondeu atrás do menu, mas acabou por se decidir em base as informações de Akutagawa.

O garçom anotou os pedidos, e lhes serviu vinho.

“E-eu…”, Atsushi coçou a nuca, e o garçom sorriu, “O vinho é por conta da casa. Por favor, aproveitem.”.

Atsushi acabou por agradecer, mas Akutagawa  (que bebia o vinho) sabia que aquilo era ideia de Chuuya.

O que o Executivo estava pensando?!

 

Era uma situação estranha e um tanto diferente para os dois e no começo do jantar o embaraço de ambos era quase palpável. No entanto, assim que a comida chegou, Atsushi comentou que estava óptimo e a partir daí o tema de conversa surgiu naturalmente.

Akutagawa falava baixo, não muito diferente do seu tom normal, mas o grisalho nunca tinha reparado como a sua voz era suave e sempre que o detetive sorria o coração do mafioso dava um salto e ele detestava (amava) aquela sensação tão estranha para si.

Enquanto conversavam, determinados a evitar o assunto ‘trabalho’, bebericavam. O vinho era frutado, fresco, e até mesmo Atsushi que bebia pouco achava delicioso. Akutagawa só percebeu, tarde demais, da armadilha: o vinho era tão viciante que dava cedo e o sabor disfarçava a quantidade ridícula de álcool que tinha. Só quando já no fim da refeição Atsushi riu e comentou que estava tonto que Akutagawa percebeu o problema.

 

“Venha, eu levo você em casa”, Akutagawa disse após a conta ser paga, tendo de enlaçar Atsushi pela cintura, já que o coitado cambaleava de leve.

Claro que ele podia simplesmente deixar o mais jovem se apoiar em si, mas não era sempre que existia a possibilidade de manter Atsushi tão perto sem estarem a lutar.

Não que ele desejasse isso, claro.

Não lhe fazia diferença se a proximidade do mais jovem lhe era agradável.

“Ah, Akutagawa”, o detetive disse entre risos, olhando para o céu estrelado, “Não sabia que podia me divertir com você”.

O moreno encarou-o, “Que queres insinuar com isso, Bola de Pêlo?”

“Que tu és chato~”

“Acho que vou mudar de ideias e deixar-te no meio do nada.”

Atsushi deu uma risada, “Que cruel~”

Akutagawa piscou, observando o semblante corado (culpa do álcool) e risonho de Atsushi, que se agarrava confortavelmente no braço do mafioso.

 

Era óbvio que Akutagawa não deixaria Atsushi sozinho na rua, ainda por cima bêbado, mas o mafioso não admitiria aquilo nem sob tortura.

Quando chegaram no prédio que Atsushi morava, e o detetive, ainda entre risos, sorriu, “Chegamos~”.

Akutagawa assentiu, olhando para o prédio cinzento e de poucos andares, “Sim.”. Atsushi voltou a sorrir, e acenou para Akutagawa, “Boa noite, Akutagawa”, disse, abrindo o portão do prédio para entrar.

O mafioso voltou a assentir, dando as costas para Atsushi para seguir o seu caminho.

 

Atsushi não saberia dizer se era culpa do vinho, ou se as flores haviam amolecido seu coração mais cedo e permitido o rapaz de ver uma outra face de Akutagawa, mas a verdade é que o detetive alcançou o moreno a passos firmes, “Akutagawa?”.

O mafioso girou o corpo, e, pelo susto de ter o rosto segurado pelas bochechas por Atsushi, Rashoumon se ativou involuntariamente, embora os dois se mantivessem especados no lugar quando o mais jovem grudou seus lábios nos de Akutagawa doce e timidamente, “Obrigado pelo jantar”.

Akutagawa balbuciou algo e detective afastou-se ainda a sorrir, acenando quase infantilmente antes de entrar no prédio.

Quando a porta fechou, Akutagawa deu um longo suspiro e tapou o rosto com a mão. Tendo em conta que tinha sido só um beijo inocente, sentia-se bem idiota por estar a sentir-se como uma miúda de 13 anos. Que raio lhe tinha passado pela cabeça?

Era aquele o plano de Chuuya?

Então por que é que… queria aquele Tigre idiota perto de si de novo?

 

Akutagawa coçou a nuca, bufando, e utilizou Rashoumon para pular o portão do prédio e poder entrar. Não tinha muita ideia de onde Atsushi morava, mas era só seguir o cantarolar do mais jovem.

Subiu as escadas quase a correr e chamou: “Tigre?”. Atsushi olhou sobre o ombro, e foi a vez de Akutagawa o surpreender com um beijo.

Atsushi quase que se desequilibrou mas o mafioso passou um braço pela cintura dele, segurando-o firmemente. A última coisa que precisava era que ele caísse pelas escadas.

 

O grisalho deu um guincho que foi abafado pelos lábios de Akutagawa e segurou-se nos seus ombros. Fechou os olhos, os dois aprofundando o beijo ao mesmo tempo. Era uma carícia atrapalhada e tímida, mas logo Atsushi abraçava Akutagawa pelo pescoço, e o mafioso abria a porta do apartamento do tigre com a lateral do corpo e ambos entravam.



~*~

 

Chuuya estranhou o bom-humor de Akutagawa no dia seguinte e, trocando mensagens com Dazai sobre o atraso incomum de Atsushi, o ruivo questionou, flutuando pela sala, “Como foi a noite de ontem? Fez as pazes com o Atsushi?”

Sem nem levantar os olhos dos papéis que lia, o moreno fez um murmúrio afirmativo, “Foi boa.”

“O quão boa?”, questionou, já sorrindo como uma raposa prestes a apanhar a sua presa, “Seguiram o conselho da Múmia?”

Inocente, e sem pensar muito, balançou a cabeça, “Não deu tempo de colocar o preservativo…”

O ruivo, que andava a flutuar de um lado para o outro, bateu com a cabeça no tecto e resmungou, esfregando os cabelos por um momento antes de se aproximar dele, “Vocês, por um  acaso, são idiotas?! Isso é perigoso!”

“O Atsushi não vai ficar grávido.”

“OH MEU DEUS. NÃO É ESSE O PROBLEMA!”

Akutagawa levantou o olhar para o encarar, “Foi uma piada, Executivo.”

“Quem és tu e o que fizeste com o meu subordinado? Desde quando fazes piadas?!”, Chuuya voltou a bufar, cruzando as pernas no ar, “Olha, o que eu quero dizer é que--”, “Nós sabemos…”, Akutagawa suspirou, “Não somos assim tão idiotas, se é o que pensa. Mas acabou acontecendo muito depressa, só isso…”

“Oh então aconteceu alguma coisa.” , disse e voltou a sorrir, “Finalmente acertaram-se?”

O mais jovem deu de ombros, “Não posso afirmar isso… foi só… sexo?”

Chuuya deu um estalido com a língua, já perdendo o interesse, “Que chatos. Não tem havido nenhuma novela decente nos últimos tempos.”

Akutagawa piscou, encarando o ruivo, “Novela? A idéia foi sua de oferecer rosas vermelhas ao Tigre e de nos servir vinho!”.

“O vinho foi para a -”, o interesse voltou logo, “Rosas? Espera-- Tu ofereceste rosas vermelhas?”

O mafioso voltou a pestanejar, “Foi o que tu disseste para fazer.”

“Não, eu falei em oferecer flores, não tinha de ser rosas vermelhas em específico.”

“Qual a diferença?” , deu de ombros e Chuuya bateu com a palma da mão na testa.

“Aku.”

“Sim.”

“Rosas vermelhas significam paixão.”

 

Se fosse possível, Chuuya ouviria o cérebro de Akutagawa entrar em pane. O mais jovem ficou a encarar o Executivo, a boca aberta e o rosto tomando uma coloração vermelha rapidamente.

“P-p-paixão?”, ele gaguejou, cobrindo a boca com a mão, o coração aos saltos e o rosto quente de vergonha, “Paixão?”, repetiu, ainda incrédulo.

 

Ele havia, involuntariamente, se declarado para Atsushi?

 

O ruivo tentava ao máximo não rir. Não queria ofender o seu subordinado mas achava adorável que o sempre sério Akutagawa perdesse a sua compostura por algo tão simples e inocente como um ramo de flores. No entanto, Dazai chamava Chuuya de pequeno demónio por algum motivo.

“Paixão, amor intenso, luxúria…”, enumerou, levantando os dedos enquanto contava, “Mas agora entendo por que é a Múmia ontem disse que a Agência ficou louca quando o Atsushi recebeu as flores em frente a toda a gente. Pensei que tinha sido só ele a exagerar.”

 

O pobre Akutagawa voltou a esconder o rosto nas mãos, apavorado, “E-eu… é culpa da senhora da floricultura! Ela quem escolheu as flores!”, Chuuya se sentou ao seu lado, “Certo, calma. O que disse a ela?”, “Que eu havia brigado com meu parceiro…”

 

Chuuya não aguentou e começou a rir como um condenado, abraçando a barriga quando o mais jovem o encarou como se estivesse pessoalmente ofendido pelo gesto (e estava).

“Executivo, é um assunto sério!”

“Aku!”, limpou os olhos com a manga da camisa, “Ela deve ter achado que era ‘parceiro’ no sentido amoroso. Como um namorado ou esposo, sabes?”.

Akutagawa voltou a piscar, “É o que?!”, “A senhora da floricultura imaginou que você e Atsushi eram um casal que havia brigado, e ela só quis ajudar, entendeu?”.

O moreno suspirou, coçando a nuca.

 

Certo, Akutagawa não havia sido direto o bastante, e a pobre senhora não tinha como adivinhar que a Shin Soukoku era uma dupla que usava habilidades para lutar contra si mesmos e contra outros inimigos.

 

“O que eu faço, Executivo?”.

 

Chuuya continuava a sorrir mas agora não havia troça num momento inicial,”Se ele aceitou as flores e o jantar então ou não fazes nada ou aproveitas a situação.”

O mais jovem pestanejou, pensando nas palavras do mais velho mas Chuuya voltou a fazer outro comentário, “Oh- Não esqueças que fornicar com o inimigo não uma boa decisão estratégica.”

 

Akutagawa corou de leve, mordiscando nervosamente o interior da bochecha direita antes de se erguer, “E-eu vou sair mais cedo hoje", avisou, e deixou o escritório. Chuuya sorriu, e enviou uma mensagem a Dazai:

“O Aku está indo ver o Atsushi~ Tenta não estragar nada, seu desperdício de ataduras.”.

“Chuuya,meu pequeno mafioso, eu sou como um cúpido. ♡(ŐωŐ人)”

“(ಠ ∩ಠ)!  A quem é que pensas que estás a chamar de ‘pequeno’, sua múmia idiota?”

Também te amo (´ε` )♡”

“Morre, Osamu.”

“Só se fosse contigo. ♥  Por falar nisso, Chuuya. Na minha casa ou na tua?”

“... Na minha.”




Como quem não quer a coisa, Dazai pousou as pernas sobre a mesa e espreguiçou-se, guardando o telemóvel no bolso com um sorrisinho, “Atsushi-kun~ Acho que é tudo por hoje, que me dizes de irmos embora mais cedo?”.

 

Atsushi tivera o dia todo a suspirar e a pensar demais. Ele e Akutagawa haviam jantado na noite anterior, bebido vinho… e depois, se beijaram e acabaram por transar.

Embora tivesse sido a primeira vez de ambos, o álcool e o desejo há muito reprimido ajudaram a tornar o momento… perfeito.

 

O detetive, claro, não queria admitir que apreciara a noite anterior, mas seu coração não seguia as ordens de seu cérebro.

 

Desligou o computador e sorriu a Dazai, inocente como sempre, “Obrigado, Dazai-san!”

O mais velho sorriu de volta e Atsushi arrumou as suas coisas rapidamente, desejoso de poder voltar para casa. Estava um óptimo dia de Primavera e o grisalho queria aproveitar para passear um pouco agora que tinha umas horas livres.

 

Ainda ia a planear mentalmente o percurso a fazer quando chegou à rua e assustou-se quando ouviu chamar atrás de si, “Hey, Tigre!”.

Olhou por sobre o ombro e piscou ao ver Akutagawa, que se aproximava.

 

Imaginou, claro, que era alguma informação importante ou alguma missão de última hora, então não estranhou o pequeníssimo nervosismo que notava no mafioso.

“Akutagawa?”.

Ele mordeu levemente o lábio inferior e desviou o olhar, cruzando os braços mais por hábito, “Olá.”.

Atsushi piscou, e Akutagawa se sentiu um idiota por pensar que aquilo era um gesto fofo, “Olá…”, o detetive disse, meio incerto, e Akutagawa cobriu a boca com a mão direita, “Ahn… as flores…”

O grisalho corou de imediato ao lembrar-se de novo de toda a situação do dia anterior, “S-Sim?”.

 

Akutagawa hesitou por um momento.

Ótimo.

Ele, Akutagawa Ryuunosuke, o demônio da Port Mafia, responsável pelas torturas mais cruéis e responsável pelo exímio treinamento de Kyouka, hesitava na frente de um detetive de quinta categoria, um rapaz digno de pena, de habilidades extraordinárias, coração bondoso e um belo e gentil sorriso.

 

Droga.

 

Akutagawa coçou a nuca, sentindo a voz morrer antes de chegar até a boca.

Ele ficou em silêncio por longos três minutos, e Atsushi permaneceu quieto, aguardando pacientemente (embora morresse por dentro).

 

“Eu… As flores vermelhas…”, Akutagawa começou, ainda sem coragem de encarar Atsushi. O mais jovem mordeu nervosamente o lábio inferior, e o mafioso concluiu: “...significam paixão.”.

 

Atsushi piscou uma. Duas… Três vezes.

O detetive pendeu ligeiramente a cabeça para a esquerda, percebendo, lentamente, o que Akutagawa queria dizer.

Primeiro, ele corou. Depois, desviando o olhar para baixo, encarou seus sapatos negros.

Negros como os olhos de Akutagawa, que agora recaiam sobre si.

Akutagawa se mantinha no mesmo lugar, o semblante minimamente nervoso.

Era a primeira vez que Akutagawa se importava em não conseguir ler os gestos alheios. Daria tudo para saber o que o outro pensava.

 

Atsushi, calmamente, se ajoelhou, pegando uma pequenina flor vermelha que se encontrava perto de suas botas, e a ofereceu para Akutagawa, os olhos bonitos e de brilho gentil encarando o mais velho.

 

O mais velho piscou, observando a simples flor entre os dedos macios do detetive, que mordiscava o lábio inferior por nervosismo.

 

Um sorriso, entretanto, iluminou o rosto de Atsushi, ao ver que Akutagawa, corado, aceitou a flor, levando-a às narinas para apreciar o doce aroma que emanava de suas pétalas.

Sem dúvida que ofereceria flores mais vezes a Atsushi.

 

Fim.


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