How We Get Here escrita por TatyNamikaze


Capítulo 28
Capítulo 28 - A Triste Despedida


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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How We Get Here

Capítulo Vinte e Oito - A Triste Despedida



Takeshi Misaki

 

 Eu era uma criança feliz, que adorava brincar e aprender novas coisas como qualquer outra. Vivia com meus pais, dois ninjas de clãs inimigos, que se casaram por um grande amor. Pelo menos, era o que meu pai, Satoro Masato, dizia.

 Eu era muito apegado a ele. Meu pai sempre ficava ao meu lado e me ajudava no que eu precisava. Já com minha mãe, Asami Misaki, nunca me dei muito bem.

 Nós três morávamos em uma casa isolada das outras pessoas, no norte do país das Ondas e vivíamos bem, na medida do possível, até que ele apareceu.

 Eu me lembro como se fosse ontem.

 Meu pai não estava em casa, pois trabalhava na segurança do país muitas horas por dia, já que era um ninja habilidoso, e eu estava em meu quarto, brincando com meus brinquedos favoritos, até que eu escutei batidas na porta e passos indo em direção à mesma.

 Desci as escadas devagar, pois queria ver quem estava do lado de fora, eu era uma criança de quase quatro anos de idade, adorava receber visitas e minha curiosidade sempre falava mais alto.

— Oi, querida, tem mais alguém em casa? — uma voz que eu nunca havia ouvido na vida perguntou.

— Só o Takeshi, mas ele está no quarto dele. — minha mãe respondeu e, do final da escada, meio escondido atrás de uma parede, vi a mesma dar um beijo demorado no homem.

 Eu não conseguia acreditar no que via. Ela estava traindo meu pai e na nossa própria casa. Caminhei pelo corredor devagar, com lágrimas caindo dos olhos. Mesmo tendo quase quatro anos, eu sabia o que aquilo significava, eu não era nada bobo, pelo contrário, sempre me destaquei pela minha inteligência fora do comum.

 Tranquei-me no quarto e fiquei horas fitando o teto. Quando peguei no sono, já era de madrugada.

Acordei mais tarde que de costume no dia seguinte, estava chateado, incomodado e desci as escadas da casa sem muita animação, indo em direção à mesa da cozinha, onde realizávamos nossas refeições, à procura do meu pai.

— Onde está o papai?

— Saiu para trabalhar. — minha mãe respondeu friamente, sem nem ao menos olhar para mim.

— O que tem para comer? — perguntei ao me sentar.

— Comida. — ela respondeu.

Encarei-a naquele momento, eu odiava aquele jeito frio e indiferente que ela tinha comigo.

— Mamãe, posso te perguntar uma coisa?

— Poder, pode, só não garanto que irei responder. — completou e, novamente, nem sequer me olhou.

— Quem é aquele homem que veio aqui ontem à noite?

E, finalmente, ela tirou seus olhos do bolinho que comia e me olhou. Estava surpresa e preocupada.

— O quê? De quem você está falando? — tentou disfarçar.

— Não se faça de desentendida, mamãe, eu vi você beijando-o. — falei e vi o nervosismo surgir em sua face.

— O que você disse, moleque?

— O que ouviu.

— Olha, você não vai falar isso para o seu pai ou vai se arrepender, entendeu? Fica com a boca fechada, vai ser melhor para você. — me ameaçou, e eu apenas continuei a comer, estava acostumado a escutar ameaças dela, principalmente, quando meu pai não estava em casa. — Agora, volte para o seu quarto e não saia de lá.

— Mas eu ainda não comi. — apontei para o bolinho inacabado sobre o prato.

— E nem vai. — ela respondeu, olhando-me com ódio, então, achei melhor obedecer.

 Enquanto subia as escadas, consegui escutá-la murmurar:

— Onde eu estava com a cabeça quando aceitei ser mãe?

Meu coração doeu nesse instante, apesar de ela sempre deixar claro que nunca gostou de mim.

Eu sempre quis saber como era o amor de mãe, mas nunca descobri, pois a minha me odiava, acho que, se não fosse meu pai, eu já teria fugido há muito tempo.

Escutei batidas na porta.

— Oi, papai. — falei assim que ele entrou em meu quarto.

Era quase hora do almoço.

— Oi, Ta-chan, o que faz ainda na cama?

— Só descansando.

— Venha, vamos dar uma volta, já que o almoço ainda não está pronto.

— Tudo bem. — levantei-me e o segui.

Caminhamos pelos jardins da casa até chegar perto do meu lugar favorito. O parquinho que meu pai fez para mim.

 Sentei-me em um balanço, e ele se sentou no outro, bem ao lado do meu.

— Ta-chan, queria falar com você sobre o doujutsu do nosso clã. — meu pai falou, olhando para a grande árvore à nossa frente. — Você sabe sobre ele, não sabe?

— Só sei o básico. Um Masato desperta o doujutsu com, em média, dez anos. Quando está ativado, os olhos assumem uma cor dourada e ele tem várias habilidades.

— É... — Satoro concordou e olhou para mim, sorrindo orgulhoso pela minha inteligência. — Nosso doujutsu não possui um nome específico, mas já foi chamado, há muito tempo, de Olhos do Destino, pois pode controlar a vida de alguém.

— Como assim, papai? — perguntei, confuso.

— Existe uma habilidade do doujutsu do clã Masato capaz de controlar a mente de alguém, uma vez pega pelo doujutsu, a pessoa sempre estará sob o controle do usuário.

— Sempre?

— Sim, a não ser que outra pessoa possua um doujutsu forte capaz de quebrá-lo, como os Uchiha, um clã de Konoha. Um Uchiha pode usar um genjutsu ou outra coisa com seu Sharingan para anular os efeitos do jutsu em outra pessoa e impedir que ele afete a si mesmo.

— Como assim, papai?

— Bom, vou simplificar. Eles não são afetados pelo jutsu ocular dos Masato, porque o Sharingan é muito mais forte e também podem quebrar o efeito do controle da mente em outra pessoa.

— Ah, entendi. — sorri de canto.

— Fora o controle da mente, podemos usar a telecinesia, a paralisia e prever alguns poucos movimentos. Eu já te falei sobre isso antes, não falei?

— Sim. — respondi, olhando em seus olhos verdes como os meus.

— Bom, eu queria falar sobre o controle da mente. — olhou-me sério. — Não podemos usá-lo o tempo todo, pois ele esgota o chakra e deixa o usuário exausto. Então, nunca deve ser usado em uma batalha.

— Não sabia disso, papai.

— Bom, agora que já sabe, quando despertar seu doujutsu, saberá o que fazer e não fazer. Mas, mudando de assunto, como está se sentindo? Eu estou trabalhando muito ultimamente, então, não estou tendo muito tempo para ficar com você.

— Estou bem, papai. — menti. — Mas sinto muito a sua falta.

— Eu também sinto, filho, mas não posso faltar no trabalho para ficar com você, mesmo querendo muito fazer isso. Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Olhei para ele com um sorriso enorme no rosto e o abracei forte, transmitindo todo o amor e felicidade que sentia. De fato, ele era o melhor pai do mundo.

— Te amo, papai.

— Também te amo, Ta-chan. — Satoro sorriu ao me soltar e levantou-se do balanço. — Agora, vamos almoçar, estou morrendo de fome.

Assenti com a cabeça, afinal, também estava morrendo de fome e caminhamos para dentro de casa, onde vimos minha mãe na cozinha.

— O almoço já está pronto, Asami?

— Sim. — ela respondeu ao colocar a última tigela na mesa.

 Comemos em silêncio, às vezes, ela me encarava e me ameaçava com os olhos, mas eu não ligava. Eu não tinha medo dela e também já estava acostumado, só que eu não tinha coragem de revelar a verdade para o meu pai, não queria deixá-lo triste.

— Tenho que ir trabalhar agora, nos vemos mais tarde. — meu pai falou ao bagunçar meus cabelos, fazendo-me dar um pequeno sorriso e, depois, depositou um beijo na testa de Asami Misaki.

 Ela estava agindo normalmente, como se tudo estivesse perfeitamente bem e isso era o que mais me irritava nela. Asami estava mentindo, estava enganando meu pai dentro da nossa própria casa, como ela podia fazer aquilo e agir como se nada tivesse acontecido?

— Vá para o seu quarto, não quero mais te ver em minha frente. — minha mãe falou, olhando para a comida assim que meu pai saiu, e, em sua voz, estava bem evidente sua raiva por mim.

Apenas obedeci, seguindo para o andar de cima com o semblante sério e permaneci em meu quarto até meu pai chegar.

 Os dias se seguiram, e minha mãe, se é que posso chamá-la assim, sempre recebia a visita daquele homem enquanto meu pai trabalhava para nos sustentar.

 Mas a verdade sempre é descoberta.

 Um dia, meu pai chegou mais cedo do trabalho e viu Asami e o homem se beijando na sala de nossa casa.

— O que significa isso, Asami?

— Satoro?! — ela estava surpresa.

— Quem é esse cretino?

— Cretino é...

— Cale a sua boca! Eu não estou falando com você, estou falando com Asami!

— Satoro, eu…

Meu pai estava indignado.

— Você aproveita o momento em que eu estou trabalhando para dar o melhor para você e nosso filho, para me trair com esse cara? Você não presta mesmo... — negou com a cabeça, inconformado. — Você não se importa com nossa família? Você, alguma vez, pensou no quanto isso será prejudicial ao nosso filho?

O semblante dela assumiu uma expressão séria.

— Eu não me importo. — respondeu em um tom mais alto.

— Você não se importa? Que tipo de mãe você é?

— E quem disse que eu queria ser mãe? Foi um descuido, você sabe muito bem disso. Eu não estava pronta para ser mãe naquele momento e, por culpa dele, eu fui expulsa da minha casa e tive que vir morar com você.

— Não culpe nosso filho por um descuido nosso! — Satoro disse, nervoso. — E, mesmo tendo sido um acidente, eu amo o Takeshi e daria a minha vida para ele continuar vivo. — a encarou. — Aquela criança foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, não admito que o trate assim!

Meus olhos se encheram de lágrimas e, segundos depois, eu já estava chorando, só não sei se era pelas palavras do meu pai ou pela falta de amor da minha mãe.

— Agora, vá embora dessa casa, eu não quero te ver mais. Nunca mais!

— Você não pode fazer isso. — Asami retrucou.

— Posso e vou, afinal, essa casa é minha.

— Você não pode, eu não tenho para onde ir.

— Pensasse nisso antes de me trair, agora, é tarde demais. Vá embora agora!

— Não. — retrucou.

— Vá embora e tire esse cretino daqui!

— Não me chame de cretino. — o homem falou, visivelmente irritado.

— Cale a sua boca! Você está na minha casa, e eu vou te chamar do que eu quiser!

 Eu presenciei toda a discussão do alto da escada e a luta que começou. Eu queria entrar na sala e impedir que aquele homem machucasse meu pai, mas eu era apenas um menino de quase quatro anos, o que eu poderia fazer? Eu não sabia lutar, como iria separar uma briga entre ninjas?

 Eu apenas fiquei assistindo, com as lágrimas descendo descontroladamente pelo meu rosto pálido e assustado. Até que, com um último golpe do ninja, vi meu pai cair...

 Cair para nunca mais levantar.

 Eu corri para o meu quarto e me joguei na cama, despejando sobre o travesseiro uma chuva de lágrimas, através das quais tentei me livrar de toda a minha dor e sofrimento, mas sem sucesso algum.

 Passei dias em meu quarto, evitando a todo custo encontrar com a mulher que eu não conseguia mais chamar de mãe e só saía de lá para comer algo quando ela não estava em casa, ou seja, depois do almoço. Ela via que eu não comia mais com ela, não sei se sabia que eu fazia minhas refeições quando ela não estava por perto, e nem ao menos perguntou como eu estava me sentindo por causa da morte do meu pai. Nem se eu estava me alimentando.

Apenas me esqueceu.

 Aquele homem, o qual eu descobri que se chamava Takumi Satoshi, veio morar em nossa casa, e eu evitava, a todo custo, encontrar com aquele ninja desprezível.

 Dias depois, recebi a notícia de que minha "mãe" estava grávida, ou melhor, escutei uma conversa dela com Takumi acidentalmente.

 Por mais que eu não gostasse da mulher que meu deu a luz, eu estaria por perto para ajudá-la no que precisasse. Tudo que eu mais queria era um irmão e, naquele momento, eu teria um. Eu estaria perto dele para o que precisasse.

 Os meses se passaram, e Yori nasceu. Eu estava feliz, sempre ficava ao lado dele. Minha "mãe" não me impedia, mas também não olhava na minha cara. Segundo ela, eu fui o culpado por sua vida ter dado errado, desde o começo da gravidez até aquele momento.

 Os anos foram se passando, e Yori se mostrava muito inteligente, como eu. Aos dez anos, despertei meu doujutsu e, então, comecei a treinar minhas habilidades, tanto o kekkei genkai do clã Masato quanto as habilidades dos Misaki, no entanto, mesmo mostrando meu potencial como ninja, minha mãe nunca me elogiou, ela apenas observava Yori, já que era o filho preferido, pois ela havia escolhido ser mãe e ter um filho de Takumi Satoshi. Filho que já possuía seis anos e era bem habilidoso para sua idade.

 Eu nunca tive raiva do Yori por ele ser o preferido da nossa mãe, nem por ela fazer tudo por ele e me desprezar. Ele não tinha culpa pelas atitudes da mulher que nos deu a luz. Eu adorava passar o tempo com o meu irmão, ele era o único naquela casa que se importava comigo e o único que eu daria a minha vida para salvar.

 O tempo foi passando, e Yori foi se afastando mais de mim. Ele começou a treinar com o pai dele, e eu fui ficando cada vez mais sozinho, até o pior dia da minha vida chegar.

— Vamos embora. — Asami falou, quebrando o silêncio que, antes, reinava na mesa da cozinha.

— O quê? — Yori, que possuía apenas nove anos, perguntou, confuso.

— Vamos nos mudar para outra aldeia, menos você, Takeshi, sua tia se ofereceu para cuidar de você e será melhor assim.

— Você deve estar feliz por isso, não é? Finalmente, irá se livrar de mim.

Ela nada respondeu, apenas me encarou por alguns segundos e, depois, se voltou para a comida à sua frente.

— Mamãe, o Takeshi tem que ir com a gente.

— Silêncio, Yori! — Takumi ordenou, sério. — Sua mãe sabe o que faz.

— Mas, papai…

— Chega, Yori! — Asami gritou, assustando meu irmão, que saiu emburrado da mesa.

Levantei-me e fui atrás dele.

— Yori...

— Ta-chan, eu não quero ir sem você.

— Você precisa ir, Yori-chan, eu vou ficar bem com a tia Akemi. — sorri para mostrar que estava tudo bem e baguncei seus cabelos. — Se cuide, irmão.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas eu não podia perder mais tempo com conversas, portanto, virei-me para ir para o meu quarto, pois precisava arrumar minhas coisas.

— Você também, Takeshi nii-san. — o ouvi sussurrar, mas não virei para olhá-lo, apenas continuei a andar.

Seria melhor assim. Seria melhor nos afastarmos.

 Naquela noite mesmo, fui ao encontro de minha tia enquanto Yori, Asami e Takumi partiam para um lugar desconhecido.

E eu nunca mais tive notícias deles depois disso, nem uma pista de onde poderiam estar.

 Akemi Misaki, minha tia querida, uma mulher loira, próxima dos seus quarenta anos, me acolheu e cuidou de mim com todo o carinho. Se não fosse ela, eu estaria sozinho no mundo, sem ninguém que se importasse comigo.

 Eu tinha treze anos, mas era uma pessoa independente e um ninja habilidoso. Treinava todas as tardes, já que não tinha outras coisas para fazer e amigos para passar o tempo, e esses treinos deram resultado.

 Nós morávamos próximo à minha antiga casa, em um pequeno apartamento, porém eu sempre visitava minha residência e deixava as lembranças felizes invadirem minha mente.

 

 "Eu te amo, meu filho."

 

 A voz do meu pai invadiu minha mente junto com lembranças de Yori Satoshi, meu querido irmão.

 Imediatamente, lágrimas vieram aos meus olhos, ainda doía pensar nos dois. Meu pai fazia muita falta na minha vida e Yori também, mas, pelo menos, eu sabia que meu irmão estava bem, não compreendia como, mas sentia que estava tudo certo com ele.

 Akemi se aproximou de mim em um dia chuvoso, eu estava na janela do meu quarto, vendo os pingos de chuva se chocarem contra o vidro da mesma, então, sua voz, que acalmava meu coração e me dava forças para continuar em frente, invadiu meus ouvidos, me tirando dos meus devaneios.

 Nós iríamos nos mudar, iríamos morar na aldeia da Cachoeira, então, eu precisava arrumar minhas malas para nos mudarmos logo. Antes de partir rumo à aldeia oculta da Cachoeira, passei em minha antiga casa e entrei em meu antigo quarto para me despedir daquele lugar.

 Lembranças da minha infância tomaram conta da minha mente e, perdido em pensamentos, acabei esbarrando no criado mudo, movendo-o de sua antiga localização.

 Quando me abaixei para consertar sua posição, notei que havia um desnível na parede, o que era bem suspeito. Abaixei-me devagar e pressionei o lugar, o qual tinha um formato quadrado, que rapidamente arredou, revelando um fundo falso na parede, o qual antes era escondido pelo móvel.

 Era um espaço pequeno, onde havia alguns livros e um pergaminho. Eu estava morrendo de curiosidade, mas não tinha tempo de lê-los naquele momento, portanto, os guardei dentro da minha mochila e saí da casa, indo em direção ao centro do país das Ondas, onde minha tia me esperava.

 Akemi não era uma ninja por vontade própria, então, demoramos mais que o previsto para chegar à aldeia da Cachoeira. Ao passar pela entrada da aldeia oculta, ou seja, por uma cachoeira e conversar com os ninjas que lá se encontravam, fomos orientados a procurar o líder daquele lugar.

 Depois de uma conversa, fomos para nossa casa. Não era um processo tão simples assim, mas, como minha tia já tinha resolvido tudo antes de partirmos para a Cachoeira, não tivemos muito trabalho assim que chegamos lá.

 A casa era bonita e grande, e a aldeia era bem tranquila e confortável. Akemi procurou um trabalho e conseguiu como cozinheira em um restaurante da aldeia, já eu procurei me tornar um ninja daquele lugar, para isso, fiz alguns testes e fui promovido diretamente para chunin da aldeia da Cachoeira.

 Fui a algumas missões em países próximos, as quais foram bem sucedidas e, em pouco tempo, já havia me tornado jounin.

 Eu não tinha amigos naquele lugar, não que eu não conseguisse fazer amigos, eu só não ia com a cara dos shinobis de lá. Eu só tinha minha querida tia, a mulher que cuidou de mim desde os meus treze anos, além de sempre ter me visitado quando eu morava com meus pais e me dado o amor e o carinho que minha mãe nunca me deu.

 Eu ainda sentia falta do Yori, mas o que eu podia fazer? Não fazia a menor ideia de onde ele poderia estar e, como já havia se passado quatro anos, nem sabia se ele ainda se lembrava de mim ou sentia minha falta.

 Ainda aos dezessete anos, recebi a notícia de que os últimos membros do clã Masato morreram em uma invasão no norte do país das Ondas e que só havia restado eu. Estava praticamente sozinho, não havia mais ninguém a não ser minha tia e a família que me abandonou.

 Akemi sabia do meu sofrimento e fazia tudo que podia para me ajudar, porém o buraco aberto em meu coração não podia ser fechado, mas ela conseguia fazer eu me esquecer um pouco dessa dor com o carinho que me dava.

 Carinho que acabou em um dia chuvoso e escuro.

 Escutamos um barulho vindo do norte da aldeia da Cachoeira, então, corri até lá pelos telhados das casas, mas, antes, avisei minha tia para tomar cuidado, pois ela era a pessoa mais importante para mim.

Ao chegar ao local, percebi que era uma invasão. Ninjas de uma aldeia distante, a qual eu não conhecia, começaram a atacar toda a Cachoeira. Eu lutei contra muitos e venci, mas os outros fizeram um grande estrago pela aldeia.

 Olhei ao redor. Eles tinham se espalhado pela aldeia da Cachoeira inteira e atacado tudo pela frente.

Escutei uma explosão vinda da região onde eu morava, e meu coração se apertou.

 "Tia Akemi!", foi só no que consegui pensar antes de correr para aquela direção. Mas era tarde demais.

 Nossa casa, assim como as vizinhas, estava em chamas. Sem pensar duas vezes, entrei correndo, encontrando tia Akemi caída no chão, com a cabeça sangrando.

 O fogo não havia chegado onde ela estava, mas, com o impacto da explosão, ela foi jogada de encontro a algum lugar, talvez uma parede e batido a cabeça.

 Era tarde demais, ela já havia partido.

 As lágrimas desceram pelo meu rosto sem controle algum. Todo o sofrimento que já havia em meu coração saiu por meio daquelas lágrimas, e mais um buraco se abriu em meu peito.

 A escuridão tomou conta do meu corpo, não existia mais luz para os meus olhos. Minha existência perdeu o sentido. Minha vida acabou ali, junto com aquela casa consumida pelo fogo.

 Subi ao andar de cima com passos firmes, passei sem nem ao menos olhar onde pisava. O fogo não conseguia chegar até mim, meus olhos não permitiam.

 Peguei minha mochila em um canto ainda intocado pelo fogo e peguei umas roupas. No fundo do armário, cuja metade o fogo já havia envolvido, peguei o pergaminho que eu encontrei em minha antiga casa.

Era hora, e eu sabia exatamente o que precisava fazer.

 Desci as escadas e peguei o corpo de minha tia. Fui até as colinas e a enterrei sob a luz do luar. A chuva continuava a cair, misturando-se às lágrimas que ainda insistiam em escorrer por minha face enquanto olhava a sepultura da mulher que me mostrou como é ter uma mãe.

 Assim que chorei tudo que precisava chorar, a raiva e o ódio me consumiram por completo. A escuridão que se apossou de mim era mais escura do que a própria noite.

 Retirei a bandana da testa, a qual dizia que eu era um shinobi da Cachoeira e a olhei por um tempo. Peguei uma kunai e fiz um enorme risco sobre o símbolo nela impresso.

 A partir daquele momento, eu não era mais um ninja da aldeia da Cachoeira, eu era apenas Takeshi Misaki. Um ninja renegado que só lutava por um objetivo:

 Acabar com as ameaças desse mundo cruel. Trazer a paz a todos, não importando o que precisasse fazer para alcançá-la.

Eu iria controlar tudo e me tornar o dono desse mundo. Varrer para longe todo ódio e dor.

 Eu iria controlar todos os ninjas, evitando, assim, vários conflitos e não importava quantas pessoas eu precisasse usar para isso. Se fosse preciso, provocaria uma guerra para alcançar meus objetivos.

 Eu iria fazer o que fosse preciso para que meu sonho fosse realizado, mas não sozinho.

 Saí da aldeia da Cachoeira aquela noite mesmo, com o ódio estampado nos olhos dourados.

 Eu não era mais o mesmo Takeshi.

 A dor havia me mudado. Tiraram a pessoa mais importante da minha vida e isso eu não iria perdoar. O mundo pagaria por isso. Eu controlaria todos e, se alguém fosse contra isso, o destruiria sem pensar duas vezes.

 

. . .

 

 Estava andando sem rumo pelas trilhas entre as árvores, até encontrar três shinobis com a bandana das Fontes Termais, porém um deles me chamou a atenção. Eu podia ver o ódio nos olhos dele, eu podia perceber o sofrimento refletido naqueles orbes pretos.

— Quem é você? — ele perguntou com uma kunai na mão, à altura da cabeça.

— Ninguém. — respondi friamente.

— Ele é um renegado. — um de seus companheiros falou, me encarando. — Olhe a bandana dele.

Mas eu não dei muita importância para aquilo, precisava correr atrás dos meus objetivos.

— Eu não estou afim de lutar, então, saíam da minha frente. — falei, encarando-os com o semblante sério e os olhos dourados ainda mais intensos.

— Vamos. — o ninja dos olhos pretos falou, virando-se de costas para mim, mas seus companheiros continuaram parados e me encarando.

— Ele foi mal educado. — um deles disse, pegando várias shurikens no bolso.

— Vamos ensinar bons modos a ele. — o outro falou, juntando as mãos em um selo.

— Não, vamos embora. — o ninja dos olhos pretos ordenou, mas, em vez de escutá-lo, seus companheiros vieram para cima de mim.

 Eu já estava de mau humor, mas, depois de perceber que eles queriam lutar, ele ficou ainda pior.

Não me controlei.

Quando vi, já tinha lançado um jutsu estilo tempestade e derrubado um deles enquanto o outro cuspia uma onda de fogo.

 Contra-ataquei o fogo com um jutsu estilo água, combatendo o jutsu do oponente e, em seguida, já estava levitando o homem com os meus olhos e jogando-o contra uma rocha.

 O outro se levantou do chão, já recuperado do jutsu estilo tempestade e tentou me atacar por trás, mas, assim que chegou perto, seu corpo ficou paralisado.

Dei um soco forte na barriga dele em seguida e, com minha telecinesia, o lancei contra uma árvore.

Os dois desacordados.

 Havia restado apenas um. O ninja dos olhos pretos intensos.

— Você é bem forte. — falou.

Ele olhava para mim calmamente e com as mãos nos bolsos.

— Não vai me atacar também? — perguntei sem entender nada.

— O que eu ganharia com isso? Eles que são uns idiotas. — deu de ombros.

— Quem é você? — o encarei, analisando-o minuciosamente.

Ele pertencia a uma aldeia, mas parecia não se importar com nada.

— Nori Yoshiaki, e você?

— Me chamo Takeshi Misaki.

— Hm. — também me analisou minuciosamente. — Você não tem cara de quem fala muito, por que está conversando comigo? Afinal, meus companheiros acabaram de te atacar, seria mais fácil me derrotar antes que eu resolvesse te atacar também, não?

Mas o que eu disse a seguir deixou-o meio atônito e sério.

— Eu vejo a dor nos seus olhos.

O silêncio estabeleceu-se entre nós enquanto ele me encarava com o cenho franzido.

— Não irei te atacar, porque você, assim como eu, passou por muitas coisas.

— Como sabe? — perguntou, as sobrancelhas estavam arqueadas em confusão e curiosidade.

— Eu sei reconhecer a dor nos olhos das pessoas quando vejo.

— E como assim como você? O que quer dizer? — perguntou.

— Eu estou sozinho, todos que eu mais amava foram tirados de mim e, agora, eu pretendo mudar isso. Pretendo controlar o mundo.

— Controlar? Explique melhor... — Nori parecia curioso.

 

E foi nesse dia que eu perdi outra pessoa importante para mim e encontrei o primeiro aliado para ajudar-me a colocar meu plano em prática.

 

. . .

 

 Montamos nossas estratégias e começamos a colocar nosso plano em ação.

 Seis anos depois, já estávamos com tudo devidamente arquitetado e algumas coisas já estávamos colocando em prática.

 Recrutei renegados com meu doujutsu e também consegui influenciar alguns a me seguirem por vontade própria. Invadimos povoados pequenos e fizemos, de seus moradores, marionetes. Os transformamos em ninjas e soldados poderosos.

 Um tempo após o episódio com Toneri Otsutsuki, eu já estava com tudo pronto e, finalmente, comecei a agir. Os milhares de renegados se espalharam pelo mundo shinobi, em dezenas de esconderijos diferentes para que o plano pudesse ser executado perfeitamente.

 Nori também deu a ideia de usar o jutsu Edo Tensei ao nosso favor no combate, mas, para isso, precisávamos invadir um dos esconderijos de Orochimaru para conseguir alguma informação sobre esse jutsu, por isso, decidimos esperar e ver se realmente precisaríamos disso.

 Depois de oito anos convivendo com Nori, que provou ser leal, lhe contei como planejava dominar o mundo. O pergaminho, que eu havia encontrado em um fundo falso na parede atrás do criado mudo em minha antiga casa, continha segredos sobre o doujutsu dos Masato.

 Segundo o pergaminho proibido, o Masato que soubesse usar o controle da mente e tivesse poderosos Olhos do Destino — como os anciões do clã chamavam nosso kekkei genkai —, através dos selos do jutsu proibido contido no pergaminho, poderia lançar o controle da mente em todas as pessoas do mundo que não possuíam doujutsu. Porém, ficaria sem usar seu doujutsu para qualquer outra coisa durante um mês.

 Era o plano perfeito, mas, para isso, eu precisaria eliminar todos os ninjas que possuíam jutsus oculares e, principalmente, Sasuke Uchiha, um dos destaques da última guerra, pois, além de possuir o Sharingan e o Rinnegan e não poder ser controlado, poderia usar o primeiro para retirar outras pessoas do controle da mente.

 Nori e eu, pessoas marcadas pela dor da perda, perdemos nossa fé no mundo ninja. Deixamos de acreditar que poderia existir paz, então, tentamos, a todo custo, fazer com que nosso plano desse certo.

 Eu precisava concluir esses objetivos, não importava o que eu precisasse fazer, quem eu precisasse usar ou tirar do meu caminho. Eu precisava fazer algo para que a paz alcançasse esse mundo.

Eu precisava disso.

 Sofri muito na minha vida. Eu perdi todos que preenchiam o vazio em meu coração deixado pela falta de amor da minha mãe.

 Primeiro, meu pai, que sempre me amou, partiu desse mundo, depois, minha mãe levou embora a única pessoa que me fazia esquecer a dor que eu sentia pela falta do meu pai, meu irmão, Yori. E, depois, a tragédia chegou até mim de novo, arrancando a única pessoa viva que me amava, minha tia Akemi.

 Tudo que restou em meu coração foi apenas escuridão. Todos os grandes vazios deixados foram preenchidos por ódio e raiva. Eu não conseguia mais pensar sem me lembrar de tudo que aconteceu. Eu não conseguia, simplesmente, esquecer e seguir em frente.

Eu precisava mudar essa realidade. Evitar que mais pessoas sofressem o que eu sofri, e o único meio que eu encontrei…

Foi esse.




. . .




Sakura Haruno

 

 Eu ouvi toda a história atentamente. Talvez, no fundo, bem no fundo, ele quisesse realmente que o mundo ficasse em paz, mas seus meios para alcançá-la eram totalmente errados.

 Ouvindo-o contar sobre tudo que passou na vida e seus sentimentos, percebi que o mundo fez com que Takeshi se tornasse aquele monstro. Eu até senti pena dele, de todo o sofrimento dele, eu não sei o que é passar por isso, mas eu imagino a dor que ele sentiu.

 No entanto, o fato dele ter passado por tanta dor e sofrimento não justificava as suas atitudes. Todos sofrem e nem todos se revoltam contra o mundo. Ele escolheu o caminho errado para seguir, o caminho das trevas, da escuridão, mas nunca é tarde para voltar atrás nas suas escolhas.

— Não sabia que tinha passado por tudo isso… — Yori disse enquanto olhava nos olhos dourados do irmão, ele estava desconcertado com a história.

— Agora, entendem por que sou assim? — Takeshi perguntou, e nós apenas o olhamos, com os semblantes sérios e sem saber ao certo o que dizer.

Ele nos deixou sem fala com sua história, até Naruto ficou calado e com a cabeça baixa.

Vi Yori respirar fundo, tentando digerir toda aquela informação.

— Takeshi, eu sei que sofreu muito, mas você precisa pensar melhor, é loucura tudo isso...

— Eu não voltarei atrás na minha decisão, Yori. Eu vou concluir meus objetivos.

— Eu entendo que passou por muita dor e sofrimento, eu entendo que tem raiva de todos e que acredita que seu plano trará paz ao mundo... — Naruto começou a dizer, com a voz calma e a cabeça erguida.

E eu esperava, realmente, que suas palavras alcançassem o coração de Takeshi.

— Mas isso não é certo. — completou, encarando o inimigo. — De fato, o mundo precisa encontrar a paz, mas não a força. A única coisa que podemos fazer é a nossa parte, é viver em paz com nossos companheiros para que o mundo fique melhor. Essa paz que você pretende estabelecer é falsa, uma paz criada, uma ilusão. — fez uma pausa.

E suas palavras fizeram-me lembrar de Madara e a guerra.

— Eu sei que dói muito perder alguém que ama e como dói, mas se revoltar contra todos não vai trazer essa pessoa de volta e, muito menos, a paz para esse mundo. Tudo que você trará será mais dor e sofrimento.

O Misaki ouvia tudo atentamente enquanto Naruto falava com calma e determinação. Ele estava disposto mesmo a mudar aquele vilão, assim como vários outros que ele havia mudado no passado.

— Você já causou muita dor, Takeshi. Quantos povoados você invadiu? Quantas pessoas morreram para você tentar concluir seus planos? Quantas aldeias já sofreram com as suas invasões? Quantas pessoas você usou para realizar tudo? Já parou para pensar, alguma vez, em quantas pessoas você prejudicou? Quanta dor e sofrimento você causou? Sentimentos que você tanto queria apagar?

Naruto o encarava intensamente, suas palavras estavam repletas de ressentimento.

— Você fez exatamente o contrário do que queria e ainda pretende fazer mais controlando todos com esse jutsu cruel, que apenas isola a consciência das pessoas, deixando-as ver e pensar nas coisas horríveis que estão fazendo sem poderem agir para impedir as suas próprias ações.

Naruto sabia bem o que estava dizendo sobre o jutsu de Takeshi. Ele e eu sabemos bem como é ser controlado, ver que está fazendo algo ruim, querer parar e não poder evitar a realização daquilo.

Era a pior coisa.

— Isso não é paz para nós! — Naruto completou. — Pode ser para você, mas não para quem está sendo controlado feito uma marionete.

— Cala a boca. — o inimigo pediu. Ele estava começando a ficar irritado. — O que você sabe disso tudo? Você tem um lar, seus amigos, sua esposa, você não pode entender tudo que passei!

— Você acha mesmo que minha vida sempre foi assim? — Naruto perguntou, sua voz estava mais alta agora.

Ele, melhor do que qualquer um de nós seis, entendia o que Takeshi havia passado.

— Acha mesmo que eu não sei o que é solidão? — perguntou novamente, atraindo a atenção do Misaki para ele. — Eu posso não compreender totalmente a sua dor, mas posso garantir que já sofri muito também e nem por isso me revoltei contra o mundo.

O loiro respirava descompassadamente enquanto observava a expressão séria de Takeshi.

— Eu nunca tive meus pais ao meu lado, eles morreram no dia do meu nascimento, deram as suas vidas para me salvar e à aldeia. Eles selaram a Raposa de Nove Caudas dentro de mim, me transformaram no jinchuuriki dela e, como consequência disso, eu cresci sozinho, sem ninguém do meu lado, nenhum amigo, nada. Era desprezado na aldeia, tratado como um monstro só porque possuía um Bijuu dentro de mim, além de ser um péssimo ninja. — fez uma pausa, encarando a face séria do inimigo. — Mas nem por isso eu desisti, eu segui em frente, eu acreditei que poderia realizar meu sonho de ser Hokage mesmo com todos dizendo que era impossível e ainda acredito que vou realizá-lo. Quando me chamavam de fracassado, quando insistiam para eu desistir de tentar, eu procurava provar que estavam errados, procurava mostrar que eu não era o que eles pensavam.

Meus olhos estavam fixos no Naruto, e meu coração estava pesado. Eu conseguia sentir a dor através de suas palavras.

— Com o tempo, eu consegui amizades e tive por perto pessoas que gostavam de mim e que queriam me ajudar a ser alguém, a provar para toda a aldeia da Folha que eu era um grande ninja, até que, mais uma vez, a dor me alcançou. Uma das pessoas mais importantes para mim foi morta, o Ero-sennin, mas, como antes, eu também não desisti, eu continuei em frente e venci inimigos que ninguém conseguiu vencer, eu mudei pessoas que não tinham mais esperanças nesse mundo.

Sim, Naruto mudou muita gente, pessoas que eu achava impossível encontrar a bondade, esse era um dom dele, um dom mágico.

— Mas a dor veio novamente com a guerra. — continuou, o semblante ficando ainda mais sério. — Guerra em que eu quase perdi a minha vida, mas, graças aos meus amigos, eu sobrevivi e lutei por esse mundo, que, antes, sempre me maltrava, me desprezava e me ignorava por ser jinchuuriki. — Naruto completou e fez uma pausa para respirar. — Perdi companheiros, mas também consegui novos amigos, como o Kurama, por exemplo. Eu provei que sou um grande ninja e hoje luto pelo bem de todos. Não importa o que eu irei sofrer para que meus amigos fiquem bem, eu enfrento qualquer ameaça por eles.

Sorri com a declaração de Naruto, apesar de já saber que ele era capaz de qualquer coisa por quem é importante para ele, mas, logo, tratei de sumir com o sorriso, era hora de lutar por esse mundo.

Voltei a encarar Takeshi, que fitava Naruto de forma intensa.

Os olhos dourados até brilhando.

— Eu também busco a paz, mas do jeito certo. Eu acredito que haverá um dia em que os homens conseguirão viver em paz uns com os outros, eu acredito que eles poderão se entender um dia, assim como o Ero-sennin acreditava. — Naruto disse, sua voz saiu mais firme que antes. — Takeshi, você ainda tem tempo de mudar, de desistir desse plano maluco e lutar pela paz através do caminho certo.

— Eu não vou desistir. — o ninja respondeu, sua voz estava mais fria que o normal. — Eu não vou mudar.

Um pedaço de rocha se soltou do chão e foi lançado na direção de Naruto apenas com telecinesia.

 O Uzumaki desviou da pedra e foi em direção ao Takeshi, que lançava mais delas para evitar sua chegada. O loiro dava cambalhotas para desviar, socos nos pedaços de rochas e, às vezes, usava o chakra da Kyuubi para rebatê-las, abrindo caminho até o inimigo.

Ao chegar perto de Takeshi, começaram a lutar taijutsu, trocando fortes e ágeis chutes e socos, mas o mesmo era muito bom.

 Sasuke foi tentar ajudar, com a espada na mão para atacá-lo e, em seguida, tentou usar o Amaterasu, mas o vilão percebeu as chamas no momento exato e fez, com sua telecinesia, um escudo à sua volta, impedindo que as chamas negras o envolvessem.

 Naruto e Sasuke foram jogados para longe, em lados contrários, com os poderes telecinéticos de Takeshi, e o Uchiha acabou deixando a espada cair no chão.

O vilão, com um sorriso no rosto, levantou a mão, e a arma ninja foi atraída diretamente para ela. Com a Kusanagi nas mãos, Takeshi dava passos lentos em direção ao Sasuke, que estava mais longe que todos nós, para o meu desespero.




. . .

 

 

 

Sasuke Uchiha

 

 Levantei-me enquanto o via se aproximar devagar.

Por um momento, pensei que ele tentaria me ferir com a minha espada, mas ele, simplesmente, a fincou no chão enquanto fazia alguns selos, invocando uma katana.

 Encarei-o por um momento, até que ele começou a correr e, quando já estava próximo, preparado para me atacar, tentei usar o Susano'o, mas algo me impediu.

 Eu, simplesmente, não conseguia me mexer, nem sequer infundir o meu chakra. Era como se…

Eu não tivesse chakra.

 Se fosse só isso, eu ainda poderia me virar, mas meu corpo não respondia aos meus comandos. Eu havia virado uma estátua, e Takeshi estava cada vez mais próximo e com a katana levantada, pronta para me atingir.

— Agora, morra, Uchiha! — ele gritou, estava a uma pequena distância de mim.

Os gritos da Sakura ecoaram em meus ouvidos, fazendo-me virar a tempo de vê-la se aproximar correndo.

Naruto gritou também, mas estava longe demais para fazer alguma coisa para impedir Takeshi ou a rosada.

E eu também não podia fazer nada.

— Sakura, não! — pedi, mas ela não me ouvia.

Ambos continuaram se aproximando rápido.

 Meu coração se apertou naquele momento, não por medo da morte, mas pela Sakura, que se aproximava cada vez mais de mim e do inimigo.

Ela não podia se arriscar para me salvar. Não. Se ela se ferisse por minha causa, eu não me perdoaria nunca.

 E, então, em questão de segundos, eu escutei o barulho de corpos se chocando e o som da katana atravessando algo.

Ou melhor, alguém.

 E esse alguém não era eu.

 Olhei para quem estava entre mim e Takeshi e, na mesma hora, meus olhos se arregalaram com a cena.

— Eu não vou deixar meus companheiros morrerem. — a voz saiu fraca e como um sussurro entre as golfadas de sangue que saía de sua boca.

 Eu ainda não podia mexer o meu corpo, mas, mesmo que pudesse, não conseguiria. Eu estava estático, surpreso.

Não conseguia acreditar no que meus olhos estavam vendo.

— Y-Yori?! — a voz de Takeshi deu uma vacilada, demonstrando que ele ainda sentia algo pelo irmão. — Por quê? — perguntou desconcertado ao vê-lo ali, entre mim e a katana, com o sangue escorrendo pelas roupas e no canto da boca.

— Eu, finalmente, entendi… — sorriu fraco apesar da dor que sentia. — Eu, finalmente, entendi o que é amar. — foi só o que ele disse, e eu não consegui entender o que ele queria dizer com isso.

Takeshi o olhou, estava evidente a surpresa por seu irmão estar ali e algo a mais, talvez culpa? Provavelmente.

 Yori levantou as mãos e fez alguns selos, liberando uma grande descarga elétrica em Takeshi, que pulou para trás para não ser atingido em cheio.

 O Satoshi retirou a katana da barriga e caiu de joelhos no chão, aos meus pés.

— Yori! — Sakura, que antes estava estática, gritou e foi até ele correndo, seguida por Naruto, Ume e Hinata.

 Eu já podia sentir o meu chakra e me mexer, mas quem disse que eu conseguia? Eu estava paralisado naquele lugar sem entender absolutamente nada.

Por que Yori havia me salvado? Logo eu, que fui responsável pelo fim de seu namoro com a Sakura e ainda lutei contra ele?

Eu não conseguia entender mais nada.

— Sakura… — ele sorriu ao vê-la apoiá-lo em suas pernas, deitado no chão. — Eu, finalmente, entendi o que é amar. — repetiu a mesma frase enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto. Sua respiração estava descompassada. — É colocar a felicidade do outro acima da própria, é fazer de tudo para ver a pessoa amada feliz. — sorriu, apertando a mão da Haruno. — Graças à Hinata, eu consegui entender o que devia fazer.

Olhou para a Hyuuga, que, assim como Sakura, possuía os olhos cheios de lágrimas.

— Eu não queria te ver sofrendo. Eu não suportaria te ver mal. Eu preferi me sacrificar, porque sei que sofreria se o Uchiha morresse. — revelou, eu observava atentamente enquanto dizia. — Por mais que eu o odeie, eu sei que ele te faz feliz, por isso, não podia te abandonar.

Respirou pesadamente enquanto um gemido de dor escapava de seus lábios. De fato, aquele ferimento era grave.

— Yori, pare de falar, eu vou te curar. — Sakura disse, com as lágrimas caindo descontroladamente pela face empoeirada e deixando seu ninjutsu médico realizar o trabalho.

— É inútil, não gaste seu chakra à toa. — ele respirava com dificuldade. — Além de ter atingido um órgão vital, havia veneno na lâmina. Eu consigo senti-lo se espalhando pelo meu corpo rapidamente, é inútil tentar me salvar.

— Não, Yori. — ela negou com a cabeça, ainda chorando.

— Eu vou morrer, Sakura, mas, antes de ir, quero que me prometa uma coisa.

— O quê? — ela parou de usar o ninjutsu médico e secou as lágrimas de seu rosto, embora elas não tenham parado de cair de seus olhos.

— Que vai vencer. — sorriu, e Sakura retribuiu o sorriso em meio às lágrimas.

 Takeshi permanecia longe, paralisado também, apenas observando a despedida do irmão, e, por um momento, pensei ter visto uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto.

— T-Takeshi. — Yori chamou, atraindo a atenção do irmão para si. Sua voz estava fraca, mas audível. — Antes de partir, eu preciso lhe falar uma coisa, mas, por favor, me deixe dizer tudo.

— Fale. — ele disse, com a voz fria, mas parecia estar mascarando algo com aquela frieza.

— Nossa mãe… — vi o semblante de Takeshi se contorcer em uma careta, porém ele não disse nada, não pretendia interromper o irmão. — Nossa mãe era uma pessoa horrível com você, eu sei, ela te culpava por ter sido expulsa de casa, mas, um tempo depois que fomos embora e te deixamos para trás, ela percebeu que cometeu um erro enorme. Ela sentiu a sua falta, Takeshi.

Por mais que o Misaki tentasse ocultar, foi possível notar a surpresa em sua face com essa revelação.

— Só então ela percebeu que foi injusta com você e que, se tivesse sido uma boa mãe, nós teríamos sido mais felizes, e você estaria com a gente… — a voz de Yori falhou no final, e ele decidiu fazer uma pausa para respirar, embora estivesse parecendo difícil manter aquela ação. — Então, voltamos ao país das Ondas para te buscar, só que a casa de tia Akemi estava vazia, e uma vizinha falou que vocês haviam partido de lá e não falaram para aonde iriam... Nossa mãe ficou mal, Takeshi, ela se sentiu uma pessoa horrível e, até o dia de sua morte, se culpou por ter te maltratado.

Yori ergueu um pouco a cabeça para ver o irmão melhor, mas logo voltou a pousá-la no colo da Sakura. Ele não tinha muitas forças.

— Sabe qual foi a última coisa que ela disse antes de morrer, Takeshi? — o vilão o olhou, com uma expressão fria no rosto e fez que não com a cabeça. — “Se um dia você se encontrar com o Takeshi, fale para ele que eu sinto muito e peça perdão por mim.”

Takeshi olhou-o surpreso, dessa vez, ele não conseguiu ocultar nada dessa emoção. Yori tossiu alto em seguida, chamando nossa atenção e golfou uma grande quantidade de sangue.

Ele já estava quase no limite, já havia perdido muito sangue, e o veneno o consumia por dentro.

— Yori… — Ume sussurrou, e os olhos dele se voltaram para ela, que analisava, com os olhos marejados, o rosto suado dele e sua expressão de dor. — Me perdoe, Yori… Por tudo.

Ele sorriu de leve para a expressão chorosa dela.

— Eu te perdoo, Ume, só me prometa que não vai mais aprontar.

— Eu prometo. — ela sorriu, deixando as lágrimas caírem.

Yori olhou para mim e, em seguida, voltou a olhar para Sakura, que ainda chorava.

— Obrigado por ter ficado ao meu lado por um tempo, foram os melhores dias de toda a minha vida. — sorriu, tocando o rosto dela e secando as lágrimas que insistiam em cair. — E não quero que se sinta culpada pela minha morte. — tossiu mais um pouco ao fim da fala, e sua respiração ficou mais descompassada. — Eu fiz isso por amor e faria muito mais vezes se fosse necessário, e desculpa por tudo que fiz...

— Yori... — Sakura até soluçava pelo choro. — Não se preocupe com isso. — sorriu triste. — E desculpe por não ter te amado como queria.

— Você não precisa se desculpar por isso, quando começamos a namorar, eu sabia que ainda amava o Uchiha e que nunca ia me amar da mesma forma. — olhou para mim, seus olhos estavam quase sem vida enquanto seu peito subia e descia descompassadamente. — Sasuke… — chamou-me, e eu fiquei surpreso.

Era a primeira vez que ele me chamava pelo meu primeiro nome.

— Cuide da Sakura... Por favor.

— Eu cuidarei. — tentei transmitir confiança através do meu olhar, e ele pareceu entender, pois logo sorriu. — Obrigado.

Meu agradecimento foi como um sussurro, mas, novamente, ele pareceu entender.

Yori gemeu de dor em seguida, suspirando pesado.

— Não seja derrotado, Uchiha. — falou com dificuldade, atraindo minha atenção para si. — A fraqueza do doujutsu dele é o seu Sharingan. Nem você, nem a Hinata podem ser controlados por ele, mas só você pode tirar os outros do controle de Takeshi, então, não perca.

Assenti com um aceno, e ele sorriu fraco de volta.

— Yori, eu sinto muito. — Sakura ainda chorava bastante e se encontrava ajoelhada ao lado dele, segurando com força as suas mãos.

— Não sinta, Sakura, eu estou feliz, pois vou morrer para te ver sorrindo, e isso é a única coisa que me importa. — tocou o rosto de Sakura com as pontas dos dedos, secando os rastros molhados que as lágrimas deixaram.

Ele estava no seu limite já, não aguentaria muito mais tempo com aquela hemorragia e o veneno espalhando-se pelo seu corpo.

Yori estava morrendo.

— Se você está feliz ao lado do Sasuke, eu estou feliz por você. — sussurrou.

E, com um último suspiro, seus olhos se fecharam lentamente para nunca mais se abrirem.

 Nunca mais.


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