Anseio escrita por asthenia


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Esse ano eu me caso e por isso ando numa fase reflexiva sobre casamentos, maas de uma forma boa! E é impossível não pensar sobre Naruto e Hinata. Essa fic não foi postada ao meu conjunto de contos porque ela é não é humorada quanto os contos que estão lá. A inspiração dessa one se deve a umas das músicas mais lindas, é Walking After You, do Foo Fighters. Sugiro que ouçam, é maravilhosa! Espero que gostem. :)



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Anseio — sentimento ou estado de preocupação ou sofrimento; aflição, angústia, ânsia.

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Tocou a maçaneta com toda a delicadeza que conseguiu reunir. O cansaço era tanto que as forças de seus dedos estavam limitadas. Tirou seus sapatos, vestiu chinelos confortáveis, e não lutou contra o impulso de estralar as costas. Horas sentado na mesma posição. Sua coluna já reclamava. Sem contar as dores no estômago e no pescoço. Por um segundo, sentiu como que estivesse próximo aos sessenta anos. Riu, sozinho e mudo pela constatação tola. Voltaria a treinar por pelo menos algumas horas da semana. Nem que isso custasse uma longa briga com Shikamaru.

Encaminhou-se até a cozinha, abrindo o shoji*. De costas para ele percebeu sua esposa acordada. O relógio marcava quase uma da manhã. Culpou-se. Havia uma grande chance de ela estar acordada a sua espera. O cheiro de camomila distraiu seus pensamentos por alguns segundos. Hinata dificilmente bebia algum chá calmante, preferia os chás mais adocicados.

Ele se lembrou de três dias atrás. Sua esposa havia lhe pedido que chegasse mais cedo naquela semana. Himawari estava prestes a ir para a academia ninja e Boruto atendia a missões praticamente todos os dias. Sua filha estava ansiosa e inquieta, e por isso o pedido pareceu simples – apenas conversas sobre a vida ninja, que deixava a caçula ansiosa. Infelizmente o irmão não estava sendo o suficiente, nem Hinata. Mas nem isso ele conseguiu cumprir. Sentiu algo em seu peito apertar.

— Tadaima, Hinata.

— Okaeri, Naruto-kun. – Ela disse, segurando uma caneca, levando até a boca.

O loiro se aproximou até a mesa da cozinha, para onde sua esposa caminhava. Olhou seu rosto e percebeu algumas manchas escuras em volta de seus olhos. Seus ombros pesaram mais. Hinata não parecia estar completamente bem.

— Como foi seu dia? – Desviou os olhos dela e se sentou na poltrona, próximo a mesa.

— Normal. Nada de mais. Aceita chá?

Ele concordou e ela voltou até a pia, encheu um copo. Mais líquido que o necessário, pensou Naruto.

Ela vestia seus pijamas. Um conjunto de shorts e uma blusa mais solta com detalhes em azul. Ele conhecia o pijama. Compraram há alguns anos, em uma loja simples do centro. Eles foram até o local comprar meias para as crianças e ela aproveitou para comprar aquelas peças. Ele se lembrou que naquele dia ela reclamou que as meias de Boruto já estavam servindo para Himawari. Naquele dia, seu clone esteve com ela nas compras, e ele se sentiu estúpido por não saber o quanto seus filhos estavam crescendo. Assim que as memórias de seu clone chegaram até ele, doeu em seu âmago aquela informação.

Ao lembrar daquele dia, doeu mais uma vez. Em um grau maior.

Hinata se aproximou, deu-lhe o copo com chá e se sentou na outra poltrona em frente a que seu marido estava sentado.

— Minhas dores de estômago e no pescoço pioraram, ‘ttebayo. – Sorveu de um gole do chá – Estou cada dia mais enferrujado.

— Você precisa ter horários para almoço e descanso. – Seu tom de voz não era como uma bronca, tampouco demandava alguma coisa. Aquele tom parecia repetitivo, cansado. Naruto a olhou, analisando-a. Hinata dobrava suas pernas, relaxando.

— Me desculpe por fazê-la repetir isso, de novo. – Terminou seu chá e colocou sobre a mesa ao seu lado. – Eu deveria parar de reclamar sempre das mesmas coisas, dattebayo.

Ela sorriu. Minimamente.

— Como foi seu dia?

— O mesmo de sempre. Hoje meu clone se encontrou com Kiba na padaria. Ele me disse que está animado com as novas equipes genins.

— Achei que Kiba-kun ainda estava fazendo aqueles comerciais.

— Sim, está. – Respondeu sorrindo. – Mas ficou interessado em pegar algum time para treinar. Ele e Rock Lee continuam naquelas competições, acredita, ‘ttebayo?

Ela sorriu e o olhou.

— Você também participava dessas competições.

— É verdade. Esses dias eu me lembrei quando corri quase cinco horas direto pra ganhar uma aposta besta do Kiba. – Sorriu nostálgico.

— E o que você ganhou?

Ele encostou as costas na poltrona.

— Eu não me lembro muito bem, acho que lamém.

Ela continuou sorrindo, levantou-se e levou os dois copos de chá até a pia. Naruto a acompanhou com os olhos. Hinata não mudara muito desde sua juventude. Também continuava uma pessoa doce. Porém, naquele momento parecia distante. Ele sabia que aquela reação era, provavelmente, causada por ele. Ela voltou a se sentar e ele desviou o olhar, para que ela não percebesse que ele a observava.

— Himawari está mais calma?

— Hoje eu a levei para conhecer a academia. Ela pareceu mais calma na volta, Shino conversou com ela também.

— Ela vai se dar bem, Hinata. – O Uzumaki desencostou da poltrona e a olhou profundamente. – Me desculpe por não chegar mais cedo nessa semana.

— É a segunda vez que me pede desculpas, só agora. – Ela respondeu, apertando as mãos retribuindo o olhar.

Ele pegou uma de suas mãos.

— Eu precisaria de todas as desculpas do mundo, dattebayo.

O silêncio caiu sobre os dois. Sabiam o que aquilo representava. Eram desculpas pelos anos longe, pelas noites mal dormidas, pelo vazio ao lado da cama, ou as noites em que preferia dormir no escritório.

— Eu não sou mais seu sonho, não é, Hinata?

Seus olhos se focavam nos dedos de sua esposa. Ele apertava mais do que o necessário. As pontas dos dedos dele ficavam brancas pela força. Os olhos da Uzumaki se abriram surpresos.

— Como? – Perguntou sem entender.

— Você... – Ele falou com cuidado esperando escolher as palavras certas. – Você me amou por tanto tempo, deve ter sonhado com tudo isso antes, de uma forma diferente.

Ela o olhou e não encontrou seus olhos. As duas safiras de seu marido estavam focadas em qualquer ponto no chão, enquanto sua mão esquerda apertava mais que o necessário a mão dela.

— Não diga isso, Naruto-kun. – Ela falou, olhando fixamente no rosto de seu marido. Ele levantou os olhos para ela.

— Mas não é mentira, é? Você não sonhou com um marido como eu. Nunca pensou que eu fosse tão distante de você e dos nossos filhos. Não era esse o marido que você, ou qualquer mulher gostaria, ‘ttebayo.

— Pare de dizer essas coisas.

Ele continuava apertando suas mãos, chegando a sentir seus dedos estralarem alto.

— Ainda mais você, Hinata. De um clã tão importante, com tantos pretendentes importantes... – Seu olhar era fixo no rosto da Uzumaki. – Você foi pedida em casamento tantas vezes! Sem contar que até o Boruto acha que eu não te mereço. Aquele pirralho me disse que seria muito melhor se você se casasse com aquele inventor, Katasuke, já que ele passa mais tempo aqui em casa do que eu! – Ele suspirou alto – Ou aquele guarda Hyuuga que sempre fica te olhando estranho, qualquer homem que pareça mais atencioso com você ele diz que te merece mais do que eu, ‘ttebayo!

— Ele diz essas coisas para te irritar, Naruto-kun. – Ela sorriu, levemente, retribuindo o aperto dele em suas mãos. – E está funcionando.

— O pior é que... – Naruto suspirou alto – Ele não tá todo errado, Hinata. Eu sou muito menos do que você e as crianças mereciam.

Ela se aproximou dele, sentando-se no braço de uma das poltronas, enlaçando seus dedos aos dedos das mãos direita de Naruto.

— Boruto sente que está competindo sua atenção com o resto de Konoha. Ele protege a mim e Himawari da mesma forma que você protegeria se estivesse no lugar dele. Apesar que ele precisa ser mais educado e você tem que chamar mais a atenção dele.

— Eu chamo! – Naruto disse um pouco mais alto, acariciando os dedos de Hinata entre seus dedos. – Mas ele só obedece a você, ‘ttebayo.

Hinata soltou uma risada alguns decibéis mais altos. Naruto a olhou curioso.

— O que foi?

— Sakura-chan me disse a mesma coisa naquela consulta em que ela te disse que você precisava comer mais legumes, lembra-se? – Ela o olhou, sorrindo nostálgica. – Que eu tinha que chamar a sua atenção já que você só obedece a mim.

Ele a olhou, deixando pela primeira vez naquela noite um sorriso sincero enfeitar seu rosto.

— Você é a minha luz, Hinata. É o pilar dessa família, é meu sentido em tudo que faço. – Suspirou alto, em exagero, olhando profundamente nos olhos dela. – Eu sei que está chateada. Me perdoe.

Ela se sentou no colo do marido e encostou sua cabeça em um de seus ombros, inspirando profundamente seu cheiro, fechando os olhos.

— Eu quero te ver mais em casa.

— Eu vou chegar mais cedo nessa semana para jantar com vocês, dattebayo.

Ele fechou os olhos, relaxando, passando uma de suas mãos nas costas de sua esposa. Os dedos de sua outra mão continuavam enlaçados nos dedos dela.

— Você é o meu sonho todos os dias, Hinata. Eu te amo tanto.

Ela sorriu e levantou seu rosto até a direção do rosto de seu marido, levando beijos por toda extensão de seu rosto, até chegar nos lábios dele, que compartilhava o mesmo sorriso.

— Você sempre foi o meu. Eu te amo.

Os beijos começaram a ser mais atrevidos, profundos e os toques se prolongavam mais. Naquela noite ele não dormiria no escritório.


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Notas finais do capítulo

*shoji são painéis ou portas de correr estruturados em madeira e preenchidos com papel translúcido.